Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2002

Seguindo a minha recém instituida (não voluntária) tradição de postar tudo com um certo atraso aqui vai meu relato de meu flanar pelo "show do Dead Fish e outras bandas" que rolou ontem no SESC 913 sul.
Chegar no SESC depois de tanto tempo foi engraçado. As mesmas pessoas, com as mesmas roupas, ainda continuavam conversando com as mesmas outras pessoas, com as mesmas roupas e alguns piercings novos, sobre as mesmas coisas. As mesmas meninas de 13 anos, felizes pelo horário vespertino do show que as permitia estar alí, tentavam ser radicais e diferentes... e continuavam sempre iguais. Bibba não estava muito feliz com o ambiente mas mesmo assim estava com toda sua habitual boa vontade, e tinha fé de que os shows seriam bons. Despachei dois cachorros-quentes "passados na chapa" para dentro antes de entrar no show, mas não antes de começar o dilúvio que nos deixaria molhados e com frio pelo resto da tarde.
O primeiro show, do Móveis Coloniais de Acaju, demorou a começar. Enquanto os técnicos tentavam, se comunicando pelos próprios microfones abertos do palco, tentavam acertar o som, nos deixando a par de sua dificuldade, os membros da banda anunciavam excitadamente seu novo site. Quase duas horas depois do horário programado começamos a ouvir os primeiros acordes daquela música que fala "da casa de minha tia..." cuja letra nunca soubemos pois o som do vocal está sempre muito ruim. Desta vez o vocal estava melhor e descobrimos que é o estilo vocal do frontman que torna as letras ininteligíveis. Por falar nele, o cabeludo elétrico, parece que desta vez aumentaram a amperagem de sua retroalimentação. O homem pulava tanto que por pouco não chutava as cabeças de quem estava na primeira fila (sim, as cabeças, e o palco não é tão alto assim) ou derrubava seus companheiros de banda. Talvez fosse possível entender melhor o que ele canta se ele não estivesse tão ocupado em pular mas por outro lado a fórmula funciona. Como bons sugestionáveis que somos, indiferente das letras, que devem ser legais também, nos deixamos contagiar pelo espírito pulapulante e pulamos também, embalados pelos ótimos metais e pela cozinha competente da banda. Móveis Coloniais de Acaju é uma banda que deixa o público bastante... móvel. A piada foi ruim, mas a opinião é sincera e precisa. :)
Depois de uma espera que não poderia ter sido menor sobe ao palco, para uma "longa palhinha" uma banda do Rio. Acho que o nome era Conflito, ou coisa pouco criativa que o valha. Ao longo do show eles tiveram sucesso em me causar um grande conflito: ficar dentro do salão sendo torturado pela incompetência musical dos cariocas ou ficar lá fora passando frio? Sentamos na porta e tentamos pegar o menos pior dos dois mundos.
O terceiro show foi da banda Pulso. Até que não é uma banda ruim, mas eu tinha coisa melhor para fazer do que assistir um show razoável. É sempre bom estar em boa companhia quando se enfrenta shows de várias bandas. Uma boa companhia nos salva do tédio quando a banda é mediana, e nos faz rir quando a banda é tão ruim (como os conflitantes cariocas) a ponto de só nos restar destilar nossa crítica ofidiana e rezar para acabar logo.
Então, depois de uma curta espera, e sem aviso algum, sobe ao palco o pessoal do Gramofocas. O topete do legalzão topetudo da banda havia derretido por causa da chuva e o minúsculo palco ficou grande para uma banda tão pequena (eles foram feitos sob medida para o micropalco do Music Hall, que Deus o tenha). O show conseque levantar novamente aqueles que quase dormiram depois que os Móveis... e seu vocalista vertical saíram de cena. Mais uma vez não entendo as letras. Estarei ficando surdo ou será que mais uma vez o som está muito mal regulado? O que importa é que o pessoal do Gramofocas tem estilo, uma cozinha razoável e uma batida punkabilly de muito boa qualidade. Sinto saudades do Little Quail and the Mad Birds mas tudo bem. O show nos lava a alma (e espanta novamente o frio.)
Com o fim do show do Gramofocas e o arrefecimento (literal e figurado) que ocorre nos intervalos entre as bandas resolvemos ir embora. Nossas pernas e costas doem de tanto dançar e nossas juntas reclamam de frio. Bibba espirra sem parar (ela acabou pegando uma gripe) e eu não me sinto feliz com meu sobretudo pesando 12kg, encharcado. Rumamos para o Brutus e vamos para casa. Cama quente, roupas secas e um pouco de macarrão requentado no microondas é algo muito melhor do que esperar, molhados e cansados e mal humorados pelo show do Dead Fish. Os 10 reais da entrada foram suficientemente bem gastos para que não sentíssemos raiva, mas não ficamos felizes. Para assistir Gramofocas e Móveis Coloniais de Acaju poderíamos ter pago menos.

De qualquer forma vale a pena sair de casa, ver gente, ouvir bandas boas, xingar bandas ruins e estar em meio ao movimento. Rock and Roll se faz na rua, na chuva e com suor. Um show sempre é melhor do que ficar em casa escutando o tesão congelado dos CD´s. E tenho dito. :)

Love, Rock and Roll, Good Company and Understanding to the ones who must LEARN to thing before they mess everything up with a bad introduction and to the ones who must REMEMBER that simpler is better and that the silence is GOLDEN.

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