Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 31 de março de 2005

Revisando velhas poesias... passando os olhos em mais de trezentos pedaços de passado... apenas 6 ou 7 falam ainda comigo.

onde foi que o caminho se partiu?

O amor que lhes cabia
um pedaço de conto, ou um conto despedaçado, de Daniel Duende.

Ele não queria mais do quanto o cabia querer. Do quanto não o cabia, ele queria. Queria até não mais caber em si de tanto querer e sabia, no fundo, que querido era também. Mas naquele quarto feito árido com o fim da noite ele sabia, realista, que querer não mais adiantava. Não havia agora caminho se não entender o que era e não pensar no que poderia ter sido... ou no que poderia ser.

Por trás da porta fechada o mundo gemia ao dormir. Por trás da porta fechada dormiam as lembranças e o querer que agora não cabia. Restava agora aprender a viver com o tanto que tinha. Viver com aquilo que o cabia viver. No fundo sabia que era melhor não esperar nada quando a esperança fazia doer.

No fundo ele sabia do eco de seu querer, mas sobre isso ele calava, solidário. Dizia a si mesmo, sem voz, "vamos ver" e então apagava a luz para ir sonhar. Em seu sonho tudo se parecia, mas nele ela queria querer, e o amor se fazia. Existem na vida coisas que estão além do saber, coisas que são mesmo sem o ser lhes dar onde caber. Isso eles sabiam...



é.

Se o Károl é masoquista, por que é que todo mundo tem que ser também?

Pois assim é no reino do Deus deles...


Weird.

"... ele não é um sapo, é uma abelha. ele poleniza as flores com outras conversas. ele é pai de tantos suportes digitais quanto há dedos nas mãos que já apertou.

ele é um pirata listrado.


é..."

Isto é eu.
Já que outro eu não é.
O eu que é fora de aqui,
não é tão eu
quanto o fantasma de aqui.

na falta de outro eu,
que eu sente muito,
resta o eu daqui,
um fantasma procurando por aí...

por um eu daí.

Fugi da ratoeira e comprei ingressos para um esperado show.
Foi a melhor fuga do mês, talvez de alguns meses...

A fuga vale pelo que é, ou por aquilo do que vc foge?
Esta fuga valeu pelo que é, e por quem é.

Ela se chama caminho...
E ela não é uma fuga.

As coisas são tão confusas de se explicar por vezes,
que nos basta aquilo que sabemos.



é.

Olho à minha volta e vejo tantas coisas. Saí da caverna, e o horizonte que era antes apenas feito de pedras com desenhos de meu punho ficou grande. Ganhei dinheiro, conheci pessoas, dei vários passos em várias direções... a vida tomou seus rumos. Mas será que estou feliz?
Tenho meu emprego, posso fazer planos, tenho dinheiro para gastar e tranquilidade financeira... mas não estou feliz. Nem esperava estar. De repente me percebo enfurnado dentro de um trabalho que desprezo, fazendo coisas que considero chatas e nas quais não tenho fé. É uma bizarrice mesmo alguém como eu trabalhando onde trabalho. Eu sei de algumas coisas, sou esperto e sei conectar pensamentos. Tenho boas idéias, sei falar e sei convencer, e aprendo rápido. Mas nada disso é parte do melhor de mim. E nada disso me habilita a ficar trancado dentro de um ministério fazendo projetos e participando de reuniões que são na melhor das hipóteses interessantes, mas que não levam a lugar algum. De repente acordo de manhã e percebo que só aceito isso tudo por causa do dinheiro. É o mesmo que eu fazia na época do Banco do Brasil, é o mesmo que sempre fiz...

Eu ainda não me encontrei, mas neste lugar em que me encontro, eu não estou.
E é por isso que não estou feliz. Pq tenho tantas coisas novas agora, mas não tenho a mim...

E assim passam os dias...
Conflituosas tentativas de um duende dragão de caber dentro de uma sociedade da qual ele não gosta, cujo jogo ele não quer jogar.


eu quero ir embora daqui...

a realidade tem esse jeito estranho de se tornar fantástica às vezes...
pelos olhos de Andrzej Dragan


(clique na foto para ver mais trabalhos do fotógrafo polonês)

"...me encontro furtivamente
entre uma e outra distração,
me apaixono e me perco novamente
olhando em outra direção."

terça-feira, 29 de março de 2005

Segundo Sarau dos Imaginários
Pois o primeiro foi bom... e viva o excesso pq a falta existe e é uma merda.



"Instantes perpétuos que duram apenas um momento,
agrupados com cordas de tesão e engomados
com álcool, resinas e vapores...

E humanidade, muita humanidade...
quente, suada, ruidosa e sensível."



se você sabe que deveria estar lá,
fale comigo ou com o dp.




que a paz reine na terra.
paz após a satisfação sensível...

domingo, 27 de março de 2005

- ... e é isso.
- ahn... e o que vc espera?
- eu não espero mais nada. eu apenas vivo.
- não espera mais nada?
- a única liberdade que existe é a não-esperança.
- e como é que se faz para não esperar nada...?
- você aprende a inesperar.

"no hope is freedom"
-- dpadua, o sapo cocrante.

protège-moi
placebo, para quem não entende, e para quem entende muito bem...



C'est le malaise du moment,
L'épidémie qui s'étend,
La fête est finie, on descend,
Les pensées qui glacent la raison.

Paupières baissées, visages gris,
Surgissent les fantômes de notre lit;
On ouvre le loquet de la grille
Du taudis qu'on appelle maison.

Procect me from what i want.
Protect me, protect me...

Protège-moi, protège-moi

Sommes-nous les jouets du destin
Souviens-toi des moments divins
Planant, éclatés au matin,
Et maintenant nous sommes tout seuls.

Perdus les rêves de s'aimer,
Le temps où on avait rien fait,
Il nous reste toute une vie pour pleurer
Et maintenant nous sommes tout seuls.

Protect me from what I want
Protect me, protect me...

protège-moi de mes désirs.



Este é o mal do momento,
A epidemia que se prolonga,
A festa acabou e na saída
Os pensamentos que congelam a razão.

Olhos baixos e faces cinzentas,
Surgem os fantasmas de nossa cama;
Nós abrimos a tranca do portão
Do cafofo que chamamos de casa.

Proteja-me do que eu quero,
Proteja-me...

Somos os joguetes do destino
Lembra-te dos momentos divinos
Pairando, explodindo na manhã,
E então continuamos totalmente sós.

Perdidos os sonhos de amor,
Do tempo em que nada precisava ser feito,
E agora nos resta toda a vida para chorar
E no fim continuamos totalmente sós...

Proteja-me do que eu quero...
Proteja-me...
.
.
.
.
.
.
.
.
.
é.

sexta-feira, 25 de março de 2005

Em busca de um rosto
Pensamentos de alguém que procura por si mesmo...

Por vezes percebo que o que sinto falta é de mim mesmo.
Um sonho ou um vislumbre, ou um objeto qualquer,
me remete ao passado onde tantos fiapos de minha alma
ficaram presos entre os momentos bons e ruins.
um amanhecer de primeiro de janeiro, um entardecer cansado
depois de um dia de trabalho, o mar estranho e familiar...
estranhos que viram familiares, familias, e tornam-se
novamente estranhos. somos todos estranhos
para nós mesmos e para os outros.
Só queremos nos encontrar, mesmo que não saibamos.

Entro no meu quarto em silêncio, com o livro na mão.
Vejo a aranha no escuro. Ela é pouco mais do que um borrão.
Minha mente fala demais. Demoro para conseguir alcançá-la.
Mato-a sem pensar no assunto e depois me sento.
Tento ler o livro, e consigo.
Zen e a arte da manutenção de motocicletas,
para corpos e almas que querem se consertar.
Daqui há meia hora um amigo meu vem aqui
para cortar meus cabelos.
O tempo até lá é meu. Eu o uso com tranquilidade
enquanto a tarde passa.
Sinto falta de mim mesmo.
Talvez seja por isso que queira cortar o cabelo.
Quero tentar, mesmo que por tentativa e erro,
reconhecer meu rosto no espelho.

Nesta vida sonhei tanto, e consegui tanto,
sem muitas vezes saber o valor,
que no fundo acho que só o que me faltou
durante todo o tempo
fui eu mesmo.


Espero de coração que o passado esteja feliz hoje.
Porque eu, hoje, só posso tentar me fazer presente.

Há tanto de mim que ainda está perdido atrás das montanhas...

E assim passam os meus trinta minutos.

Anseio por meu novo rosto no espelho.
E é isso.
.
.
.
.
.


"I act the role in classic style
of a martyr carved with twisted smile
To bleed the lyric for this song
to write the rites to right my wrongs
An epitaph to a broken dream
to exorcise this silent scream
A scream that's borne from sorrow"

(script for a jester's tear - marillion)

quarta-feira, 23 de março de 2005

Arnold Schwarzenegger matou (de mentirinha) em cada filme:
-Comando para matar 83
-True Lies 62
-O Vingador do Futuro 42
-Conan, o destruidor 25
-O último grande herói 25
-Jogo Bruto 24
-O exterminador do futuro 21
-Conan, o bárbaro 20.
-O predador 19
-O sobrevivente 13
-Inferno Vermelho 07
-O exterminador do futuro II 01
-Júnior -01 (ele dá à luz um bebê e não mata ninguém)
Obs. Não estão computadas cenas de explosão pela dificuldade de se calcular o número exato de mortos.

retirado do site http://www.osvigaristas.novahost.com.br/content-8.html


nada como um dia estressante que termina bem.
agora só falta a cervejinha :)

Weeeeeeee... eu sou uma bola de pingue-pongue!

Tem dias em que o trabalho te enlouquece.
Pessoas são complicadas demais...

eu sou uma criatura realmente multifacetada e surpreendente.
por vezes me surpreendo com aquilo que me vejo sendo.
mas uma coisa que eu demorei tempo para aprender é que eu não sou todas as minhas facetas ao mesmo tempo. isso causa alguma confusão para alguns, incluindo eu, quando eu me supreendo conseguindo fazer coisas que eu não sabia que conseguia, e não conseguindo fazer coisas que antes tinha facilidade de fazer.

não é algo que se possa explicar. simplesmente é.

acho que uma das buscas da vida das pessoas é integrar todas as suas facetas, não é?
nascemos cristais e esperamos morrer pérolas...

bem... que seja.

hoje vai ser um dia cheio de trampo.
mas espero resolver todo o trampo até o final dele...


beijundas aos meus 7 leitores. :)

terça-feira, 22 de março de 2005

o país dos atiradores
mulheres, carros, armas... chacinas. como é bizarro o american way of life...

Você ainda fica surpreso quando acontece outra chacina escolar nos Estados Unidos da américa? Isto é muito sensível da sua parte. Em um país onde a política do "ou você está por cima ou você é um merda" vigora, onde até hoje os ex-senhores e ex-escravos não se libertaram de seus papéis ancestrais e se odeiam cada dia mais, um país que não respeita seus índios, que manda seus jovens para uma ou duas grandes guerras por geração para defender sua economia, onde ter uma arma é um direito constitucional e usá-la é muitas vezes questão de patriotismo e masculinidade... (eu poderia continuar para sempre, mas meu senso estético se incomodou com uma frase tão longa). Em suma, em um país de mulheres, carros e armas como os EUA, pessoas se matando umas as outras por motivos estúpidos não deveria mais ser uma surpresa.

Não preciso repisar todas os fatos e tolices exibidos em "Tiros em Columbine" e "Fahrenheit 9/11". Uma boa parte dos que estão lendo este post certamente já viram estes filmes. Sabemos, ou achamos que sabemos, como é o povo norte-americano. Sabemos que eles são um dos povos mais armados do mundo (ultrapassando de longe os seus agora odiados "terroristas-muçulmanos-filhos-de-um-al-qaeda"), se não o mais armado. Sabemos como são competitivos, como pensam em sua maioria (ei, eles elegeram o Bush, ou permitiram que fosse eleito, duas vezes, não foi?), o que comem e como se matam. Há grupos paramilitares que treinam como se fossem um exército "pq é o dever de um cidadão e pq é uma forma de socialização", há sites como o Gunchicks.com que reúnem as paixôes norte americanas por peitos siliconados e rifles de assalto em um só lugar. Enfim. Em um lugar com uma relação tão apaixonada com as armas de fogo, e onde há tantas delas, e tanta gente patológicamente estúpida, como é que pode ser surpresa que alguém surte, pege seu rifle predileto (com um adesivo da National Rifle Association) e saia para atirar em algumas pessoas.

É simplesmente consequência natural do american way of life.
Ou não. :)


Isto é o que acontece quando pessoas se levam tão a sério a ponto de achar que são filhos de uma nação superior, mais poderosa e mais correta do que as demais.

Como dizia o papagaio Marinheiro: "Poovu do Moundu, Relaaxe" :)

Uma última piada nonsense antes de dormir
(inspirada pelas criaturas que habitam meu quarto)

Giselda, a lesma lésbica, esbraveja com Renatona, a barata zagueirona:
- "Eu não sou passiva não, sua escrota. Eu só sou um pouco lerda!"



A risada é opcional.

São 3:21 da manhã.
Se estivesse dormindo a esta hora, estaria bem acordado e disposto amanhã.

Em vez disso estou cantando e dançando...

Don't believe what you hear
Don't believe what you see
If you just close your eyes
You can feel the enemy
When I first met you girl
You had fire in your soul
What happened your face
Of melting in snow
Now it looks like this

And you can swallow
Or you can spit
You can throw it up
Or choke on it
And you can dream
So dream out loud
You know that your time is coming 'round
So don't let the bastards grind you down

No, nothing makes sense
Nothing seems to fit
I know you'd hit out
If you only knew who to hit
And I'd join the movement
If there was one I could believe in
Yeah I'd break bread and wine
If there was a church I could receive in
'cause I need it now

To take a cup
To fill it up
To drink it slow
I can't let you go
I must be an acrobat
To talk like this
And act like that
And you can dream
So dream out loud
And don't let the bastards grind you down

Oh, it hurts baby
(What are we going to do now it's all been said)
(No new ideas in the house and every book has been read)

And I must be an acrobat
To talk like this
And act like that
And you can dream
So dream out loud
And you can find
Your own way out
You can build
And I can will
And you can call
I can't wait until
You can stash
And you can seize
In dreams begin
Responsibilities
And I can love
And I can love
And I know that the tide is turning 'round
So don't let the bastards grind you down

(acrobat - u2)


Não precisa fazer sentido.
Só precisa ser bom. :)



p.s. curioso, eu juro que senti
um certo cheiro de bode... :)

Já que o fotolog não me deixa postar...
...eu posto aqui mesmo.




Não acredite em tudo que você pensa que vê.

Nossos sentidos nos enganam,
e nossa mente nos enrola.

Nem tudo que você vê ou sente é real.
No fim das contas, o que é real?
O que importa?

Sua mente te engana, cara.
E ela te engana pra caramba,
com seus esquemas complicados
e cada dia mais mirabolantes.
Se você se deixa levar,
ela te sequestra
e toma o controle
e só causa confusão.

No fim das contas nada disso importa.
O que importa é ser feliz.

Mais vale viver mais e pensar menos.
E não tentar entender...

não tentar controlar...

não tentar dominar...

Nâo pense demais.

As coisas são como são, ou não.

(os quadrados A e B da figura são exatamente da mesma cor, do mesmo tom de cinza. eu sei que você não acredita em mim. eu também não acreditava. eu testei no GIMP, eles tem o mesmo valor cromático.)

segunda-feira, 21 de março de 2005

Sabe a sensação de estar dentro de um ônibus que você sabe que está indo para o lugar errado, e você não consegue descer pq seus amigos também estão nele e alguém te pede para tomar a direção por uns momentos mas você sabe que ninguém vai te deixar dar meia volta, ou ir para outro lugar?
(a frase comprida é proposital. leia sem respirar.)

Estou me sentindo assim.


Só me resta então cantar errada a música da lagarta...

A-E-I-O-U
A-E-I-O-U
A-E-I-O-U

U-O-E-I-O-A
U-E-I-A
A-O-E-I-O-U


Não tente entender.
Foi uma piada particular.

A-E-I-O-U
A-E-I-O-U
A-E-I-O-U

O-U-E-I-O-A
U-E-I-A
A-E-I-O-U


cantava bem baixinho a lagarta de fogo
enquanto queimava meu pé...

a frase do dia de hoje é:

NO HOPE IS FREEDOM.



"Abandone toda a esperança, aquele que entrar..."
Poderia ser um dizer Zen. ;)

Esta parece que vai ser uma segunda feira daquelas...

Por mim eu nem teria levantado da cama hoje.
Não digam que eu não avisei... :)

UPDATE:
São dias como estes que apresentam uma oportunidade adorável
para iluminações pseudo-zen-fucking-budistas.



Em meio ao absurdo e a rotina, dê uma gargalhada, mande tudo ir passear, e vá você também buscar algo divertido para fazer (dentro ou fora de sua cabeça).

Um brinde àqueles que tem um mundo dentro de si. :)

sábado, 19 de março de 2005

On The Way Home
Buffalo Springfield (a velha banda do Neil Young)

When the dream came
I held my breath with my eyes closed
I went insane
Like a smoke ring day when the wind blows
Now I won't be back till later on
If I do come back at all
But you know me, and I miss you now
In a strange game
I saw myself as you knew me
When the change came
And you had a chance to see through me
Though the other side is just the same
You can tell my dream is real
Because I love you, can you see me now
Though we rush ahead to save our time
We are only what we feel
And I love you, can you feel it now
.
.
.
.
.
.
obras de arte tem a curiosa e maravilhosa habilidade
de mudar de forma conforme o ângulo e o momento do qual
você a olha...

O inverso da perfeição
Quando tudo foge dos planos e nada acontece como planejado, é uma grande chance para a vida mostrar o quanto pode ser surpreendentemente foda.

Eu sou um cara que tem lá suas particularidades. Escrevo meus contos e poesias, como muitos outros também fazem, mas os meus contos e poesias são os meus contos e poesias. Eles são particulares e falam sobre meu mundo. Vivo, de fato, com um pé em um mundo todo meu que poucas pessoas entendem, e menos pessoas ainda podem adentrar. Eu acredito em sinais e presságios, nos espíritos dos lugares e das coisas. Creio em tantos deuses que nem sei ao certo o nome de todos eles... mas eles estão lá.
As coisas que faço nem sempre são bem planejadas. De fato a minha vida é uma sucessão de fugas de planos maravilhosas e desastrosas. A sorte é minha amiga e acho que aprendi a ver o valor das surpresas. Enfim, eu sou eu. Mas não é sobre isso que eu queria falar neste post.

Este é um post sobre um Sarau que quase não foi um sarau, ou que talvez tenha sido mais sarau do que muitos outros saraus juntos. Este é um post sobre a beleza emergindo do Caos.

A maioria dos planos para o Sarau dos Imaginários deram errado. A maioria dos convidados não apareceu, por motivos que pouco me interessam. O fato é que a meu ver fizeram pouca ou nenhuma falta. Descobri muito rápido que todas as pessoas que deveriam estar lá, estavam. E a parte que tomaram em nossa dança imaginária foi simplesmente encantadora. O encanto da surpresa que é as coisas tomarem seus rumos após fugirem dos planos. Saraus como aquele me fazem pensar que os planos são apenas uma impostura que fazemos para não ter que olhar para o fato de que tudo acaba acontecendo do jeito que quer acontecer, e não como queremos que aconteça. Melhor assim.

Não havia tanto material para se criar, mas o que se criou do ar e do parco material que se tinha foi além do que se poderia imaginar. Cantamos, mesmo sem acompanhamento adequado. Recitamos, mesmo que a maioria de nós não tivesse preparado nada para este fim. Contamos histórias, rimos, nos aproximamos, nos batemos e nos abraçamos. Foi um festejo de amor ao fazer arte e ao fazer contato. Quebramos a cara e nossa vaidade em achar que podíamos fazer acontecer. Mas aconteceu mesmo assim, por debaixo de nossos narizes. O que se construiu foram laços e elos, momentos e idéias, que não surgiriam se tudo tivesse seguido os planos. Foi, enfim, nada do que planejamos, e muito mais do que poderíamos esperar. Foi o Sarau dos Imaginários como ele deve ser, e não como achávamos que deveria ser. E eu fui dormir dopado de vinho e felicidade.

Tudo que posso dizer à vida, e todos que também estavam lá, é obrigado.

Obrigado DP (por tudo) , Kélu (por tudo), Artur (por tudo também, por que não?), Peixa (por ser a Peixa), Lena-coisa-azul (por ser azul, tirar fotos, e adicionar tanto mesmo sem fazer nada), Uirá (por não calar a boca quando não devia mesmo calar a boca. pq deveria?)...

Obrigado Nanath pelo comparecimento adiantado para o segundo sarau. ;)

Eu já falei Obrigado DP e Kélu? Bem... queria apenas frisar. :)


Com amor,
Duende.

sexta-feira, 18 de março de 2005

É impressionante o que se pode descobrir sobre uma pessoa observando coisas que elas mesmas consideram dizer muito pouco sobre elas.

Para quem sabe o que procurar, fotologs são coisas perigosas. :)

O tal "post da chuva"
Algumas coisas valem a pena ser ditas, mesmo que com atraso...

Ontem eu ia postar isso aqui:

"Parei o carro um tanto longe do ministério. Chovia tanto que era impossível ver o prédio do lugar onde eu estava. Quando abri a porta do carro a chuva pareceu diminuir instantâneamente para um chover mais brando. Abomino guarda chuvas, e qualquer outra coisa que nos isole do contato de coisas que são prazeirosas... como a chuva. Tranquei calmamente o carro e caminhei por entre os pingos esparsos e grossos. Enquanto todos corriam, eu andava, e como foi prazeiroso...

O vento balançando meus cabelos enquanto a chuva os molhava e deixava os fios pesados. As gotas de água escorrendo pelo meu rosto, pelas minhas costas protegidas por duas ou três camadas de roupa. A falta absoluta de pressa frente aos prédios onde todos são tão compenetrados e apressados. Diminuí o passo ainda mais, caminhando pé ante pé com os braços abertos enquanto a chuva chovia em mim. Na pista ao lado os carros passavam levando motoristas que olhavam curiosos. Foi tentador acenar para eles com um sorriso. Por que as pessoas tem tanta pressa se no fim não vão chegar a lugar algum?

Deveríamos tomar mais banhos de chuva e levar toda esta rotina diária um pouco menos a sério. O prazer é eterno ecoando nas paredes do palácio de nosso ser. O dia a dia apenas se repete até o dia em que para de repetir... e então vc está morto.

Deveríamos tomar mais banhos de chuva em nossa companhia.
Nada é tão importante quanto isso..."


Bem... é isso.

Sarau dos Imaginários
Quebrando tudo, para fazer de um jeito mais divertido...



Se você acha que deveria estar lá e não foi convidado.
Seja criativo, entre em contato comigo.

quinta-feira, 17 de março de 2005

O Sarau dos Imaginários
Quebrando tudo para construir de outro jeito...



Quer saber mais?
Pergunta, criatura!



- "Ô seu mauricinho filho da puta! Não meu importa se vc é príncipe do caralho a quatro ou se achou que eu era uma princesa em perigo. Da próxima vez que você aparecer por aqui com aquele seu cavalo fedorento e começar a bater no meu dragão, eu vou te ENCHER DE PORRADA!!!"


Salvem os Dragões.
Matem os príncipes :)

Estou com sono.
Ainda bem...

Até amanhã, meus cumpadis e cumadis...

Ainda repostando...
pq foi a resposta misteriosa perfeita...

- Você está tão calado, duende. O que vc tem?

- Eu mesmo.

Coisas que gostei de postar...
Como não consigo dormir por causa de uma azia chata (e uma pitadinha da falta de hábito de dormir durante a noite) resolvi dar uma olhada em tudo que postei até agora neste ano. Aqui vai uma lista de algumas coisas que acho interessantes de serem lidas, ou lidas de novo...

Ridículo - Há alguns dias atrás estavam me chamando de ridículo. Acho que fazem isso mais frequentemente do que eu me recordo. De que importa? Somos todos ridículos...
Este é um post que fala sobre o ridículo em todos nós, e a sabedoria de se rir disso.

Duende - Mais do que o nome dado a um tipo de entidade feérica, e mais do que meu nome, Duende é a palavra perfeita para exprimir um tipo especial de fogo que queima dentro de algumas pessoas. Este é um post sobre Duende.

Nenhuma flor pergunta se pode nascer - Uma imagem, uma frase, um post doce. Eu gosto dele.

O amor perfeito é só uma planta - Uma doce poesia já meio antiga, mas da qual eu ainda gosto muito. Vale a pena ler, ou ler de novo...

E, como não poderia faltar, há os contos e uma das fábulas que postei neste ano. Sinceramente? Acho que ficaram muito bons :)

Melhores Venenos - Um conto sobre vícios, escrito em 40 minutos, nunca revisado. É o que é, como somos o que somos.

A moça acenando na janela - Um conto sobre despedidas, janelas e amor... e sobre algumas das coisas belas da vida.

Prata e Entulho - Este era o "patinho feio" do meu primeiro livro. Um dia, revisando os contos do livro, eu o reencontrei. Me apaixonei por ele imediatamente. Prata e Entulho é um conto sobre o que é importante, sobre o que não é, e sobre o que mais fizer sentido a este respeito... ou não. Há quem diga que o conto termina no penúltimo parágrafo. O que vc acha?

A Raposa e as Uvas - A minha versão da fábula que La Fontaine roubou de Esopo, e que Esopo roubou de alguém que ele nem teve a decência de citar... Eu sou mais legal que eles. :)



Se tiverem algo a comentar, comentem aqui neste post.
Não façam o Duende ficar rodando pelos ultimos 3 meses de seu blog para encontrar comentários. Isso é um pé no saco. :)


Sejam felizes.

quarta-feira, 16 de março de 2005

Criatura da noite
ou "Ainda não aprendi a dormir"

"You'd better keep it in check
Or you'll end up a wreck
And you'll never wake up"

Placebo - Narcoleptic

Toda criança luta um pouco contra o sono. Uma soma de vontade de continuar fazendo o que quer que seja de divertido que está fazendo quando chega a "hora de dormir', ou a vontade de evitar o dia seguinte, com escola, deveres, coisas chatas. Toda criança em algum momento luta contra o sono.

Então a criança cresce e de repente não há mais quem mande ela dormir. Na adolescência é comum e gostoso ficar acordado até tarde. Seja nos finais de semana, seja durante a semana, invadir a noite, trespassá-la até o glorioso amanhecer tem a sua mágica (exceto quando vc é forçado a fazer isso estudando para uma prova...).

E então o tempo passa, e as pessoas normais vão se acostumando a dormir cedo. É assim que acontece não é? Bem, talvez eu não seja uma pessoa normal então (por este e por tantos outros motivos). Não consigo, não sei e não aprendi a gostar de dormir cedo. As horas silenciosas e frescas da noite me parecem por vezes tão mais agradáveis para tudo. São melhores para conversar, para ler, para escrever... ou mesmo para fazer nada. A escuridão lá fora, o silêncio, a chance de estar consigo mesmo sem interrupções por um tempo agradávelmente determinado pelo amanhecer. É tudo muito perfeito na madrugada.

Isto se torna um problema quando vc tem que acordar no dia seguinte e fazer algo. Não apenas para os que trabalham cedo (algo que já aboli da minha vida, e pago preço com um sorriso no rosto), mas para os que tem QUALQUER tipo de compromisso no dia seguinte, este hábito, gosto ou vício cobra uma taxa muito cara. Passo dias andando por aí como zumbi. A luz do sol me incomoda. Sinto-me lento e incomodado com quase tudo, mal humorado, cansado e até um pouco deprimido durante o dia. Ando por aí com a sensação de que sou apenas meio eu.

Quando finalmente caio de exaustão e durmo cedo (e longamente) por uma ou duas noites sinto-me tão bem, tão feliz, tão criativo e inspirado que não posso perder a chance... Varo uma ou duas noites quase inteiras escrevendo, fazendo qualquer uma das milhares de coisas criativas e divertidas que gosto de fazer, ou simplesmente fico andando pela casa andando e estando comigo. E aí recomeça o processo...

Sim, eu sei que é patético, mas é real. Sou patológicamente uma criatura da noite, um adulto que não aprendeu a dormir. Meu problema não é insônia ou ansiedade. O meu problema, ou não, é apenas qeu gosto demais de estar comigo mesmo, à noite, fazendo minhas coisas.

É ridiculo, compreensível e talvez até fascinante.
Como o ser humano costuma ser.


Estava só afim de confessar isso. :)

terça-feira, 15 de março de 2005

Um blog de um fotógrafo falando sobre todas as fotos que ele NÂO TIROU?
A idéia é muito foda...

Pena que a tiveram antes de mim.
Visitem o UNPhotographable



Sim sim....

Sentado, sozinho, em minha sala no ministério assombrado pelos espíritos redivivos de dez mil pornochanchadas e de garçons hebefrênicos suicidas, eu cultivo a minha fome...

Sim, é isso mesmo. Não consigo mais trabalhar, mas mesmo assim continuo aqui. Acho qeu gosto deste lugar.


Fico olhando para as cadeiras e pensando como seria bom se elas se transformassem em enormes churrasqueiras cheias de picanha mal passada. Queria que cada monitor destes computadores virasse um grande peru de natal...
Fico sonhando com cream crackers encantados...

Que diabos eu estou fazendo aqui?


Acho que vou para casa. :)

A luz dos postes muda de cor na noite realmente escura. Sonhos estranhos na escuridão lá fora. Fantasmas antigos, exorcizados, saltam das páginas de um livro. Gatos choram como crianças... gritam... lamentam...
Não haverá sono tão cedo nesta noite. Refugio-me no mundo conhecido e como salame... e espero.
Não sei por que...

Esta é uma noite realmente estranha...

domingo, 13 de março de 2005

"Deve haver um jeito de ter as duas, ele pensou. Dominó e Suzy também. Switters passou a noite toda concebendo e descartando um esquema improvável atrás de outro, recusando-se a aceitar que o destino o forçasse a escolhar uma ou outra. Amava as duas. Queria as duas. Natural. Ele era Switters."
(O último parágrafo de "Ferozes Inválidos de Volta dos Trópicos", de Tom Robbins. Dedico estas linhas ao sábio sonhador cocrante de muitas casas e muitos lares)

Mandem os palhaços.

Uma fábula quase nonsense...
por daniel duende

Certa vez um sábio sentou-se sobre uma montanha, sob o sol, alheio ao mundo lá embaixo e a seus pensamentos, e pôs-se a meditar. Suas vestes monásticas cor de açafrão (e de papinha de bebê, dependendo da cultura da qual você veio) brilhavam à luz do impiedoso sol.

Por meio de sua meditação ele buscava encontrar a essência de tudo, a natureza por trás da natureza, o elo que conectava todas as coisas. Sua busca foi interrompida por um dragão que por alí passava.

- "diga o que faz aí, mortal" disse o dragão.
- "medito em busca da essência de tudo" disse o sábio, tentando abandonar a irritação por ter sido interrompido.
- "a essência de tudo é a vontade, homem."
- "se a essência de tudo é a vontade, um homem sem vontades não tem essência?" perguntou o sábio de vestes cor-de-burro-quando-foge.
- "mostre-me um homem sem vontades" zombou a grande criatura verde.
- "quando medito não tenho vontade alguma" respondeu o sábio com o sorriso.
Como o dragão apenas o fitava com um sorriso, completou:
- "sou então um homem sem essência ou estou em busca de uma essência que está abaixo desta que você me aponta?"
- "eu vou te mostrar a verdade de minhas palavras" disse o dragão, ainda sorrindo.
- "como?" perguntou, desafiador, o sábio.

E então o dragão comeu o sábio e foi embora.

Ele estava com vontade de comer alguma coisa...


Não pensem demais. :)



"I've been trying to get down
to the heart of the matter..."

O que importa não é o que está por baixo, ou o que está no centro, ou apenas a essência.
Se você não enxerga o todo das coisas, tudo começa a ficar com uma certa cara
de engrenagens soltas e sem beleza.

Corações e almas me encantam,
mas eu gosto dos pacotes completos...

quando eu pensei que muitas coisas nasceriam de mim
eu nunca havia pensado nisso...

estou um passo mais próximo dos cogumelos. :)

Cada palavra escrita, cada som criado, cada escultura realizada...

tem que ser antes vivida.


a crise de escritor nasce da insistência em se criar demais e se viver de menos.

sexta-feira, 11 de março de 2005

reescrever fábulas?
gostei disso...

é bom colocar o meu senso de humor para um bom uso :)

quinta-feira, 10 de março de 2005

por vezes o silêncio é a coisa mais sábia a se fazer.

por vezes é um bocado difícil ser sábio. :)

E por falar em raposas...

A Raposa e as Uvas
Minha versão para a fábula de La Fontaine, ou de Esopo, não sei ao certo... (e que seguramente não é uma música do Reginaldo Rossi)

Certo dia caminhava pela floresta uma vaidosa raposa, com sua linda cauda e seus olhos que derreteriam coca-cola congelada. Sentia fome, mas não perdia por isso a pose. Não obstante, percebeu que encontrava-se perto de um vinhedo e se pôs a procurar o mais belo cacho de uvas que pudesse encontrar.

Era uma raposa paciente, muito paciente, mas não demorou, de qualquer forma, a encontrar um enorme cacho de uvas verdes cujas bolotas (que, repito, eram verdes por natureza) eram tesas como bolas de gude. Sentindo que seu estômago também havia visto as uvas, e pensando que seria uma boa idéia comer umas uvinhas, a raposa esticou a pata para tentar alcançar as uvas que estavam lá no alto da árvore.

Como desta forma não alcançava as uvas, assim como não as alcançava por mais que esticasse a sua linda cauda, a raposa pôs-se a saltar na tentativa de alcançar as uvas. Primeiro deu alguns saltitos com pouca vontade, subestimando ainda a altura das uvas. Não demorou muito tempo para que seu estômago, e seu senso prático (sim, ela também tinha um senso prático, embora ele fosse um pouco preguiçoso) a convenceram a saltar com toda a sua vontade. Mesmo assim, por mais que se esforçasse a raposa não conseguia alcançar as uvas.

Frustrada e irritada a raposa ajeitou a sua bela cauda, olhou para os lados certificando-se de que havia alguma platéia... e não havia... e por fim declarou para a árvore, para as uvas, para o vento e sobretudo para si mesma:
- "Essas merdas de uvas estão verdes! Quem disse que eu quero uvas verdes como estas? Eu não quero não, nunca quis, nunca vou querer..."

Enquanto a raposa saía, um corvo que por alí passava pensou para com suas penas:
- "Ué, mas estas uvas SÃO verdes. Será que raposas são daltônicas?"

Ninguém imagina o quanto os corvos podem ser inocentes...



Moral da história?
Tire as suas próprias conclusões. :)

quarta-feira, 9 de março de 2005

sobre emails e Gmails
Do tédio surge a homenagem...

Não me lembro do primeiro email que enviei na vida. Lembro-me, se muito, que usava um programa meio arcaico na época e mandar emails era um exercício não muito prazeiroso. Durante boa parte de minha vida digital eu simplesmente evitava ter que usar o email. Nunca me deu grande tesão...

Não me lembro também do primeiro Gmail que enviei. Mas isso não é problema, pq com um simples comando ele me mostrou qual foi este email. Foi um email para mim mesmo, testando tipos de letra... típico.

O fato é que com o Gmail a experiência de uso do email virou outra coisa completamente diferente. Com ele vc troca emails como se estivesse conversando num Instant Messenger, e ele organiza as conversas bem bonitinhas, para diversão ou trabalho. O Gmail tb é um excelente porta-arquivos, com seus 1GB de espaço por conta e seu excelente mecanismo de busca interna (by Google).

Se você não usa Gmail, não tente me explicar o motivo. Provavelmente eu não vou entender. :)


O Gmail é, sem puxação de saco, uma das 5 melhores coisas que aconteceu na internet. Curiosamente a mesma empresa é dona de 2 destas maravilhas (o Gmail e o mecanismo de busca do Google). Isso sim é meio preocupante, mas...
who cares about it now? :)

vamos ser interativos...

quem acha que o último parágrafo de meu conto "Prata e Entulho" é supérfluo, ou que por um motivo ou por outro deve ser arrancado?
Preciso decidir isso antes de enviá-lo para revisão.

Obrigado pelas opiniões :)

Você não odeia...?
uma pequena lista de coisas que todos nós sabemos odiar, embora nem sempre admitamos...

... quando molha sua meia ao pisar no molhado?
... quando a caixa de bombons em cima da mesa só tem papeizinhos amassados?
... quando o olhar insistente daquela pessoa é apenas miopia?
... quando fica ansioso e não sabe ao certo por que, ou para que?
... pessoas que não vão até o fundo das coisas?

enfim. temos que rir, para que a vida seja boa.
antes estar cercado de coisas ridículas do que de coisas trágicas. ;)


- ...e o que vc vai fazer agora?
- eu vou rir. o que me resta fazer?

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela
pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não
interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que
fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que
me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só
sendo louco. Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam
perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma
exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade
bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de
aprendizagem,mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que
não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e
sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma
ilusão imbecil e estéril."

(Dizem que foi Oscar Wilde que escreveu. Para mim só importa que tenha sido escrito. Texto copiado do blog da morganna)

- seu carro tem um amassado novo.
- que carro? ah, o brutus?
- é.
- não é um carro, é uma besta de carga. e aquilo não é um amassado, é uma cicatriz de batalha.
- tá... vc entendeu.
- e de que importa isso? ;)
- ...

no fim das contas é tudo uma questão de ponto de vista.
cada um vê os peixes e as fadas com os olhos que tem.

Eu aposto que quando o Pequeno Príncipe falou que "tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas", ele o disse para uma raposa ruiva ou de alguma outra cor qualquer. Ele nunca havia visto uma raposa roxa...

UPDATE: Logo depois que postei isso, uma figurinha loira com um sobretudo azul me disse "Tio, não fui eu que falei isso, foi a raposa..."

Ok meu príncipe. Todos nós nos enganamos.


Foi só um pensamento engraçado que tive.

segunda-feira, 7 de março de 2005

Todos tem, em maior ou menor grau, medo de se expor e de se expressar.
Isso é humano.

O problema é acreditar que este medo é um bom motivo para não fazê-lo.

"Por que acredito em fadas (e em toda a corte sutil)?

Certa vez alguém disse que "a religião de um homem é a risada de outro". Uma frasezinha sacana abocanha uma boa parte da verdade (se é que há UMA verdade a ser abocanhada). O fato é que algumas pessoas, por seus motivos, ou por motivos dos outros, acreditam em certaz coisas. As pessoas tem seus deuses, seus espíritos protetores, seus rituais e mandingas. Algumas pessoas acreditam no trabalho, outras acreditam no governo, ou na sabedoria da natureza. Algumas acreditam que não acreditam em nada. Crenças são algo mutável, (geralmente) muito pessoal e que (muitas vezes) tem uma função central na estruturação da psique da pessoa.

Pense nos mitos ou nas crenças como um esqueleto da sua percepção do mundo. Por mais que o universo flua, aquelas estruturas se mantém firmes (ou então caem) e permitem que você construa uma imagem daquilo que está experienciando. Estas estruturas, estes "pilares", ajudam a definir e estruturar a maneira como vc percebe o mundo. Que desastroso então é para uma pessoa que crê em coisas destrutivas e tristes.

Não creio no deus cristão vingativo, mandão, excessivamente masculino e ao mesmo tempo dessexualizado. Não creio nem me interesso pelas religiões de separam certo de errado, luz de sombras, nós e eles. Não tenho por que crer na divinidade do trabalho (um mito capitalista e patriarcal) nem na primazia do dinheiro (apenas mais uma de nossas ilusões, já que é uma forma transitória de representar valores ainda mais transitórios). Estas crenças tão comuns são para mim apenas piadas. Eu me esforço (ou não) para respeitar aqueles que a elas se apegam...

Desde pequeno fui presenteado (pela Deusa, pela vida, ou por quem quer que VOCÊ queira acreditar que me presenteou) com uma percepção ao mesmo tempo refinada e bizarra do mundo. Os meus olhos viam coisas que outros por vezes não viam, ou não distiguiam. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que isso fez com que eu crescesse vendo o mundo de uma forma bem particular. Eu via as conexões simbólicas entre as coisas, e a abstração que existe por trás da aparência concreta das coisas que vemos. Eu percebia que no fim das contas a existência, e o universo, são apenas experiência. E experiência, meus amigos, é algo bruto que é significado de uma forma ou de outra por quem o significou.

Não foi uma decisão, tanto quanto foi um instinto, significar o mundo da forma que o fiz. A certas coisas que via, chamei de fadas, duendes, espiritos naturais. E quanto mais estudei a respeito, mas sentido minha "interpretação" fez para mim. Ás malhas simbólicas do universo preguei as tintas verdes, laranjas, púrpuras e brancas, e negras, do mundo feérico. Desta forma o mundo ficou bonito e eu gostei do que via. Até mesmo a monstruosidade tem seu lugar aos olhos do povo sutil. E assim também tem aos meus. Assim meu mundo fez sentido, e eu gostei do sentido que ele fez.

Por vezes, vezes demais talvez, a vida nesta sociedade e cultura desgastaram as cores e a malha de meu teatro mental. Agora mesmo parei frente ao espelho da reflexão e me percebi desbotado. O duende estava desbotando debaixo das interpéries desta cultura patética (não que algum de nós seja menos patético do que ela, mas ao menos alguns são mais interessantes...). E foi então que algo dentro de mim gritou:
- Ei, chamem de volta o Duende!!!!


Eu ainda estou descobrindo o que isso quer dizer. Eu ainda estou descobrindo o que quer dizer este reencontro. O importante é o movimento e a experiência...

Talvez estas palavras façam sentido para alguns, e soem como maluquice para outros. Não me importa tanto saber o que pensam tanto quanto me importa saber quem pensa o que. Só quero saber quem vive do meu lado do arco íris e quem vive do outro lado. Não dá para se ter tudo.

Meu nome é Daniel Duende, e eu sou um cara legal (ou então um pobre coitado escorregando devagarzinho para um surto psicótico, you choose).
Escolham a sua companhia com cuidado. Quem andar comigo, andará e conversará com um duende...

Só me interessa a companhia de quem anda comigo.

É isso."
(extraído, sem adaptações, de meu fotolog)

eu quis dizer o que eu quis dizer.
o que você entender vai dizer muito mais sobre você do que sobre mim.



eu não entendo toda a baboseira sobre certo e errado,
demônios e anjos, modos e moralidade. no fim das contas
quanto mais as pessoas se preocupam em parecer certas,
mais deprimentes e baisas se tornam.

o animal debaixo da superfície está sempre vivo, mesmo
quando se torna numa fera decrépita e amarga, ele está lá.
a civilização é apenas um verniz, seus modos e suas modas
são apenas uma capa sob a qual esconder a natureza.

a natureza (humana ou além) não é pia ou demoníaca.
a vida não reconhece tais distinções. a vida sabe apenas
do que é a seu favor, e o que é contra ela.

se uma religião transformou meus deuses em demônios, de
que isso me importa? se uma rede de lojas de artigos
esotéricos tranformou a minha entidade símbolo em algo
feio e patético, de que me importa?

eu sou o daniel duende. sou de carne, osso e sonhos - e não de pelúcia.
se é de anjos e demônios que você quer falar, então
eu sou um demônio. é tudo uma questão de ponto de vista.

e se é uma questão de ponto de vista eu prefiro
estar no meu lugar, fazendo o que faço.
não quero convencer ninguém de nada. só quero o que é meu.

eu apenas digo sim à vida.


(este post não é um "recado" para ninguém. tenham humildade.)

- você ajuda o meu raciocínio, duende.
- é. você tem o raciocínio externo.
- é, eu tenho o raciocínio externo.
- isso não é ruim, nem bom. é um modo de ser.
- eu entendo.
- vc é uno com sua criação. vc é o homem cujo raciocínio é livenodes. :)

Eu, Dp, vento, dois cigarros, um lata de coca, uma lata de lixo e duas mentes confusas como anêmonas histéricas.

A vida como ela é.

Estou escrevendo um texto sobre a nossa ciborguização. Não estou falando só de mim, cara pálida. Estou falando de você também. Você com seu indispensável celular, sua agenda eletrônica, seu email e seu blog. Você com sua televisão e o rádio do seu carro, e os seus cds...

"Somos filhos e dependentes da mãe rede e do pai computador, sem esquecer da vovó eletricidade..."

O texto ia sair hoje, mas conseguiram me atrapalhar o pensamento (e o humor). Ele vai sair em breve. Não me pressionem. Detesto ser pressionado.

Liberte-se da cadeira e da tela e voe...

domingo, 6 de março de 2005

"Franzida e obscura como um ilhós
Violeta,
Ela respira, humilde,entre a relva
Rociada
Ainda do amor que desce a branda
Rampa das
Brancas nádegas até o coração da
Greta.

Filamentos iguais a lágrimas de leite
Choraram sob o vento atroz que os
Arrecada
E os impele através de marnas
Arruivadas
Até perderem-se na fenda dos
Deleites."

(Terceiro soneto de "Les Stupra", de Rimbaud)

Passei a madrugada mergulhado na história e na obra de Rimbaud, com eventuais paradas para descansar as costas e a cabeça na prosa leve de Tom Robbins. De sobre a mesa da cozinha Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas de Pirsig me observa. Foi tudo que ganhei em troca de carregar quilos de livros e aranhas para o Sebinho.

Acho que terminei com um maço inteiro de cigarros enquanto digeria Rimbaud até vestí-lo de deus e tornar a despí-lo. Rimbaud mora agora em mim, em poesia e história. Nâo o Rimbaud alejado coberto de glórias, mas o jovem tolo e insuportável, genial e impossível. Rimbaud era um gênio inviável.

Preciso escrever, preciso dormir.
Um domingo etéreo me espera.
Preciso de um abraço...

"Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.

Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.

Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas..."

-- Rimbaud

sexta-feira, 4 de março de 2005

Hoje, Área 51.

Depois espero que alguém me leve para dançar...

"... tenho fome e tenho sono.
dai-me carne e colo, e um cigarro
e uma cerveja para rebater.
Não sou um homem caro.
Meu preço só está em mais de uma moeda..."

Placebo em Brasília
Como já não era mais surpresa, o Omelete estava enganado. O show do Placebo em Brasília, que vai rolar no dia 23/04, não será de graça. As entradas, por outro lado, custarão módicos 30 reais a inteira e 15 reais a meia

Não é detestável quando vc se empolga no lead da notícia e depois percebe que não tem mais nada a dizer? Bem, então é isso. O Show do Placebo em Brasília vai rolar no dia 23/04 (sábado), provavelmente na Concha Acústica, e as entradas custarão 30 reais a inteira e 15 reais a meia.

Aproveito para dizer que minha banda continua bem, andando a característicos passos de tartaruga, mas uma tartaruga que não é qualquer tartaruga, é a deusa das tartarugas.... e....
bem....

Já mandei lavar o cobertor.
Maldita perereca. :)

quinta-feira, 3 de março de 2005

Se você pudesse ter todo e qualquer desejo seu realizado,
bastando para isso desejar profundamente por alguns minutos,
o que então você faria acontecer?

Quanto tempo você levaria para destruir o universo?

Eu tenho a impressão de que "O Ultimo Cravo" é o conto que eu mais precisei escrever até hoje, e ao mesmo tempo o pior conto que já escrevi.

Se vou publicá-lo?
Eu ainda não sei...

- "Estão todos mortos", disse para a noite, com tristeza, Dumagh.

O Silêncio que se seguiu emoldurava o ar de acusação que pairava no ambiente. Antes que Arrow pudesse responder à acusação velada Gevauldain interveio, soltando uma baforada da fumaça de seu cachimbo.

- "Só acuse alguém por carregar sangue nas mãos se esta pessoa tiver matado outra. Se você for pensar somos sempre indiretamente culpados por tudo que acontece em nosso mundo."

Dumagh ficou em silêncio.

Pensamentos de fim de dia:

- É impressionante como os cigarros Marlboro são mais gostosos do que os outros...

- Algumas pessoas não conseguem viver sem encher o saco dos outros. É a forma que encontram de chamar atenção para si mesmos em sua mediocridade.

- Não trabalho sob pressão, não escrevo sob pressão, não funciono sob pressão... Pelos Deuses, eu não consigo nem ir ao banheiro sob pressão :)

...quando me vi às cinco horas da manhã dando bronca em uma perereca
por ter feito cocô na minha cama, em soube que finalmente estava bem.

o próximo que estragar o meu salutar humor de duende, eu mordo!

"existem coisas na minha boca que vc não iria querer em seu sangue" :)

Quer saber o que acontece quando dois universos colidem?

Olhe à sua volta.

The principles of lust... are easy to understand
Do what you feel... feel until the end
The principles of lust... are burnt in your mind
Do what you want... do it until you find love...

(principles of lust - enigma)

Somos todos muito desastrados com aquilo que é simples.
Shame on us...

vamos rir.

eu geralmente decepciono as pessoas
que esperam que eu seja apenas parte de mim.

não estou interessado em ser sério quando não quero.
não pretendo ser brincalhão quando não quero brincar.

se olho pensativo, é por que quero pensar.
se eu danço, é por que quero dançar...

por que é que esperamos tanto dos outros
e fazemos tão pouco por nós mesmos?

quando for encontrar comigo,
deixe suas projeções e neuroses trancadas no banheiro...

não sou melhor do que você.
eu só quero ser eu.

Há algumas coisas que não tolero:

Promessas não cumpridas, palavras ditas a esmo.
Mentiras deliberadas e jogos desleais.
A injustiça dos medrosos, a insegurança dos medíocres,
a falta de esperança daqueles que abandonam a fé.

Não tolero os meios termos que não são caminhos do meio.
Nâo suporto a falta de imaginação e de vitalidade.
A falta de senso de humor, negro ou branco, me irrita.
As distinções entre negro ou branco, que na verdade
são tons de verde, azul e laranja, ou vermelho,
são todas patéticas.

Não tolero o medo do ridículo
e a farsa para esconder o medo do espelho.

Não tolero gente que não sabe ser.

Só tenho tempo, espaço e olhos para o que é belo e real.
O que não é gracioso me desgosta. O que não é intenso se desbota.
Só existo para a poesia e para os momentos.

O resto eu deixo para quem não quer a vida.

quarta-feira, 2 de março de 2005

Cacete!
É impressão minha ou eu não consigo postar nada no meu blog?

- eu gosto daquele garçon, apesar do nome feio.
- por que?
- ...
- me passa a cerveja, duende?
- toma aí. ele me faz lembrar coisas mais feias que a minha bola esquerda.
- como você consegue dizer isso e ainda tomar sopa de cebola.
- com a boca. :)

conversando com os deuses, como sempre.
e a cerveja estava gelada...

Foi divertido...

... e então Hanuman me disse "você anda muito sério, Duende. Duendes sérios são estranhos..."

E eu sorri. E eu entendi.
E eu me iluminei com a sabedoria do macaco.

E não parei de rir até agora...

Porra, assim eu vou acordar a casa inteira.

terça-feira, 1 de março de 2005

Prata e Entulho
Um conto de Daniel Duende

Marcelo trocara sua alma por algumas pequenas felicidades. Mas felicidades, ao contrário das almas, não são eternas. O demônio é um mercador impiedoso, não aceita reclamações, e portanto Marcelo só podia se afundar em sua pena de si mesmo, e lamentar. Nem toda a bebida que havia em sua casa, ou todos os cigarros, todos os beijos frios, poderiam mudar seu destino agora. Isso não quer dizer que ele não tivesse tentado...

Carla mal saíra do banho e já tinha um cigarro em suas mãos. Seus dedos mal enxutos molhavam o cigarro, mas não havia escolha. Seus lábios precisavam de algum beijo, qualquer que fosse ele. Ela havia pensado em se matar há algumas horas atrás e isso só a fez sentir-se pior. Sentia-se ridícula, pequena, usada... Sentia-se abandonada, e era exatamente isso que havia acontecido. Havia sido abandonada por alguém que ela acreditara que sempre estaria lá. Este era o motivo, acima de todos os outros, para sentir-se ridícula e pequena, e sem valor.

Chovia um pouco lá fora. Não que isso fizesse grande diferença. As janelas estavam fechadas e nada passava por elas além da pouca luz de um entardecer de março em Brasília. Havia um cinzeiro repleto de tocos de cigarro sobre a mesa e alguma bebida em um copo derretia os restos de gelo. Marcelo estava em silêncio com os pés sobre a cadeira, abraçado aos próprios joelhos como um náufrago em sua ilha isolada. A última coisa na qual podia agarrar-se era ele mesmo. E mesmo assim estava afundando...

O telefone não tocara, e ela nem sabia por que acreditava que tocaria. Por que é que ele ligaria, depois do que foi dito? Estava acabado, não havia mais nada a dizer. Carla estava chorando de novo, estirada sobre a cama. Não se preocupou em fechar a janela. Foda-se a chuva, foda-se todo o resto. Ela estava sofrendo por alguém que não conseguia acreditar agora que não fosse merecedor do sofrimento. Marcelo fora seu príncipe, algo bom demais para ser verdade... e talvez não fosse mesmo. Carla se encolhe, nua sobre a cama, e chora, como se chorar fosse adiantar alguma coisa. Ela lembrava-se dos amigos que a haviam avisado que Marcelo não prestava. Fodam-se os amigos. Foda-se toda a vida. Foda-se ela...

Marcelo tinha medo de fechar os olhos. Sabia que as lembranças viriam. As lembranças de como era tudo belo e simples até o início de fevereiro. Ele e Carla andando por entre os blocos de apartamento de sua quadra. Ele e Carla transando sobre aquele mesmo sofá azul que estava atrás de sua cadeira agora. Ele e Carla, ele e seus livros, e seus contos, e seus amigos... Ele e Carla e a tentação de ter tudo. E então Marília e seus olhos verdes e seu nariz arrebitado. Marcelo havia jogado tudo para cima, toda a vida que agora ele descobria o quanto sentia falta. E transar com Marília naquele mesmo sofá azul tinha parecido ser o ápice de toda a sua vida tola. E talvez tivesse sido, mas depois do ápice vem a queda. Agora Marília havia ido embora. Carla havia ido embora. Sua inspiração, seus amigos, onde tinham ido parar? Onde tinha ido parar a imagem que ele tinha de si mesmo agora? Ele havia trocado tudo que era valioso pelo objeto de desejo, e como todo objeto feito pelo homem e pela mulher, um dia termina no entulho. Marcelo era todo remorso e reminiscências agora. Um tolo no entulho do castelo, seu castelo, que derrubou.

Sua garganta engasga quando ela acende outro cigarro. Estava andando para um lado e para o outro em seu quarto. Carla não sabia o que fazer com toda a sua dor. Ouvir Marcelo contando, com voz baixa e uma ou duas lágrimas no rosto, a forma como a havia traído fora terrível demais para ela. Ela havia batido nele, e a face esquerda daquele que ela acreditava amar ficou manchada de sangue. Ele não revidara, apenas fora embora. Ao sair gritara que nunca mais queria voltar a vê-la. Saiu, desajeitado, de sua casa e de sua vida, tropeçando em seus sonhos, que um dia ela acreditara serem também os dele, ao sair.

Ele pensou em pegar o telefone e ligar. Pedir desculpas, dizer como se sentia, dizer qualquer coisa que pudesse fazer tudo mudar. Marcelo tentava ser homem, mas neste momento era apenas um menino assustado chorando frente ao vaso que quebrou. Naquele vaso, naquele pequeno recipiente, estivera contida antes a vida pequena e boa, pelúcida, que ele vivia. O telefone escorrega entre seus dedos. Ele não é capaz de acreditar que ela o perdoaria. Ele mesmo não é capaz de se perdoar, por que então ela o faria?

Ah, se ao menos ele ligasse. Ela poderia perdoá-lo. Ele apenas precisava dar uma boa desculpa. Qualquer coisa que ela pudesse tentar acreditar apenas para tê-lo de novo a seu lado. Acreditava que não viveria sem ele. Carla não sabia mais o que pensar ou esperar...

Marcelo ouve o tom de chamada do telefone que parece ecoar por todo seu quarto silencioso, por todo o seu mundo. Ligara para Felipe, o único que o entenderia agora. O telefone toca sete, oito, nove vezes e então começa a gravação da caixa de mensagens. Marcelo joga o telefone por sobre o ombro e este pousa pesadamente sobre o sofá azul. Começa a chorar, pois não há mais nada que possa fazer. Depois de tudo que aconteceu ele não consegue acreditar que há retorno, ou qualquer caminho, para a sua vida.

Carla ouve seu telefone tocando e fica paralisada. Não consegue se mexer, nem sequer respirar. Consegue atendê-lo com esforço, dizendo um alô com a voz trêmula. Do outro lado da linha uma de suas colegas de faculdade abaixa o som do carro e pergunta se ela quer sair. Carla volta a chorar ao ver que sua esperança de ouvir a voz de Marcelo do outro lado da linha era estúpida. Explica, com poucas palavras, que não quer sair pois não está legal e desliga o telefone enquanto a voz do outro lado tentava dizer algo sobre não ser bom ela ficar em casa sozinha então...

Marcelo calça o primeiro par de sapatos que vê pela frente. Ele precisa sair. Desce as escadas de seu prédio de cabeça baixa, olhos vermelhos de chorar, e corre da portaria até seu carro. Liga o motor e sai pela cidade. Segue o eixo* quase inteiro antes de sequer pensar para onde pode estar indo. Marcelo não consegue pensar. Estaciona o carro em um canto da calçada e sai andando pelos blocos da quadra. Sua cabeça é pura confusão. Estava na quadra de Carla e não sabia o que faria então.

Carla perde o controle. Varre de sobre sua estante os livros, os porta-retratos, o incensário de latão, os pequenos enfeites de cristal... Não consegue sequer ouvir o barulho das coisas se espatifando na parede e então no chão, algumas delas se quebrando com o impacto. Bate com força, com o punho fechado (como fizera mais cedo com o rosto de Marcelo) contra o espelho que ocupa uma parede inteira de seu quarto. O espelho se espedaça ruidoso e seus cacos se juntam aos cacos do porta retrato que estava no chão. Entre os cacos, na foto, Marcelo e Carla sorriam.

Marcelo acende o último cigarro do maço e dá uma tragada profunda enquanto caminha com passos rápidos. Não sabe por quê ou para onde, não tem plano algum, apenas segue o caminho que já seguira tantas vezes, rumo ao prédio de Carla.

A porta se abre e por trás de Carla surge, de olhos arregalados, sua mãe. Ela diz alguma coisa, mas Carla consegue apenas fitar a própria mão. Um caco de vidro alojara-se entre seu dedo médio e seu dedo anular e o sangue escorria pela palma de sua mão aberta. Duas pequenas gotas de sangue manchavam a prata do anel em seu dedo anular. Carla arranca o anel de seu dedo e o joga pela janela com um grito que poderia ser de dor ou desespero, pouco antes que sua mãe a segure ou abrace, gritando também, tentando entender o que acontecia.

O anel voa pela janela, girando, girando, girando no ar. Acelera sua queda inexorável em direção à terra e pousa quase sem ruído sobre uma pilha de folhas varrida horas antes pelo porteiro. Alheio aos fatos e a seu próprio significado, o anel apenas fica lá.

Marcelo pára, a poucos passos do pilotis do prédio de Carla, e fica olhando para o chão. Um tremor que começa na base de sua coluna toma conta de seu corpo e sua garganta nunca esteve tão apertada. Lá dentro, em algum lugar entre sua cabeça e seu estômago, talvez seu coração, algo parece estar gritando para sair. Marcelo olha para o anel por um instante enquanto o mundo parece parar. Então Marcelo grita, colocando o tempo de volta nos trilhos.

Nada que a mãe de Carla faça parece acalmar a filha, que chora desesperada. Seu pai a quer levar para o hospital para dar pontos na mão, seu irmão mais novo fica na porta de seu quarto com os olhos arregalados como bolas de gude azuis. Carla alterna gritos desarticulados com um choro soluçante. Seu pai grita com ela, tentando acalmá-la, e por fim ela se cala. Então ele começa a falar, quase gritando e com a face vermelha, o quanto aquela situação é absurda, e que não toleraria mais aquilo tudo, que ela não podia perder o controle assim por causa de um derrotado que não a respeitava... Ele continuara a falar mas Carla não escutava mais. Por cima dos soluços da mãe e dos gritos do pai, além do limite de qualquer audição, ela conseguira ouvir os gritos que vinham lá de baixo.

- "Carla, eu te amo!"

O que se seguiu não interessa. De alguma forma tudo se resolveu, embora o os pais de Carla nunca mais tenham olhado para Marcelo sem um olhar de mera tolerância muda. O anel amassou na queda e nunca mais coube confortávelmente no dedo de Carla. O corte na mão, ao lado do anel amassado, deixou uma cicatriz quase imperceptível. Mas quem segurasse a mão de Carla para admirar o anel certamente veria a cicatriz. O rádio do carro de Marcelo foi roubado naquela noite, pois este havia se esquecido de trancá-lo ao sair sem rumo por entre os prédios. O resto ainda era amor, ou assim eles acreditavam, e assim estava bom.

Este é apenas mais um dia de uma história de amor em Brasília. Como toda história de amor, é ridícula, exagerada, um pouco insana. Nada de se estranhar, de fato. Acontece todo dia por aí, embora sejam sempre alguns dos dias mais importantes da vida dos envolvidos, ou assim eles acreditam. É tudo muito confuso quando se é jovem, e o amor é mais do que nunca prata em meio ao entulho nestes anos. Como o anel de prata em meio ao entulho, como a urgência da busca pelo outro que trespassa o momento, a vida e a confusão. É apenas uma história de amor, mas só quem tem coragem de viver coisas assim é capaz de escrever sobre ela sem hipocrisia ou vergonha.

Nada, nunca mais, é o mesmo depois que você vive a sua vida.


* para os não brasilienses: o "eixo" é o nome que damos à pista que cruza Brasília de asa a asa, sendo a principal pista a ir de um lugar a outro do plano piloto.



p.s. alguém sugere ou envia imagens para ilustrar este conto?