Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Acabei me rendendo ao Twitter

"Antes tarde do que nunca", dizem. Depois de muito resistir, acabei me rendendo ao Twitter. Não é pela vontade de ficar dizendo a todo mundo o que estou fazendo naquele momento. Acho isso babaca. O que me interessou no Twitter foi:

  1. a possibilidade de fazer posts muito curtos que viram mais facilmente conversas.
  2. a agilidade que o twitter dá a livestreams como o do Campus Party 2008. (de fato, este é um grande motivo)
  3. eu ia inventar um terceiro motivo porque gosto do número 3, mas ia ser só blabablá.
Posto isso, agora estou no twitter também. Depois eu penso em um jeito de puxar os meus feeds de lá para cá. Só não sei onde vou enfiar a caixa com os feeds neste meu layout cada dia mais lotado onde tudo compete por espaço no topo.

Nâo, não respondam onde enfio o twitter. :)

Enquanto isso, no Global Voices em Português.

Tem o link para o segundo post da série em que Luiz Carlos Azenha (que até onde sei, saiu da Globo para ir fazer jornalismo sério) decifra a documentação americana a respeito do apoio dos EUA ao golpe militar de 1964 no Brasil.

Tem também links para blogadas sobre uma rede de corrupção no futebol paulista e para a continuação do trabalho do PE BodyCount em deslindar a censura midiática do governo de Pernambuco.

Há também dois artigos bem interessantes. Um deles sobre a situação desumana vivida pelos palestinos na Faixa de Gaza -- passando frio, fome e doença enquanto Israel aperta seu cerco. Outro artigo interessante é sobre as video-homenagens da blogosfera aos 25 anos da morte do "anjo das pernas tortas" Garrincha.

Estas e outras coisas você encontra nas blogosferas globais, mas tudo reunido você encontra no Global Voices Online.

Amigos imaginários...


(aniversário do DPadua. Foto por zengzung no flickr do Dpadua)

A melhor coisa da vida é ter bons amigos. Daquele tipo que, se não são irmãos de sangue, são irmão de vida. Amigos que não te julgam, não te compram nem te vendem. Amigos com os quais você pode se sentir bem. Amigos nos quais você pode confiar. Amigos que não vão embora, e mesmo quando somem por uns tempos você sabe que sempre irão reaparecer. Enfim... amigos.
A vida é mais viva quando se tem amigos.
Tanto melhor se eles forem Imaginários.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Jisuis! Quem é que gosta dos bares brasilienses fechando cedo?

Eu acho completamente absurda a lei que obriga os bares de Brasília a fechar mais cedo. Não é só porque sou boêmio desde a adolescência, chegado a ficar em bares desfiando longas conversas sobre tudo e nada com meus amigos até altas horas da madrugada. Isso é apenas parte do problema, para mim e para várias das pessoas que conheço. Há também um sentimento estranho de que esta lei é o interesse de poucos se sobrepondo à vontade e aos direitos de muitos. Quem tem a perder somos nós, brasilienses que gostam de bares, os donos dos bares, a cultura e a cidade.

Não há muito para se fazer em Brasília exceto beber com os amigos em bares. Temos poucas festas, para os poucos públicos de sempre, e as mesmas andam cada vez piores. Temos poucos museus, e nem todos eles sequer tem um acervo. Nosso teatro é uma comédia de quase inexistência em si só, embora não falte boa vontade da classe artística brasiliense. Quem não gosta de filmes enlatados americanos tem poucas opções. De fato, quem não gosta de enlatados NEM de pseudo-intelectuais de nariz em pé, não tem NENHUMA opção cinematográfica e cineclubista decente nesta cidade. Nossos clubes parecem asilos e a maior parte dos brasilienses não dá o menor valor às nossas muitas áreas verdes e pilotis. Só nos resta então beber.

Com os bares fechando cedo, Brasília vira uma cidade fantasma às 2 da manhã. Pior do que isso, vira uma cidade onde cada vez menos há opções de diversão. Há quem diga que o melhor é ir embora daqui. Outros, tentam se acostumar. Talvez melhor mesmo seja tentar encontrar Jesus e virar evangélico (estes, os grandes vilões por trás de quase todas as leis estúpidas da capital federal). Se continuar assim, em pouco tempo a única diversão da cidade será ir à igreja.

É nessas horas que eu fico feliz por adorar meu videogame e por jogar RPG. Mas é uma pena ver a cidade que eu nasci e cresci virando um túmulo de si mesma. Perde a cidade e uma boa parte dos cidadãos. Perdem os turistas que cada vez menos tem o que fazer aqui e não voltam mais, perdem os comerciantes e donos de bares, perde a cultura da cidade -- que como em qualquer lugar sempre fervilhou na noite. Quem ganha com isso? Será que Jesus me explica?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Campus Party: nem uma linha sobre blogues de literatura?

A Patinha, minha companheira, levantou a questão ontem na mesa do bar. Hoje eu pesquisei e confirmei a suspeita. Será só impressão (nossa) ou não há nenhuma atividade no Campus Party 2008 voltada para a literatura nos blogues e para os blogues (e blogueiros) de literatura?

Estou na blogosfera desde 2002, e desde o começo os escritores blogueiros (ou blogueiros literários, como preferir) sempre fizeram parte da nossa dança. A literatura em blogues hoje é um assunto muito importante pra muita gente, e muitos excelentes escritores, principalmente os de poesia e prosa curta, tem optado por este meio para publicar seu trabalho. Eu mesmo arrisco vez por outra umas linhas em meu outro blogue, o Caderno do Cluracão.

Acho que é um grande furo que não haja nada voltado para os blogues de literatura e para os blogueiros literários na programação oficial do Campus Party. Mas isso não é nada. Uma vez lá, a gente faz alguma coisa acontecer...

A programação completa (provisória) do Campus Party 2008 já está disponível no site.

Não sei se isso é realmente novidade, mas como tem gente perguntando pela programação do evento no LiveStream do Campus Party 2008, imaginei que ainda não seja de conhecimento geral.

A programação completa, embora ainda provisória, do evento já está disponível no site. Vou dar uma checada nela agora, e depois faço alguns eventuais comentários que me surgirem na cabeça.

Um pequeno grande deslize e um pedido de desculpas

Quem cantou a pedra foi o Gregório, em meu Orkut. Quando fui ver, ele tinha toda a razão. A peça jurídica que pedia a proibição do RPG Vampiro: a Máscara era datada de 2001 e já havia sido derrubada há muito tempo. Todo o meu estardalhaço, que na verdade não passa mesmo de um sussurro dentro do universo da blogosfera, que é também, no fundo, só um quintal dentro do multiverso de nosso mundo, foi um pouco despropositado. Mesmo que, cá entre nós, isso não tenha feito tanta diferença -- sou apenas um blogueiro e meu blogue nem é tão lido assim -- acredito que deva a meus leitores um pedido de desculpas. Quando recebi a dica do Hamithat, não me preocupei de checar a data do documento quando comecei a escrever.

Não há neste momento, até onde sei, nenhum projeto de lei proibindo qualquer RPG no Brasil. Quanto à proibição à venda do CS, pelo que ouvi falar do mesmo Hamithat ontem, parece que continua de pé. Mas, novamente, cá entre nós: quem é que compra o Counter-Strike hoje em dia? E se o faz, quem é que o compra em uma loja? Como sempre, os nossos fornecedores são do mercado paralelo que, como bem sabemos, anda um pouco à margem das boas ou absurdas leis.

Mas acima de tudo quero pedir desculpas pela minha miopia em relação ao que merece 6 horas de pesquisa e o que merece apenas uma citação divertida. Há coisas mais importantes sobre as quais falar do que a tentativa esdrúxula de proibição de um RPG ou de um jogo de computador. Acho melhor me concentrar em coisas mais importantes agora, ou então voltar para o meu videogame.

Quando a gente erra, se engana ou exagera, a única coisa digna que nos resta fazer é reconhecer o erro e pedir desculpas. Isso é bem mais do que a maioria da midia tradicional e dos políticos de plantão tem feito por aí.

Abraços do Verde.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mudando de assunto: Enquanto isso, no Global Voices em Português...

(é hora de mudar de assunto, e trabalhar um pouco em prol da blogosfera)

...tem linque para a blogada em que Luiz Azenha se questiona se a campanha anti-Chavez em vários lugares é mera coincidência ou se faz parte de uma agenda secreta (americana?). Faz sentido, se não for meio óbvio, não?

Tem também linque para uma blogada de Chico Fireman descendo a lenha nas regras de seleção do Oscar que deixaram o filme "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" fora da competição de melhor filme estrangeiro. Mas, afinal, por que precisamos de Oscares e do reconhecimento gringo se temos tantos festivais de cinema no Brasil, Chico?

Há ainda, entre tantas outras coisas interessantes, uma matéria sobre como o governo chinês esconde os mendigos de Pequim para fazer a cidade bonita para as Olimpiadas 2008 e um linque para a bombástica matéria do PE BodyCount que acusa a Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco de maquiar os números sobre assassinatos no estado.

Outro destaque especial é outro linque para o blogue do Luiz Carlos Azenha, onde ele discute o papel fundamental e tragicômico da mídia no pânico a respeito da febre amarela que vem rolando nos últimos dias no Brasil. Isso me lembra da trapalhada midiática que levou a população ao pânico em 2000 a respeito da mesma febre amarela, o que levou algumas cidades (como Alto Paraíso de Goiás) a se transformarem quase em cidades fantasmas. Parabéns, novamente, para a midia tradicional brasileira.

Estas e muitas outras coisas você encontra nas blogosferas globais, mas pode encontrar tudo reunido no Global Voices Online e no Global Voices em Português.

Fernanda Lizardo, jornalista e testemunha no caso do assassinato em Ouro Preto, dá sua versão do caso.

Como havia prometido no final do último post sobre o assunto, tentei entrar em contato com a Fernanda Lizardo para saber mais sobre as afirmações feitas por ela naquela comunidade do Orkut, as quais também reproduzi no referido post. Consegui entrar em contato com ela primeiro pelo Orkut e depois por email. Reproduzo abaixo (na íntegra) a resposta dada pela Fernanda às minhas perguntas sobre o crime e o que rolou depois de fato (e na mídia) a respeito da história.

2008/1/22 Fernanda Lizardo de Sousa <********@hotmail.com>:

Oi, Daniel

Confirmo, sim, todas as informações passadas no meu texto de 2005.

Quanto ao caso, ele está parado na Justiça e é bem provável que seja arquivado por falta de provas. Os últimos depoimentos de testemunhas aconteceram no final de 2006 (acho que foi isso mesmo; vou procurar a intimação que tenho em casa para checar a data certa). Eu fui uma delas. Inclusive, durante meu depoimento, o próprio juiz que me ouviu (aqui no RJ) disse que o inquérito não fazia sentido algum, pois dizia que "alguém morreu", mas em momento algum apontava diretamente "quem matou".

Há uma série de erros que a imprensa não divulga. Os acusados do crime, por exemplo, forneceram material para laudos de DNA, mas o Ministério Público nunca solicitou a exumação do corpo para fazer comparações. Não foi registrada nem mesmo a coleta de material sob as unhas da vítima, para encontrar fragmentos de possíveis provas (como pele do assassino, por exemplo).

Quando estava em Ouro Preto (morei lá na época em que o crime ocorreu), estive na delegacia várias vezes e tive acesso ao inquérito. Ele foi aberto pelo delegado Adauto Corrêa (já foi um verdadeiro espetáculo circense desde o início, cheio de apurações mal feitas. Como disse antes, até apreender livros de Nietzsche alegando serem obras de "magia negra" eles apreenderam.)

Na época acompanhei também a cobertura da imprensa e pude ver repórteres deturpando declarações sem o menor pudor.

Conheci várias pessoas que tiveram contato com Aline antes de sua morte (incluindo aí quem fez o reconhecimento do corpo).

A questão é que a polícia se deixou levar pela posição em que o corpo estava para supor que havia um "ritual satânico" por trás do caso. Como coincidiu também que parte das pessoas ligadas à vítima jogaram RPG na tarde anterior à morte da Aline, montou-se toda a palhaçada.

Quem viveu na cidade sabe como funcionam as coisas lá. E sabe que, por um punhado de maconha, as meninas fazem muita coisa (diz-se, inclusive, que "não existe mais puteiro em Ouro Preto porque não vale a pena pagar por algo que as estudantes fazem de graça"). Aline consumiu drogas durante todo o período em que esteve na festa. E estava sem dinheiro, tanto que ela nem tinha onde dormir e planejava ficar na rua, virando noites até o dia de ir embora (pelo teor de responsabilidade da decisão, não é surpresa que tenha trocado sexo por um baseado). Ela conseguiu hospedagem gratuita em uma república e, no dia em que morreu, preferiu deixar que a amiga e a prima que a acompanhavam fossem embora mais cedo, preferindo ficar sozinha nas festas. "Coincidentemente", a igreja onde ela foi morta é exatamente no caminho que levava à república onde ela dormiria. Ela já estava indo para casa quando foi abordada para "acertar a dívida".

Se você quer minha opinião sincera, acho que o caso não vai para frente. Mesmo porque, depois de tanto tempo, é quase impossível coletar provas técnicas relevantes que levem ao verdadeiro assassino – o próprio circo da polícia favoreceu a fuga. A pessoa que matou Aline sorri aliviada e agradece.

É provável que o caso seja arquivado e creio que dificilmente vá prejudicar o meio do RPG.

Abraço,
Fernanda.

--

www.cooper.blig.com.br


Acredito que as afirmações da Fernanda não só mostram o falacioso circo promovido à volta do crime por parte da mídia e das autoridades locais (e a incompetência das mesmas em fazer justiça), como também sugere que há uma "agenda" por parte de alguns grupos que pretendem denegrir a imagem dos RPGs e dos RPGistas. Não foi desta vez novamente, meus caros.

A conversa sobre o tema nesta comunidade do Orkut também nos leva a crer que não será desta vez que os inimigos do RPG (e amigos dos holofotes midiáticos) vão levar a melhor. Não só a proposta de proibição não se sustenta em seus próprios argumentos falhos, como também seria necessária uma construção de caso muito mais responsável e polpuda antes que alguém pudesse intervir em nosso direito de jogar nosso bom e velho RPG.

Em suma, tudo se tratou de mais uma lamentável (e perversa) tentativa de associar um lamentável crime ao RPG, para com isso perseguir o jogo e seus praticantes. Por sorte a coisa deu com os burros n'água e as pessoas por trás desta jogada estão pagando o maior micão. De qualquer forma, se tiver mais notícias sobre a história, conto para vocês.


UPDATE:
O crime e a tentativa de proibição também são assunto neste blogue aqui, e na comunidade do Orkut sobre Changeling.

Counter-Strike e maternidade saudável.

Fantástica fala de uma colaboradora do Metareciclagem na lista de discussão da galera metarec.

2008/1/22 eiabel lelex <eiabel.lelex@gmail.com >:
Gurizadinha,
eu, enqto mãe de jogadores de CS, quero declarar minha total indignação para com a determinação do Ministério Público http://loucosdoblog.blogspot.com/2008/01/counter-strike-proibido.html .
quero declarar, tbém, que já fui contrária ao jogo, em especial por tratarem terroristas os que usam kafia... mas a vida me ensinou que somente com dialogo e compreensão a gente supera as dificuldades aparentes, ou seja, fui prá lan house com as crias devidamente vestida com minha kafia, causou maior surpresa na gurizada que se deu conta que terroristas somos todos nós, independente da roupa, aparencia que temos no momento... também aprendi com as crias, nos jogos de CS, que no universo dos games os suportes tecnologicos se constituem não apenas em espaços de elaboração de conflitos, medos e angustias, mas também de sociabilidade, prazer, divertimento, aprendizagem, subjetividade, ressignficação de desejos, e que não levam, necessariamente, a atitudes hediondas e socialmente inaceitáveis. é impressionante a capacidade de aproximação, de forma lúdica, prazerosa e atrativa que tem essa função de games, em lan houses, especialmente, tu chega, guri ou guria já se aproxima, sem nunca ter te visto, mas o fato de saber que vais jogar o CS, já é motivo prá te ter como um amigo, um parceiro...
E, como sempre me diz o Ariel, cada vez que faço cara de espanto frente a quantidade de tinta vermelha que espirra na tela: "é só um jogo, mãe. só quem tem nada na cabeça pensa em sair fazendo isso por aí!"
é fundamental analisar a violência mediante os aspectos sociais, econômicos, culturais, afetivos, já que este fenômeno se constitui em uma linguagem que o sujeito utiliza para dizer algo. os jogos eletrônicos deveriam ser explorados principalmente nas escolas, pois possibilitam a construção de conceitos vinculados aos aspectos sociais, cognitivos, afetivos e culturais.
para quem ainda não sabe, o MP existe para defender os interesses da sociedade, ocorre que esse mesmo MP, ainda não se pronunciou em defesa da sociedade em relação a determinação do juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, do 9 Juizado Especial Criminal do Rio http://www.idelberavelar.com/archives/2008/01/a_ultima_do_judiciario_parte_328.php
estou me sentido impotente... queria fazer alguma coisa que revertesse essa situação... mas sozinho ninguém faz nada.
besos
lele
pela sinsitra, sempre!

Acho que depois dessa, nem preciso mais falar do assunto... por agora.

Um oásis de sanidade no deserto da ignorância sobre o RPG.

Esta foi a sensação que me passou o texto de Monise Randau sobre RPGs para o Jornal da Cidade. O texto, cujo titulo é "Educação, Diversão ou Violência?" aborda do RPG com olhos não apenas compreensivos, mas muito lúcidos, e tenta mostrar que muito mais do que uma diversão de jovens estranhos vestidos de preto -- ou o causador de mortes horrendas em rituais satânicos -- o RPG é uma forma de diversão de grupo que pode prestar grandes serviços à educação e à formação das pessoas.

"E foi justamente para desmistificar o jogo e mostrar sua funcionalidade na sociedade que surgiu o Simpósio de RPG e Educação, que chega à sua quarta edição este ano. “Em 2002, depois da associação de um crime ocorrido em Ouro Preto (MG) ao jogo, mesmo sem que nada fosse comprovado, percebemos que as pessoas começaram a associar RPG à violência sem ao menos saber do que se tratava realmente. Foi aí que vimos a necessidade de uma mobilização para esclarecer aos professores como essa atividade poderia ser uma ferramenta educacional bastante importante”, explica Carlos Eduardo Lourenço, sócio-fundador da Ludus Culturalis e um dos idealizadores do Simpósio. “Acredito que o fato das pessoas interpretarem um personagem, muitas vezes da era medieval, acabou criando esse estereótipo sem fundamento algum. Mas a violência não está no jogo, pelo contrário, o RPG traz com ele alguns valores muito positivos. Além de incentivar o cooperativismo, torna a pessoa mais crítica e atuante”, completa."
Vale a pena ler a matéria toda.

Sobre a proibição de RPGs e jogos de computador.

Refletindo sobre as lastimáveis notícias de que um juiz de Goiás quer proibir o CS e o EverQuest no Brasil, enquanto um juiz de Minas Gerais tenta fazer o mesmo com o Vampire: the Masquerade e outros RPG's, pensei que seria oportuno tecer mais algumas considerações sobre o tema.

Os motivos para a violência parecem insondáveis para alguns. Outros parecem ter as mais variadas respostas prontas para a questão. Há quem diga que somos naturalmetne violentos. Há quem diga que as tensões da superpopulação urbana, do trabalho frenético, do trânsito, da dificuldade de se sustentar hoje em dia, e a própria violência das grandes cidades gera um efeito cascata que resulta em violencia. Mais e mais violência... em um caudal que parece sem fim.

Muitas são as formas que nós, cidadãos urbanos, buscamos para tentar relaxar de nossas tensões, e, quiçá, não nos tornarmos também estressados e violentos. Alguns jogam futebol, outros nadam ou praticam artes marciais. Alguns vão ao cinema, outros a shows e festas. Alguns passeiam no parque enquanto outros assistem televisão. Alguns jogam videogames. Alguns outros, jogam RPGs. Todos são gente, com estudos, trabalho, compromissos, relações que os sustentam mas por vezes dão trabalho, alegrias e tristezas, dores e prazeres.

Entre estes cidadãos urbanos, há alguns que explodem em violência, ou mesmo a tem como parte de seu cotidiano. Latrocidas, estupradores, assassinos, maridos que espancam suas mulheres e seus filhos, brigões de plantão... pessoas que se destemperaram, ou que pararam de se importar com o próximo a ponto de achar que está tudo bem em violá-lo, ferí-lo ou tirar sua vida. É confortável pensar que estas pessoas são bem diferentes de nós. Mas a verdade é que elas não são.

É claro que o fato de que eu e, espero, você que está me lendo, não temos a menor intenção de bater em ninguém, matar ninguém nem violentar ninguém nos difere de alguma forma das pessoas que fazem estas coisas. Mas há uma série de coisas que nos assemelha a eles. Assistimos televisão (ou não), gostamos de alguns filmes, detestamos outros, gostamos ou não de futebol ou de carnaval, bebemos ou não bebemos, fumamos ou não fumamos, cheiramos ou não cheiramos, jogamos RPG ou não jogamos. Estas coisas não nos diferem deles. Por outro lado, nos aproximam, e não podem de forma alguma ser pensadas como algo que os torna violentos (embora eu goste de pensar que estes passatempos e hábitos nos permitem ser mais calmos e pacíficos).

Como eu dizia, vivemos tempos violentos. Boa parte daquilo que a televisão nos mostra, assim como boa parte dos enredos de cinema, são recheados de violência gráfica ou velada. Assim também é com vários segmentos musicais, histórias em quadrinhos e livros, jogos de computador e RPGs. Agora, esta violência que ali se encontra não é causa, e sim reflexo, da violência de nossos tempos. Culpar os reflexos de nossos tempos -- da estética que estes tempos incutem em alguns de nós -- pela violência que grassa em nossos tempos é como culpar um espelho pela feiúra que reflete. É absurdo. Ainda assim, há algumas pessoas que estão fazendo exatamente isso. E o que é pior, algumas delas foram escolhidas e empossadas com o poder de decidir muitas coisas sobre nossa vida -- são juízes, pessoas que deveriam ter a visão muito clara sobre o que estão fazendo, ou ao menos assumir a própria ignorância e tentar se informar antes de soltar uma decisão sobre a sociedade.

Novamente, não é isso que está acontecendo. Nas decisões ligadas à proibição daqueles jogos de computador e daqueles RPGs, o que pude notar foi uma grande ignorância por parte dos redatores dos textos, somada à distorção de certos fatos e a induções falaciosas que fariam meu velho professor de Ética perder seus últimos cabelos. E é agora que toda aquela minha introdução entediante lá em cima começará a fazer mais sentido para vocês.

Já está mais do que provado que o tal assassinato ocorrido em Ouro Preto não foi motivado -- e na verdade não tem nada a ver -- com o jogo Vampire: the Masquerade. Nada indica realmente que o RPG tenha qualquer conexão real com este ou qualquer outro crime. Não há provas, nem mesmo as mais circunstanciais. O que há é uma indução falaciosa -- Vampire é um RPG violento, o(s) rapaz(es) cometeu(ram) um crime violento, logo deve haver uma ligação. Não sei o que vocês pensam, mas para mim esta afirmação se assemelha a dizer que já que o Brasil tem muitos negros, e todos os países pobres tem muitos negros, então a pobreza do Brasil deve ser causada pela presença de muitos negros. Infelizmente já ouvi as duas afirmações, e elas me soam igualmente absurdas e ultrajantes. Mais ultrajantes ainda quando vocè pensa que nem o Brasil é um país pobre, nem o Vampire: the Masquerade incentiva o assassinato e a violência (nem sequer por parte dos personagens controlados pelos jogadores) em momento algum.

Sem entrar em mais detalhes sobre como o Vampire é um RPG que aborda a violência mas em nenhum momento a glamouriza ou estimula nem sequer dentro de sua ficção, acho válido ressaltar que a grande maioria dos jogadores de RPG que conheço são pessoas pacíficas, algumas até meio pacíficas demais. O mesmo se aplica a quase todos os fãs de Death Metal que conheço, indiferente da violência das letras das músicas que gostam. O mesmo se aplica a quase todos os jogadores de Counter-Strike que conheci. Embora alguns deles tenham desenvolvido um certo facínio por tiroteios virtuais, duvido muito que algum deles gostaria de estar em um tiroteio real. Seria mais fácil dizer que jogadores de Paintball, que efetivamente atiram balas de tinta uns nos outros (diferente dos jogadores de CS que só apertam botões) podem se tornar atiradores loucos, e isso seria também uma séria fuga da realidade.

Por outro lado, o álcool pode ser apontado como responsável ou potencializador de muitas condutas violentas, mas ninguém questiona que proibir o álcool -- uma droga popular que é querida das classes de A a E -- seria absurdo e injustificado. Por quê, então, proibir certos RPGs e certos jogos de computador que NADA tem a ver com a violência de nossos tempos? Mais do que absurdo, isto me soa uma tentativa obscurantista de quebrar espelhos ou atirar às cegas contra um problema que não se entende ou, pior ainda, uma profunda ignorância e falta do que fazer por parte dos autores das referidas decisões judiciais.

Associar o criminoso com seus hábitos que o aproximam de nós é, por indução, afirmar que somos criminosos por gostar de formas perfeitamente pacíficas de diversão. Isso não apenas é absurdo, mas é também ultrajante.

Sem mais entediar vocês com minhas divagações, acho que é hora de agir. Se você gosta de RPGs ou de jogos de computador, sejam eles violentos ou não, e se você acha que quebrar espelhos não resolve o problema daquilo que eles refletem, ou se acha um absurdo cercear os modos de diversão de nossa juventude, junte-se a nós em nossa causa. Diga NÂO à proibição do Vampire: the Masquerade e do Counter-Strike em seu blogue, fotologue, flickr, orkut, twitter e onde mais puder. Mande emails para as varas criminais responsáveis por estes absurdos. Lutemos pelo nosso direito de nos divertirmos do modo saudável -- mesmo que incompreensível para algumas bestas -- que bem entendermos.


P.S. Em tempo, o sr. Fernando Martins, autor da peça em que se tenta proibir o jogo Vampire: the Masquerade, entre outros, é o mesmo promotor que vem infernizando a vida dos jogadores de RPG desde 2001, época do crime de Ouro Preto. O cara deve ter problemas com RPG, ou então deve faltar-lhe assunto para nos perseguir durante 7 anos tentando proibir uma de nossas diversões.

P.P.S. Ainda sobre o caso do assassinato de Aline Silveira Soares em Ouro Preto no ando de 2001 (parte do que motivou a sanha do sr. Fernando Martins contra o RPG), há um comentário bastante elucidativo em uma comunidade do orkut feito pela hoje jornalista Fernanda Lizardo, o qual reproduzo abaixo:

"Eu tive acesso ao inquérito
Não jogo RPG (até gostaria de aprender) e acompanhei de perto o caso de Aline Silveira Soares (inclusive, tive acesso ao inquérito). Confesso que fico chocada com a igmorância da polícia ao associar o caso com o jogo de RPG.
Para vocês terem uma idéia, a polícia de Ouro Preto apreendeu livros de Nietzsche numa república, alegando ser de "Magia negra".
Também apreenderam uma fita "descrevendo um assassinato", que na verdade nada mais era do que uma gravação de um monólogo para o MoMu, Festival de músicos e monólogos, organizado todos os anos pelos alunos do curso de artes da UFOP.
Vejam a versão da polícia para o caso: "Aline Silveira Soares pulou o muro da Igreja de Nsa Sra das Mercês no centro histórico de Ouro Preto (ou seja, na parte mais movimentada da cidade), com mais 5 pessoas, jogou RPG por horas (sendo que teriam de iluminar o cemitério para isso), bebeu, usou drogas (façam-me acreditar que uma pessoa drogada consegue falar baixinho), reve relações sexuais no cemitério, foi morta, e depois, os 5 algozes pularam o muro de volta.. E tudo isso SEM CHAMAR A ATENÇÃO DE NINGUÉM!!
Ah, faça-me o favor!
A cidade inteira sabe que, na tarde antes de morrer, Aline foi vista discutindo com um indivíduo, que NUNCA FOI INDICIADO pela polícia. A questão é simples: ela não tinha dinheiro para pagar as drogas que consumiu (tanto que ela pretendia dormir NA RUA com as amigas, e só se salvou dessa fria porque uma boa alma lhe ofereceu abrigo). Na hora de voltar à república (a Igreja de Nsa Sra das Mercês, onde ela foi morta, fica no caminho), foi abordada pelo indivíduo cobrando a grana das drogas. Como não podia pagar, aceitou ter relações com ele para pagar a "dívida"(no inquérito consta que ela tirou as roupas por livre e espontânea vontade e que não havia indícios de esperma nos genitais. Nenhum estuprador tem tempo de colocar preservativo, né?). No inquérito também consta que, quando ela levou o primeiro golpe de faca, estava de cócoras, ou seja, na posição vulgarmente chamada de "de quatro".
Muito provavelmente o homem tentou forçar sexo anal e ela recusou, o que o levou a golpeá-la uma vez (todo traficante anda armado, nem que seja com uma faquinha). Como ele já havia feito a bobagem de feri-la - e não dava para voltar atrás - não tinha outra opção, senão matá-la.
Aí vocês perguntam: mas porque o corpo dela estava em posição de crucificação e com sangue esfregado em todas as partes? Simples! O indivíduo que a matou quis despistar a polícia (e estava bem drogado também, porque nesse país até traficante se vicia). Qualquer pessoa no mínimo inteligente que comete um crime, faz de tudo para não deixar pistas. E o assassino de Aline conseguiu!
Agora, por incompetência da polícia local, pessoas inocentes estão sendo indiciadas, estão associando o RPG injustamente ao crime e o assassino está rindo à toa a cada vez que lê os absurdos que são publicados pela imprensa!
Eu pude acompanhar várias entrevistas e percebi o quanto os repórteres (principalmente da Rede Globo e do jornal Estado de Minas) deturparam as informações passadas a eles.
Esse crime não tem nada a ver com RPG, mas com o pagamento de uma dívida de drogas.
Perdoem-me a longa mensagem, mas não dava mais para ver as coisas acontecendo sem falar nada.
Abraços!"

Estou tentando contato com a Fernanda para saber mais sobre a história, já que até hoje tudo que posso encontrar no Google sobre o tema continua culpando o RPG pelo crime, embora já tenha ficado provado que o jogo nada tinha a ver com o caso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Depois da perseguição ao CS e ao EverQuest, agora tem juiz mineiro querendo proibir o Vampire: the Masquerade e o Illuminati

Continuo blogando via "email-blogging", mas parece que a coisa está funcionando (segundo o meu feed do FeedBurner)

O Hamithat deu a dica em um comentário, e eu fui, mesmo com o sono, dar uma olhada no que se tratava. E não é que tem mesmo alguém na Procuradoria da República de Minas Gerais tentando proibir os RPG's "Demonio: A Divina Comédia", "Vampire: the Masquerade" e "Illuminati" no Brasil? Pelo visto a ignorância, tacanhice e falta de assunto de alguns de nossos juristas começa a ultrapassar os limites do absurdo. E para variar as vítimas da bobagem jurídica são inocentes, enquanto os verdadeiros criminosos (com ou sem colarinho branco ou de qualquer cor) continuam a rir do rosto cego da Justiça por aí. Até parece coisa de cenário de RPG, só que não tem graça.

Abaixo, algumas partes da "pérola jurídica" exposta no site com o nome de ACP - Retirada dos jogos RPG Demônio - A Divina Comédia, Illuminati e Vampiro - A Máscara.

"Esse é justamente o cerne da presente ação: convenceu-se o
Ministério Público Federal, a partir de procedimento administrativo cível
instaurado no âmbito desta Procuradoria da República em Minas Gerais1, que
estão sendo comercializados e distribuídos jogos de RPG (Roleplaying Game)
que atentam contra toda a orientação legal de proteção e defesa da criança e
adolescente na formação de sua personalidade. Vários destes jogos incitam
a violência, disseminam o prazer pelo satanismo, por perturbações
mentais, imperfeições físicas, pela morte etc.
Na totalidade dos casos, o
Poder Público permanece inerte a tais fatos. Estes jogos assassinos não
repercutem direta e imediatamente sobre a pessoa. Atingem sua estrutura
psicológica, sua formação mental, distorcendo os valores socialmente
exaltados, e vangloriando os socialmente repugnáveis, tidos pelo
ordenamento jurídico como ofensivos.
"

" Caso uma propaganda fosse reproduzida propugnando pela
disseminação racial, fatalmente seria ela imediatamente retirada de mercado
e seus autores punidos. Estas modalidades de RPG estão a passar
mensagens tão lesivas à sociedade quanto o exemplo acima, vindo a
repercutir diretamente no comportamento de certos indivíduos e grupos
sociais, incitando e reforçando atitudes agressivas, sem que disto o Estado se
aperceba.
De tal sorte que, tais jogos virtuais estão sendo utilizados como
instrumentos nocivos à educação de crianças e adolescentes.
6. Necessária é a retirada desses jogos violentos do mercado,
compelindo o Poder Público a efetuar uma fiscalização sobre os mesmos e
velar plenamente pela educação e proteção de crianças e adolescentes."

7. O jogo VAMPIRO – A MÁSCARA (sangue, poder,
perturbações mentais, louvor a defeitos físicos, armas, drogas,
vícios, rituais diabólicos, disputas físicas, morte etc. – expressões
retiradas do próprio manual –), cuja proibição se requer em sede
de liminar nesta ação, tem sido apontado como a causa de
homicídio hediondo recentemente ocorrido na histórica cidade
mineira de Ouro Preto
, amplamente noticiado pela imprensa e de
larga comoção social, pelos requintes de crueldade. Na madrugada
do dia 14 de outubro do corrente ano, teria o principal suspeito do
crime, interpretando um personagem do jogo, denominado "Anjo da
Morte", apunhalado a vítima com 15 (quinze) facadas, após o que a
colocou com os braços abertos e um pé sobre o outro, como se tivesse
sido crucificada. Ainda, pintou todo o seu corpo com o próprio sangue.
O cadáver foi encontrado no cemitério localizado nos fundos da Igreja
Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia. Teria sido a vítima
assassinada após a ficção, proposta pelo jogo, transformar-se em
repelente realidade.
Os fragmentos dos depoimentos extraídos do
inquérito policial instaurado pela autoridade policial de Ouro Preto, na
oportunidade juntados (doc. 5), a fim de apurar a autoria do delito,
claramente demonstram a estreita ligação do famigerado jogo com o
crime e sua funesta influência sobre a mente..."

E a besteirada não tem fim. Vale a pena ir lá ler a peça inteira (em PDF). Mais horrível do que qualquer RPG de terror e mais paranóica do que qualquer aventura de Illuminati é a sanha do autor desta peça em perseguir os RPGs como a causa de quase todos os males do mundo, aproveitando para novamente taxar os RPGistas de assassinos psicóticos e adolescentes doentes.

É hora de mostramos novamente a nossa voz, e repudiar este ridiculo e injusto ato perpetrado pelo autor desta peça contra o nosso grupo. RPGistas não são assassinos, e suas diversões não os tornam violentos ou perturbados. O que perturba, lesa e mata é a ignorância. que parece ter ultrapassado as portas da rua e adentrado o gabinete de alguns juristas.

Amanhã, com mais tempo, vou repercutir a conversa nas comunidades do Orkut que defendem os RPGs, e dar uma sacada nas conversas blogosféricas sobre o assunto. Logo que der, trago mais informações também sobre a estapafúrdia proibição ao CS.

Agora eu vou dormir, enquanto não decidem que sonhar pode nos tornar assassinos violentos.
Sabe-se lá o que pode sair da cabeça dos juízes e da bunda dos bebês?

Justiça seja feita (com o Google e com o BlogBlogs)

Depois de muita demora, finalmente o BlogBlogs conseguiu descobrir que meu blogue está vivo e indexou seus posts. Como bem disse a Lu Freitas em seu comentário, é possível que o BlogBlogs estivesse em manutenção (ou seja lá o que for o "estarem mexendo no sistema" que ela disse) no momento em que eu o estava pingando. O que importa, contudo, é que agora não só o BlogBlogs se apercebeu de que meus posts existem, mas também já é possível visualizá-los no LiveStream do Campus Party 2008. \o/

Mas, por outro lado, o Google, ou mais exatamente o Blogger, está me decepcionando. Não consigo nem visualizar meu blogue, nem publicar nele pelo método usual (estou tentando usar o "email-blogging", espero que funcione). Se funcionar, é possível que seja justamente o BlogBlogs (ou, vá lá, o Technorati) que vai me permitir saber se esta blogada foi ao ar.

Parece haver alguma justiça poética no ar, ou talvez apenas um fluxo de (in)competências.

Assim seguem os dias... :)


p.s. como não sei taggear posts pelo email-blogging do blogger, vou ficar devendo os tags deste post até o Blogger parar de me sacanear.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Proibição do CS e do Everquest: um caso de falta de olhar para o próprio umbigo.

Serginho Amadeu cantou a pedra, rápido no gatilho como sempre, e a Lu Freitas ecoou e mandou ver ná no LiveStream do CampusParty 2008: Tem um juiz de Goiás que está tentando (e, pelo visto, conseguindo) emplacar uma proibição da venta dos jogos CounterStrike e EverQuest em todo o território nacional. A alegação? Os jogos tornariam os jovens mais violentos.

Ora, mas além do absurdo de uma proibição baseada em argumentos pífios que não se sustentam, algo que mais parece censura daquilo que não se entende ou não se gosta do que medida em prol da população, esta proibição mostra o quanto certos juristas e parlamentares não sabem olhar para o próprio umbigo.

Sem mais frases longas (ufa!), quem pode falar em jogos que tornam as pessoas mais violentas enquanto vive-se em um país em franco caos social? Quem pode olhar feio para as crianças dando tiros virtuais em LAN-Houses ou no conforto de suas casas quando tantas crianças de periferia tem como única chance de ter alguma coisa na vida a carreira de soldado do tráfico, onde os tiros são de verdade e o jogo termina quando se leva o primeiro "frag"? Que sentido faz proibir jogos eletrônicos, dizendo que eles "tornam a juventude mais violenta", quando as causas e os sustentáculos da violência estão em todos os lados e, cá entre nós, só uma classe de privilegiados tem alcance a estes jogos.

Mas então estão preocupados com a violência na classe média? Então que tal fechar as academias de artes marciais -- já que alguns praticantes delas podem se tornar violentos, bem mais do que os gamers que gostam de dar uns tirinhos? Que tal proibir a venda de bebidas alcoólicas em todo o território nacional -- já que o álcool pode ser responsável por muita violência? Que tal... que tal... que tal parar de merda e perceber que não são as academias, o álcool e muito menos os jogos os responsáveis pela atual situação de violência que assola nossa população, das classes A à E?

Em suma. A decisão do juiz não é apenas inócua -- tremenda falta de assunto e vontade de trabalhar -- mas é também absurda e desrespeitosa para com a população. Se é proibido dar tiros virtuais, tudo que vai nos restar é esperar ter a sorte de conseguir escapar dos reais. E, cá entre nós, um não tem nada a ver com o outro. Uns são divertidos. Os outros, matam.

Mas é a ignorância, e não os jogos de computador, que mata.
Abaixo a proibição do CS e do EverQuest.

Mande seu email para a 17a Vara Federal de Goiás expressando sua opinião a respeito da proibição destes jogos. Talvez eles nos ouçam, se souberem mais sobre ler emails do que sobre comportamento de juventude e jogos eletrônicos.

O email da 17a Vara é: 17vara@mg.trf1.gov.br

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Blogblogs lerdo...

Já se vão 3 horas que o Feedburner capturou meu post sobre o Campus Party, e mais do que isso que o post foi publicado, e até agora o BlogBlogs ainda não percebeu que o Alriada Express é um blogue vivo.

Já chequei e re-chequei o endereço do feed cadastrado no BlogBlogs, e continuo pingando o site de 5 em 5 minutos, e até agora nada.

Assim não dá, né? Fico imaginando quantos outros blogs estão fora da conversa do LiveStream do Campus Party 2008 por conta desta lerdeza do BlogBlogs.

Presidentes e escoteiros...

Deu no Global Voices em Português.

As Maldivas parecem mesmo ser um lugar estranho. Não basta que o atual ditador do lugar, Maumoon Abdul Gayoom, seja ao mesmo tempo chefe do governo, do judiciário e dos escoteiros locais. Ele tem também que sofrer um atentado-a-faca-de-cozinha durante uma aparição pública e ser salvo por UM ESCOTEIRO DE 15 ANOS!

O escoteiro se feriu na mão ao salvar o presidente, e se transformou em um herói nacional. E os blogueiros do país e das redondezas -- sempre alertas! -- estão um pouco perplexos com o atentado, o salvamento, e suas implicações. Eu também estaria perplexo se um leitor da Veja tentasse matar nosso presidente com um martelo de carne e fosse impedido por um beneficiário do Fome-Zero.

Não... acho que isso seria até mais bizarro. :)

Blogblogs... ahhh Blogblogs...

- O Blogblogs é burro e cego.
- Porque?
- Pq ele não viu a minha blogada nova.
- Vai ver ele só é meio lento.
- Hum...
- Ou então é burro mesmo. Que se puede hacer?
- Xingar o Blogblogs? :)

Campus Party 2008

Como já havia comentado antes, fui convidado para blogar lá no Campus Party 2008. Na companhia do mano véio overmundano Fernando Mafra e da... err... policromática Marimoon, vou estar circulando pelo evento e blogando o que vejo, converso e penso sobre o circo todo. Acho que vai ser divertido.

Como o evento já vai se aproximando, já é hora de começar a ler e falar sobre o assunto (antes que descubram que sou um blogueiro preguiçoso de araque).

O primeiro passo é me cadastrar no Livestream do evento (saiba mais aqui). Para isso, tenho que vencer minha implicância e fazer o cadastro do Alriada Express no BlogBlogs (aquele sisteminha brasileiro de tracking de blogues que nunca funcionou muito bem).


# Ei BlogBlogs.Com.Br ! Me reconheça!

Feito isto, o Livestream já deve começar a capturar minhas blogadas, contanto que eu use aquele intuitivo tag nomeado "campuspartybr".

Agora vou dar uma pesquisada no tema e fazer algums apontamentos sobre o que eu descobrir sobre o evento e o circo que o cerca. Espero que seja divertido.

Vamoquevamo...

Um rifle da Hello Kitty?



Sem comentários!

A matéria de onde obtive a imagem diz que o rifle foi feito por um colecionador de armas para ser presenteado à sua esposa.
Fofo, não?

A dica foi do Paulo, no AINN.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Ô família!

Enquanto tentava descobrir o telefone do meu tio através do Google ("a explicação nos afasta da solução"*, então não me perguntem por que preciso do Google para descobrir o telefone do meu tio), descobri que o cara é um "fazedor de frases" citado aqui e acolá na web. Desde criança eu achava o cara genial, mas confesso que me enchi de orgulhinho na madrugada ao saber que o tio Néocles é tão propenso a fazer frases quanto eu.

Ô Família!

Em tempo. Ainda não descobri o telefone do meu tio, mas vou acabar descobrindo.


* esta é uma das frases do meu tio que achei na web.

Plugin do Firefox ajuda a burlar a censura na web iraniana.

Deu no Global Voices Online: Depois do Access Flickr, que permite burlar os bloqueios impostos ao Flickr em vários paíres, agora é a vez do FreeAccess Plus!, do iraniano MohammadR, transformar o navegador em um cliente de proxy que permite ao usuário burlar os bloqueios locais a sites como o del.icio.us, YouTube, Flickr, Technorati, Myspace e outros.

Resta saber se o milagroso plugin também pode ajudar meus compatriotas que ainda trabalham em empresas cujos chefes pensam como um presidente radical iraniano.

Central de Boataria Mal Intencionada (da Globo) e Alraida Express no Global Voices Online.

Bem que a Paulíssima já tinha dado a dica em seu comentário em meu último post sobre o Central de Boatos da Globo. A história deu mesmo uma boa matéria (en/pt) para o Global Voices Online. Nela a Paulíssima recupera algumas das conversas blogosféricas sobre o absurdo programa exibido no Fantástico, cita um de meus posts sobre o tema e coloca link para outro, e disponibiliza o vídeo do programa. Vale a pena ir lá dar uma lida.

Os comentários deixados na matéria são um espetáculo à parte. Devo viver num paraíso intelectual. Ainda me choco cada vez que ouço uma baboseira do tipo "Parabéns à Globo por cumprir o seu papel de alertar nosso povo antes que seja tarde." (não acredita que alguém alfabetizado disse isso? pois é, pois vá e leia). Veja bem! Não é Fantástico? =)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Promises, promises...

Eu prometi que iria dar mais atenção ao meu blogue, né? Pois é. Eu juro que tento, mas ando um bocado ocupado. De qualquer forma, a gente faz o que pode...

Mudando de assunto, sabiam que o Final Fantasy XII do P.S.2 é bem legal?

É. É sim...

Ei! O que é aquilo? Uma mandrágora com braços e pernas!?

(Duende sai de fininho para escrever o próximo post....)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

"Shinnenkai"

"A shinnenkai (Japanese, lit. "new year gathering") is the Japanese tradition of welcoming the arrival of the New Year, usually by the drinking of alcohol. A shinnenkai is generally held among co-workers or friends in January."

Estes japoneses não tem mais o que inventar. No meu tempo isso se chamava "arranjar motivo para beber com os amigos". Acho muito bom. :)

domingo, 6 de janeiro de 2008

Retrospectiva Global Voices Online

O Global Voices Online fez anteontem (dia 4) uma retrospectiva das coisas que rolaram em suas páginas no ano de 2007. Há links para muitas matérias interessantes, e uma rápida análise da função e da importância do projeto na atualidade. A retrospectiva foi traduzida para o Global Voices em Português pela sempre ótima Paulinha Góes.

Vale a pena dar uma olhada.

Ramblings of a tired mind...

Dormir pouco está, como sempre, cobrando um preço caro da minha capacidade de pensar. Mal estou conseguindo escrever coerentemente. Acho que preciso de umas boas doze ou quinze horas de sono ininterrupto antes de virar gente novamente.

Mas antes disso, vamos tentar fazer os posts do dia (embora eu tenha a impressão de que cada vez menos pessoas estejam me lendo)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Quer saber o que está rolando no Quênia (sob o ponto de vista dos blogueiros locais)?

O Global Voices Online está publicando (e o Global Voices em Português está traduzindo) matérias quase diárias sobre os relatos dos blogueiros quenianos sobre a situação do país.

01.01.2008 - Será que o Quênia está se transformando em um estado policial?
03.01.2008 - Kenya: Is Ugandan Militia In Kenya?
05.01.2008 - Quênia: Não duvide do poder da internet na África

Estes e outros relatos você encontra no Global Voices.

Carlos Café está de blogue novo.

Carlos Café, fotógrafo e amigo, está de blogue novo.



Como imagens podem dizer
bem mais do que palavras,
sugiro que vocês vão lá ver.
Eu não vou tentar explicar nada.

"A quem servem os motoboys?"


(imagem encontrada aqui)

Lelê Teles pergunta e responde.

Aproveitando a oportunidade, quero dizer que também gostei deste post do Lelê.


p.s. e se o assunto é motoboys, Marcos Matamoros tem uma gracinha de proposta para resolver o problema dos motoboys em São Paulo.

A WITNESS está em busca de um novo Diretor Executivo

Para quem não conhece, a WITNESS é uma organização que promove a atenção a questões de violação de direitos humanos pelo mundo afora através da promoção/produção e coleta de vídeos sobre o tema produzidos por cidadãos de todo o mundo. No Brasil, a WITNESS já fez um trabalho bem bacana documentando a escravidão contemporânea na região Norte, além de outras violações aos direitos humanos.



Agora eles estão buscando um novo Diretor Executivo.

Reproduzo abaixo o email de Georgia Popplewell, enviado para a lista de autores do Global Voices Online, que explica resumidamente qual é o trampo:

WITNESS, an international human rights organization based in Brooklyn, New York, seeks an Executive Director. In a world that is increasingly tuned-in to all things digital and tuned-out to everyday atrocities and abuses, WITNESS is harnessing the powers of visual imagery and human stories to create change.

WITNESS is a unique non-profit organization that has established a foothold at the intersections of impassioned human rights advocacy, the world of visual media, and the blossoming frontier of online technologies. It empowers people to transform personal stories of abuse into powerful tools for justice, encouraging public engagement and policy change. WITNESS strives to go beyond providing individuals and groups with the tools to document human rights abuses around the world, and it does so by training its partners to turn compelling testimony and images into powerful human stories and strategic advocacy campaigns that make a difference. It envisions a just and equitable world where all individuals and communities are empowered to defend and uphold human rights.

For their next leader, WITNESS seeks a dynamic entrepreneur with superior intellect, vision, and commitment, as well as the drive and experience necessary to lead a fast-moving human rights enterprise. S/he will need to build upon WITNESS’ successful foundation and stellar reputation, while remaining constantly attentive to new challenges for the organization to undertake. S/he will need to be comfortable and successful operating at both the grassroots level of human rights advocacy and at the highest levels of political leadership around the world. S/he will be expected to enthusiastically pursue new funding opportunities, partnerships, and venues for visibility and exposure for the organization as a whole, all the while inspiring and guiding his or her staff as they grow.
TO APPLY

WITNESS is an equal opportunity employer and will consider applicants without regard to race, color, religion, creed, gender, national origin, age, disability, marital or veteran status, sexual orientation, or any other legally protected standing. Inquiries, nominations, and applications, including a resume and a substantive cover letter responding to the challenges outlined above, should be sent to the following electronic mailbox: 3562@imsearch.com.

Inquiries should be addressed to:

Erin Sullivan

Isaacson, Miller

334 Boylston Street, Suite 500

Boston, MA 02116

(617) 262-6500

For additional information on WITNESS, please visit their website at www.WITNESS.org.


Esta é uma grande oportunidade de trabalho para quem tiver os dotes necessários para o trampo. É um grande desafio, e é um trampo muito necessário (e recompensador).

Se você achar que dá conta do recado, porquê não tenta enviar uma proposta?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A "boataria" mal intencionada da Globo será punida?

Pelo visto eu não fui o único a me chocar com o quadro "Central de Boatos" exibido no programa Fantástico de 16/12 (assista o quadro aqui, no próprio site da Globo). Com humor de má qualidade (os Melhores do Mundo já foram engraçados um dia...), o quadro ridicularizava ao mesmo tempo o Brasil, a Venezuela e a inteligência de seu espectador, assim como fazia "de brincadeirinha" afirmações no mínimo muito mal intencionadas sobre nossos vizinhos vizinhos venezuelanos.

Hoje, quando já estava desligando o computador, ví um auspicioso comentário de gmarun em meu último post sobre o assunto, informando que o PCB havia entrado com uma representação no Ministério Público contra a Globo por conta da fantástica palhaçada.

Colo abaixo o texto da representação, extraído do Observatório da Imprensa:

REPRESENTAÇÃO JUDICIAL CONTRA A GLOBO:

Excelentíssimo Sr. Dr. Procurador Geral do Ministério Público Federal no Estado do Rio de Janeiro

O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), registrado no Tribunal Superior Eleitoral e inscrito no CNPJ, sob o número 01585552/0001-71, vem, através de seu advogado e Secretário Geral, IVAN MARTINS PINHEIRO, brasileiro, advogado inscrito na OAB-RJ, sob o número 17.517, com endereço na sede do partido, à Rua Teotônio Regadas, 26 – sala 402, Lapa, Rio de Janeiro (RJ), apresentar

REPRESENTAÇÃO

em face da Rede Globo de Televisão, com sede nesta cidade, tendo em vista que, em seu programa "Fantástico", edição de 16 de dezembro último, violou o parágrafo único e praticamente todos os incisos do "caput" do artigo quarto da Constituição Brasileira, cláusula pétrea de nossa Carta Magna, que trata dos princípios que regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil:

** prevalência dos direitos humanos;

** autodeterminação dos povos;

** não-intervenção;

** igualdade entre os Estados;

** defesa da paz;

** solução pacífica dos conflitos;

** repúdio ao terrorismo e ao racismo;

** cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.

Parágrafo Único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

1 - Com o notório objetivo de instigar um conflito militar entre o Brasil e a República Bolivariana da Venezuela, aquela emissora exibiu, em horário nobre, no programa de maior audiência nacional, uma provocativa reportagem sob o título: "O BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA UMA GUERRA CONTRA A VENEZUELA?".

2 - A programação foi exaustivamente promovida, de forma sensacionalista, nos dias anteriores à difusão, com chamadas renitentes, em que se perguntava: "COMO REAGIRIAM OS BRASILEIROS A UMA INVASÃO DA VENEZUELA AO NOSSO PAÍS?".

3 - Para escamotear da população brasileira suas deletérias intenções - e certamente para tentar fugir das penas da lei -, a reportagem assumiu uma forma híbrida, para passar a impressão de que se tratava de humor. Para enganar os brasileiros entrevistados na fronteira, os repórteres passavam-lhes a impressão de que se tratava de uma reportagem do tradicional programa dominical.

4 - Inúmeras passagens do programa - que podem ser verificadas na gravação áudio-visual que se anexa à presente - evidenciam a transgressão dos princípios constitucionais acima arrolados. O programa já começa com a caluniosa insinuação de que a Venezuela está se armando para invadir o Brasil. Trata-se de uma notória fraude. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que o adversário externo do governo venezuelano é o governo norte-americano e não o brasileiro.

5 - Os repórteres manipulam, sem qualquer pudor, a inocência, o patriotismo e a falta de informação e consciência política de alguns compatriotas nossos que vivem naquela fronteira. Entre outras irresponsabilidades e leviandades, perguntam aos incautos se lutariam em defesa do Brasil, na iminência da agressão venezuelana. Chegam ao ponto de percorrer, em um carro decorado com nossas cores nacionais, a via principal de Pacaraima (RR), promovendo uma "convocação de emergência", incitando a população a se "alistar para a guerra contra a Venezuela". Isto se dá exatamente na fronteira entre os dois países amigos, fomentando um clima de hostilidade e agressividade entre vizinhos que ali, mais do que em outros rincões, têm intensa interação familiar, cultural, social e econômica.

6 - O programa trata de ridicularizar, satanizar e estereotipar o Presidente da Venezuela, através de edição de imagens para que pareça um agressor de nosso país. O objetivo político central é uma solerte campanha para instar o governo brasileiro a reforçar sua fronteira com a Venezuela e se armar para poder "enfrentar o país agressor".

7 - Para tal, tentam ridicularizar também as nossas Forças Armadas. Enquanto as Forças Armadas venezuelanas são apresentadas como "a maior força bélica da América Latina", as nossas são caracterizadas como sucateadas, ineficientes, obsoletas. Nesse desiderato, não faltam cenas grotescas e patéticas, como os locutores treinando brasileiros para se defenderem com pedras. Há uma passagem em que um ator, fazendo o papel do Presidente Hugo Chávez (chamado debochadamente de "Chaverito"), passa incólume pela fronteira, de três maneiras: a pé, de bicicleta e a cavalo. Tudo com a cumplicidade de funcionárias da Receita Federal brasileira que aparecem no programa, sendo que uma delas tem o seguinte diálogo com o locutor:

** Locutor: "Os venezuelanos são bons vizinhos?"

** Funcionária: "Com toda sinceridade? Não!"

** Locutor: "Vocês botam tranca aqui no posto após o expediente, para não ter nenhum venezuelano passando por aqui?"

** Funcionária: "Claro".

8 - Ao fim deste bloco, afirma o locutor, categórico e solene:

"Está provado: a hora que Chávez quiser, ele invade o Brasil."

9 - O grave é que o programa em foco, de imensa audiência popular, criou uma imagem de credibilidade que leva muitos brasileiros, sobretudo os que não têm visão crítica da manipulação midiática, a terem suas opiniões formadas exatamente por suas reportagens, que, aliás, têm muito pouco humor. Sua matéria prima principal é o sensacionalismo. Quem de nós já não ouviu, quando se quer confirmar que determinada informação é verídica: "Mas isso "deu" no Fantástico!".

10 - O final do programa é uma provocante e abjeta apologia à guerra entre o povo brasileiro e o venezuelano, onde os locutores revelam suas intenções, em frases repugnantes e sórdidas como estas:

"E se o tempo fechar entre Brasil e Venezuela: será que estamos preparados?"

"Qualquer movimento estranho na fronteira, liguem para Brasília e reclamem com o síndico."

11 - Para insinuar que o perigo não se limita ao norte, na fronteira com a Venezuela, mas que a "invasão" pode vir também pelo sul, pela fronteira com a Bolívia, o programa aproveita para ridicularizar o Presidente boliviano, Evo Moralez, colocando-o como submisso ao Presidente Chávez. Quando o locutor informa ao público: "Agora, vamos ver como está a fronteira sul", imediatamente entra uma charge animada de Evo Morales propondo Chávez para Presidente da Bolívia.

12 - Na realidade, o programa ofendeu três Presidentes: o Presidente da Bolívia, como uma marionete, um fantoche; o Presidente da Venezuela, como um invasor, um ditador; o Presidente do Brasil, como um pusilânime, um omisso, que não reage e não prepara o país para se defender da "invasão". A todos, portanto, agravou com dano material, moral e às suas imagens.

13 - O desrespeito é tão grave e notório que o programa foi ao ar exatamente no momento em que o Presidente Luiz Inácio da Silva estava num intervalo de visitas aos dois países, justamente para estreitar os laços de amizade e colaboração entre seus povos, na perspectiva da integração latino-americana! No dia anterior, nosso Presidente chegara da Venezuela; no dia seguinte, viajou para a Bolívia.

14 – A nosso juízo, não se tratou de coincidência. O programa é parte de uma insidiosa e contumaz campanha de manipulação [WINDOWS-1252?]– a serviço de interesses imperiais -, destinada a tentar frear a determinação inabalável dos povos da América Latina, no sentido de romper os grilhões que os levaram à dependência, ao subdesenvolvimento e à iniqüidade social.

15 – A importância que a Constituição brasileira atribui ao nosso convívio harmonioso com os países latino-americanos é muito relevante, a ponto de estabelecer como princípio a busca da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

16 - Diante de todo o exposto é que o PCB requerer ao ilustre dirigente do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL que intente a AÇÃO PÚBLICA que julgar compatível contra a Rede Globo de Televisão para que, com base no inciso V, do artigo 5º de nossa Constituição Federal,

SEJA ASSEGURADO O DIREITO DE RESPOSTA, PROPORCIONAL AO AGRAVO, NO MESMO PROGRAMA E NO MESMO DIA DA SEMANA E HORÁRIO EM QUE SE PRODUZIRAM AS OFENSAS, A REPRESENTANTES DESIGNADOS PELOS GOVERNOS OFENDIDOS, A SABER: DA BOLÍVIA, DO BRASIL E DA VENEZUELA.

17 - Finalmente, requer o PCB que o eminente Procurador analise a transgressão de nossos princípios constitucionais à luz da legislação penal e daquela que regulamenta a concessão pública de emissoras de televisão, estudando a possibilidade de se postular a aplicação de sanções, tendo em vista, entre outros dispositivos, o artigo 221, de nossa Carta Magna, que estabelece que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão exclusivamente a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas, à promoção da cultura nacional e ao respeito aos valores éticos e sociais da nação. Entre estes, Excelência, destacam-se a tradição brasileira de privilegiar o convívio fraterno entre os povos e o respeito absoluto à sua autodeterminação.

Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2007

Ivan Martins Pinheiro

Com cópia para:

- Presidência da República Federativa do Brasil

- Ministérios das Relações Exteriores e das Comunicações;

- Embaixadas da Bolívia e da Venezuela;

- Associação Brasileira de Imprensa;

- Ordem dos Advogados do Brasil (RJ).


Agora vamos ver onde essa história vai dar. Se uma quantidade suficiente de pessoas se indignar com o caso, talvez a Globo não transforme esta representação do PCB em mais uma piada. O pessoal da editoria do Fantástico deve se achar muito engraçadinho, e os "Melhores do Mundo" são uns palhaços que agora envergonham a profissão, mas eu não sou palhaço. E você, está achando tudo muito engraçado?


p.s. parece que tem gente que está achando mesmo tudo muito engraçado. não é uma gracinha?

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O que andam dizendo as Vozes Globais

Estará o Quênia virando um estado policial, ou será apenas impressão dos blogueiros do país? O silêncio da mídia tradicional do país parece só corroborar a idéia de que algo está fedendo nas ruas daquele país.

Enquanto isso, no Paquistão, a morte de Benazir Bhutto parece ter trazido à tona questões fundamentais sobre a realidade política do país, ao mesmo tempo que serviu para santificar aquela que pouco antes era alvo de acusações graves. Rei morto, rei posto, o filho de apenas 19 anos (criado em Oxford, vejam só!) de Bhutto assume em uma manobra feudalesca a presidência partido, talvez para o bem, mas mais provavelmente para o mal do Paquistão.

Além disso, o resultado da segunda leva de micro-financiamentos do Rising Voices, uma ação em prol da midia cidadã realizada pelo Global Voices, já foi publicado no GV. Por sinal, a notícia até já está velha, mas eu havia esquecido de comentar por aqui a sua publicação.

Volto em breve com mais alguns destaques do GV, e de preferência com mais alguns posts frescos.

Feliz Ano Novo para todos.
(O meu já está começando particularmente muito bem, apesar dos pesares globais)