Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Você não é ninguém se não estiver no Twitter"

A Paulinha Góes deu a dica por email, e eu fui lá sacar. É uma música engraçadinha, e até bem espertinha, a respeito de alguns aspectos da socialização em rede (digitalmente mediada). Abaixo, o clip original, e a tradução (de minha autoria) da música para quem precisar de uma. Tudo que tenho a dizer é: é bacaninha, vale a pena ouvir e rir, e talvez pensar.




Você Não É Ninguém Se Não Estiver No Twitter


Você não é ninguém se não estiver no Twitter
E se você ainda não está lá você nem percebeu
Se você não foi bookmarkeado, retwittado e blogado
Você poderia muito bem não ter existido

Nos velhos tempos era tudo uma questão de realizações
Colecionar todos os seus troféus em um altar
Então todos descobriram a internet
E de repente você teve que ficar online

Uma home page era tudo que você precisava
Para parecer bem sucedido sem ser um geek
Contanto que você atualizasse semi-anualmente
E checasse seu email uma ou duas vezes por semana

Você não é ninguém se não estiver no Twitter...

A tecnologia está se movendo bem depressa
E a próxima coisa que você precisava era um blog
Com publicações íntimas e detalhadas
E de vez em quando a foto do seu cachorro

Mais recentemente os estudantes nos trouxeram o Facebook
E todo mundo teve centenas de amigos
As festas lá nas fotos parecem ótimas
Elas nem são tão boas, mas todo mundo finge

Você não é ninguém se não estiver no Twitter...

Agora você precisa publicar cada momento
E cada simples pensamento que te passa pela cabeça
Me disseram que o Twitterverso é cheio de merda
Mas a maioria de nós é até bem sofisticado

Nós validamos as inseguranças uns dos outros
E tiramos onda com os gadgets que compramos
Nós rolamos de rir de qualquer sinal de piada
E tentamos nos auto-promover sem que percebam

Você não é ninguém se não estiver no Twitter...

Via email: Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à Revista Veja

(via email da Pata Nardelli, que recebeu a mensagem da lista ANTRO_UnB)

16/09/2008 - Na edição de 20 de agosto a revista Veja publicou a reportagem O que estão ensinando a ele? De autoria de Mônica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lá pelas tantas há o seguinte trecho:

"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado".

Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.

Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.

Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.

A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.

Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.

Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.

Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".


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Eu nunca me canso de me surpreender com a queda vertiginosa, e constante, da qualidade (e do bom senso) do jornalismo da Veja. Quiçá fosse desnecessário dizer de novo e de novo o quanto a Revista Veja é medíocre, tendenciosa -- até mesmo golpista e mentirosa. Mas infelizmente ainda há pessoas que lêem e crêem nas palavras daquela corja. Espero que esta carta seja MAIS uma amostra do naipe da Revista Veja. Começo a questionar a inteligência de quem ainda acredita na qualidade da revista...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Contra a Criminalização do Aborto

Recebí por email, e passo em frente por aqui (no texto abaixo há inclusive as informações precisas sobre a exibição extraordinária do filme "O Aborto dos Outros"):

---------- Forwarded message ----------


Dignidade, autonomia, cidadania para as mulheres!
Pela não criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!
Em razão do Dia Latino- Americano pela Descriminalização do aborto, dia 28 de setembro, as entidades e organizações feministas abaixo assinadas convidam para o lançamento, no Distrito Federal, Frente nacional pelo fim da criminalização das mulheres e pela legalização do aborto":
CUT-DF e Sindicatos Filiados, Marcha Mundial de Mulheres – DF, CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Cidadãs Positivas, Sapataria: Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais do DF, Coturno de Vênus, Fórum de Mulheres Negras -DF, Promotoras Legais Populares – DF, korpus krisis, Wendo -DF.
Dia 23/09 - terça-feira
Exibição do filme "O aborto dos outros", com a presença da diretora Carla Gallo
Local: Auditório do CEAN (607 norte, entrada pela L2)
Horário:
14h - Primeira exibição
16h - Oficina "batucada feminista"
19h - Segunda exibição
Dia 26/09 - sexta-feira
Ato com performance, batucada e panfletagem
Local: concentração na plataforma superior da Rodoviária (próx. semáforo)
Horário: a partir das 16h
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O Aborto dos Outros
(O Aborto dos Outros, Brasil, 2007)
Gênero: Documentário
Duração: 72 min.
Cotação: 9,1 (19 votos)
Diretor(es): Carla Gallo (2)
Estréia: 19.09.2008
SINOPSE
Vítima de estupro, uma menina de 13 anos aguarda no hospital os procedimentos para um aborto legal já autorizado. Grávida de seis meses, uma mulher casada concorda em interromper a gravidez a conselho médico, depois que exames constatam defeitos irreversíveis no feto. Também vítimas de estupro, outras mulheres, uma delas mãe de três filhos, debatem-se com seus dilemas religiosos, temendo castigo de Deus depois da intervenção. Empregada doméstica que recorreu a um remédio para provocar o aborto teve hemorragia intensa, foi parar num hospital. Acabou denunciada e sendo algemada na cama, além de enfrentar um processo. Vista sob o prisma de situações-limite, a maternidade de mulheres geralmente pobres revela aspectos solitários e extremos.
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MANIFESTO CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DAS MULHERES QUE PRATICAM ABORTO
EM DEFESA DOS DIREITOS DAS MULHERES!
Centenas de mulheres no Brasil estão sendo perseguidas, humilhadas e condenadas por recorrerem à prática do aborto. Isso ocorre porque ainda temos uma legislação do século passado – 1940 –, que criminaliza a mulher e quem a ajudar.
A criminalização do aborto condena as mulheres a um caminho de clandestinidade, ao qual se associam graves perigos para as suas vidas, saúde física e psíquica, e não contribui para reduzir este grave problema de saúde pública.
As mulheres pobres, negras e jovens, do campo e da periferia das cidades, são as que mais sofrem com a criminalização. São estas que recorrem a clínicas clandestinas e a outros meios precários e inseguros, uma vez que não podem pagar pelo serviço clandestino na rede privada, que cobra altíssimos preços, nem podem viajar a países onde o aborto é legalizado, opções seguras para as mulheres ricas.
A estratégia dos setores ultraconservadores, religiosos, intensificada desde o final da década de 1990, tem sido o "estouro" de clínicas clandestinas que fazem aborto. Os objetivos destes setores conservadores são punir as mulheres e levá-las à prisão. Em diferentes Estados , os Ministérios Públicos, ao invés de garantirem a proteção das cidadãs, têm investido esforços na perseguição e investigação de mulheres que recorreram à prática do aborto. Fichas e prontuários médicos de clínicas privadas que fazem procedimento de aborto foram recolhidos, numa evidente disposição de aterrorizar e criminalizar as mulheres. No caso do Mato Grosso do Sul, foram quase 10 mil mulheres ameaçadas de indiciamento; algumas já foram processadas e punidas com a obrigação de fazer trabalhos em creches, cuidando de bebês, num flagrante ato de violência psicológica contra estas mulheres.
A estas ações efetuadas pelo Judiciário somam-se os maus tratos e humilhação que as mulheres sofrem em hospitais quando, em processo de abortamento, procuram atendimento. Neste mesmo contexto, o Congresso Nacional aproveita para arrancar manchetes de jornais com projetos de lei que criminalizam cada vez mais as mulheres. Deputados elaboram Projetos de Lei como o "bolsa estupro", que propõe uma bolsa mensal de um salário mínimo à mulher para manter a gestação decorrente de um estupro. A exemplo deste PL, existem muitos outros similares.
A criminalização das mulheres e de todas as lutas libertárias é mais uma expressão do contexto reacionário, criado e sustentado pelo patriarcado capitalista globalizado em associação com setores religiosos fundamentalistas. Querem retirar direitos conquistados e manter o controle sobre as pessoas, especialmente sobre os corpos e a sexualidade das mulheres.
Ao contrário da prisão e condenação das mulheres, o que necessitamos e queremos é uma política integral de saúde sexual e reprodutiva que contemple todas as condições para uma prática sexual segura.
A maternidade deve ser uma decisão livre e desejada e não uma obrigação das mulheres. Deve ser compreendida como função social e, portanto, o Estado deve prover todas as condições para que as mulheres decidam soberanamente se querem ou não ser mães, e quando querem. Para aquelas que desejam ser mães devem ser asseguradas condições econômicas e sociais, através de políticas públicas universais que garantam assistência a gestação, parto e puerpério, assim como os cuidados necessários ao desenvolvimento pleno de uma criança: creche, escola, lazer, saúde.
As mulheres que desejam evitar gravidez devem ter garantido o planejamento reprodutivo e as que necessitam interromper uma gravidez indesejada deve ser assegurado o atendimento ao aborto legal e seguro no sistema público de saúde.
Neste contexto, não podemos nos calar!
Nós, sujeitos políticos, movimentos sociais, organizações políticas, lutadores e lutadoras sociais e pelos diretos humanos, reafirmamos nosso compromisso com a construção de um mundo justo, fraterno e solidário, nos rebelamos contra a criminalização das mulheres que fazem aborto, nos reunimos nesta Frente para lutar pela dignidade e cidadania de todas as mulheres.
ü Nenhuma mulher deve ser impedida de ser mãe. E nenhuma mulher pode ser obrigada a ser mãe. Por uma política que reconheça a autonomia das mulheres e suas decisões sobre seu corpo e sexualidade.
ü Pela defesa da democracia e do principio constitucional do Estado laico, que deve atender a todas e todos, sem se pautar por influências religiosas e com base nos critérios da universalidade do atendimento da saúde!
ü Por uma política que favoreça a mulheres e homens um comportamento preventivo, que promova de forma universal o acesso a todos os meios de proteção à saúde, de concepção e anticoncepção, sem coerção e com respeito.
ü Nenhuma mulher deve ser presa, maltratada ou humilhada por ter feito aborto!
ü Dignidade, autonomia, cidadania para as mulheres!
ü Pela não criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!
Frente nacional pelo fim da criminalização das mulheres e pela legalização do aborto

O Aborto dos Outros, exibição extraordinária e debate com a diretora

Não sei se podia contar, mas vai rolar uma exibição extraordinária do filme O Aborto dos Outros, ainda não estreado no circuito comercial brasiliense, seguida de debate com a diretora e com algumas figuras do movimento pelos direitos da mulher no DF.

O evento vai ser no CEAN, lá na Asa Norte, e a primeira exibição vai rolar lá pelas 14hs de amanhã, dia 23, e será seguida pelo debate com a diretora do filme.
Vai rolar uma segunda exibição às 18 ou 19 horas, não tenho certeza, mas não sei se vai rolar debate depois desta.

Prontofalei... :)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Meu futuro?


Espero que, mesmo que um dia eu ache por bem me candidatar a um cargo público (coisa que eu, definitivamente, não tenho a intenção de fazer), eu tenha ainda um mínimo de bom gosto para chapéus, e ao menos um resquício de bom senso...

(a dica foi do Bicarato, no AINN)

Católicos, protestantes, propriedade e roubo...

Estava conversando com o Lou Gold sobre a forma como o catolicismo pode ser um dos responsáveis pelo empobrecimento e subdesenvolvimento, com o efeito sutil que tem na mente das pessoas -- de fazer com que, em uma mistura de inveja e preconceito, algumas pessoas acreditem que todo mundo que ganha dinheiro fazendo algo diferente do que os trabalhos "comuns" (ser funcionário do governo, ou empregado de uma empresa, etc...) está roubando ou ganhando de forma injusta. Falava também sobre como a aceitação -- e a quase glorificação -- do lucro e da prosperidade nos meios protestantes e evangélicos das velhas e novas designações religiosas poderia ter um efeito contrário. Em suma, falava majoritariamente do "senso comum" a respeito da influência das diferentes religiosidades cristãs sobre o desenvolvimento e prosperidade dos grupos e povos (e, para variar, aproveitava para alfinetar os meus tão odiados católicos, mesmo que para isso tivesse que fazer uma defesa momentânea dos grupos evangélicos e protestantes, pelos quais também não morro de amores).

Mas Lou se saiu com uma resposta que não só me fez vez como eu estava errado, de uma forma que eu ainda não havia pensado, como também me fez entender que na verdade o que acontece é o contrário:
"Ver o enriquecimento como algo que provavelmente advém do roubo ou da corrupção não é algo tão errado, indiferente de que isso venha de um conceito religioso. Pois o que acontece é que o início de toda a propriedade, antes de qualquer enriquecimento ou pobreza, advém do roubo. Se em um momento tudo pertencia a todos, no outro, quando alguém tomou algo para sí e disse 'é meu', isso foi um roubo. Um roubo daquilo que antes pertencia a todos. Quando, então, a propriedade se estabeleceu e, com ela, a riqueza e a pobreza surgiram, muitos perderam a noção de que toda a propriedade surgiu, a princípio, do roubo. Talvez em sociedades mais 'sofisticadas', que por sua vez estão mais distantes da realidade anterior à propriedade, seja mais natural lidar com o enriquecimento ou, melhor ainda, com as várias formas de se enriquecer -- com ou sem o recurso à exploração do outro ou ao roubo. Mas em sociedades menos 'desenvolvidas' (no sentido do 'desenvolvimento ocidental industrial'), as pessoas estão mais próximas da antiga realidade que foi destruída pela propriedade. E talvez, então, lembrem-se bem melhor do que eu de que toda propriedade é, a princípio, fruto de um roubo. Isso não tem tanto a ver com a religião quanto tem a ver com o 'lugar' onde você está."

Isso me faz pensar também que as sociedades mais 'desenvolvidas' são também aquelas que mais roubaram das outras, agora chamadas de 'subdesenvolvidas'. Mais uma vez, indiferente da religião, a forma de enriquecer importa menos do que o fato de que quando alguém tem muito é porque alguém, ou vários alguéns, não tem mais o bastante -- por mais que exista fartura. Vale lembrar também que religiosidades que louvavam o enriquecimento e a acumulação são bem mais antigas do que o cristianismo. Veja os grupos semitas, por exemplo, que dedicam uma boa parte de seu misticismo e de sua ideologia religiosa à associação de seu Deus ao dinheiro, e da bondade deste à prosperidade, riqueza e poder secular. Em resumo, quando a propriedade virou uma questão religiosa, invariavelmente o roubo se tornou uma prática sagrada.

Em suma, não se trata, desta vez, de uma questão de religião. Ou ao menos não se trada de uma questão recente, de religiões "modernas". Trata-se, antes de mais nada, de uma questão de consciência, e uma questão bem mais antiga do que eu estava percebendo. Mesmo que a idéia não esteja mais formulada como antes, o enriquecimento, que só acontece em meio à uma realidade de propriedade individual, é fruto de roubo -- mesmo que não seja de um roubo recente, mas sim do roubo primordial que houve quando alguém disse "isso é meu, e você não pode mais usar".

Não pude deixar de blogar a idéia dele, mesmo sem ter refletido muito sobre ela ainda. Há tantas coisas na vida que a gente precisa anotar e voltar depois para refletir...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Global Voices em Português chega ao seu milésimo artigo traduzido

São 3:44 da manhã de mais uma madrugada quase virada trabalhando. Acabo de traduzir um artigo do Global Voices Online que traz a tradução do post em árabe que levou o blogueiro Erraji à prisão no Marrocos. Enquanto passeio pelas estatísticas do site durante meu último cigarro da noite, me apercebo que há um número lindamente redondo na contagem total de artigos traduzidos pelo Global Voices em Português: 1000.



Mas eu não consegui isso sozinho. Foi graças ao esforço, à dedicação e à boa vontade de todos aqueles que ontem e hoje colaboram (ou colaboraram) com o Global Voices em Português que agora chegamos a esta marca. Com trabalho, e sobretudo com muita vontade, e a receptividade dos leitores em toda a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Global Voices em Português cresce e se aprimora a cada dia, rumo à tradução número 1001, à tradução número 2002, e assim por diante...

Acima de tudo, a nossa meta é uma extensão daquela do Global Voices Online: agregar, organizar e amplificar a conversação global na rede - jogando luz nos lugares e pessoas que o resto da mídia geralmente ignora.

Parabéns para todos nós.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

twitter, feeds do twitter, e (au passant) a burrice dos tribunais eleitorais do Brasil

Mudei o feed do Feedburner do meu Twitter, que estava usando por aqui, pelo widgetzinho que o próprio Twitter disponibiliza para exibir seus feeds. Ao menos agora ele está atualizando, o que o Feedburner não estava -- definitivamente -- fazendo.
É impressão minha ou o Feedburner caiu um bocado nos últimos meses?

E por falar em decadência, onde será que a Justiça Eleitoral do Brasil vai parar? Depois de uma infinidade de burradas (1, 2, 3...), todas ou quase todas motivadas pela profunda ignorância de boa parte de nossos magistrados em relação à internet, agora resolvem tirar o Twitter do ar no Brasil, e tiram o blogue "Twitter Brasil" do ar? No dia em que quisermos ser um país sério, vamos precisar de uns magistrados melhores do que estes -- que entendam que legislar sem estudar, sem entender o tema sobre o qual se está legislando, é absurdo e inaceitável, e muitas vezes ridículo. Até lá a gente ri pra não chorar.


P.S. Não que o Twitter Brasil precisasse, mas a publicidade que o TRE-CE lhe proveu sem querer até que vai lhe cair bem. Quem ainda não conhecia o blog, agora vai lá ver "o blogue que foi tirado do ar por engano pela justiça brasileira". Somos tão ridículos :)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Global Voices em Português e Technorati


O Global Voices em Português acaba de alcançar, de novo, autoridade 100 no Technorati. É um bom sinal em meio a tantos bons sinais que estão cercando o projeto. Todo o trabalho que eu e toda a nossa equipe anda tendo está sendo, aos poucos, recompensado. :)

E por falar em grande trabalho, o novo post do José Murilo sobre as novas formas de censura na rede publicado hoje no GVP está excelente!

Obiturário de celular.

Morreu meu Sony-Ericsson k750i. Me prestou bons serviços antes de ir. Boas fotos, boa companhia. Me serviu bem. Agora comprei um daqueles Nokia bem chulés do Ponto Frio para não ficar sem celular enquanto tomo coragem para migrar para um 3G. Dizem que a cobertura ainda não está boa. Por hora espero e observo, enquanto espero meu modem 3G do laptop chegar, para testar a rede.

Por enquanto, nem adianta mandar MMS. A porcaria do meu Nókiazinho não os recebe nem a pau!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Por falar na Rainha Rania...

Por falar na Rainha Rania da Jordânia, tenho uma forte impressão de que muitas rainhas, primeiras-damas e pessoas de vida ganha menos notórias do mundo afora poderiam se mirar no exemplo da jovem consorte do Rei Abdullah.

Considerada por muitos como uma das rainhas mais belas do mundo, e reconhecida em sua inteligência e capacidade por seu povo e por seu companheiro, o rei (que a tem como representante em alguns dos mais importantes forums econômicos e políticos do Ocidente), a Rainha Rania resolveu ir além. Arregaçou as mangas e deu a cara a tapa para o Ocidente: Fez um vídeo para o YouTube (de fato, criou um canal por lá) onde ela chamava os usuários a colocarem, com a delicadeza ou fúria que quisessem, suas opiniões ou dúvidas sobre o mundo árabe nos comentários do vídeo, prometendo que depois, com o tempo, faria vídeos onde "desbancaria um a um todos os estereótipos e preconceitos a respeito do Mundo Árabe". Falou, e está fazendo.



Eleita por uma revista árabe sobre blogues como a mais importante video-blogueira do mundo árabe, a Rainha Rania já lançou sete vídeos abordando questões levantadas pelos comentários que recebe, e seu canal publica também vídeos de vários outros autores que falam sobre o mundo árabe nas mais diversas linguagens, seja a do jornalismo, seja a da música, seja a da sátira. A Rainha diz acreditar que o mundo está precisando de muito mais diálogo, e que o trabalho que está realizando é aquilo que ela viu que podia fazer para ajudar a fomentar este diálogo, criando uma ponte através das distâncias e preconceitos na tentativa de mostrar um outro lado do mundo árabe e do islã.



Seus vídeos são curtos, falados em inglês simples e seguro, e dão respostas diretas e honestas -- sem truques de discurso -- às questões que aborda. Em certo momento, falando sobre a violência contra as mulheres no mundo árabe, a Rainha diz algo como: Se as mulheres são vítimas da violência no mundo árabe? (pausa) Sim, elas são. Mas esta não é uma questão particular do mundo árabe. No mundo inteiro mulheres estão sendo vítimas da violência todos os dias. Mas todos os países [árabes] estão fazendo esforços, através de governos, ONG's e da ação de seus povos para mudar este quadro. Esta é uma guerra que nós também ainda não vencemos, mas estamos todos caminhando, uns mais depressa, outros mais devagar, mas todos em uma direção positiva.





Allah abençoe a Rainha!

Passei por aqui para dizer "oi"

É bem difícil manter um blogue atualizado. Disso eu sei, e você também (deve saber). Mas como estou tentando não sumir daqui -- novamente -- no meu esforço hercúleo de voltar a manter um (ou mais de um) blogue, o Alriada vai ter alguns posts como estes... que não tem muito a dizer, além de "este blogueiro está tentando ser, no mínimo, regular".

Os últimos dias foram bastante corridos. Nenhuma novidade aí, meus dias, assim como os dias de quase todo trabalhador no Brasil, são bastante corridos. Mas como trabalho o dia inteiro na frente do computador, e em casa, sem chefe olhando por cima dos meus ombros (por vezes a gente é o pior chefe que a gente pode ter!), preciso de uma desculpa um pouco melhor para não ter escrito mais nada nos últimos dias.

Aqui está minha desculpa...
Alguns dos artigos que andei traduzindo para o Global Voices em Português, e que achei interessantes (o que me leva a crer, em minha onfalomania, que vocês também podem achar interessantes):

- Jordânia: O Videoblog da Rainha Rania

- Arábia Saudita: Sem Petróleo de Graça para Puff Diddy

- Fotos de viagem em Cabo Verde

- Daniel Florêncio e os péssimos jornais mineiros em tempo de eleição

- Caribe: Furacão Gustav

- Azenha critica a mídia brasileira

- Américas: Celebrando o BlogDay

- Equador: Aborto é um Tema Controverso na Nova Constituição

Sim, estas são apenas algumas das dezenas de traduções que fiz, e estou fazendo, todos os dias. Entendem agora porque é que não dá nem pra pensar em blogar com mais frequência?


p.s. como este blogue, e este que vos escreve, são adeptos da filosofia blogueira "campo dos sonhos" -- construa e eles virão -- não sendo então propagandeado, macaqueado nem vendido em lugar nenhum, por vezes fico me perguntando se alguém ainda passa por aqui depois de todos estes silêncios, escorregadas, faltas de inspiração e excessos. Se você está lendo este post até aqui, poderia dizer um "oi"? :)