"Por que acredito em fadas (e em toda a corte sutil)?
Certa vez alguém disse que "a religião de um homem é a risada de outro". Uma frasezinha sacana abocanha uma boa parte da verdade (se é que há UMA verdade a ser abocanhada). O fato é que algumas pessoas, por seus motivos, ou por motivos dos outros, acreditam em certaz coisas. As pessoas tem seus deuses, seus espíritos protetores, seus rituais e mandingas. Algumas pessoas acreditam no trabalho, outras acreditam no governo, ou na sabedoria da natureza. Algumas acreditam que não acreditam em nada. Crenças são algo mutável, (geralmente) muito pessoal e que (muitas vezes) tem uma função central na estruturação da psique da pessoa.
Pense nos mitos ou nas crenças como um esqueleto da sua percepção do mundo. Por mais que o universo flua, aquelas estruturas se mantém firmes (ou então caem) e permitem que você construa uma imagem daquilo que está experienciando. Estas estruturas, estes "pilares", ajudam a definir e estruturar a maneira como vc percebe o mundo. Que desastroso então é para uma pessoa que crê em coisas destrutivas e tristes.
Não creio no deus cristão vingativo, mandão, excessivamente masculino e ao mesmo tempo dessexualizado. Não creio nem me interesso pelas religiões de separam certo de errado, luz de sombras, nós e eles. Não tenho por que crer na divinidade do trabalho (um mito capitalista e patriarcal) nem na primazia do dinheiro (apenas mais uma de nossas ilusões, já que é uma forma transitória de representar valores ainda mais transitórios). Estas crenças tão comuns são para mim apenas piadas. Eu me esforço (ou não) para respeitar aqueles que a elas se apegam...
Desde pequeno fui presenteado (pela Deusa, pela vida, ou por quem quer que VOCÊ queira acreditar que me presenteou) com uma percepção ao mesmo tempo refinada e bizarra do mundo. Os meus olhos viam coisas que outros por vezes não viam, ou não distiguiam. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que isso fez com que eu crescesse vendo o mundo de uma forma bem particular. Eu via as conexões simbólicas entre as coisas, e a abstração que existe por trás da aparência concreta das coisas que vemos. Eu percebia que no fim das contas a existência, e o universo, são apenas experiência. E experiência, meus amigos, é algo bruto que é significado de uma forma ou de outra por quem o significou.
Não foi uma decisão, tanto quanto foi um instinto, significar o mundo da forma que o fiz. A certas coisas que via, chamei de fadas, duendes, espiritos naturais. E quanto mais estudei a respeito, mas sentido minha "interpretação" fez para mim. Ás malhas simbólicas do universo preguei as tintas verdes, laranjas, púrpuras e brancas, e negras, do mundo feérico. Desta forma o mundo ficou bonito e eu gostei do que via. Até mesmo a monstruosidade tem seu lugar aos olhos do povo sutil. E assim também tem aos meus. Assim meu mundo fez sentido, e eu gostei do sentido que ele fez.
Por vezes, vezes demais talvez, a vida nesta sociedade e cultura desgastaram as cores e a malha de meu teatro mental. Agora mesmo parei frente ao espelho da reflexão e me percebi desbotado. O duende estava desbotando debaixo das interpéries desta cultura patética (não que algum de nós seja menos patético do que ela, mas ao menos alguns são mais interessantes...). E foi então que algo dentro de mim gritou:
- Ei, chamem de volta o Duende!!!!
Eu ainda estou descobrindo o que isso quer dizer. Eu ainda estou descobrindo o que quer dizer este reencontro. O importante é o movimento e a experiência...
Talvez estas palavras façam sentido para alguns, e soem como maluquice para outros. Não me importa tanto saber o que pensam tanto quanto me importa saber quem pensa o que. Só quero saber quem vive do meu lado do arco íris e quem vive do outro lado. Não dá para se ter tudo.
Meu nome é Daniel Duende, e eu sou um cara legal (ou então um pobre coitado escorregando devagarzinho para um surto psicótico, you choose).
Escolham a sua companhia com cuidado. Quem andar comigo, andará e conversará com um duende...
Só me interessa a companhia de quem anda comigo.
É isso."
(extraído, sem adaptações, de meu fotolog)
eu quis dizer o que eu quis dizer.
o que você entender vai dizer muito mais sobre você do que sobre mim.
Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.
Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.
Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.
segunda-feira, 7 de março de 2005
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