Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Aqui é Sací.

Indiferente dos liberalismos e estrangeirismos (Viva Tolkien também, mas aqui é o Brasil!), hoje aqui é Dia do Sací (com festa e música). Dia de publicar meu artigo sobre o Sací no Global Voices Online (aqui em inglês, e aqui em português), e erguer um brinde aos imaginários e aos sacís.



Viva o Sací. Porque aqui é Dia do Sací!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Obama Vc. McCain no World of Warcraft

Se você chutou que a dica é do Lou Gold, acertou.




O Paladino vota em McCain? Isso é piada pronta! :D

Hilário! :)

Viva Sací!

Vocês não detestam blogues pessoais com caixa de comentários moderada? Dá sempre a impressão de que, ou o blogueiro desconfia a priori de seus leitores, ou tem medo que o peguem no pulo de alguma besteira que fale. E besteira eu falo com frequência, mas a minha caixa de comentários está aí aberta para quem quiser cortar minhas asinhas.

Mas por quê estou falando isso em um post chamado "Viva Sací!"?

A história é a seguinte: Um camarada blogueiro, que logo de antemão se define como "estudante de jornalismo" e "liberal" no abautimí de seu blogue, fez um post espinafrando com pretensa classe a lei cearense que institui o dia 31 de outubro como o Dia do Sací na capital do estado, Fortaleza. Para tanto, o blogueiro cita um trecho de uma declaração de um dos propositores da lei, e tenta -- sem muito sucesso -- ridicularizar as palavras do sujeito. Além disso, pois não estou aqui para proteger os bem ditos alheios, o que mais me incomodou no post do cara é a sua postura que dá a entender que seja natural e óbvio comemorar o Halloween no Brasil, um país situado no Hemisfério Sul, mais precisamente na América Latina, onde nem a língua, nem a cultura nem os solstícios e equinócios batem com os do hemisfério norte.

É claro que deixei meu comentário indignado por lá. Mas, vejam que surpresa, o blogue do cara tem os comentários moderados. Como não sou chegado a escrever a toa e não sei se o comentário será liberado no blogue do caro jornalista liberal, resolví fazer um post (que para variar acabou ficando um bocado verborrágico) para reproduzir o comentário que fiz por lá.

O que eu disse foi:

Ainda bem que você avisou no seu "abáutimí" que era um liberal, caro Bruno. :)

Tem certeza que leu e entendeu o texto que você mesmo citou em vermelho em seu post? Tudo bem que o camarada viajou para muito longe ao associar o gorro vermelho com a revolução da França, mas de resto faz muito mais sentido que nos identifiquemos com um mito "nascido e crescido" no Brasil, sob as influências que grassam em toda a nossa cultura, do que buscarmos uma identificação forçada com elementos da cultura Européia e Norte-Americana. Sinto lhe informar, mas indiferente da quantidade de macaquices que façamos, não nos tornaremos menos Latino-Americanos. Sinto estragar a fantasia nas vésperas do ralouím.

Em tempo, não ache que sou mais um ufanista radical. Sou escritor de contos de fadas e me inspiro em mitos e imaginários de todo o mundo, o que inclui, sem preconceitos, o imaginário europeu. O ponto não é antagonizar este ou aquele imaginário, mas sim buscar uma identidade -- coisa que temos, sim, ou deveríamos ter se não ficássemos tão preocupados em macaquear outros povos.

Abraços do Verde."


Se o cara responder por lá, eu colo por aqui também.

Em tempo, Viva o Sací, o Curupira, os Daóine-Sidhe, os Eshebala, a sereia Kianda, e todos os seres míticos do imaginário, que não tem nada a ver com a nossa estupidez e falta de auto-estima.


P.S. acabei de perceber que não copiei o meu comentário inteiro. isso quer dizer que a parte final dele, onde me identifico como um escritor de contos de fadas que não tem preconceito com imaginários de onde quer que sejam, mas que gosta da idéia de que busquemos nossa identidade em vez de macaquearmos as identidades alheias, só verá a luz se o bom blogueiro Bruno fizer a bondade de aprovar meu comentário. Vamos ver o que vai acontecer.

P.P.S. achei o resto do comentário, que misteriosamente havia ido parar em outro documento do meu bloco de notas...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quem tem medo de Barack Obama?

Eu confesso que tenho. Não que eu ache que ele é mau, ou que tenha más intenções. Muito pelo contrário. Talvez Barack Obama seja um dos homens mais bem intencionados e íntegros a concorrer, e provavelmente ganhar, uma eleição Norte-Americana. É um homem de carisma inquestionável, com um discurso tão poderoso que não dá espaço para qualquer oposição. É um pastor de massas que tem em seu favor o próprio rosto e a própria pele, que o identificam inegavelmente com a massa que o elegerá, e com a massa de observadores do mundo a fora que aguardam ansiosamente pelo futuro que ele trará. Ansiosos ou temerosos, todos aguardam com a respiração contida. Barack Obama é provavelmente o maior estadista e o maior gênio político que aquele país produziu em toda uma geração. E será, muito provavelmente, um dos melhores presidentes que os Estados Unidos da América já teve. Sim, ele será, provavelmente, muito bom para seu país. Sorte dos norte-americanos.

Mas é justamente nestes destes pontos, na genialidade e no poder carismático de Obama, e no país que o elegerá e o qual ele irá governar, que reside o meu medo. Como eu disse, Barack Obama será um presidente muito bom, muito bom mesmo, para seu país. Mas não podemos esquecer que país é este, e como ele enriqueceu. Se não é o mesmo país que explorou a pobreza e doutrinou o mundo com seu discurso de consumo e globalização; o mesmo país que interveio nas questões políticas e sociais de metade do mundo, sempre em proveito próprio, e que depois de dizimar os próprios índios, destruir as próprias florestas, massacrar a própria sociedade debaixo de sua mass-mídia brutal e inescapável, decidiu que seria o árbitro do mundo nestes e em outros assuntos. Barack Obama será o presidente, um dos melhores de todos, deste país. E na mesma medida que sua competência será enorme, o poder dos Estados Unidos da América de ajudar ou destruir o mundo será igualmente maior.

Não pensem por isso que eu creio que melhor seria se o bocomoco do McCain ganhasse. Sua vitória não traria nada, nada mesmo, de novo para os EUA ou para o mundo. Ele iria continuar o trabalho de seus amiguinhos, Bushs e companhia limitada, que nunca fizeram nada bom, nada mesmo, para o resto do mundo. Há quem diga que não fizeram nada bom nem mesmo para o próprio país. Não, não acho que haja dúvida que é muito melhor, seja lá por que motivos quisermos pensar, que Obama seja eleito -- como será. Se eu fosse cidadão norte-americano, já estaria decidido a votar nele desde o primeiro momento que ele apareceu. Seria, sem dúvida, o melhor para mim e para o meu país. Mas eu não sou Norte-Americano. Sou brasileiro de classe média e sem grande vocação para o mercado liberal ou para as grandes corporações -- um pobre contador de histórias que se segura como pode nos poucos recursos que, por sorte, minha condição e minha filiação me permitiram ter. E como tal, não voto nas eleições americanas e tenho mais a temer do que festejar, qualquer que seja o resultado. Posto isso, espero que seja mesmo Barack Obama a ser eleito.



E que os EUA, e principalmente nós, o resto do mundo, tenhamos muito boa sorte. E que os Deuses iluminem o coração deste poderoso, cativante e assustador Barack Obama. Ele pode ajudar a mudar o mundo para melhor enquanto conserta seu país, destruído pelos governantes do passado. Ou ele pode simplesmente destruir tudo, depressa ou devagar, como escolher. Com o poder que tem, ele pode levar seu povo e seu governo para onde quiser. E que os Deuses queiram que seja para um caminho bom. Mais do que nunca, salvo teorias grandiloquentes de alguns revolucionários de pijama ou de jardim de infância, estamos nas mãos desse cara.

Espero que um dia tenhamos, nós também, um presidente tão genial e competente como ele aqui no Brasil. Embora, por hora, ande satisfeito com o presidente que finalmente conseguimos eleger em 2002, depois de anos e anos de nossos próprios "Bushs" terceiro-mundistas.

Pronto. Agora já podem me chamar de bobão ou me jogar pedras. Ao menos falei o que pensava.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mais conversa fiada sobre o aborto e direitos reprodutivos...

Lembram daquele roundup que fiz no Global Voices sobre manifestações "pró-escolha" em Brasília, e que estavam dando uma discussão looonga nos comentários?

A conversa continua até hoje. Mas esta última comentadora nos presenteou com quase toda a coleção de pérolas "pró-vida" que se ouve por aí. Uma oportunidade perfeita para o chato do Duende que vos escreve, que adora discutir, dar mais uma daquelas suas loooongas respostas ponto a ponto, mostrando o absurdo de cada afirmação. Se ainda tem saco de ler sobre o assunto, vou colar os comentários da moça e a minha resposta abaixo:

  1. Taise Disse:

    Sou contra o aborto pq acredito que já ha vida a partir do momento da concepção…
    Mas não é sobre isso que quero falar vcs comentaram sim sobre o direito de escolha e tudo mais, porem ninguém tocou nos problemas psicológicos que o aborto traz a mãe.Ninguém ate agora falou que o numero de suicídios de mulheres são bem maiores nos paises que o aborto é legalizado. Como também o numero de depressão e é claro esquizofrenia uma doença que a pessoa se fecha para o mundo e inventa um só pra ela, outra coisa o numero de criança esta diminuindo, pois nas classes mais baixas o numero de filhos por família é de 3 e em classes mais altas é de 0,7 se continuarmos assim daqui a pouco teremos poucas pessoas entre nós. Terminando acho que se o aborto for legalizado estaremos matando grandes pessoas que podem estar vindo para a melhora deste mundo…

  2. Taise Disse:

    Outro detalhe o maior índice de aborto são nas classes alta e média onde as pessoas tem dinheiro para educá-los. Normalmente o pobre tem os filhos não para se aproveitar deles, mas sim, para ter alguma alegria no fim de um dia ruim.

  3. Daniel Duende Disse:

    Olá Taise,

    Vamos por partes, então. É claro que há questões psicológicas ou, melhor dizendo, questões psíquicas grandes envolvidas em um aborto. Da mesma forma que há questões psíquicas igualmente grandes envolvidas em uma gestação, em um parto e na criação de um filho, tanto mais se for um filho indesejado. É claro que nada que envolva a concepção, gestação, a interrupção ou a continuidade da mesma pode ser levado de forma leviana. São questões sérias, e eu acredito que a decisão de fazer um aborto possa ser difícil, e marcar uma mulher por muito tempo. Mas o mesmo pode ser dito da decisão de levar em frente uma gravidez, com tudo que envolve dar à luz e criar um filho, muitas vezes em condições difíceis. Não vi aí, portanto, nenhum argumento que embase que não se dê escolha as mulheres a respeito da questão. É uma escolha difícil, mas é uma escolha que pertence à mulher, e não deve ser retirada dela.

    Quanto ao número de suicídios nos países onde o aborto é legalizado. Antes de mais nada, de onde você tirou os dados para esta afirmação? Segundo, devemos lembrar que cada país é um país, e inúmeros fatores moldam e afetam a taxa de suicídio de um país. Você pode afirmar que são os abortos, legais ou clandestinos, que causam a alta taxa de suicídio nos países do norte da Europa? Não encontrei até hoje um estudo convincente sobre motivações para o suicídio em um dado país. Será que você escreveu o primeiro e eu nem fiquei sabendo?

    E sobre as estatísticas a respeito de casos de depressão e esquizofrenia? Você poderia me dizer também de onde é que vieram estes números? Nunca encontrei uma pesquisa sequer que apontasse uma co-relação entre a legalização do aborto e certas questões de saúde psiquiátrica. Por outro lado, posso te mostrar vários estudos que correlacionam a proibição do aborto com as taxas de mortalidade mulheres em idade fértil. Vamos trocar umas figurinhas?

    Você poderia também aproveitar a oportunidade, cara Taíse, para nos explicar melhor a sua conceituação de depressão e esquizofrenia. Ela parece um pouco diferente daquela que estudei na faculdade de Psicologia.

    Seguindo em frente, você está mesmo preocupada com a diminuição de natalidade? Acredita que a diminuição da natalidade nos países mais ricos seja uma tendência preocupante? Por quê? Há muitos que se preocupam com isso, mas seus motivos são para lá de condenáveis: temem viver em um mundo onde há muito mais “não brancos” do que brancos, o que precipita ainda mais um possível conflito dos desprovidos contra os “providos”. Você está entre esses, ou teme apenas que um dia a humanidade desapareça por poder escolher entre ter filhos ou não? Avise-me no dia em que a Suíça ou a Dinamarca estiverem vazias. Eu ia gostar de comprar uma casa baratinha desocupada por lá.

    Por fim, cada vida é uma promessa. É claro que uma vida que não acontece pode significar uma promessa não cumprida. Mas que tal nos preocuparmos primeiro com as milhões de vidas cujas promessas não podem ser cumpridas, ainda que continuem vivendo, por conta da pobreza, do preconceito, da exploração, da fome, da guerra e de tantos outros flagelos? Em vez de se preocupar tanto com a gestação dos outros, que tal salvar algumas crianças que estão agora mesmo em um orfanato PRECISANDO de alguém que as ajude a cumprir a promessa que representa suas vidas? Ser contra do direito de escolha da mulher com o argumento de que ela pode estar matando “um grande gênio”, quando na verdade não se está nem aí para os tantos “grandes gênios” que podem estar pedindo dinheiro na janela do seu carro é no mínimo desonesto. Mas a palavra que eu usaria para isso é outra, mas eu prefiro guardá-la só para mim.

    Acima de tudo, por que é que os “grandes gênios” e as “grandes pessoas” teriam mais direito de viver do que as outras? Então o problema são as vidas, ou as vidas dos “seres superiores”?

    E, por fim, por que é que você acha que a maioria dos abortos acontece nas classes altas? Eu poderia acreditar nisso, já que as pessoas das classes mais abastadas tem DINHEIRO não apenas para pagar um médico que realize um aborto clandestino, como também tem STATUS para conseguir fugir da prisão, caso sejam descobertos. Afinal, o aborto da moça branca, filha do abastado comerciante ou do grande executivo e da mulher “honesta” que se dedicou aos filhos é um pouco menos “criminoso” do que o aborto da moça negra e pobre que está sangrando na fila do SUS, não é mesmo?

    Mas o fato é que você não tem estes dados. Ninguém os tem. Como fazer uma estatística confiável sobre algo que tem que acontecer na surdina, escondido de tudo e de todos, por que o Governo se acha no direito de decidir pela cidadã o que ele deve fazer com a sua vida pessoal e sexual? Abortos são feitos todos os dias, em todas as classes, e mulheres morrem ou sofrem terríveis efeitos colaterais, completamente à margem de todas as estatísticas oficiais, simplesmente porque o aborto é PROIBIDO. E esta proibição não impede, nem nunca impedirá ninguém, de decidir a própria vida. Trata-se apenas de uma maneira de lavar as mãos, fechar os olhos, e afirmar que quem sofre por conta disso “merece o que teve”.

    Em suma, eu acho triste ver uma mulher defendendo leis e entendimentos sociais que foram criados para oprimí-la. Mas cada um pensa de um jeito.

    Ainda espero pelas fontes dos dados e estatísticas, e pelas respostas das perguntas que te fiz.

    Abraços do Verde.


Bem, não digam que eu não avisei que a resposta era longa. Mas pela quantidade de besteiras que eu vejo sendo ditas em comunidades sobre o assunto no Orkut, e geralmente besteiras muito parecidas, eu não quis perder a chance de registrar algumas respostas fáceis -- do tipo que qualquer um com 3 ou 4 neurônios consegue dar -- para estas "pérolas pró-vida".

Eu não canso de me impressionar com a capacidade das pessoas (incluindo, muitas vezes, a minha própria) de falar besteira, muitas vezes sem nem pensar no que está dizendo...

UPDATE:
A moça voltou lá no roundup para responder minhas perguntas. Mudou um bocado de tom, e disse que era uma pessoa que ainda estava refletindo sobre o assunto. Não é o que os comentários iniciais dela deram a entender, mas, cada um sabe de sí. Passei para ela o link da comunidade Aborto Não Deve Ser Crime do Orkut e pedi para que ela fosse se informar com o pessoal de lá, que sabe muito mais do que eu sobre o assunto. É claro que não pude perder também a chance de aconselhar a moça a não sair repetindo todos os argumentos que ouve por aí...

...Como se eu tivesse "estatura moral" pra apontar o dedo para quem faz isso, né? Mas eu estou aprendendo. :)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

As boas e as más companhias de Obama.

Mudando radicalmente (espero) de assunto...

O Lou Gold, meu house-mate americano, que todo dia me mantém informado (queira eu ou não, mas eu acabo querendo...) a respeito da corrida presidencial nos EUA, fez dois posts sobre o assunto que me interessaram.

No primeiro post ele mostra um vídeo de um rapper americano em apoio à candidatura de Obama. O vídeo é legal, e mostra que tem gente bacana -- que antes parecia se sentir alienada dos assuntos políticos de seu país -- que percebeu no cara uma oportunidade para a mudança. Espero que estejam certos. Abaixo, o vídeo.



Já no segundo post, ele fala do apoio de Colin Powell (sim, esse mesmo, aquele general que comandou algumas das guerras e ações terroristas dos EUA pelo mundo afora) a Obama. Fala também do quanto Obama ficou satisfeito com o apoio. Isso me cheirou muito mal.

Eu realmente acredito, talvez por ser crédulo demais, que Barack Obama seja um cara bacana, e bem preparado para exercer a presidência dos EUA de um jeito diferente do de seus antecessores. Acredito que ele tenha visão social e política, carisma de sobra, e que esteja realmente interessado em agir sobre questões que parecem ter sido convenientemente ignoradas por aqueles que o antecederam. Mas receber o apoio de um general genocida, um pau-mandado de seu antecessor macaco-psicopata Bush, e ainda ficar feliz e chamá-lo de "grande soldado e estadista"...

putaquepariu né Obama!? Quando é que você vai aprender a se defender destas más companhias? Cê tava indo tão bem, meu caro cara!

#prontofalei.

Pra terminar o assunto...

Eu já estou de saco cheio de ver mais um crime se transformando em circo da mídia no Brasil. Já estou de saco cheio de ouvir falar do assassinato da Eloá, do assassino que virou pobre homem apaixonado pra depois virar pobre psicopata, ou do pobre pai que virou malfeitor procurado. Acredito, por acreditar na inteligência de vocês, que também já estejam de saco cheio de tudo isso.

Então, pra encerrar o assunto e não voltar mais a ele, vou me calar (como talvez já devesse ter feito antes) e republicar dois textos que a Patinha me enviou falando sobre o tema sob uma ótica feminista. Se te interessa ler algo relativamente diferente daquilo que os jornais estão bombardeando sobre vocês, leiam os textos abaixo.

O primeiro foi publicado no Vi o Mundo do Azenha e no site da ADITAL, mas o ví originalmente no email passado pela Patinha.

Brasil - Feminicídio ao vivo: o que nos clama Eloá




Maria Dolores de Brito Mota e Maria da Penha Maia Fernandes *

Adital -

Tudo o que o Brasil acompanhou com pesar no drama de Eloá, em suas cem horas de suplício em cadeia nacional, não pode ser visto apenas como resultado de um ato desesperado de um rapaz desequilibrado por causa de uma intensa ou incontrolada paixão. É uma expressão perversa de um tipo de dominação masculina ainda fortemente cravada na cultura brasileira. No Brasil, foram os movimentos feministas que iniciaram nos anos de 1970, as denúncias, mobilização e enfrentamento da violência de gênero contra as mulheres que se materializava nos crimes cometidos por homens contra suas parceiras amorosas. Naquele período ainda estava em vigor o instituto da defesa da honra, e desenvolveram-se ações de movimentos feministas e democráticos pela punição aos assassinos de mulheres. A alegação da defesa da honra era então justificativa para muitos crimes contra mulheres, mas no contexto de reorganização social para a conquista da democracia no país e do surgimento de movimentos feministas, este tema vai emergir como questão pública, política, a ser enfrentada pela sociedade por ferir a cidadania e os direitos humanos das mulheres. O assassinato de Ângela Diniz, em dezembro de 1976, por seu namorado Doca Street, foi o acontecimento desencadeador de uma reação generalizada contra a absolvição do criminoso em primeira instância, sob alegação de que o crime foi uma reação pela defesa "honra". Na verdade, as circunstâncias mostravam um crime bárbaro motivado pela determinação da vítima em acabar com o relacionamento amoroso, e a inconformidade do assassino com este fim. Essa decisão da justiça revoltou parcelas significativas da sociedade cuja pressão levou a um novo julgamento em 1979 que condenou o assassino. Outro crime emblemático foi o assassinato de Eliane de Grammont pelo seu ex-marido Lindomar Castilho em março de 1981. Crimes que motivaram a campanha "quem ama não mata".

Agora, após três décadas, o Brasil assistiu ao vivo, testemunhando, o assassinato de uma adolescente de 15 anos por um ex-namorado inconformado com o fim do relacionamento. Um relacionamento que ele mesmo tomou a iniciativa de acabar por ciúmes, e que Eloá não quis reatar. O assassino, durante 100 horas manteve Eloá e uma amiga em cárcere privado, bateu na vitima, acusou, expôs, coagiu e por fim martirizou o seu corpo com um tiro na virilha, local de representação da identidade sexual, e na cabeça, local de representação da identidade individual. Um crime em que não apenas a vida de um corpo foi assassinada, mas o significado que carrega - o feminino. Um crime do patriarcado que se sustenta no controle do corpo, da vontade e da capacidade punitiva sobre as mulheres pelos homens. O feminicídio é um crime de ódio, realizado sempre com crueldade, como o "extremo de um continuum de terror anti-feminino", incluindo várias formas de violência como sofreu Eloá, xingamentos, desconfiança, acusações, agressões físicas, até alcançar o nível da morte pública. O que o seu assassino quis mostrar a todas/os nós? Que como homem tinha o controle do corpo de Eloá e que como homem lhe era superior? Ao perceber Eloá como sujeito autônomo, sentiu-se traído, no que atribuía a ela como mulher (a submissão ao seu desejo), e no que atribuía a si como homem (o poder sobre ela - base de sua virilidade). Assim o feminicídio é um crime de poder, é um crime político. Juridicamente é um crime hediondo, triplamente qualificado: motivo fútil, sem condições de defesa da vítima, premeditado.

Se antes esses crimes aconteciam nas alcovas, nos silêncios das madrugadas, estão agora acontecendo em espaços públicos, shoppings, estabelecimentos comerciais, e agora na mídia. Para Laura Segato [1] é necessário retirar os crimes contra mulheres da classificação de homicídios, nomeando-os de feminicídio e demarcar frente aos meios de comunicação esse universo dos crimes do patriarcado. Esse é o caminho para os estudos e as ações de denúncia e de enfrentamento para as formas de violência de gênero contra as mulheres.
Muita coisa já se avançou no Brasil na direção da garantia dos direitos humanos das mulheres e da equidade de gênero, como a criação das Delegacias de Apoio às Mulheres - DEAMs, que hoje somam 339 no país, o surgimento de 71 casas abrigo, além de inúmeros núcleos e centros de apoio que prestam atendimento e orientação às mulheres vítimas, realizando trabalho de denúncia e conscientização social para o combate e prevenção dessa violência, além de um trabalho de apoio psicológico e resgate pessoal das vítimas. Também ocorreram mudanças no Código Penal como a retirada do termo "mulher honesta" e a adoção da pena de prisão para agressores de mulheres, em substituição às cestas básicas. A criação da Lei 11.340, a Lei Maria da Penha, para o enfrentamento da violência doméstica contra as mulheres.
Mas, ainda assim, as violências e o feminicídio continuam a acontecer. Vejamos o exemplo do Estado do Ceará: em 2007, 116 mulheres foram vítimas de assassinato no Ceará; em 2006, 135 casos foram registrados; em 2005, 118 mortes e em 2004, mais 105 casos [2]. As mulheres estão num caminho de construção de direitos e de autonomia, mas a instituição do patriarcado continua a persistir como forma de estruturação de sujeitos. É preciso que toda a sociedade se mobilize para desmontar os valores e as práticas que sustentam essa dominação masculina, transformando mentalidades, desmontando as estruturas profundas que persistem no imaginário social apesar das mudanças que já praticamos na realidade cotidiana. O comandante da ação policial de resgate de Eloá declarou que não atirou no agressor por se tratar de "um jovem em crise amorosa", num reconhecimento ao seu sofrer. E o sofrer de Eloá? Por que não foi compreendida empaticamente a sua angústia e sua vontade (e direito) de ser livremente feliz?
Notas:
[1] SEGATO, Rita Laura. Que és um feminicídio. Notas para um debate emergente. Serie Antropologia, N. 401. Brasília: UNB, 2006.
[2] Dados disponíveis em: http://www.patriciagalvao.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/noticias.shtml?x=1076


* Ma. Dolores: Socióloga, professora da Universidade Federal do Ceará / Maria da Penha: Inspiradora do nome da Lei Federal 11340/2006. Colaboradora de Honra da Coordenadoria de Políticas para Mulheres da Prefeitura de Mulheres

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O segundo foi provavelmente publicado pela AMB, mas não consegui encontrar o link. Novamente, o artigo chegou a mim através do email da Patinha. (Minha professora e melhor colaboradora no que se trata de questões de gênero e feminismo, além de ser minha querida companheira).

Eloá – A Morte Anunciada

Analba Brazão Teixeira

Secretária Executiva da AMB

Semana passada o Brasil acompanhou de perto o seqüestro que culminou com a morte de Eloá. Uma Adolescente de apenas 15 anos de idade, que morreu por que decidiu não reatar o namoro com Lindemberg.

A tragédia anunciada se transformou numa briga pela audiência da imprensa televisiva e escrita, em que em nenhum momento, ao longo da sensacionalista cobertura do "caso Eloá" a imprensa classificou como mais um caso de Violência contra as Mulheres, que estava preste a entrar na contagem dos homicídios sofridos por mulheres que resolvem não reatar os namoros, casamentos. Será que não se reconheceu como violência contra as mulheres, pelo fato dela só ter 15anos?

Lindenberg passou a ser o centro de atenção de todos e de todas e mais uma vez uma atitude extrema de machismo é levada para o plano da patologia. O ciúme, a posse e a honra ganham o nome de "amor" de decepção amorosa, em que Eloá de Vítima passa a ser quase tratada como algoz, na boca de análises de psicólogas colocadas no ar "Se ela tivesse aceitado dialogar, nada disso teria acontecido".

Pelo contrário, o algoz de Eloá e Naiara, a todo instante era enaltecido: Qual o perfil de Linderberg? Bom rapaz, trabalhador, amigo de todos, "era apenas um pouco ciumento". E se chegou a este extremo é porque possui alguma patologia, dizia outro psiquiatra. Como reconhecemos as características desta patologia que uma pessoa carrega para cometer um crime como esse? Pergunta feita por apresentadores de programas televisivas.

Patologia? Ou ele não agüentou "perder" o controle que queria ter da vida de Eloá? Ou sentiu a sua "honra maculada" por que Eloá,não queria continuar o namoro que ele próprio terminara?

O que acompanhamos foi estarrecedor e nos mostrou como ainda é tratada no Brasil a violência contra as mulheres. O que nós feministas chamamos de "posse" arraigada na cultura machista, a imprensa chama de decepção amorosa. O que se reconheceu foi "a legítima dor de amor dele por Eloá", numa tentativa forçada de transformar um seqüestro em novela, de proteger um criminoso que atentava contra a vida de uma mulher indefesa, de romantizar um crime. Resguardado por sua dor, Lindembergue foi capaz de torturá-la por horas a fio, de adiar um desfecho previsto e planejado para exaltar-se diante de seu sofrimento, contínuo, prolongado e, graças às tecnologias da comunicação ,teve público. Sim, a agonia da menina de 15 anos foi transmitida ao vivo,entrecortada por flashes e entrevistas pungentes de programas de auditório sensacionalistas. Os mesmos que enaltecem a carreira ascendente de ex-participantes de reality shows e celebridades com alcunha de fruta ou legume. Linderberg era a estrela do momento, dono total da situação em que duas vidas (Eloá e Naiara) corriam um risco real. E Linderberg perguntava: Qual é o canal de televisão que está me entrevistando? Este é realmente o papel da mídia, aconselhar o seqüestrador? Será que se Eloá fosse de uma família de Posses, o tratamento sensacionalista em que a vida dela estava em risco teriasido o mesmo? Questões para refletirmos diariamente.A mesma mídia, agora, faz outro tipo de sensacionalismo com a doação de órgãos, tentando transformar Eloá em Santa. Assim, desconsideram mais uma vez o absurdo de sua morte. E desconsideram que nós, mulheres, não queremos ser santas. Nós, mulheres, queremos viver. E viver com autonomia, com liberdade.

Acompanhamos,ao longo de toda a trama televisionada a uma sutil (e branda) retomada do velho e gasto argumento da 'violenta emoção'. Tão em voga nos anos 70. O mesmo que levou Doca Street a atirar no rosto de Angela Diniz. Sim, as dores de"amor" matam, ou melhor dizendo, a dor da rejeição da perda da posse, mata. E já o fizeram, por muito tempo, impunemente. Não foi à toa que o slogan'Quem ama não mata' ganhou cartazes e ruas há mais de duas décadas e continua tão presente nos nossos dias.

Tiro no rosto, tiro na virilha, que isso significa? Por que quase sempre essas são as partes do corpo escolhidos nos casos de homicídios nas relações afetivo-conjugal? Podemos pensar que no caso da rejeição e da perda do ser amado", os homens impulsionados pelas marcas de uma cultura sexista e patriarcal, tem que aniquilar as possibilidades de realizar o prazer e o desejo do outro.

Não podemos deixar de assinalar também o papel desastroso da polícia, que teve um empenho total na garantia da vida do assassinato. A polícia se condescendeu com o algoz e entregou à ele a vida das duas meninas. A todo tempo, o comandante da operação manifestava preocupação em que Linderbegue não estragasse sua vida, em detrimento das duas vidas das mulheres. Afinal de contas o bom moço não tinha antecedentes, era uma ótima pessoa e estava apenas sofrendo de uma decepção amorosa. Qual era a negociação de Linderbergue? A vida de Eloá.

Não é por acaso que o Brasil possui uma Lei que pune crimes de violência doméstica, que, aliás, traz o nome de uma mulher vítima desta mesma sorte de 'amor', sendo alvo de duas tentativas de assassinato cometidas pelo então marido. Uma história tristemente comum, que, talvez, se distinga apenas porque Maria da Penha, sim, conseguiu sobreviver.

Mas, muitas não tiveram e não tem a mesma sorte. Eloás, Vandas, Angelas, Rosângelas, Mirians, Reginas, Robertas, Marias.Morreram e morrem indefesas, dentro de suas próprias casas, agredidas, surradas e humilhadas por aqueles que, sob o pretexto do amor, disciplinam aqueles corpos sobre os quais acreditam ter direitos.

Isto acontece porque vivemos numa sociedade que ainda concebe que, se um homem alega amar uma mulher, ou se tiveram ou tem algum acerto de conjugalidade, isto lhe dá direitos sobre a vida dela.

Em nome de uma suposta 'honra' masculina, que, quando ameaçada, insurge ensandecida, a ponto de humilhar, ferir e matar aquela que decidiu romper e não reatar a relação.

Quem torceu pelo amor de Lindembergue, quem acreditou que ele pudesse sair daquele prédio de mãos dadas com a ex-namorada esqueceu ou reforçou o tipo de cultura em que vivemos.

Quem tratou aquele drama passional como se não tivéssemos, neste país, de forma gritante, e em todo planeta, uma numerosa estatística de crimes de honra ajudou a puxar o gatilho. Que conclusão podemos chegar? O Machismo Mata.


Pronto. Que Eloá descanse em paz, e que um dia o rumo dos ventos mude e as pessoas percebam que o buraco é sempre mais embaixo, e que um dia as mulheres não morram mais na mão de seus maridos, namorados, ou de desconhecidos que acham que é muito natural estuprá-las nas ruas...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Quando as coisas não acabam nada bem, para variar...

As coisas terminaram mal naquele sequestro que aconteceu lá em Santo André...

A jovem de 15 anos que foi mantida refém durante mais de 100 horas pelo ex-namorado em Santo André, no ABC, foi baleada na cabeça e no abdome, confirmou na noite desta sexta-feira (17) a assessoria da prefeitura do município. Ela foi levada para o Centro Hospitalar de Santo André e corre risco de morte.

De acordo com a assessoria, a jovem chegou ao local inconsciente e está ligada a aparelhos. O estado dela é considerado grave. Por volta das 19h, ela passava por exames. A amiga da jovem, que também era mantida refém, levou um tiro na boca, ainda segundo a prefeitura. Consciente, ela também é atendida no mesmo hospital.

Um coronel da Polícia Militar informou por volta das 19h desta sexta que a ex-namorada foi atingida por dois disparos efetuados, segundo ele, pelo seqüestrador. "Ela tem um tiro na cabeça e um na virilha", disse. A polícia acredita que, pela posição de um dos tiros, ele teria acontecido antes da invasão.

(fonte: G1)


É impressão minha ou o único a sair relativamente ileso daquele sequesto lá em Santo André foi o sequestrador? A sequestrada principal foi, para variar, a que mais sofreu. Foi vítima desde o primeiro momento dos ciúmes e da babaquice de macho do rapaz, e por fim acabou sendo vitimada ou pelo algoz ou pela polícia -- já que saiu carregada do cativeiro com uma bala na cabeça. O GATE-SP sai manchado e criticado por ter permitido a volta da amiga de Eloá ao cativeiro. Principalmente depois que esta saiu também, pelo que parece, baleada. Em suma, o que começou mal terminou pior ainda, e a gente sempre fica se perguntando se poderia ter sido diferente. Será que podia?

Pelo visto a única coisa que pode mudar nas próximas horas, a não ser que as notícias estejam erradas, é que o jovem Lindembergue, que já não parecia ter um futuro brilhante pela frente desde o princípio, acabe sofrendo "um acidente" durante a madrugada e acorde em pior estado do que os outros personagens da tragédia... ou simplesmente não acorde. Em face das duas meninas tão brancas, bonitas e vítimas, feridas e correndo risco de morte, há bastante gente que teria prazer em ver isso acontecer. Não que isso vá mudar o fato de que há duas meninas adolescentes sendo atendidas no hospital agora mesmo, e que situações de namorados ensandecidos ferindo, ou tentando ferir, matando e tentando matar namoradas seja algo terrivelmente comum pelo mundo afora.

O que há de novo nisso tudo? Certas coisas não acabam bem mesmo. O problema é que elas continuam começando e acontecendo. A questão não é se a polícia devia ou não ter invadido mais cedo, ou se Lindembergue devia ou não ser torturado ao chegar à prisão -- o que provavelmente vai acontecer. O que realmente importa é se perguntar por quê estas coisas continuam acontecendo. Por que é que tem tanto cara por aí que, ao ver seu poder dentro da relação minado pela -- imagine só! -- capacidade de pensar e sentir autonomamente de sua companheira, acabe recorrendo à violência e à imposição covarde de sua vontade? O buraco é bem mais embaixo.

De resto, só espero que as meninas fiquem bem.

UPDATE:
Fontes oficiais já anunciaram a morte da ex-namorada-ex-refém, mas voltaram atrás. O G1 também parece estar um tanto confuso em sua grande vontade de anunciar primeiro, tendo em vista que já colocou e tirou manchetes sobre o caso de sua página principal umas 2 vezes na última hora. Para variar, o caso agora vira circo e ninguém vai se perguntar por que é que estas coisas acontecem...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Aborto como direito, e o direito que não temos de falar dos outros...

Um breve roundup que escreví para o Global Voices Online, traduzido também (obviamente) para o Global Voices em Português, deu um bocado o que falar. Como é mais simples mostrar do que explicar, colo abaixo o roundup e os comentários que já rolaram até agora..

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Brasil: O aborto é um direito, não um crime

Imagem do tradutor

2008-10-02 @ 22:30 UTC · Publicado originalmente por Daniel Duende

Traduzido por Daniel Duende· Veja o post original


Países:
Brazil
Tópicos:
Criança, Cyber-Ativismo, Gênero, Saúde, Direitos Humanos, Lei, Racismo
Línguas:
Portuguese

O Sapataria, um blogue brasileiro sobre direitos LGBT e da mulher, publicou fotos do recente protesto promotivo por entidades ligadas a questões de gênero contra o enfoque dado ao aborto nas leis brasileiras, e partilha conosco algumas idéias sobre o tema: “Em vários países o fato do aborto ser considerado crime penaliza diretamente as mulheres pobres, principalmente as negras, que tem menos acesso aos serviços de saúde e métodos contraceptivos. […] Trata-se de um atentado à autonomia e à dignidade das mulheres, em sua maioria pobre, sem acesso a assistência jurídica e psicológica.”

13 comentários

  1. Jandira Disse:

    Olá Daniel! Valeu pelo comentário no blog, esse é realmente um tema que nos é muito caro! A vida das mulheres precisa estar em primeiro lugar nas políticas e práticas, na sociedade brasileira e no mundo!
    Tamojunt@s! Abraços, Jandira (Sapataria - Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais do DF - Brasil)

  2. Daniel Duende Disse:

    Olá Jandira. Parabéns pelo trabalho que vocês vem fazendo no blogue Sapataria. Podem contar com o Global Voices Online para amplificar a voz de vocês na defesa dos direitos da mulher em toda a sua diversidade. Esta é a nossa missão.

    Abraços do Verde.

  3. João Disse:

    Olá Jandira, olá Daniel,
    Surpreende-me ver alguém a falar de aborto e mostrar que nem sabe o que isso é !!! Na verdade, para além dos direitos das mulheres seria bom ter em conta o direito do filho (abortado) e do pai: haverá filho sem pai? É preciso esclarecer-se que no aborto existem 3 personagens todas elas importantes e omitir qualquer uma é no mínimo desonesto!

    Sobre a personagem quase sempre esquecida, recomendo a leitura da história da Gianna Jessen, certamente vão gostar e porque não publicá-la no blog?
    História da Gianna Jessen:
    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/testemunho-impressionante-de-vida_27.html

    Para quem não sabe bem como é feito o aborto, aqui ficam algumas luzes:
    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/os-instrumentos-do-aborto.html

    Voltando ao direito das mulheres:
    É espantosa a forma como os defensores do aborto defendem as mulheres mais pobres: eliminando-lhes o filho. Não haverá formas de ajuda realmente eficazes e solidárias?
    Para quem passa dificuldades dar um aborto é dar muito pouco!!!
    Se pretenderem saber do “benefício” que o aborto trás para as mulheres (pobres e ricas), podem ler e divulgar:

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/10/rssia-250-000-mulherempor-ano-ficam.html

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/08/site-sobre-os-riscos-do-aborto.html

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/05/mais-sobre-as-consequncias-do-aborto.html

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/depresso-causada-pelo-aborto-muitos.html

    OBRA DE TEATRO SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DO ABORTO:
    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/laura-zapata-actriz-mexicana-prepara.html

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/o-lado-obscuro-do-aborto.html

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/royal-college-of-psychiatrists-afirmam.html

    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/03/testemunhos-de-quem-lamenta-o-aborto.html

    câncer:
    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/novos-estudos-sobre-efeitos-do-aborto.html

    Morte no México:
    http://algarvepelavida.blogspot.com/2008/02/jovem-morre-vtima-de-aborto.html

    e agora? Acha mesmo que o aborto é defensável?

  4. Sim Disse:

    Já que voce anda a mostra blogs de Portugal eu digo que sou de Portugal e desde que o aborto foi autorizado muito menos mulheres morrem e ha muito menos criminalidade, voce e catolico pois eu nao viva a sua vida a sua maneira e eu a minha.

  5. Daniel Duende Disse:

    Olá João,

    Creio que o que disse a/o comentadora/or Sim parece se confirmar em outros países também. A taxa de mortalidade de mulheres em países em que o direito de escolha sobre a gestação lhes é legalmente negado costuma ser um bocado influenciada por este fato. Em países como o Brasil, milhares de mulheres morrem todos os anos por conta de complicações ligadas a gestações de risco ou decorrentes de abortos clandestinos. Trata-se, então, não apenas de uma questão de moral ou opinião. Trata-se de uma realidade, um problema bem real, da saúde pública de todos os países, que deve ser visto com um olhar sério e honesto, de preferência despido de egoísmos, achismos e radicalismos religiosos.

    Além disso, por trás do argumento de que “há 3 pessoas envolvidas em uma gestação”, geralmente pode se encontrar uma tentativa espúria de desempoderar (ainda mais) a mulher em seu direito de decidir sobre a própria vida. É contra isso que lutam tantas mulheres pelo mundo, como a Jandira, que deixou o primeiro comentário acima. Mais do que apenas pelo direito de escolher sobre a gestação que venha a ocorrer dentro de seus corpos, mas sobretudo sobre todos os direitos imprescindíveis para que possam viver com dignidade. O feto que ainda não nasceu não é, então, desimportante. Mas torná-lo mais importante do que a vida e a dignidade da mulher, me parece nada mais do que uma tentativa de reduzir ainda mais a importância ou os direitos das mulheres. Pior ainda, acreditar que o homem, que não gesta, não sente dores do parto, não amamenta, e que muitas vezes sente-se na total liberdade de se abstrair de qualquer responsabilidade pela vida que a mulher carrega no ventre (exceto quando resolve lutar pelos abstratos direitos “do feto”, geralmente do feto “dos outros”), tem algum grande direito de opinar sobre a vida alheia, só pode ser o tipo de piada de mau gosto que costumam fazer os homens pelo mundo afora.

    Abraços do Verde.

  6. Sim Disse:

    Nao sendo hipocrita mas a maior coisa que a sociedade ganha com isto é muito menos gente violenta e menos criminosos , sim porque a maioria dos criminosos que matam estrupam etc , vem de familias disfuncionais e pobres claro que ha excepção mas regra é essa , e depois no meu país não descontam para sociedade , o estado dá casas a eles obriga a pagar uma renda minima como 1 real , e mesmo assim nao pagam e se obrigam a sair de casa destroiem-na , com o aborto conseguimos evitar muito o crime e um mundo muito melhor para todos nós e todas crianças que nascem de familias com condiçoes e amor para dar , porque o amor não é tudo , ter filhos requer ter dinheiro não é por ela cá fora e os outros que as aturem , mas se voces no brasil querem manter a fé católica quando vivem na miséria e acham que países como espanha usa suécia que tem uma qualidade de vida muito acima e vivem muito mais felizes e civilizados estão errados , então força é uma opção na india dizem que os pobres que morrem pobres nascem ricos é a forma de controlar pobres , aí inventam deus para aguentarem uma vida de miseria e sofrimento.

  7. Daniel Duende Disse:

    Veja bem, Sim…

    O argumento de que o aborto pode ser uma forma de diminuir a violência urbana, que seria causada pela quantidade “grande demais” de pessoas pobres, advindas de “famílias disfuncionais” (que muitos pensam ser uma exclusividade dos “pobres”) e de ambientes violentos, não é nenhuma novidade por aqui por estas terras brasileiras. De fato, há até alguns políticos que defendem o aborto, com foco principal no aborto para mulheres “pobres”, como uma forma de controle de criminalidade futura. Creio, contudo, que isso já se torna levar a discussão para um outro lado, com o qual não concordo.

    Defender o direito de escolha da mulher, de todas as mulheres, independende de cor, credo, nacionalidade ou origem social e econômica, é uma coisa. Defender o aborto como uma forma de se diminuir a quantidade de “potenciais criminosos” (afinal, para muitos, pobreza e crime são sinônimos) é outra coisa totalmente diferente. Defender que a mulher tem o direito de decidir sobre sua vida e seu corpo é diferente, bem diferente, de esperar que este direito vá livrar a classe média dos “filhos indesejados da pobreza”. A meu ver, não é assim que a coisa funciona.

    A pobreza se combate de outras formas, muitas outras, e é claro que uma delas é se dar atenção a todas as necessidades sociais das classes excluídas e emprecidas, entre elas as questões de saúde pública entre as quais o aborto figura. Mas o aborto não pode ser visto como uma forma “mais digerível” de controle étnico/social. Aborto é um direito, não ferramenta estatal de combate ao crime e à pobreza.

    Além disso, cada país é um país. Não sei se comparar Portugal com a Suécia faz algum sentido para os portugueses. Mas comparações entre o Brasil e qualquer país europeu fazem muito pouco sentido, a meu ver, quando se leva em consideração a absoluta diferença entre as realidades históricas e sociais destes países. Não é a legalização do aborto que transformará o Brasil em Suécia, nem a mudança de uma política ou lei qualquer que transformará Angola nos Estados Unidos da América. Infelizmente a coisa não é tão simples assim.

    Por outro lado, considero um pouco ofensiva a noção muitas vezes propalada por alguns cidadãos europeus de que o Brasil é um país que vive na miséria. Muito pelo contrário. O Brasil é um país muito rico, o que torna a enorme pobreza na qual vive grande parte de sua população ainda mais gritante. É claro que há muito do que causa esta pobreza que também está por trás da legislação que proíbe o aborto no Brasil, mas não se deve confundir dois problemas que apenas tem em comum algumas de suas causas.

    Em suma, acredito no aborto como um direito reprodutivo da mulher. Mas não acredito no discurso que coloca o aborto como uma eventual solução para a pobreza e o crime. Há muito preconceito e uma certa dose de facismo de classe-média por trás deste discurso, e isso em nada serve as mulheres pobres que tanto se beneficiariam por retomar o direito a decidir sobre seus corpos.

    Abraços do Verde.

  8. Sim Disse:

    O problema do mundo inteiro na criminalidade na pobreza em tudo neste mundo é só e apenas um as pessoas pobres terem filhos devia ser proibido estamos alimentar uma bola que nunca mais vai acabar , eu dava subsidios para gente pobre nao ter filhos.

  9. Daniel Duende Disse:

    Acredito que insinuar uma conexão direta entre a pobreza e o crime, e sugerir o aborto compulsório ou a proibição de certos grupos sociais de gerarem filhos, sejam demonstrações gritantes de facismo, profundo preconceito social e desrespeito pelo ser humano em todas as suas formas.

    Isso transcende em muito a esfera da discussão sobre o aborto ou sobre os direitos reprodutivos femininos, e vai rapidamente às raias do desrespeito aos direitos humanos já assegurados — o que é um retrocesso. E neste ponto, pareio-me com quem acredita que todas as pessoas tem o DIREITO de ter filhos, criá-los com dignidade e transmitir a eles os melhores valores sociais e pessoais. Somo a isso minha crença no DIREITO de todas as pessoas, principalmente as mulheres, de decidir quando NÃO ter filhos, mesmo em face de uma gravidez indesejável.

    Levar esta discussão para o campo minado do facismo e da eugenia social é absurdo, e condenável.

    Abraços do Verde.

  10. Pola Disse:

    Prezado Daniel,
    Reforço aqui tudo o que você disse até agora. Seus comentários estão totalmente de acordo com a defesa do aborto que nós, mulheres e homens feministas, fazemos. Gostaria de acrescentar apenas - para argumentar sobre o que o João escreveu - um comentário sobre o papel do pai nesse processo. A figura do genitor é realmente importantíssima na tomada de decisão da mulher sobre ter ou não um filho. Sua presença ou ausência influencia sem dúvida nos casos de aborto por gravidez indesejada - quando as mulheres são forçadas a engravidar, não por sua vontade, mas por vontade do marido ou companheiro, ou naqueles em que o sustento e os cuidados com a criança, e portanto, o ônus econômico e social recai exclusivamente sobre a mulher - por abandono do parceiro. Além disso, é importante lembrar que grande parte dos homens concordam com o aborto como solução para uma gravidez indesejada (seja de amantes ou esposas), chegando a contribuir financeiramente com o procedimento. No entanto, a realização do procedimento e a responsabilização pela decisão tomada recaem exclusivamente sobre a mulher. Cadê os pais nesse momento??? Não há justificativa para essa reivindicação “machista” e patriarcalisca!!!
    Historicamente os homens atribuiram toda a responsabilidade pelo cuidado dos filhos às mulheres, assim como sempre coube a elas o trabalho doméstico. Agora as mulheres revindicam o direito de decidir sobre seu corpo e sobre a maternidade e os homens dariam uma enorme contribuição à civilização se nos permitissem realizar essa escolha autonomamente.
    Há braços feministas!

  11. Sim Disse:

    Amigo isso e tudo muito bonito e eu concordo com cada 1 faz o que quer tem liberdade para isso o problema e que depois prejudicam a minha vida prejudicam a vida da criança obrigam-nos a pagares-lhe casa comida e tudo , e a criança revoltada ainda vem matar os nossos filhos por isso essa utopia que voce tem de bonito nao resulta veja o resultado que ta ai , voce tem o direito a fazer o que quiser desde que nao ultrapasse a liberdade dos outros , se uma pessoa nao tem dinheiro para comer nao deve ter filhos , eu nao sei como as pessoas ajudam africa sabendo que a fome doenças vai-se prepetuar porque eles tem 10 crianças por pessoa em vez de incentivarem a nao terem mais filhos para finalmente terem uma sociedade boa.

  12. Daniel Duende Disse:

    Vamos por partes então, Sim…

    As minhas palavras, que você chama de utopias, são marcos mínimos de respeito aos direitos humanos. Se você acredita que o respeito aos direitos humanos é uma utopia, considero isso um bocado preocupante. O que você quer dizer, por exemplo, com “obrigam-nos a pagares-lhe casa comida e tudo”? Crê, por exemplo, que os necessitados o são por que o querem? Acredita na falácia liberal de que quem trabalha enriquece e que os pobres são os preguiçosos que não quiseram trabalhar para enriquecer? Acredita que todos tem chances? Estará chamando de preguiçosos então os africanos, nas costas dos quais — por meio da escravidão — Portugual enriqueceu explorando suas colônias? Estará chamando de preguiçosos aqueles que foram privados e roubados daquilo que tinham para enriquecer outros, que exploravam também seu trabalho? O que é que você chama de preguiça? Se você acredita que ser roubado, violentado e empobrecido simplesmente por que tinha riqueza é preguiça, deveria pensar então que seus filhos — que você teme que sejam atacados pelos “filhos dos pobres” — devem ser muito preguiçosos, afinal eles só seriam atacados pois tem coisas a serem roubadas, a serem cobiçadas. Pense nisso.

    Não é também, a meu ver, uma utopia respeitar as dificuldades e questões de pessoas que vivem em contextos que você não entende nem tem como entender. Você já andou pela África? Já estudou sua história fora dos livros que os maiores exploradores do continente africano escreveram? Já leu a história escrita pelos explorados, ou será que a história dos “preguiçosos que só sabem ter filhos” não te interessa? O mundo é mais complicado do que a rua calma que contemplas de sua janela européia, mas pode acreditar — a bonança que tens e temes que seja roubada foi construída com o sangue daqueles que agora deploras. Sente-se no direito de fazê-lo? Então não se surpreenda com a revolta daqueles que tão soberbos criticas agora. A violência social é em grande parte uma expressão desta revolta.

    E se você não sabe por quê as pessoas ajudam a Africa, talvez devesse entender um pouco melhor por quê a Africa é a Africa que hoje vemos. Terá sido sempre um continente pobre “cheio de coelhos preguiçosos”? Ou será que a pobreza, a guerra, a doença e a desgraça que hoje açoitam o continente africano tem, de muitas formas, algo a ver com a invasão, a colonização, a manipulação política e econômica e a exploração lá promovidas pelos colonizadores, missionários e emissários de Europa?

    E o que tudo isso tem a ver com o direito da mulher em decidir o que fazer com seu corpo? Como é que fomos parar de uma coisa na outra? Para mim parece simples: é muito fácil falar de um tema e esquecer da forma como ele se articula com tantos outros. Conhecimento, consciência, não são coisas fáceis de se obter. É por isso, pelo reconhecimento de nossa própria ignorância, que deveríamos saber ouvir mais do que falar. Pois a cada passo na direção que consideramos certa, podemos estar tropeçando em tantas mais outras questões que são bem mais complexas do que entendemos…

    E assim gira o mundo, Sim. E ele não gira à volta de nossos umbigos brancos, burgueses e ricos.

    Abraços do Verde.

  13. Daniel Duende Disse:

    Olá Pola,

    obrigado pelo apoio. Concordo plenamente também com suas colocações. É necessário que as pessoas abram os olhos para tendências que são seguidas e afirmações que são feitas inocentemente, mas que na verdade representam a continuidade da opressão de gênero em nossa sociedade (e em várias outras). O mesmo se aplica a questões raciais e sociais. Por vezes não enxergamos — por não saber ou por não querer ver — mas são justamente as coisas que achamos mais normais aquelas que são mais perversas.

    Abraços do Verde.




UPDATE:
E o debate continua, indo e vindo em alguns momentos, mas sempre chegando a algum lugar... creio eu...
Ou então é só impressão minha, pois parece ter gente que não entende e nunca vai entender que o buraco é bem mais embaixo...


  • Sim Disse:

    Como voce pode justificar alguem que nao tem dinheiro para si ter 3 filhos e eles morrerem a fome e pura ignorancia nao tenho pena de pobre nao , nao querem trabalhar tem filhos como meio de sustento , nao escolheram nascer assim mas escolheram continuar assim e eu nao sou rico.

  • Daniel Duende Disse:

    Justificar? A complexidade humana precisa ser justificada?
    Nem sempre as pessoas agem como nós, olhando de fora, consideramos mais racional. Isso não quer dizer que não tenham seus motivos. Quer dizer, no máximo, que nós não os compreendemos ou enxergamos.

    Mas eu fiquei impressionado com suas frases…
    “nao querem trabalhar tem filhos como meio de sustento , nao escolheram nascer assim mas escolheram continuar assim”?
    Você realmente acredita que “os pobres” não querem trabalhar, e tem filhos como meio de sustento? Pior ainda, acredita que eles escolheram continuar pobres? Você não pode estar falando sério, Sim.

    De qualquer forma, parece que essa discussão não vai a lugar algum. Você nem se deu ao trabalho de responder minhas perguntas. Sabe-se lá se sequer lê o que escrevo…

    Abraços do Verde.

  • Diviol Rufino Disse:

    A vida está acima de qualquer credo ou religião. Quando ela está em jogo, não importam as diferenças. O que precisa aumentar em nós é a busca de soluçõe criativas e sermos capazes de lidar construtivamente com a grande tarefa a que todos somos chamados: contruir um mundo solidário. As mulheres negras e pobres que continuam abortando são o espelho da degradação social a que chegamos, elas precisam ser amparadas no seu desejo de ser mães e não serem estimuladas - pela nossa ganância - a serem assassinas.

  • Daniel Duende Disse:

    Olá Diviol Rufino,

    Eu também acredito que a vida está acima de qualquer credo e de qualquer religião. Mas chamo a atenção para o quê estamos chamando de vida. Será ela meramente um fato biológico, sobrevivência e continuidade da vida biológica, ou estamos falando de uma vida completa, com dignidade, oportunidades de crescimento e de realização pessoal?

    Quisera vivêssemos em um mundo onde todos tem oportunidades de forma igual. Quisera vivêssemos em uma sociedade que recebe bem a todos, e onde todos podem encontrar apoio entre todos — uma comunidade sem preconceitos, bairrismos, exploração…

    Mas esta não é a nossa realidade. E na nossa realidade, muitas pessoas vivem — no sentido biológico — e morrem sem ter tido uma chance sequer de viver de forma digna, e sem nenhuma oportunidade de sair da situação limite onde nasceu e viveu. E é nesta sociedade, a sociedade em que vivemos, que o direito de escolha por parte da mulher e do casal se faz mais necessário. O direito de escolher se quer colocar no mundo um filho que, assim como você, não terá chances. O direito de escolher se pode arcar com mais uma boca para alimentar, mais um dependente para cuidar, mais uma pessoa para ver sofrer ou, pior ainda, para ter que abandonar.

    Se vivêssemos naquele mundo perfeito, provavelmente todas as pessoas também teriam perfeitos conhecimentos de métodos anticoncepcionais, e todos eles seriam 100% eficazes. Naquele mesmo mundo perfeito, todas as pessoas teriam amor e saúde interior suficiente para criar quantos filhos quisessem, e teriam todo o apoio para isso.

    Mas no mundo em que vivemos, com todas as suas guerras, toda a pobreza, toda a doença do corpo e da alma, e como toda a falibilidade humana, retirar do indivíduo o direito de escolher sobre a própria vida, e uma vida que possa vir a colocar no mundo, é um absurdo. É neste mundo em que vivemos, já que não vivemos nem sabemos de nenhum outro, que o aborto deve ser um direito de toda mulher.

    Se um dia vivermos em um mundo diferente, a gente conversa.

    Abraços do Verde.

  • Diviol Rufino Disse:

    Se a humanidade tivesse optado pelo aborto, priorizando a classe pobre, nós não teríamos conhecido a genialidade de muitos artistas, atletas, lideres mundiais de peso, jogadores do futebol brasileiro - que trazem inúmeras divisas para os clubes de vários países e empresas do mundo. Foi com esse discurso excludente que - não a muito tempo atrás - o mundo ficou estarrecido com um Hitler, um mussolini e tantos outros que ainda estão cm o poder de extermíno entre as mãos. O que precisamos mesmo é criar vergonha na cara, sairmos do nosso egoismo, da nossa indiferença, dos nossos medos de fundo narcisista, e estender a mão para quem mais precisa, criando políticas públicas adequadas, sistema de saúde garantido para todos, educação de qualidade, habitação e saneamento, - em suma -, formarmos uma geração nova de jovens politizados e conscientes e não deixarmos que muitos que estão no poder - os famosos ladrões de colarinho branco (muitos dos quais nasceram em berço de ouro!), aqueles que não roubam para comer mas para engordar suas contas em bancos do exterior, não metam a mão naquilo que é patrimônio de todos, ganhos honestos de milhões de brasileiros que - como eu e tantos - pagam seus impostos diretos e indiretos (e não são poucos!).
    Trabalhei muitos anos no Rio de Janeiro e conheci - graças ao meu trabalho - inúmeras pessoas de comunidades carentes que trabalham duramente para manter suas famílias na dignidade e na honestidade. Bandidos? Existem, como em todos os lugares. Morei no Rio 12 anos e nunca fui assaltado. Mas, em contrapartida (a poucos dias, na Europa, fui roubado por um grupo de jovens, brancos, ricos, drogados!) Não sou preconceituoso - diga-se de passagem - mas, fatos como esses nos convencem de que o que precisamos é de outra coisa: precisamos de mais vida, mais amor!

  • Sim Disse:

    Quando voce nao estuda e nao tem pais ricos , voce escolhe ser pobre , quando voce tem um emprego com um salario minimo e quer viver na segurança disso , voce escolhe ser pobre , quando voce tem filhos ja tendo pouco dinheiro ai assina sua sentença de pobre para toda vida , agora quando voce faz sacricicios para investir no seu negocio na sua vida e adbica de muita vida pessoal para ter uma boa vida no futuro ai nao escolhe ser pobre.

  • Daniel Duende Disse:

    Senhor Diviol Rufino, concordo plenamente com as necessidades sociais que apresentas em sua resposta. Precisamos mesmo de mais e melhor educação para nosso povo, melhores oportunidades para nossa gente, indiferente de classe ou cor da pele. Precisamos de mais segurança, mais e melhor atendimento de saúde, mais respeito e incentivo à cultura. Precisamos, sobretudo, de mais respeito pelo ser humano.

    E é por uma questão de respeito — respeito pela dignidade e pela soberania da mulher sobre seu corpo — que defendo o direito de escolha. Direito de escolha não significa estímulo ao aborto, como pode ter sugerido nosso comentador ‘Sim’, nem significa desvalorização da vida. Pelo contrário, significa valorizar muito mais a escolha livre que cada mulher poderá fazer — a de ter filhos em um contexto em que estes não são uma obrigação. Valorizará muito mais também a vida, vida desejada, que advirá da gestação escolhida e desejada pela mãe. Valorizará, sobretudo, o direito de todos a uma vida digna, neste mundo em que vivemos ou em qualquer outro.

    Precisamos de mais vida e mais amor, disso não há dúvida. Mas precisamos também sair de nosso pedestal de machos que enxergam o mundo apenas com os olhos do gênero que há séculos domina a cultura e a sociedade, e entender o que querem, e merecem, estas mulheres que chamamos de esposas, filhas, senhoras, meninas, empregadas, chefes, beatas ou putas, mas que dificilmente sabemos enxergar como aquilo que na realidade são — mulheres, com suas demandas, suas dificuldades e suas particularidades. Precisamos de mais respeito à mulher!

    Abraços do Verde.

  • Daniel Duende Disse:

    Caro(a) Sim,

    onde você vive todos aqueles que desejam estudar, tem a oportunidade de fazê-lo? Onde você vive, todos tem acesso a um emprego com ao menos um salário mínimo de remuneração e, mais do que isso, tem possibilidade de sonhar e ousar ir além disso? Onde você vive todas as pessoas tem acesso a informações sobre controle de natalidade, saúde reprodutiva e maternidade responsável? Todos tem acesso à educação, à saúde e aos direitos básicos de um ser humano? Isso tudo é muito bom, mas levando em conta que o mundo não é assim como parece ser no lugar em que você vive, acho que o buraco é bem mais embaixo.

    Mais uma vez sugiro que você enxergue um pouco além de sua janela. Algumas das coisas que dizes estão fazendo pouco sentido quando vistas da perspectiva de quem vive em lugares do mundo onde as oportunidades, o emprego, a educação e a saúde deixam muito a desejar…

    Abraços do Verde.

  • Sim Disse:

    Explique-me como pode alguem que passa fome nao tem condições ter 10 filhos e esperar um dia a ser rico que amor pelas crianças pode ter ?

  • Daniel Duende Disse:

    Você acredita que alguém que passa fome, por falta de dinheiro ou por falta de comida na região que reside, teve educação suficiente para refletir sobre isso? Acredita que conheça métodos contraceptivos? Acha que deveria, na falta de métodos contraceptivos, abster-se de atividade sexual? Acredita que as mulheres desta região tenham acesso a algum tipo de conhecimento sobre controle de natalidade? Em suma, acredita que estas pessoas são como você, pensam como você, e sabem o que você sabe? Por vezes, notar que se tratam de pessoas diferentes, muito diferentes, vivendo em realidades diferentes, muito diferentes, da sua, pode ajudar você a entender o que acontece. Foi isso que eu quis dizer quando te sugerí olhar um pouco além de sua janela, e se informar sobre as realidades que cercam pessoas em outros contextos.

    Abraços do Verde.

  • Sim Disse:

    Mas eu nao critico eles eu critico voces que em vez de ajudar e enviarmos dinheiro para africa ou gente pobre ai no brasil o mais importante seria natalidade e educação para o problema não se arrastar para sempre , porque se vamos ajuda-los com eles a terem 10 filhos e a multiplicação da pobreza e criminalidade e o mundo está como está por isso.

  • Daniel Duende Disse:

    Eu concordo com você, Sim, sobre a importância maior de se investir em educação e informação. Mas acho que a questão também não é tão simples assim. A que você se refere quando diz “em vez de mandar dinheiro para a Africa”? Que dinheiro, e de que forma está sendo enviado, e com que finalidade?

    Quanto ao Brasil, não sei se você sabe, mas no momento há um enorme investimento do governo por aqui para possibilitar as pessoas a saírem da pobreza absoluta ou progredirem profissionalmente, o que inclui ações de educação e infra-estrutura. Entre estas ações, inclui-se a informação a respeito de planejamento familiar e controle de natalidade. Além disso, nosso presidente é favorável à legalização do aborto enquanto direito da mulher e da família, mas a existência de uma bancada forte que se opõe a isso no Congresso impede que tal mudança legal ocorra no Brasil neste momento.

    Abraços do Verde.