Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Desmemórias de um Jovem Ancião.
um pouco dos meus brinquedinhos em um projeto de microcontos que pretendo retomar algum dia...


Parte I - prazeres

Nizar Al-Ahmed, um dervixe da Associação Atlética de Dervixes dos Ben-Azhires Resfolegantes, decidiu que nunca mais iria comer pimenta às quintas feiras. Estava cansado depois de 60 anos de diarréias semanais nas sextas feiras. Sentou-se como mandava sua crença, com o traseiro sobre a cadeira e os pés pousados no chão, e degustou lentamente as torradas que faziam sua dentadura tremer ao serem mordidas. Aquele prometia ser mais um dia quente. Sentiu saudades da pimenta.

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Cecília estava sentada no restaurante, esperando a comida. Por debaixo da mesa tinha a mão entre as pernas e massageava seu clitoris por sobre o tecido da saia fina. Ninguém prestava mesmo atenção nela naquele restaurante. Achavam que sabiam que ela era louca. Cecília gosta de associar os prazeres da vida - comida, sexo e a convivência com a maravilhosa estupidez humana. Ela amava a todos, a alguns em sua cama, aos outros apenas em seu coração. Sua comida chegou e ela comeu. Preferiu não gozar no restaurante.

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"Quando eu como algo que está estragado, perco a fome intantâneamente!" disse Marcelo, justificando-se. Júlio continuava a olhar com nojo para o sanduíche de queijo e mortadela vencidos. Marcelo deu um sorriso, ainda mastigando um pedaço do sanduíche e disse "Não seja bobo. Isso aqui não está estragado.". Júlio podia ver o mofo e sentir o cheiro, mas preferiu acreditar que Marcelo estava certo. Não era a vida dele, de qualquer forma.

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Parte II - desprazeres

"Não joga pedra no vidro, Marquinhos!". O menino nem escutava sua mãe. Olhava para a vidraça da portaria do prédio com olhos gulosos, pegava outra pedrinha do chão e jogava - clinc - a pedrinha quicava. "Não joga! Você vai quebrar o vidro, menino!", a mãe estava ficando irritada. "Não vou não, mamãe. Eu sou especialista em jogar pedras em vidros!", respondeu feliz. Jogou mais uma pedra. Esta era uma pedra caprichada, cinza e triangular. O vidro se espatifou cheio de barulho. Marquinhos se esconde atrás da mãe com olhar assustado. "Este vidro estava com defeito, mamãe. Explica isso para o síndico! Fala pra ele!".

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