Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 19 de abril de 2005

"... às 9 na 9"
"A Estação 109 é realmente um lugar inacreditável às vezes. A vida também."
--trecho da versão original de O Último Cravo


Era 1994 e eu era um nerd tímido que vivia em meu pequeno mundo de fábulas, fadas (do tipo que você sonha e do tipo que te magoa...), pequenas bebedeiras adolescentes e jogos de computador. Um velho amigo, que já era velho amigo então, estava fazendo aniversário e nos chamou para tomar uma cerveja honesta em um bar que até então eu só conhecia de vista. Foi a primeira vez que pisei na estação 109. O atendimento era péssimo, o bar era claro demais, as pessoas (ainda) me assustavam. Fomos embora correndo para um lugar mais escuro e que se parecia mais conosco. Sim, paradoxalmente fomos para o Espetos 111. A vida é assim. Nem sempre é paixão à primeira vista.

Depois já era 1996. Eu havia descoberto a internet, o IRC e um uso decente para minha tecelagem de palavras. Voltei a pisar no Estação 109, desta vez para um dos primeiros IRContros do #Brasilia, da hoje extinta (há muito tempo) Brasnet. Não me lembro ao certo deste dia. Há algumas fotos e algumas lembranças que sobreviveram ao porre da festa (que durou 2 dias) para que rumamos após o IRContro. Não foi também à segunda vista que me apaixonei pela Estação 109. Mas já naquele dia eu percebi que havia algo de especial naquele lugar, mesmo que os donos não fossem particularmente espertos a este respeito.

E então foi em 1997, com a vida dando suas voltas, e nós do velho grupo de amigos já donos de nossos narizes e carros, que a Estação 109 entrou em nossas vidas. E foi foda. Desde então tanta coisa aconteceu que não seria possível contar em um ou dez posts. De fato aquele que tiver paciência de percorrer os quase 3 anos de história do Alriada vai encontrar tantas citações do Estação 109 que entenderá fácilmente do que estou falando quando digo que "talvez um quinto dos eventos bizarros, maravilhosos ou terríveis de minha vida tinham algo a ver com a Estação 109.". É apenas óbvio.

Lá eu conheci, encontrei, desencontrei, reencontrei, bebi e vomitei, ou caí, ou apenas cambaleei. Lá eu ri e chorei, e falei, e falei tanto, e ou vi tantas coisas, e aprendi tantas coisas, que eu não saberia mais recontar. Lá eu vivi. Em alguns momentos, quase literalmente. Houve o tempo em que eu estava lá quase de 3a a domingo, e houve o tempo em que eu passava meses sem pisar lá. Mesmo assim, mesmo nos tempos afastados, sempre havia algo que acontecia lá ao longo da minha caminhada.

Foi lá que eu redescobri o valor dos sorrisos depois de uma grande depressão em 2001. Foi para lá que eu rumei depois de me demitir do Banco do Brasil, para escrever e acreditar que minha vida de escritor começava ali. E foi lá que entendi que escritores nascem, e assim eu já havia nascido. Foi na 109 das fodas prometidas em banheiros, das saideiras gratuitas quase inacabáveis, das pessoas que vão para ver e para ser vistas, e das pessoas que vão apenas para beber... foi lá na Estação 109, e quase que exclusivamente sobre a estação 109, que eu escrevi o meu primeiro livro (aquele que eu algum dia ainda vou lançar...)

Nos últimos dias (semanas?) a Estação 109 resolveu entrar de novo, e com força, nas rotas sensíveis do meu ser. Tanta coisa aconteceu e a teve como palco proposital e incidental... que eu nem sei o que dizer.
É claro que é por isso que estou escrevendo este post. Porque é a Estação 109, e nenhum outro lugar, apesar de qualquer pesar que seja, que é o meu bar. Lá é casa, tem mesa e banho de cerveja. Lá tem Ismã e Sales, e Areba e Braga e Marquinhos. Lá há amigos novos e antigos, e há pessoas que sempre encontro mas nunca me lembro dos nomes. A Estação 109 é um ecosistema do qual eu faço parte. Ela é o meu bar.


Hoje,
de novo.

E é isso.


P.S. É, eu percebi que as ultimas duas imagens estão dando pau. Eu conserto isso depois...

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