Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 13 de maio de 2003

Manifesto "Salvem os Náufragos do Dilúvio Digital"
Por Daniel "Duende" Carvalho

      Segundo matéria da Folha Online Informática, o tempo médio de acesso à Internet no mês de abril por parte dos jovens de 18 a 14 anos do Brasil atingiu 12 horas e 46 minutos, uma média que fica atrás apenas da média dos jovens norte americanos. Isto, num universo de 7,7 milhões de brasileiros que teriam acessado à internet segundo estudo do IBOPE/eRatings significa que nossos jovens, e a parcela de nosso povo que tem acesso à Internet em geral, tem navegado um bocado pela Internet em um país em que isso é quase um luxo. Esta afirmação se torna particularmente verdadeira se pensarmos que em nosso país, que tem quase 170 milhões de habitantes segundo dados do IBGE (em pesquisa realizada em 2000), esta parcela de 7,7 milhões de usuários de Internet corresponde a pouco mais de 4,5% da população brasileira. Para um país onde uma parcela tão pequena da população é "digitalmente ativa" tais números apontam o enorme mercado potencial de Internet que é o Brasil, mas apontam principalmente o enorme trabalho que ainda precisa ser feito para se estender a mão a estes 95,5% da "excluídos da Internet brasileira" e puxá-los para nosso barco (que em vista da realidade atual brasileira está mais parecendo um iate).
      Mesmo com o crescimento de 23,7% no número de usuários domiciliares de Internet no ano de 2002, e o crescimento espantoso de 2,97% ocorrido no número de pessoas que acessam a web de casa apenas no mês de abril último (segundo matérias da IDG Now e Folha Online Informática) ainda há uma previsível predominância de usuários de Internet nas classes A e B (às quais pertencem 85% dos usuários brasileiros) enquanto as classes C e D abrigam uma porcentagem proporcionalmente minúscula de usuários. Problemas como a falta de formação para o uso de computadores (que dizer então do acesso consciente à Internet!) e de acesso a terminais plugados, ou que possam ser plugados, figuram como uma parte das causas desta exclusão. Outros motivos, estes muito mais crônicos na realidade brasileira, como o achatamento dos salários que força uma grande parte da população economicamente ativa a acumular empregos e portanto ter muito pouco tempo sequer para pensar em televisão (o que dizer então, novamente, de acesso à Internet!) ou a histórica elitização quase absoluta do acesso à tecnologia no Brasil são responsáveis pelas tintas mais escuras deste quadro dantesco de exclusão.
      Quem dera esta situação fosse como o povo brasileiros estivesse em uma Arca de Noé onde nós, os conectados, dirigem o barco e encontram caminhos seguros nos rios da informação enquanto a maioria da população è guiada seguramente junto com o país a mares mais calmos, com melhores condições futuras para a inclusão digital. Não é bem este o quadro. O que vemos hoje é um dilúvio, onde as águas da revolução digital caem sobre nós incessantemente, enchendo o leito do rio de informação onde submergem afogados 95% dos brasileiros (que são condenados crescentemente a ocupações cada dia mais subalternas por sua falta de aptidão digital) enquanto navegamos brava e esperançosamente em nosso barco internauta (aquele que virou um iate graças à situação brasileira...). Foi-se o tempo em que podia se comparar o uso de Internet a surfar. Hoje as ondas de informação digital são muito maiores, mais fortes e mais frequentes do que as de Tamahoe ou Waikikii e chegou a nossa hora de ensinar nossos compatriotas, que apenas nos olhavam antes da praia, a navegar. Pois agora não há mais "praia" no oceano da informação e o futuro flutua ao sabor da realidade digital que chegou para ficar.

Chegou a hora de socorrer os náufragos digitais!

O que você pode fazer? Acompanhe o Jovem Cidadão da Blogosfera, ou visite os sites abaixo, para saber o que está se fazendo e o que pode se fazer em prol da Inclusão Digital:

Ecologia Digital - Blog do meu irmão sobre relações e ações dentro da rede, rico em informação sobre inclusão digital, com destaque para esta blogada.

Projeto Metáfora - Uma organização "facilitadora para a criação e desenvolvimento descentralizado de projetos relacionados a diversos temas: democratização do acesso à informação, valorização da voz das comunidades e sua inserção em um contexto de globalização, liberdade da informação e a formação de redes sociais mediadas pela tecnologia." segundo definição deles mesmos.

CIDEC - O Centro de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro da USP (CIDEC), é um espaço de pesquisa, projetos e construção de conhecimento. Atualmente são desenvolvidos três projetos: o site de inclusão digital, o Grupo de Estudos e o projeto Acessa SP.

ComUnidade Brasil - O ComUnidade Brasil é um programa de inclusão digital, de parceria entre governo, ongs e empresas, que pretende mudar a situação de milhões de brasileiros que hoje não têm acesso à internet. Através de telecentros comunitários, localizados em todas as regiões do Brasil, a população em geral tem acesso a cursos on-line, serviços e informações do governo, e pode participar de discussões on-line sobre temas como cidadania, empreendedorismo, combate à violência, etc. Através do Portal, cada localidade pode divulgar informações e se relacionar com outras comunidades locais. Cada comunidade pode construir seu próprio site, com conteúdos elaborados pela comunidade.

"Não basta estar conectado à rede, tem-se que estar em contato com a realidade"

Love and Understanding...

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