Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Brilho da Noite, Cidade Grande
Quando a Sylph me emprestou o livro "Bright Lights, Big City" de Jay McInerney, eu não dei nada por aquela coisa fininha com uma foto do WTC na capa. Quando parei para ler, em um momento de ressurgimento da inspiração, descobri o que estava perdendo... O livro é talvez a melhor coisa que lí este ano (ao menos até agora).

"Você não é o tipo de cara que estaria num lugar como esse a esa hora da manhã. Mas está aqui, e não pode dizer que o terreno seja de todo estranho, embora os detalhes sejam confusos. Está numa danceteria conversando com uma garota de cabeça raspada. A danceteria tanto poderia ser o Heartbreak ou o Lizard Lounge. Tudo se tornaria mais claro se você pudesse simplesmente dar um pulo no banheiro e cheirar mais um pouquinho do Pó Revigorante da Bolívia. Mas, por outro lado, poderia ser que não. Uma vozinha lá no fundo do seu íntimo não pára de repetir que esta falta de compreensão epidêmica já é consequência do excesso daquilo."

Logo em suas primeiras palavras, McInerney me pegou de jeito. Ele gosta de começar livros no meio da ação, jogando o leitor no meio da história sem saber ao certo como foi parar alí. Some-se a isso seu estilo direto e sua narração que coloca o leitor como o personagem principal e você tem um livro que te pega pelo braço e te chama para dançar. Não é um livro alegre, embora seja recheado da comédia humana, mas não se pode dizer também que seja um livro triste. O personagem principal, que poderia muito bem você, não é dado a dramatizações e reflexões auto-comiserativas. É apenas uma pessoa, como eu e você, que percebeu seus velhos sonhos sendo moídos pela própria preguiça e acomodação e que começa a perceber que sua vida se resume a fugir da percepção de que neste momento não lhe restou mais nada. Como um cavaleiro cujo castelo já foi tomada (e cuja rainha e senhora já foi embora com um outro pagem), o protagonista erra por sua vida novaiorquina, chocando-se ora com a sua descrença e cinismo, ora com os farrapos ainda coloridos de seu romantismo de juventude.

"Brilho da Noite, Cidade Grande" é um livro sobre gente como eu e você, vivendo a vida absurda do jeito que ela é, e se questionando marginalmente que diabos deveria estar fazendo para ser feliz, ou para fazer o que é certo... ou simplesmente para sobreviver.


Valeu mesmo pelo empréstimo, Sylph!
Você é demais, moça dos ventos.


UPDATE: para ler uma outra resenha bem interessante do livro, por Eduardo Haak, clique aqui.


UPDATE2: O tal Eduardo Haak, aquele que escreveu a resenha linkada alí acima, é um escritor também. O site do cara é no mínimo... irreverente. Estou dando uma olhada nos contos dele, mas já simpatizei de pronto com o figura...

Pronto, já lí "A nitidez dos sons que vem de fora", do Haak. Gosto do estilo do cara (que, sem dúvida, mostra mesmo que é fã do McInerney), mas fico com a impressão de que a minha idéia de que contos não precisam vir de lugar nenhum nem ir a lugar nenhum pode ser meio furada. O conto do Haak me mostra isso, embora o estilo seja uma delícia. É um bom conto, de qualquer forma. E muito instrutivo a respeto dos lenços Kleenex, também.

Nenhum comentário: