Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Porque nós queremos saber...

Há um projeto de lei em tramitação no Senado Federal que obriga as indústrias a informar com clareza nos rótulos de seus produtos se há algum componente de origem animal no produto, ou se o mesmo é testado em animais. Esta é uma causa antiga dos veganos e vegetarianos do Brasil, e o inovador projeto do senador Expedito Junior atende bastante razoavelmente a estes anseios.

O site Vista-se está promovendo o envio de mensagens para todos os senadores envolvidos na votação do projeto de lei, propondo algumas emendas à mesma para inclusão de cosméticos e roupas na lista de produtos abarcada pela lei e solicitando aos Srs. Senadores que votem em favor desta lei que atende a uma luta antiga de todos aqueles que se preocupam com os direitos animais no país.

Seja você vegano, vegetariano ou apenas preocupado em saber o que está consumindo, não há um bom motivo para não clicar no banner abaixo e nos ajudar nesta batalha.

Ajude a aprovar a lei que esclarece produtos veganos

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Mito da Liberdade Vigiada pelo Grande Irmão

Artigo genial da conterrânea Thaís Saraiva falando sobre o poder total que está sendo estabelecido pelo capitalismo e seu fomento ao consumo inconsciente, controlando cada dia mais nossas vidas e nossas mentes sem que nos demos conta disso.

Como podemos pensar em ser livres se nem sequer concebemos o quanto somos escravos?
Que tipo de liberdade podemos conceber? Que tipo de liberdade estamos dispostos a ter, e a lutar para conseguir?

O artigo foi enviado para o grupo do Metareciclagem pela amigona Lelex, que o extraiu originalmente da revista Novae.



Quem é, afinal, esse tal de Big Brother
Saiba como os regimes totalitários e o capitalismo conseguem fabricar indivíduos submissos e, ainda por cima, em que se pode confiar

Artigo de Thaís Saraiva publicado originalmente no site da Nova-E


A maior parte dos brasileiros acredita que o "Big Brother" seja apenas um programa de televisão inventado na Holanda, no qual câmeras ocultas transmitem a intimidade e as baixarias dos participantes 24 horas por dia. Afinal, o que é esse fenômeno que mobiliza milhões de telespectadores nos países por onde passa? Sabemos que ele arruma empregos para especialistas em tecnologia da informação, inspira artigos de sorumbáticos cientistas políticos e provoca a ira dos defensores da democracia, dos direitos fundamentais e da privacidade dos cidadãos. Mas o que é (ou melhor, o quem é?) o Grande Irmão? Quem o inventou? Qual o seu objetivo, afinal? Melhor voltarmos no tempo para entender essa história.

AUTOR CONHECIDO - O ano era 1945 e ainda não haviam cicatrizado no Ocidente as feridas abertas pelos regimes totalitários de Adolf Hitler, na Alemanha nazista, e de Joseph Stalin, na União Soviética comunista. Foi nesse contexto que o jornalista inglês Eric Blair, que assinava com o pseudônimo "George Orwell", publicou uma das obras mais vendidas de todos os tempos: "Animal Farm", uma alegoria infantil que denunciava a suposta predisposição da humanidade para a violência e como uma camarilha política poderia tomar de assalto o poder em nome do povo. No Brasil, o livro recebeu o título de "A Revolução dos Bichos" e, na década de 1970, inspirou o musical "Os Saltimbancos", de Chico Buarque, já assistida pela terceira geração de crianças. Qualquer brasileiro que tenha menos de 40 anos decerto já cantarolou na escola as músicas dessa peça.

Relembrar tais fatos tem por objetivo afirmar, simplesmente, que cada um de vocês já teve algum tipo de contato com George Orwell e que o verdadeiro pai do Big Brother não é um holandês especialista em exibicionismo na TV; mas sim um jornalista inglês, Orwell, cuja maior preocupação era denunciar o controle do Estado sobre o cidadão. Fez isso em "A Revolução dos Bichos", uma alegoria político-infantil, onde temos a palavra "granja" relacionada à sociedade e "porcos" relacionada aos já conhecidos "ditadores". Repetiu a dose, com muito mais precisão e repercussão, em seu livro seguinte: "1984", uma alegoria político-científica, onde surgiu o personagem Big Brother. Tratava-se de sua obra-prima; aliás, sua última obra. Orwell terminou de escrever "1984" em 1948; o livro foi publicado no ano seguinte. Aliás, uma curiosidade: o título original deveria ser "O Último Homem Livre da Europa", mas na última hora o autor resolveu inverter os números do ano –assim, 1948 virou 1984.

O LIVRO DO MAL - Nessa obra, George Orwell apresenta uma teoria sobre como um grupo bem organizado pode tomar o poder e controlar o Estado sem jamais ser importunado seriamente. O segredo seria montar um esquema que teria na tirania e no autoritarismo a própria condição de sua existência. Ou seja, os governantes deveriam exercer o terror, a tortura, a vigilância –e até a maldade— como pré-condição para a perpetuação no poder. O mal pelo mal, como faz o Darth Vader de Star War; o poder pelo poder, como fizeram Hitler e Stalin.

A sociedade era estruturada na mais completa desagregação social (sem imprensa livre, sindicatos ou associações; até mesmo sem famílias coesas), mas se mantinha coesa através da tirania, da coação e da vigilância. O Estado encontra um modo de conduzir as ações de todos os cidadãos; há regras e imposições até para os pensamentos: o que se pode e o que não se pode pensar. Toda a existência física e mental se curvava a esse regime de poder supremo.

O BIG BROTHER - O dirigente máximo dessa sociedade era chamado de Grande Irmão (Big Brother no original em inglês). É o grande tirano, aquele que todos tinham a obrigação de idolatrar, respeitar e obedecer cegamente, como se fosse um pai todo-poderoso, um deus. Ele não tem nome e jamais foi visto em público – era somente um retrato de um homem com enormes bigodes, inspirado na figura de Stalin. Ressalte-se que todos os regimes totalitários promoveram o culto à personalidade do líder máximo: o populismo. Aliás, nas tiranias boa parte do controle é exercido através do culto à figura do ditador, como ocorreu na União Soviética, na Alemanha, na Itália de Mussolini ou mesmo no Brasil de Getúlio Vargas.

O Big Brother de Orwell foi mais além. O governo instalou câmeras em todas as residências para vigiar os cidadãos, como no programa de TV "Big Brother". O escritor batizou essas câmeras de teletelas. Na época, 1948, a televisão comercial sequer havia entrado em operação e as teletelas não passavam de ficção científica. Através delas, o Big Brother poderia tudo ver sem ser visto. Poderia também estar presente em todos os lugares, levando sua imagem e sua mensagem. Ou seja, tinha os três poderes divinos: onividência, onipresença e onipotência. Todos em prol da dominação.

ÓDIO E ALIENAÇÃO - Para que o Big Brother de Orwell conquistasse a onipotência: o terceiro atributo divino, o ódio pelo próximo (ou por outras formas de organização social) era incitado pelo governo, fomentado e finalmente criado dentro do próprio sistema para dar continuidade e finalidade à subordinação. Em "1984", os cidadãos são obrigados a parar diariamente, na mesma hora, a fim de exercitar os "Cinco Minutos de Ódio". Parece inverossímil. Obra de ficção científica? Não, esses fatos aconteceram e acontecem. Naquela época, por exemplo, a ciência tentava dar veracidade às loucuras propostas por tiranos, como a superioridade da raça ariana defendida por Hitler; ou a inferioridade dos negros e das mulheres perante o homem branco. O assunto é atual, afinal, ainda hoje palestinos e judeus são criados no mesmo princípio do ódio.

Outro ponto importante a ressaltar é a alienação, base da dominação na obra de Orwell. O homem que vivia sob o comando do Big Brother não podia explorar sua mente ou o prazer que o corpo proporciona. A realidade conhecida era a que é o Big Brother queria mostrar. Ele também fez algumas concessões ilusórias, baseadas na liberdade vigiada, para aqueles que seguissem com disciplina a ideologia imposta pelo governante. Poucos percebem que essa realidade é construída artificialmente e que fora dela existem inúmeras possibilidades de viver. As pessoas enxergavam o mundo do Big Brother pensando enxergar a verdade absoluta, não sabiam que eram cegas; e, se percebiam pagavam caro por isso.

QUESTÃO DA PRIVACIDADE - O livro "1984" vendeu 10 milhões de exemplares em todo o mundo, 300 mil no Brasil, e se inscreveu como uma das obras mais importantes de todos os tempos. Durante os 44 anos que durou a "guerra fria", Orwell e o seu Big Brother eram estudados pela Ciência Política por conta da questão do totalitarismo. A partir da década de 1990, com o surgimento da internet e a expansão das novas tecnologias de comunicações, a alegoria do Big Brother passou a ser utilizada também para ilustrar uma nova questão em pauta: a privacidade. Começaram a surgir alertas dos especialistas em tecnologia sobre os perigos do monitoramento dos cidadãos proporcionados pelas novas tecnologias e pela internet em especial. Centenas de artigos passaram a acusar Bill Gates, dono da Microsoft, de tentar ser a encarnação do Big Brother fora da ficção.

Na virada do milênio, produtores de TV holandeses criaram um formato de programa baseado nos "realities shows", cuja característica principal é o monitoramento de pessoas confinadas em uma casa 24 horas por dia, com posterior exposição pública de suas intimidades. Batizado de "Big Brother", esse programa já teve versões exibidas em dezenas de países, da Austrália à Turquia. No Brasil, teve a primeira versão exibida entre março e abril de 2002, tornando-se repentinamente o assunto mais comentado do país. Curioso o capitalismo. Um dos maiores escritores de todos os tempos leva a vida inteira para elaborar uma obra-prima que levanta questões essenciais para os direitos humanos, como a liberdade e a privacidade, e de repente alguém dá um jeitinho de transformar seu alerta político em um produto de venda lucrativo. A política de cooptação atual é muito mais intensa que a aplicada pelo Império Romano.

DITADOR CAPITALISTA - Está ai um dos únicos equívocos de Orwell: achar que o totalitarismo ganharia a guerra. O neo-liberalismo, hoje, domina o mundo com totalidade quase absoluta. Como o Big Brother original, o capitalismo joga com uma realidade cheia de liberdades ilusórias e continua usando da ciência para validar seus atos de tirania e dominação. Em vez do controle total, inclusive do pensamento, basta controlar os principais meios de comunicação. Ao criar novos hábitos de consumo, leva-se os cidadãos a comprar e a instalar espontaneamente todo o aparato tecnológico de vigilância utilizada pelo Big Brother, sem necessidade de repressão.

As teletelas imaginadas por Orwell tornaram-se realidade com outro nome e formato. São os microcomputadores pessoais conectados à internet, com uma parafernália de softwares de vigilância e quebra de privacidade que receberam a denominação elegante de "CRM". No contexto atual a dominação é feita com o consentimento dos consumidores "bem informados". Por escolha, conforto, comodidade e rapidez, o Grande Irmão traz a modernidade para dentro de casa. Nosso sistema capitalista funciona como um ditador invisível, que controla a vida de todos através da "liberdade vigiada", onde as pessoas são induzidas a crer que são livres e que podem fazem suas próprias escolhas.

O pensador francês Michael Foucault, autor de clássicos como "Vigiar e Punir" e "Microfísica do Poder", tem observações pertinentes ao nosso tema. Em suas teorias a respeito da pós-modernidade, o pleno poder só pode ser exercido através das concessões, da falsa liberdade. Esse controle pode ser feito pela banalização da violência que confina as pessoas dentro do medo, pela estética que padroniza o belo, o "normal"; e por várias outras formas e teias que se articulam para aprisionar o homem dentro de sua própria existência. Escreve Foucault: "Fabricam-se indivíduos submissos, e se constitui sobre eles um sabor em que se pode confiar".


Thaís Saraiva, 22, é estudante de Comunicação da Universidade Católica de Brasília. Colaboraram com idéias e trechos os estudantes Carlos Alberto Teodoro e Rosana Assis. Este artigo foi elaborado como trabalho para a disciplina "Comunicação e Novas Tecnologias" e está sendo publicado com a revisão e sob a responsabilidade editorial do professor Carlos Hugo Studart.



Zeitgeist e Zeitgeist:Addendum

Se você ainda não viu, deveria ver.

Zeitgeist




Zeitgeist:Addendum



Vou ver se arranjo uma versao com Pt:Subs do Zeitgeist:Addendum.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Fotos da Oficina de Mitoreciclagem @ campusparty2009

O DPadua publicou em seu blogue algumas fotos da nossa conversa sobre Mitoreciclagem e transformações narrativas lá no Campus Party...



O áudio da conversa está disponível no site do Estúdio Livre, aqui.
(eu sempre morro de vergonha quando leio escuto a minha voz gravada.
algum dia ainda vão acreditar que eu sou um cara tímido...)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Nova Constituição Boliviana no CMI

Fechando as veias abertas da América Latina

Dia 25 de janeiro, ocorreu na Bolívia o referendo sobre a nova Constituição, elaborada pela Assembléia Constituinte desde agosto de 2006. Há anos esta demanda se intensifica nos movimentos indígenas e camponeses, com a "Marcha por la vida, territorio y dignidad" em 1990. O antigo texto da Constituição tinha forte teor colonial e elitista, com vinculação da Igreja católica e o Estado e não reconhecendo os direitos dos povos indígenas sobre seus territórios. A formação e os trabalhos da Assembléia Constituinte foram marcados por intensos conflitos entre setores populares, camponeses e indígenas com a oligarquia latifundiária especialmente da chamada Meia Lua (os estados de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija), que promoveu inúmeros atos de violência, racismo e discriminação - sendo o último mais intenso o massacre de cerca de 20 camponeses e indígenas em setembro de 2008.

Desde 2000, a Bolívia passa por um processo profundo de transformação social, com levantes contra a privatização dos bens naturais protagonizados principalmente pelas comunidades indígenas, que são cerca de 70% da população de 4 milhões de bolivianos/as. Mais do que levantes contra a privatização, estes levantes questionam o colonialismo que ainda persiste na Bolívia, que oprime e explora a população indígena que tem sua memória apagada, seus costumes discriminados e seu modo de vida destruído pelos interesses dos latifundiários e do capital internacional.

A nova Constituição, aprovada com mais de 60% dos votos, reconhece a existência de 36 povos originários e faz coexistir seus modos de democracia direta e justiça comunitária com os métodos ocidentais, além de incluir em todas as esferas de eleição representantes dos povos indígenas. A Constituição também declara todos os recursos naturais propriedade do povo boliviano administrado pelo Estado, impedindo qualquer iniciativa de privatização. Além disso, declara que a Bolívia se "organiza territorialmente em Departamentos, Províncias, Municipios e Territórios Indígena Originário Campesinos" (Art. 269). No referendo também foi votado o limite máximo da propriedade privada da terra: 78% dos bolivianos/as aprovaram o limite máximo de 5000 hectares, contra 22% que votaram pelo limite máximo de 10000 hectares.

Entretanto, longe de ser a consolidação do processo de mudança, a nova constituição é só um passo do que o presidente Evo Morales chamou de fim do colonialismo interno e externo. A governadora do estado de Chuquisaca Sabina Cuellar convocou a não-aceitação e desacato à nova Constituição. Desta maneira, a luta "desde abajo" continua contra os ataques daqueles que querem manter a maior parte dos bolivianos/as numa situação colonial.

Bolívia, passado e presente pela transformação | O SIM à nova constituição já chega a 60% | Gannha o NÃO à prepotência da direita | Fim do Estado colonial na Bolívia | Bolivianos aprovam nova constituição | CartaMaior:: "Vitória da nova Constituição significa refundação da Bolívia" | Bolívia: fazendo sua própria história

Fotos:: Encerramento da campanha do SIM em El Alto | Votação e contagem de votos em El Alto | Festa pela vitória do SIM em La Paz

Mais informações (em espanhol):: CMI Bolívia | CMI Sucre | Red Tinku | Rebelion.org | Agência Boliviana de Información

Fonte: CMI-Brasil

o reaparecimento do nartisan...

Os escritos perdidos do Manifesto NArtisan, conjurados pelo escriba Daniel Pádua em tempos distantes, foram redescobertos pela Su em seu misterioso disco rígido, e trazidos de volta à luz!

Nova vida e novo mojo fluem agora nos movimentos Metareciclagem.

UPDATE 02/02/2009:
O Manifesto NArtisan foi publicado no timeline do Metareciclagem. Colai por lá e vede, mermão.

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nArtisan
"...É o estado de espírito de uma pessoa que, agredida pelas estruturas autoritárias e centralizadoras, sente o impulso de construir caminhos alternativos, bases tecnológicas que sirvam de espaço livre para a ação desejada mas negligenciada pelas autoridades/comandos no poder.
O artesão de redes compactua com as autoridades/controles na medida em que, para obter uma base mínima de vida, precisa jogar na lógica das trocas com o poder estabelecido. Mas ele vive outra lógica – a do compartilhamento, o mutirão improvisado – e a sensação de que a rede pode libertar sua ação o empurra para fazer o que precisa, pelas próprias mãos. Na rede, onde o básico é gerado em colaboração autônoma e voluntária, onde as pessoas escolhem suas responsabilidades de acordo com seus sentimentos, o nartisan experimenta uma outra ética, menos permeada pelos preconceitos que impregnam as táticas de troca, que também contribui para movê-lo. Assim, a experiência da rede colaborativa, enquanto existe, alimenta a esperança do artesão por uma lógica diferente de convívio humano..."


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the nartisan manifesto

o manifesto do artesão de redes


versão 1.1

OUTLINE DO MANIFESTO
O artesão emergente
A rede conjurada
As táticas improvisadas
As ações sentidas
Os exemplos notáveis (as crônicas nartisan)
O despertar nartisan

O artesão emergente

Nartisan é a contração de networks' artisan, ou artesão de redes, se preferir. Ele é o impulso que move alguém para uma filosofia emergente de ação social disparada num estado de sensibilidade intensa e especificamente estranho às estruturas sociais de massa (escola, governo, igreja, indústria cultural, etc.): é o espírito de alguém cansado e agredido pela constante exigência de um raciocínio autoritário em suas relações, que revigorado pelas ações em rede em que mergulha, tende a empregar toda sua força na criação de novas tramas sociais. Novos emaranhados de interações descentralizadas, não-hierárquicas e emergentes, que mesmo durando um instante valem para o Nartisan mais do que uma vida de consenso, pela simples sensação de que seu olhar e sua expressão transformaram o mundo do outro. Mundo enquanto babel de mapeamentos psíquicos, que num jogo de sedução imprevisível, comovem e atraem. Destroem antigas associações e constroem novas redes.

O Nartisan vive marcado pelos carimbos imundos da instituição porque depende dela enquanto o jogo da sobrevivência é na base da troca. Por conta de sua fome e sede, o Nartisan precisa se torturar sob o machado que sempre pendeu sobre seu coração... pela mão chefe, do prefeito, do diretor de TV. Mas o Nartisan que se formou na brincadeira de roda da turma, na comunidade de programadores livres ou na ficção libertária de um sonho ou de um RPG cyberpunk, ele sente que o jogo pode seguir outra lógica. Ele sabe que a propriedade permite e expropriação. Que a rua é de todos e assim será enquanto durar o respeito mútuo nas brincadeiras. Seu único problema é que todas as ruas foram tomadas, e a maioria das outras pessoas preferiram esquecê-las a tomá-las dos ladrões. Para viver sua "outra lógica", o Nartisan torna-se um mago, um feiticeiro que na falta do espaço, cria suas "ruas" no tempo. Aproveitando as novas travessias para puxar assunto em pleno caminho, o Nartisan catalisa conversas que se tornam brincadeiras jogadas num ritmo diferente: o ritmo da passagem de cada um.

É o estado de espírito de espírito de uma pessoa que, agredida pelas estruturas autoritárias e centralizadoras[1], sente o impulso de construir caminhos alternativos, bases tecnológicas que sirvam de espaço livre para a ação desejada mas negligenciada pelas autoridades/comandos no poder.

O artesão de redes compactua com as autoridades/controles na medida em que, para obter uma base mínima de vida, precisa jogar na lógica das trocas[2] com o poder estabelecido. Mas ele vive outra lógica – a do compartilhamento, o mutirão improvisado – e a sensação de que a rede pode libertar sua ação o empurra para fazer o que precisa, pelas próprias mãos. Na rede, onde o básico é gerado em colaboração autônoma e voluntária, onde as pessoas escolhem suas responsabilidades de acordo com seus sentimentos, o nartisan experimenta uma outra ética, menos permeada pelos preconceitos que impregnam as táticas de troca, que também contribui para movê-lo. Assim, a experiência da rede colaborativa, enquanto existe, alimenta a esperança do artesão por uma lógica diferente de convívio humano.

A rede conjurada

A rede, o artesão sente como sendo qualquer espaço de interação onde suas ações são medidas e direcionadas apenas por ele mesmo, e não por outro elemento deste espaço. Na rede ele se joga em sua vontade e se responsabiliza pelo que acontecer. Responsabilidade diante de si mesmo, e não diante de algum outro. Para que, da sinceridade de seus atos, aprenda a combinar ações com os outros, também sinceros.

A rede pode ser vista como um conjunto de três partes... sua condição física, seu esquema lógico, e as próprias interações que se desenrolam sobre ela.

As táticas improvisadas

Na busca pela rede que suporte a interação ansiada, o artesão lança mão de todas as táticas [visão técnica] que a criatividade consegue conjurar. De sinais de fumaça, a copos de iogurte ligados por barbante, a computadores reciclados ligados em rede. Do lixo à comida plantada na sacada do apartamento. Não importa a tecnologia contando que sua demanda de sentimento seja resolvida.

Ao conjurar suas redes através destas táticas diversas, o nartisan percebe que o uso persistente de uma tecnologia enfraquece sua capacidade de criar novas redes, pois elas podem se desatualizar em relação às sub-redes que emergem em seu seio e ao seu redor. Técnica, meio, formato, são eternas variáveis com as quais o espírito nartisan brinca para imaginar pontes não-controladas entre as pessoas.

As ações sentidas

Usando as redes, o nartisan pode fazer coisas boas ou ruins para os que estão à sua volta. As ações desencadeadas numa rede podem ser muito diversas em vários aspectos.

Os exemplos notáveis (as crônicas nartisan)

Paulo de Tarso, grandes políticos e interlocutores, cientistas e inventores, improvisadores, etc.

O despertar nartisan

A condição nartisan emerge quando chegou a hora de você agir por conta própria, e se dá conta de que os instrumentos ao seu alcance foram conquistados há tempos e agora são oferecidos a você como uma forma de te controlar. Neste momento, a necessidade impulsionada pelo incoformismo acende a fagulha da criatividade, e o artesão enxerga instrumentos alternativos dispersos pelo espaço, ignorados pela autoridade/controle. E através suas técnicas improvisadas faz acontecer o que busca.

Muitas vezes diante do controle das coisas que queremos usar, deixamos para lá porque a necessidade da ação não era imensa. E pouco a pouco, este comportamento nos domestica. O espírito nartisan parece algo cada vez maiss distante de nossas reais personalidades. Mas ele ainda está lá.

Mexa essa bunda gorda e crie suas redes. Encontre os instrumentos alternativos e crie as táticas de que precisa. Seja um camaleão tecnológico. Um ciborgue movido pela própria poesia.

[1] o artesão não é movido pela destruição da autoridade, mas pelo vislumbre da liberdade de agir a seu modo.