Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

domingo, 27 de fevereiro de 2005

"Holly was thinking about her career... about her life. She was thinking how Hollywood would take her to the stars she craved. Maybe Holly would, maybe Holly wouldn't."

São impressionantes as coisas que um homem faz para perseguir as suas esperanças. Isso para não falar nas mulheres...


Off Topic: Comecei a escrever mais um conto sobre cigarros e amores partidos. E por que nâo? Estamos apenas começando, baby. :)

- ...mas eu nunca imaginaria que alguém tão alegre quanto você fosse se tornar tão especializado em escrever coisas tristes.
- todas estas histórias tristes existem dentro de mim. elas precisam sair...
- e você está se tornando bom nisso. está cada dia mais direto, conciso, forte...
- são coisas que a experiência, o viver e fazer, trazem para você.

escrever não é preciso
mas é necessário.

este sou seu.

I know
or maybe i should...

I know, you love the song but not the singer,
I know, you've got me wrapped around your finger,
I know, you want the sin without the sinner,
I know, I know.

I know, the past will catch you up as you run faster,
I know, the last in line is always called a bastard,
I know, the past will catch you up as you run faster,
I know, I know.

I know, you cut me loose from contradiction,
I know, I'm all wrapped up in sweet attrition,
I know, It's asking for your benediction,
I know, I know.

I know, the past will catch you up as you run faster,
I know, the last in line is always called a bastard,
I know, the past will catch you up as you run faster,
I know, I know...

(placebo - i know)


-=-

é.

então tá.

Landscape Fechado?
que merda!

Ontem (ou terá sido anteontem) passei, já de madrugada, lá pelo Landscape. Acho que queria beber uma última cerveja depois do jantar de aniversário de um amigo... não me lembro.
Encontrei as portas fechadas, com lacres do governo do DF (vai Roriiiz!) informando que aquele estabelecimento estava lacrado por estar funcionando sem alvará. Um amigo advogado disse que isso é reversível. Espero que sim.

Desde o Inside Club Brasília não tinha um lugar como o Landscape.

é isso.


UPDATE 28/02

Soube que o problema foi com alvará para música ao vivo. Tudo indica que eles devem reabrir em breve...
Assim espero.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

Placebo em Brasília tocando de graça...

Será um sonho ou um pesadelo?

Espero que o Omelete, para variar, esteja errado.


e ele estava... :)

Melhores Venenos
(um conto sobre vícios)

Cerveja gelada e cigarros, uma amiga ruiva e bem disposta, sexta-feira, uma mesa de bar. Érico sentia-se bem o bastante, não podia reclamar. Virava-se para os lados rapidamente para sorver o momento à sua volta, e então voltava a debruçar-se na conversa que não interessava. Trocava palavras sem pensar nelas, concentrava-se nos olhos de Selma, nos seios de Selma, virava os olhos para longe do vazio. Tragou seu cigarro, passou a mão no cabelo eriçado e pediu a conta.
- "vamos para outro lugar?"
- "bora!".
E assim começou a noite.

Deslizaram um pouco pela cidade enquanto aumentavam a vontade, e então pararam sob um bloco qualquer da quadra de Selma para se conhecerem melhor. Érico fingia, evidentemente, estar interessado no que Selma tinha a dizer, e esta retribuia o fingimento. Foi com alívio que resolveram parar com a piada e se atracaram, alguns minutos depois. Èrico abria com urgência os botões da blusa de Selma. Selma enfiava, aflita, a mão dentro da calça de Érico. Havia uma urgência de como se não houvesse tempo a perder. Era como se matassem uma fome, ou tentassem estancar um sangramento. Era como se fosse um remédio, um placebo, para uma dor antiga. E então terminou sem deixar vestígios. Selma foi para sua casa, após se despedir e se certificar de ouvir com um sorriso a promessa de telefonemas de Érico. É claro que trocariam telefonemas assim que a fome aumentasse. E era isso.

Érico chegou em casa pouco antes do nascer do sol e jogou o casaco sobre a primeira cadeira de seu apartamento, como fazia sempre. Abriu a geladeira e pegou a última cerveja. Com um pouco de sorte não estaria choca. Sentou-se à varanda e acendeu um cigarro, olhando fixamente para o ponto de ônibus. Aos poucos o céu começava a clarear, encontrando Érico, estatuesco, sentado à varanda olhando para aquele ponto de ônibus. Nâo sorria, nem sequer pensava em Selma, ou em Luíza, ou em cerveja, ou em qualquer outra coisa. Acendia cigarro após cigarro e apenas ficava ali, com os primeiros raios de sol refletindo nas vidraças.

E foi então que ela veio. Delgada e sonolenta, a cruzar a rua. Seus passos no asfalto eram sem vontade, seu casaco alaranjado sobre o uniforme como um velho amigo sonolento. Érico debruçou-se na varanda e olhou, tentando conter, como sempre, as lágrimas. Lá estava Elisa, e eles não estavam mais juntos há muito tempo. Algumas vezes ela olhava para cima e desviava o olhar. Algumas vezes ele se sentia estúpido e ia embora antes que ela chegasse ao ponto de ônibus. Algumas vezes, como esta, ele apenas ficava ali. Certa vez ele ficou quase um mês sem aparecer naquela varanda para ver aquela que um dia confessara ao mundo amar cruzar a rua e pegar aquele ônibus. Foi a única vez que ela ligou dizendo que tinha saudades dele. Encontraram-se e beijaram-se como nos velhos tempos, e então nada deu certo, como nos velhos tempos. Em dor renovada se separaram. Desde então Érico não mais a procurou, nem ela o fez. Apenas se sentava, sempre que podia, àquela varanda, e olhava ela chegar, fingir que não o via, e ir embora. Era o pior de seus vícios. Era o seu doce veneno, e o matava um pouco dia a dia.

Este era o único momento em que Érico sentia-se vivo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005



Protège moi (Brian Molko)

C'est le malaise du moment,
L'épidémie qui s'étend,
La fête est finie, on descend,
Les pensées qui glacent la raison.

Paupières baissées, visages gris,
Surgissent les fantômes de notre lit;
On ouvre le loquet de la grille
Du taudis qu'on appelle maison.

Protect me from what I want...

Sommes-nous les jouets du destin
Souviens-toi des moments divins
Planant, éclatés au matin,
Et maintenant nous sommes tout seuls.

Perdus les rêves de s'aimer,
Le temps où on avait rien fait,
Il nous reste toute une vie pour pleurer
Et maintenant nous sommes tout seuls.

Protect me from what I want...

Protège-moi de mes désirs.


-=-

Escrever e cantar. Colocar em frente seus projetos antigos e novos. Ver as coisas surgirem através dos seus movimentos. Isso é bom pra caramba...
Recomendo!

E por falar em recomendar coisas boas pra caralho,
vejam o clip de Protege Moi em http://www.placebo.com.br

É a suruba mais bem filmada (com a trilha sonora mais perfeita)que eu já vi. O diretor do clip é o mesmo do filme Irreversível.


Enquanto isso o projeto Maina começa a tomar corpo.
E é um lindo corpo...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Placebo em Brasília: CONFIRMADO!
Saiu no site da Folha Online hoje a confirmação do show do Placebo em Brasília no dia 23/04. O que tenho a dizer é "PUTA QUE PARIU, ATÉ QUE ENFIM!!!".

"O grupo inglês Placebo, uma das bandas mais populares do rock alternativo nos últimos anos, confirmou a vinda ao Brasil em abril. O trio tocará em oito datas: 15/4, em Recife, no primeiro dia do festival Abril pro Rock; 16/4, em Salvador; 19/4, em Porto Alegre; 21/4, em Florianópolis; 23/4, em Brasília; 26/4, em Campinas; 27/4, em São Paulo, no Credicard Hall; 29/4, no Claro Hall, no Rio de Janeiro."
(extraído da Folha Online de 22/02/2005)

Quando ví na televisão aquela figura indefinida cantando "i serve my head up on a place / it's only confort calling late / because there's nothing else to do / every me and every you" eu sabia que estava fazendo uma descoberta. O ano era 1999 e quando eu falava sobre o Placebo para as pessoas, ninguém mais conhecia. Lembro-me de ter levado o CD para o Zeca Negão (que agora, ironia, vai tocar comigo na minha renascida bandinha que toca... advinhem... covers do placebo) e pedido para ele tocar Brick Shithouse (lay him down / lie on / lay him down / now your lover went and put me in the ground / i'll be watching when he's around...) e ele ter se recusado a tocar a música pq ninguém conhecia aquela banda. É com muito gosto e um sorriso sarcástico que hoje vejo todo mundo pirando na pista quando alguém tem o bom gosto de mandar uma música do Placebo...

E agora eles vão fazer um show aqui. Eu já havia desistido de acreditar que isso aconteceria. Agora, o que mais posso fazer senão ir a este show, chegar 4 horas antes para garantir um bom lugar e cantar até meu pulmão quase estourar (quase, pq preciso continuar tendo um pulmão pra continuar cantando na bandinha depois...).


Sim, este é um post frívolo e fútil. O ser humano é ridículo
e ao menos eu estou me divertindo... :)

A vida não é um caminho reto.

"Não se vai mesmo longe quando se anda em linha reta",
dizia o pequeno príncipe.

Pior, não se vai em linha reta a lugar nenhum,
pois em linha reta não vamos. Somos todos embriagados
por nossos sentidos, a caminhar em curvas,
para algum lugar onde respousa o desejo de nossos corações.

ou não.

que seja.
eu só sei do que eu quero.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005

Hunter Thompson caiu fora...

O grande gonzo ficou de saco cheio da vida e caiu fora dando um tiro na cabeça. Em respeito a um de meus mestres o que tenho a dizer é "aquelas paredes foram privilegiadas com pedacinhos de um dos cérebros mais loucos e geniais do jornalismo mundial. eu quero um pedaço delas!"

Vai nessa, meu velho.
Seu trabalho já foi ducaralho.

domingo, 20 de fevereiro de 2005

"you try to break the mould
before you get too old
you try to break the mould
before you die..."


enquanto isso estamos vivos
e quebrando tudo, para construir melhor.

desculpe o incômodo,
estamos trabalhando para o meu bem estar.

A moça acenando na janela
Um novo conto de Daniel Duende, para quem ainda não o leu...

Ela não conseguiu parar de chorar quando o taxi parou em frente ao aeroporto. Suas costas ainda estavam arranhadas da última vez que a chupara. Seu coração apertado pelo adeus torto, farpado, que disseram. Foram do céu ao chão seco, como um avião em queda desastrosa, em duas horas. E agora, para seu desespero, ela estava indo embora. Ela, que ela amava, e ela que amava, estavam indo embora uma da outra. A vida não é fácil para quem abre seu coração. E, em meio a tudo isso, agora ela teria que pegar o avião...

Não tinha certeza de ter dado a quantia certa em dinheiro para o taxista. Não se importava. O ruído das turbinas que preenchia o aeroporto Santos Dummont naquela manhã era aveludado e estranho, qual veludo mofado, em seus ouvidos entorpecidos de saudade e confusão. Agora que o laço parecia se afrouxar e soltar violentamente, agora que elas não estavam mais juntas, ela não estava mais em lugar algum...

Tentou enxugar as lágrimas enquanto empurrava o carrinho com pouca bagagem e muitas lembranças. As pessoas olhavam para ela com curiosidade e espanto. Todo mundo já chorou na vida. Mesmo assim alguns parecem ainda se assustar com isso. AS pessoas ditas normais são mesmo as mais loucas.

Tentou se recompor, com mais sucesso desta vez, quando chegou a sua vez na fila de embarque. Não havia bagagem a despachar. Carregaria suas coisas nas mãos, como carregava toda a histórias delas duas no coração. Com a anuência de um fiscal de embarque que a fitava cheio de pena confusa, embarcou no avião.

Os ruídos do interior de uma aeronave são quase um silêncio. São sons como os que devem ouvir os bebês nas barrigas de suas mães. Aboletada em sua cadeira à janela do avião ela quase sentia-se confortável e aconchegada. Seu coração ainda pesado batia devagar e ela observava pela janela a movimentação da pista. Não chorava e não sorria naquele útero de metal. Apenas ouvia, absorvida pelo vazio, os ruídos de seus companheiros de gestação aérea e fitava a janela. E se ela, aquela que ela amava, estivesse no aeroporto agora procurando por ela para pedir perdão e declarar seu amor? Seu coração disparou com este pensamento.

Seus olhos vasculhavam agora, frenéticos, as janelas do aeroporto distante. Entre as crianças que acenavam, entre as mulheres e homens, amados ou não, que observavam, procurava pela figura morena e miúda da amada que deixava agora de má vontade, com o coração partido. Por vezes acreditava esperançosa vê-la em algum rosto que logo percebia, não ser o dela. Chegou a acenar uma ou duas vezes para um ou dois destes insuspeitos enganos. Seu coração começava a acelerar na ansiedade humana e ridícula de que poderia estar agora mesmo sendo observada pela mulher que amava.

Então o avião começou a se mover. A trepidação e o ruído das turbinas que se ligavam arrancou-a de seu transe esperançoso. Por um segundo esteve a beira de gritar para que aquele avião parasse, para que ela pudesse descer e procurar sua amada. Algo dentro dela a conteve e a fez sentir-se ridícula. É claro que ela não estaria lá embaixo. Não depois daquela briga. Não depois das coisas que foram ditas. Não depois da forma como ela fora embora daquela casa no Jardim Botânico, chorando no taxi e despencando de seu sonho, mas irresoluta em não voltar atrás. Toda a resolução se dissolvia frente a esperança de ver novamente sua amada. E foi então nesta angústia silenciosa que ela foi impelida aos céus dentro daquela ave metálica prenhe de vidas como as dela, ou completamente diferentes, rumo à sua cidade solitária.

Maria estava anestesiada enquanto caminhava da porta do taxi até a sua casa. Repassara na cabeça durante toda a viagem a história de amor que tivera com aquela mulher menina que lhe fora tão familiar e estranha ao mesmo tempo. Ligara quase que automaticamente o seu celular pouco antes de abrir a porta. Quando o celular emitiu o sinal de mensagem de voz recebida, foi um dos sons mais belos que ela já havia ouvido em sua vida. Por segundos, enquanto apertava nervosa os botões do aparelho para ouvir a mensagem, ela teve esperança de que o seu destino mudasse. Mas tratava-se apenas de um amigo perguntando se ela já chegara à cidade. Como a vida podia ser cruel em suas brincadeiras...

foto cedida por Julia, outra moça que acena na janelaJá era tarde da noite quando o celular tocou. Maria estivera, desde que chegara a seu pequeno apartamento, sentada á janela fitando, vazia, a rua. Suas valises jogadas sobre a cama, cobertas pela roupa com a qual viajara. Os cigarros se amontoavam no cinzeiro e as lágrimas secavam em seus olhos e seus seios nus. A vida de Maria parecia terrívelmente vazia quando o som eletrônico cortou a noite. Pulou, como uma gata, sobre o aparelho que chamava de cima da cama atendeu a chamada deitada sobre a bagunça. Do outro lado a voz era familiar, muito familiar. Ela dizia "Eu estava lá no aeroporto acenando para você, rezando para que você por algum motivo descesse daquele avião. Volta!"

Depois de desligar o telefone Maria foi até a janela, nua como estava, sem se importar com mais nada no mundo, e acenou para o céu. Acenou para as estrelas como se acenasse de volta para sua amada. Mesmo ainda a sangrar pelas dores do dia, da vida, seu coração batia forte. Assim são as coisas do amor.

Lá em algum lugar na rua eu observava, perdido em meus pensamentos, aquela moça bonita e nua acenando para o céu e pensei comigo mesmo sobre a beleza que existe na vida.




e era isso.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Ahhh, o Landscape...

Fazia tempo que eu não dançava tanto
e me sentindo tão bem...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

"baleful sounds and wild voices ignored
ill luck, disaster, the one reward
violated sanctity of supermen's hills
so sad, love lies there still, so sad- so sad
hollow hills, hollow hills"


O Landscape (409 norte) é um abrigo anti-atômico para dinossauros oitentistas, barflies góticos tardios e pessoas como eu (e talvez você).
A cerveja não é barata, mas está sempre gelada. O Bosco e seu clique devem se orgulhar de ter a pista de dança mais legal (e bem ventilada) da cidade. Não acredito em perfeição (os deuses não permitiriam coisas tão entediantes na existência), mas o Landscape chega perto. Além de tudo mais é o único lugar onde se pode pagar a sua conta (de menos de 10 reais, geralmente) ao som de Hollow Hills (do Bauhaus) ou It's Alright (do Echo and the Bunnymen).

Fino!

você acha que uma alteração estética não pode mudar seu ano?
então vai tomar no cu. :)

- Bom dia Brian Molko. Seu cabelo fica melhor quando está molhado.
- Isso não é uma coisa delicada para se dizer a si mesmo.
- Eu não sou delicado.
- Ok, vou tomar um banho...

(adaptando-me ao novo cabelo)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

A vida é boa.
Agora vou poder acordar de manhã e dar bom dia ao Brian Molko no espelho.



o que é vivo está em constante mutação.
é hora de estar vivo.

Meus dias são desiguais, meu carro pensa que é um helicóptero da guerra do VietNam.
Tenho muitos amigos que vejo muito pouco e poucos amigos que vejo muito muito,
e, em meio a tudo isso, a vida segue pacata.

Saudades da vida par.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

Tem dias em que você acorda feliz, e o sol brilha para você
e o vento, e as sombras das pessoas, contam histórias
para você. São dias em que a vida pulsa e se multiplica.

E tem dias em que você acorda e o mundo parece um aquário
embaçado e mal decorado.
Em dias como este eu sou o peixe-gato mal humorado de hoje.

Faz parte da vida.
Só preciso tomar um banho e dormir...

É só (demais).

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Tem dias em que a sua alma resolve passear no seu mundo interno
e não quer saber de parar quieta para trabalhar.

Fazer o que, né?

"A casa no rochedo estava em silêncio. Em sua última noite antes de partir para a terra dos homens, o jovem bardo debruçava-se na varanda e observava o oceano escuro. Lá dentro, por trás da porta a qual ele imaginava estar trancada, dormiam aquelas que o povo acostumara-se a chamar de 'as três bruxas do rochedo'. Quando o sol se levantasse de seu berço no oceano ele iria partir daquela casa em busca de Dánloth, meio homem, meio mito, aquele que tinha em suas mãos o coração daquelas três mulheres. Delian sentia-se pequeno frente à estrada que tinha à sua frente. Seguir os passos de um deus na terra dos homens, encontrá-lo e por fim tentar trazê-lo de volta para aquela casa. Parecia impossível e apenas os deuses são capazes de coisas assim impossíveis. Mas Delian era apenas um poeta e um sonhador. E por isso talvez fosse aquele mais indicado para a tarefa de encontrar Danloth. Seus pensamentos foram interrompidos pela música da flauta mágica de Danae, que emanava suave de todos os lados. A beleza da melodia, e a lembrança da face tão bondosa e casta da mais velha e ao mesmo tempo mais jovial das três bruxas encantavam e atormentavam Delian. Sem que se apercebesse ele já estava seguindo os passos de Dánloth. O bardo que partia para além daquele oceano com os primeiros raios de sol estava apaixonado. E sua missão absurda era tentar trazer de volta àquela que detinha seu coração aquele a quem ela havia entregue o seu. Delian chorou em silêncio de medo e confusão. E então ele apenas olhou para o horizonte e aceitou o seu destino. Se a busca de Dánloth o trouxera até ali para viver aquilo, ele só tinha a agradecer àquele deus. Amanhã ele seguiria seus passos..."
(trecho de Delianárra, minha mais nova fábula)

Éan a esséna i qenseth?
Como você sente que deve ser chamado?

Conversando com o DPadua sobre mudanças de paradigma e de forma de perceber o mundo, e sobre linguagem, me lembrei disso...

"Viviam na floresta velha desde que os primeiros homens lá chegaram e tinham modos estranhos aos olhos destes. Não faziam comércio, pois consideravam que tudo aquilo feito por um membro da comunidade pertencia a todos, uma vez que a comunidade era a possibilitadora e facilitadora de todas as ações. Acreditavam em deuses e ancestrais, para os quais não faziam ritual algum. Diziam reconhecer que viver da melhor forma era por si só um ritual para seus deuses e ancestrais. Sua língua tinha uma estrutura particular e três alfabetos diferentes, e particularidades tais como a ausência de palavras para designar alguns conceitos básicos da cultura humana, como superioridade e inferioridade, certo e errado. A palavra que usavam para designar posse era a mesma usada para designar semelhança, e não havia um verbo ou expressão para designar ser ou estado. Utilizavam para este fim um termo que significava aproximadamente "sinto isso daquilo". Ao perguntar o nome de um viajante, diziam "Éan a éssena i qenseth", que se traduziria como "como você sente que deve ser chamado?". Quando os fomori marcharam dos pântanos do sul, o povo da floresta, ou sidhé, como eram chamados pelos homens, lutou ao lado dos outros habitantes. Com o fim da guerra, simplesmente desapareceram..."
(trecho do texto que descrevia o povo sidhé em uma de minhas velhas campanhas de D&D3e. arte é arte, em toda forma e toda parte.)


Talvez isso faça tanto sentido para vocês quanto para mim.
Talvez não.

O que você sente a respeito?


P.S. Um amigo do velho povo puxou meus cabelos e riu de mim ao me contar que "Éan a esséna i qenseth?" quer dizer na verdade "como você sente você mesmo?". Um erro pequeno mas que faz muita diferença, não acha? Esta tradução literal deve fazer menos sentido para o povo humano, mas é mais correta à luz da cultura sidhé. Para os sidhé o nome de uma pessoa é (ou sente como, mas precisamente) uma forma de expressar algo sobre ela, sendo (ou sentindo) indiferente vc perguntar algo sobre o nome da pessoa, ou sobre a própria pessoa. Logo, perguntar "Éan a esséna i quenseth?" é a mesma coisa que perguntar como a pessoa se vê, em oposição a dar a ela um nome baseado naquilo que você sente dela. Será que é a cultura deles, ou é a nossa, que é (sente) esquisita?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Multas e contas do Detran/DER pagas...

Agora meu carro pode rodar em paz
e não terei mais que ficar andando
por vias secundárias para escapar
das blitzen...

Sinto no peito uma alegria burguesa
de estar em paz com os cobradores
de impostos.


P.S. em tempo: foda-se a direita e a esquerda. eu gosto é do caminho do meio
(que não tem porra nenhuma a ver com política) :)

Se você se sentiu agredida pela menção a louras burras no post anterior, não se preocupe, isso não quer dizer que você seja uma. Mas não me odeie por citar esta pretensa lenda urbana. Posso assegurar-lhe de que elas existem...

Posso assegurar-lhe até mesmo de que você já viu uma, o que não quer dizer que tenha sido no espelho.


Citando Ezzio Bazzo,
"...percebi que este é um mundo onde reina a histeria..."



é isso.

Fazia tempo que eu não encontrava aquelas amigas. De fato lembrava-me de que elas nem moravam em Brasília. Conversávamos sobre trivialidades enquanto andávamos pela UnB. De repente o celular de uma delas começa a tocar. Ela continua andando como se nada tivesse acontecido. Continuamos a conversa, mas o celular continua a tocar e tocar. Em um certo momento aquele som começa a me irritar e eu pergunto se ela não vai desligar o alarme do celular. Ela me diz, com a sua cara de loira burra, o que de fato me lembro que ela era, que não sabia como desligar. Pego o celular e começo a tentar desligá-lo...

Eu estava naquele avião, sentindo aquela ansiedade costumeira que sentimos antes de decolar. Sentia de fato uma ansiedade maior do que a de costume. Algo me incomodava muito. Sim, sim, eu já sei, o alarme de meu celular está tocando. As pessoas à minha volta começam a olhar para mim enquanto eu manuseio o celular, rodando por seus menus, tentando desligá-lo. Por fim acabo retirando a bateria, e o celular continua a tocar e tocar. Começo a me sentir em uma cena de Animatrix* e os olhares começam a se tornar agressivos. Ouço então a voz do meu irmão vindo do nada a me dizer:
- Daniel, desliga a porra do despertador!

Sento-me na cama e penso comigo mesmo como é difícil acordar cedo... :)


* no último episódio de Animatrix, para ser mais específico. Se ainda não assistiu, assista!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

na suruba saber trampar,
na quietude, inventar,
e em meio ao caos, descansar.

segredo da vida
para quem quer gozar,
pois no fim de tudo
a vida vai te matar.



Acordei com estas palavras na cabeça.
E elas até fazem algum sentido...

Lembrei do DPadua.

Aranhas, aranhas por toda a parte
porque eu vivo em uma casa surreal...

the smiling spider de Odilon Redon. e por que diabos você ainda usa o Internet Explorer? .aranhas. the crying spider de Odilon Redon. e por que diabos você ainda usa o Internet Explorer?

Eu vivo em uma casa surreal sobre a colina.

Em minha casa surreal eu vou à cozinha colocar meu prato na geladeira
e buscar alguma água e encontro dez aranhas.

Algumas pessoas encontram aranhas em suas cozinhas, isso não é anormal.
Algumas pessoas encontram mais de uma aranha em suas cozinhas. Elas ficam preocupadas.
Eu fui até a cozinha e encontrei dez aranhas. Matei seis delas e deixei as outras
dentro da pia para comerem as formigas.

Na minha casa surreal nós nos preocupamos com o ecossistema
pois ninguém aqui gosta de mosquitos.

E é isso.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

A moça acenando na janela
Um novo conto de Daniel Duende

Ela não conseguiu parar de chorar quando o taxi parou em frente ao aeroporto. Suas costas ainda estavam arranhadas da última vez que a chupara. Seu coração apertado pelo adeus torto, farpado, que disseram. Foram do céu ao chão seco, como um avião em queda desastrosa, em duas horas. E agora, para seu desespero, ela estava indo embora. Ela, que ela amava, e ela que amava, estavam indo embora uma da outra. A vida não é fácil para quem abre seu coração. E, em meio a tudo isso, agora ela teria que pegar o avião...

Não tinha certeza de ter dado a quantia certa em dinheiro para o taxista. Não se importava. O ruído das turbinas que preenchia o aeroporto Santos Dummont naquela manhã era aveludado e estranho, qual veludo mofado, em seus ouvidos entorpecidos de saudade e confusão. Agora que o laço parecia se afrouxar e soltar violentamente, agora que elas não estavam mais juntas, ela não estava mais em lugar algum...

Tentou enxugar as lágrimas enquanto empurrava o carrinho com pouca bagagem e muitas lembranças. As pessoas olhavam para ela com curiosidade e espanto. Todo mundo já chorou na vida. Mesmo assim alguns parecem ainda se assustar com isso. AS pessoas ditas normais são mesmo as mais loucas.

Tentou se recompor, com mais sucesso desta vez, quando chegou a sua vez na fila de embarque. Não havia bagagem a despachar. Carregaria suas coisas nas mãos, como carregava toda a histórias delas duas no coração. Com a anuência de um fiscal de embarque que a fitava cheio de pena confusa, embarcou no avião.

Os ruídos do interior de uma aeronave são quase um silêncio. São sons como os que devem ouvir os bebês nas barrigas de suas mães. Aboletada em sua cadeira à janela do avião ela quase sentia-se confortável e aconchegada. Seu coração ainda pesado batia devagar e ela observava pela janela a movimentação da pista. Não chorava e não sorria naquele útero de metal. Apenas ouvia, absorvida pelo vazio, os ruídos de seus companheiros de gestação aérea e fitava a janela. E se ela, aquela que ela amava, estivesse no aeroporto agora procurando por ela para pedir perdão e declarar seu amor? Seu coração disparou com este pensamento.

Seus olhos vasculhavam agora, frenéticos, as janelas do aeroporto distante. Entre as crianças que acenavam, entre as mulheres e homens, amados ou não, que observavam, procurava pela figura morena e miúda da amada que deixava agora de má vontade, com o coração partido. Por vezes acreditava esperançosa vê-la em algum rosto que logo percebia, não ser o dela. Chegou a acenar uma ou duas vezes para um ou dois destes insuspeitos enganos. Seu coração começava a acelerar na ansiedade humana e ridícula de que poderia estar agora mesmo sendo observada pela mulher que amava.

Então o avião começou a se mover. A trepidação e o ruído das turbinas que se ligavam arrancou-a de seu transe esperançoso. Por um segundo esteve a beira de gritar para que aquele avião parasse, para que ela pudesse descer e procurar sua amada. Algo dentro dela a conteve e a fez sentir-se ridícula. É claro que ela não estaria lá embaixo. Não depois daquela briga. Não depois das coisas que foram ditas. Não depois da forma como ela fora embora daquela casa no Jardim Botânico, chorando no taxi e despencando de seu sonho, mas irresoluta em não voltar atrás. Toda a resolução se dissolvia frente a esperança de ver novamente sua amada. E foi então nesta angústia silenciosa que ela foi impelida aos céus dentro daquela ave metálica prenhe de vidas como as dela, ou completamente diferentes, rumo à sua cidade solitária.

Maria estava anestesiada enquanto caminhava da porta do taxi até a sua casa. Repassara na cabeça durante toda a viagem a história de amor que tivera com aquela mulher menina que lhe fora tão familiar e estranha ao mesmo tempo. Ligara quase que automaticamente o seu celular pouco antes de abrir a porta. Quando o celular emitiu o sinal de mensagem de voz recebida, foi um dos sons mais belos que ela já havia ouvido em sua vida. Por segundos, enquanto apertava nervosa os botões do aparelho para ouvir a mensagem, ela teve esperança de que o seu destino mudasse. Mas tratava-se apenas de um amigo perguntando se ela já chegara à cidade. Como a vida podia ser cruel em suas brincadeiras...

foto cedida por Julia, outra moça que acena na janelaJá era tarde da noite quando o celular tocou. Maria estivera, desde que chegara a seu pequeno apartamento, sentada á janela fitando, vazia, a rua. Suas valises jogadas sobre a cama, cobertas pela roupa com a qual viajara. Os cigarros se amontoavam no cinzeiro e as lágrimas secavam em seus olhos e seus seios nus. A vida de Maria parecia terrívelmente vazia quando o som eletrônico cortou a noite. Pulou, como uma gata, sobre o aparelho que chamava de cima da cama atendeu a chamada deitada sobre a bagunça. Do outro lado a voz era familiar, muito familiar. Ela dizia "Eu estava lá no aeroporto acenando para você, rezando para que você por algum motivo descesse daquele avião. Volta!"

Depois de desligar o telefone Maria foi até a janela, nua como estava, sem se importar com mais nada no mundo, e acenou para o céu. Acenou para as estrelas como se acenasse de volta para sua amada. Mesmo ainda a sangrar pelas dores do dia, da vida, seu coração batia forte. Assim são as coisas do amor.

Lá em algum lugar na rua eu observava, perdido em meus pensamentos, aquela moça bonita e nua acenando para o céu e pensei comigo mesmo sobre a beleza que existe na vida.




e é isso.

sábado, 5 de fevereiro de 2005

5.2.2005

senáfana sina

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2005

Carnaval do Mal
A Kélú me enviou os panfletos da tradicional festinha que vai rolar amanhã lá no lago sul. Tudo indica que vai ser fodão...


É uma forma de dizer que a festa vai pegar fogo?


Anãozinho é o caralho, ele é verticalmente limitado.


Então tá né?

É o Alriada Express dando uma de www.festasembrasília.com.br,
pela falta de coisa melhor para dizer.

É isso.

Bom carnaval para os que dançam
e para os que não dançam.


P.S. Ivan, Cochlar e Gas? Poutz... fazia tempo que não ouvia falar deles.

Hoje é dia de...

Por que diabos vc está usando o IE? Foto roubada graciosamente do blog da Monikka

LANDSCAPE OF DUST

Sexta-feira, dia 4 de fevereiro, e segunda, dia 7, às 22h, no Landscape (409 Norte). Festa de pop e rock alternativo com os DJs Zeca e Eduardo. Entrada franca até as 23h30. R$ 5,00 (após)



Saudades do som conjurado pelo bom e velho Zeca Negão.
Lá pelas 10 horas eu já estou lá :)

UPDATE:
Confesso que dancei.
A noite poderia ter sido mais divertida.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

e lá vai a minha imagem de cabeçalho de novo...

amanhã eu vejo isso. :)

Pérolas que o XMMS toca quando vc está quase dormindo...

Bad Liver and a Broken Heart
(tom waits)

Well I got a bad liver and a broken heart
yea I drunk me a river since you tore me apart
and I don't have a drinking problem
cept when I can't get a drink
And I wish you'd a known her
we were quite a pair
she was sharp as a razor
and soft as a prayer
so welcome to the continuing saga
she was my better half
and I was just a dog
and so here am I slumped
I been chippied I been chumped
on my stool
so buy this fool, some spirits and libations
it's these railroad station bars
with all these conductors and the porters
and I'm all out of quarters
and this epitaph is the aftermath
yea I choose my path
hey come on Cath, he's a lawyer,
he ain't the one for ya
and no the moon ain't romantic
it's intimidating as hell
and some guy's trying to sell
me a watch
And so I'll meet you at the
bottom of a bottle of
bargain Scotch
I got me a bottle and a dream
it's so maudlin it seems

you can name your poison
go on ahead and make some noise
I ain't sentimental
this ain't a purchase it's a rental
and it's purgatory, hey
what's your story, well
I don't even care
cause I got my own double-cross to bear

and I'll see your Red Label
and I'll raise you one more
and you can pour me a cab,
I just can't drink no more
cause it don't douse the flames
that are started by dames
It ain't like asbestos
it don't do nothing but
rest us assured
and substantiate the rumors
that you've heard.

---

New Dawn Fades
(Joy Division, remixed by Moby)

A change of scene, a change of style.
A change of hopes, with no regrets,
A chance to watch, admire the distance,
Still occupied, though you forget.
Different colours, different shades,
Over each mistakes were made.
I took the blame.
Directionless so plain to see,
A loaded gun won't set you free.
So you say.
We'll share a drink and step outside,
An angry voice and one who cried,
'I'll give you everything and more,
The strain's too much, can't take much more.'
Oh, I've walked on water, run through fire,
Can't seem to feel it anymore.
It was me, waiting for me,
Hoping for something more,
Me, seeing me this time, hoping for something else,
When our love goes wrong.



e então eu ia dormir,
quando lembrei que não havia colocado o despertador...


agora eu vou. :)


Olha a cara
de quem faz
SPAM ;)

Este duende esquisito e suas frases insanas...
... que são mais esquisitas por terem sido ditas para si mesmo.

- Brasília é uma puta cidade. Mas é uma puta de luxo, pq é muito caro morar aqui.

- Weee... i'm flying! I can see my house! Oh.... it's getting closer! Weeee... I'm falling!

- Eu sou que nem o Don Quixote de la Mancha, só que eu sei rir.

- Ei, você é um mosquito? Poderia então fazer o favor de morrer? (ok, esta foi dita pra mim mosquito)

- Ai que preguiça de fazer coisas inteligentes. Estou quase com vontade de assistir televisão... Acho que vou dormir.

É. Essa é para fechar o post. :)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Confusão Digital
Algumas pessoas parecem não entender do que se trata Software Livre e Cultura Livre, e parecem não se libertar de velhas lutas que já perderam o sentido e a graça.

Deu ontem (1/2/2005) no Painel do Leitor (Folha de S. Paulo) (meus comentários vão em itálico)

"O debate "Revolução digital: software livre, liberdade de conhecimento e liberdade de expressão na sociedade de informação", estrelado pelo ministro Gilberto Gil no 5º Fórum Social Mundial, pareceu-me fora do contexto geral do evento. Um dos princípios do Fórum Social é impedir o domínio do sistema capitalista no mundo. Conclui-se que, se não são capitalistas, só podem ser socialistas. A internet não nasceu em nenhum dos "bastiões da liberdade", como a ex-URSS, a China ou Cuba. A internet nasceu nos EUA. A internet é a consagração do exercício do individual, da liberdade. Ora, qual socialismo é a favor da liberdade individual? Mesmo a discussão a respeito do software livre, que pode causar prejuízos para a Microsoft, se dá no âmbito do mundo capitalista, do qual o Brasil faz parte. Aproveito a oportunidade para sugerir ao ministro Gilberto Gil a elaboração de um manifesto, subscrito pelos organizadores do FSM e da sociedade em geral, exigindo o livre acesso dos cidadãos à internet em todos os países, inclusive em Cuba."
Valério José Gianini, presidente do Partido dos Internautas (São Paulo, SP)


Fora de contexto está este cidadão, que parece que ainda não saiu do século XX e nem da banda burra do movimento estudantil. A dualidade Capitalismo X Socialismo pertence a uma lógica que se tornou caduca nos dias atuais. O que há é o controle corporativo e governamental (que por vezes se confundem) se contrapondo às iniciativas individuais e organizadas de livres pensadores que buscam uma organização social e do trabalho menos verticalizada. O conceito que defendemos é o da emergência, caro vermelho, e não Socialismo ou Capitalismo. E eu não me lembro de ser representado por nenhum partido (quiçá um Partido dos Internautas). Partidos são coisas de quem vê o mundo partido e não inteiro.

"A história é mesmo um pêndulo de Foucault ou uma espiral de Pietro Ubaldi. A esquerda está no poder e adora distribuir benefícios alheios. O ministro Gilberto Gil defende o software livre, e eu defendo que ele abra mão dos direitos autorais de suas músicas. Não é justo? O ministro pode fazer doações e ajudar pessoas com aquilo que ele produziu, e não utilizar seu cargo para sugerir apropriação de bens alheios. Todo socialista é assim: pensa em tirar de uns para distribuir a outros, desde que não se tire o que a ele pertence. E, no final, ele aparece como o Robin Hood do terceiro milênio, com toda a pompa."
Peter Meyer (São Paulo, SP)
Hoje (2/2/2005)


E o que tem a ver o cu com as calças, mr. Peter? Não se trata de tirar nada de ninguém, mas sim de tecer uma cultura e um modo de trabalho livres, onde os produtos são bem comum e visam o crescimento dos grupos e da sociedade em vez do enriquecimento de alguns. Os direitos autorais das músicas do Gil não pertencem (como vemos na resposta lá embaixo) a ele, em sua maioria. Só podemos dar o que temos, sob o risco de incorrer no erro de "dar o que é dos outros para fazer bonito". E a ideía de fazer doações me soa um bocado populista, outra coisa que é antiga como o capitalismo e o socialismo. A idéia agora é agregar pessoas em prol de causas quão vão além do protesto. Causas produtivas e movimentos que realizem algo, como o movimento do Software Livre e outros tantos movimentos culturais que se encontravam representados no tão falado FSM.

Vamos então às respostas dadas pelo Sérgio Leitão (que é acessor de nosso Ministro) e do Tiago, que concorda adoravelmente com as minhas colocações...

Fórum, inclusão digital...
"Em cartas publicadas ontem nesta seção, os leitores Peter Meyer e Valério Gianini teceram comentários equivocados a respeito da participação do ministro Gilberto Gil no Fórum Social Mundial. Diferentemente do que afirmou Gianini, não consta entre os objetivos oficiais do evento o de "impedir o domínio do capitalismo no mundo". O Fórum consolidou-se como um território livre de debates, em que múltiplas visões sobre múltiplos temas são compartilhadas. Trata-se de um espaço plural de convergência e de divergência, adequado para discutir o software livre, a inclusão digital e a diversidade cultural. E, ao contrário do que afirmou Meyer, não há contradição entre a defesa do software livre, feita pelo ministro, e a gestão dos direitos autorais do compositor Gilberto Gil. Em primeiro lugar, porque software livre não é sinônimo de pirataria. Os programas de uso livre ou com restrições parciais de uso são feitos para serem distribuídos e usados assim, com autorização expressa de seus autores. Em segundo lugar, porque o artista Gilberto Gil tem defendido e praticado novas formas de gestão de direitos autorais. Ele acaba de liberar para uso público, dentro de um projeto da revista "Wired", uma das poucas músicas sobre as quais tem pleno direito."
Sérgio Sá Leitão, assessor do Ministério da Cultura (Brasília, DF)


"Gostaria de corrigir uma grave imprecisão contida na carta de Peter Meyer publicada ontem nesta seção. Software livre não é, em nenhum aspecto, apropriação de bens alheios. Sugiro fazer uma consulta ao site www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html, da Free Software Foundation. A comparação com a cessão dos direitos autorais de um artista e a analogia com o socialismo são baseadas em premissas simplesmente falsas. A divulgação dessas incorreções factuais, que vão além da pura expressão de uma opinião, prejudica a compreensão do que é o software livre e de como ele vem transformando a indústria do software. Gostaria de acrescentar que fico estarrecido com os contornos de "guerra fria" que vêm sendo dados ao assunto e que estão patentes nas duas missivas publicadas ontem."
Tiago de Jesus (São Paulo, SP)





Eu fico impressionado como frente a uma direita corporativa e nefasta tenhamos que contar com alguns membros da "esquerda" tão "esquerdos" quanto estes. Bem vindos ao século XXI, meus amigos. :)

Dá para viver mais devagar?
Um texto enviado por uma amiga. Só para quem tempo para viver consigo mesmo...

"Já vai pra 18 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca. Trabalhar com eles é uma convivência, no mínimo, interessante. Qualquer projeto aqui demora dois anos para se concretizar, mesmo que a idéia seja brilhante e simples. É regra. Então, nos processos globais, causa em nós aflitos por resultados imediatos (brasileiros, americanos, australianos, asiáticos) uma ansiedade generalizada, porém, nosso senso de urgência não surte qualquer efeito neste prazo.

Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações... E trabalham num esquema bem mais "slow down." O pior é constatar que, no final, acaba sempre dando certo no tempo deles com a maturidade da tecnologia e da necessidade: bem pouco se perde aqui... E vejo assim: 1. O país é do tamanho de São Paulo; 2. O país tem 2 milhões de habitantes; 3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (compare com Curitiba onde somos 2 milhões); 4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel Biocare,... Nada mal, não? Pra ter uma idéia, a Volvo fabrica os motores propulsores para os foguetes da NASA.

Digo para os demais nestes nossos grupos globais: os suecos podem estar errados, mas são eles que pagam nossos salários. Entretanto, vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que tenha mais cultura coletiva do que eles... Vou contar para vocês uma breve só pra dar noção... A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava no hotel toda manhã. Era setembro, frio leve e nevasca. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã perguntei: "Vcs têm lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e vc deixa o carro lá no final..." e ele me respondeu simples assim: "é que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Vc não acha?" Olha a minha cara! Ainda bem que tive esta na primeira... Deu pra rever bastante os meus conceitos..

M C M Volvo IT South America Slow x Fast

Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food International Association - cujo símbolo é um caracol -, tem sua base na Itália (o site é muito interessante. Veja-o). O que o movimento Slow Food prega é que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista Business Week em sua última edição européia.

A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à
qualidade de vida ou à "qualidade do ser". Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas, (35 horas/semana) são mais produtivos que seus colegas americanos ou
ingleses.

E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de 28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%. Essa chamada "slow attitude" está chamando a atenção até dos
americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it Now" (faça já).

Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos estresse. Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer e das pequenas comunidades. Do "local", presente e concreto, em contraposição ao "global" - indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé. Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo, onde seres humanos felizes fazem, com prazer, o que sabem fazer de melhor.

Nesta semana, gostaria que você pensasse um pouco sobre isso. Será que os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é inimiga da perfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreada loucura? Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de "qualidade sem-pressa" até para aumentar a produtividade e qualidade de nossos produtos e serviços sem a necessária
perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagem cego (vivido por Al Pacino) tira uma moça para dançar e ela responde: "Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos." "Mas
em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num passo de tango. E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme. Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só
alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com
o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe. Tempo todo mundo tem por igual.Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo. Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon... "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro". Parabéns por ter lido até o final... Muitos não irão ler esta mensagem até o final, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo globalizado. Pense e reflita: até que ponto vale a pena deixar de curtir sua família, de ficar com a pessoa amada, de ir a missa nos domingos de manhã, ir pescar no fim de semana? Poderá ser tarde demais..."

Michelle Virgolim
Primeira secretária do
Conselho Brasileiro para Superdotação - ConBraSD
Tel/tel.fax/celular: (61) 311-2657/ 577-2529/ 8133-6818



As coisas feitas em seu tempo, sem pressa ou angústia, tem a sua certa poesia.
Nestes tempos de correria a poesia se torna rala e rara. Me impressiona que ainda se perguntem por quê. Quando se vive correndo e apenas pensando no futuro não há tempo para se estar presente no presente. E isso é a morte em vida.
Eu estou fora da rodinha de corrida de ratos. Desculpe o incômodo... :)

O que é a vida...
Um post filosófico como um duende de butiquim...

Meus amigos, eu vou contar para vocês o que é a vida.
A vida é acordar de manhã e gostar de ser quem você é. Mesmo estando morrendo de sono e com o estômago rangendo de fome (e quem disse que acordo a tempo de tomar café da manhã?) ir trabalhar com um sorriso no rosto. A vida é sentir-se em casa no seu trabalho e sorrir para si mesmo pelo simples fato de ter a chance de estar alí. A vida é trabalhar com o que gosta, ou gostar daquilo com o que você trabalha. É sair do trabalho mais tarde do que todo mundo não por que você precise, mas também por que gosta. A vida é estar entre pessoas queridas, e ter histórias para contar e para ouvir. A vida é comer pizza picante da Pedacinho e não beber na Distribuidora 108 porque o dono infeliz fecha cedo o seu boteco. A vida é sentar-se no Landscape, onde você é querido, e ouvir música boa. É tomar uma cerveja honesta com uma amiga mais do que querida. A vida é emocionar-se com as músicas que tocam no bar e ficar horas falando sobre a mulher que ama. De fato a vida é amar alguém, longe ou perto, do jeito que for ou que estiver, e estar feliz por amar.
A vida é tentar...
A vida é conseguir.

A vida é estar vivo e sorrir para as pequenas coisas da vida. Mijar debaixo da chuva na beira de um posto de gasolina qualquer enquanto você abastece o carro (e você tem dinheiro para isso). É voltar para casa na chuva sem medo de se molhar e gritar de emoção quando o carro patina na estrada de terra.

A vida é estar vivo e feliz com isso.

Eu estou vivo.
Esta é a minha vida.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

Bah... quem se importa!?

Estou com fome.