Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 25 de março de 2005

Em busca de um rosto
Pensamentos de alguém que procura por si mesmo...

Por vezes percebo que o que sinto falta é de mim mesmo.
Um sonho ou um vislumbre, ou um objeto qualquer,
me remete ao passado onde tantos fiapos de minha alma
ficaram presos entre os momentos bons e ruins.
um amanhecer de primeiro de janeiro, um entardecer cansado
depois de um dia de trabalho, o mar estranho e familiar...
estranhos que viram familiares, familias, e tornam-se
novamente estranhos. somos todos estranhos
para nós mesmos e para os outros.
Só queremos nos encontrar, mesmo que não saibamos.

Entro no meu quarto em silêncio, com o livro na mão.
Vejo a aranha no escuro. Ela é pouco mais do que um borrão.
Minha mente fala demais. Demoro para conseguir alcançá-la.
Mato-a sem pensar no assunto e depois me sento.
Tento ler o livro, e consigo.
Zen e a arte da manutenção de motocicletas,
para corpos e almas que querem se consertar.
Daqui há meia hora um amigo meu vem aqui
para cortar meus cabelos.
O tempo até lá é meu. Eu o uso com tranquilidade
enquanto a tarde passa.
Sinto falta de mim mesmo.
Talvez seja por isso que queira cortar o cabelo.
Quero tentar, mesmo que por tentativa e erro,
reconhecer meu rosto no espelho.

Nesta vida sonhei tanto, e consegui tanto,
sem muitas vezes saber o valor,
que no fundo acho que só o que me faltou
durante todo o tempo
fui eu mesmo.


Espero de coração que o passado esteja feliz hoje.
Porque eu, hoje, só posso tentar me fazer presente.

Há tanto de mim que ainda está perdido atrás das montanhas...

E assim passam os meus trinta minutos.

Anseio por meu novo rosto no espelho.
E é isso.
.
.
.
.
.


"I act the role in classic style
of a martyr carved with twisted smile
To bleed the lyric for this song
to write the rites to right my wrongs
An epitaph to a broken dream
to exorcise this silent scream
A scream that's borne from sorrow"

(script for a jester's tear - marillion)

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