Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 31 de março de 2005

O amor que lhes cabia
um pedaço de conto, ou um conto despedaçado, de Daniel Duende.

Ele não queria mais do quanto o cabia querer. Do quanto não o cabia, ele queria. Queria até não mais caber em si de tanto querer e sabia, no fundo, que querido era também. Mas naquele quarto feito árido com o fim da noite ele sabia, realista, que querer não mais adiantava. Não havia agora caminho se não entender o que era e não pensar no que poderia ter sido... ou no que poderia ser.

Por trás da porta fechada o mundo gemia ao dormir. Por trás da porta fechada dormiam as lembranças e o querer que agora não cabia. Restava agora aprender a viver com o tanto que tinha. Viver com aquilo que o cabia viver. No fundo sabia que era melhor não esperar nada quando a esperança fazia doer.

No fundo ele sabia do eco de seu querer, mas sobre isso ele calava, solidário. Dizia a si mesmo, sem voz, "vamos ver" e então apagava a luz para ir sonhar. Em seu sonho tudo se parecia, mas nele ela queria querer, e o amor se fazia. Existem na vida coisas que estão além do saber, coisas que são mesmo sem o ser lhes dar onde caber. Isso eles sabiam...



é.

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