Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 16 de março de 2005

Criatura da noite
ou "Ainda não aprendi a dormir"

"You'd better keep it in check
Or you'll end up a wreck
And you'll never wake up"

Placebo - Narcoleptic

Toda criança luta um pouco contra o sono. Uma soma de vontade de continuar fazendo o que quer que seja de divertido que está fazendo quando chega a "hora de dormir', ou a vontade de evitar o dia seguinte, com escola, deveres, coisas chatas. Toda criança em algum momento luta contra o sono.

Então a criança cresce e de repente não há mais quem mande ela dormir. Na adolescência é comum e gostoso ficar acordado até tarde. Seja nos finais de semana, seja durante a semana, invadir a noite, trespassá-la até o glorioso amanhecer tem a sua mágica (exceto quando vc é forçado a fazer isso estudando para uma prova...).

E então o tempo passa, e as pessoas normais vão se acostumando a dormir cedo. É assim que acontece não é? Bem, talvez eu não seja uma pessoa normal então (por este e por tantos outros motivos). Não consigo, não sei e não aprendi a gostar de dormir cedo. As horas silenciosas e frescas da noite me parecem por vezes tão mais agradáveis para tudo. São melhores para conversar, para ler, para escrever... ou mesmo para fazer nada. A escuridão lá fora, o silêncio, a chance de estar consigo mesmo sem interrupções por um tempo agradávelmente determinado pelo amanhecer. É tudo muito perfeito na madrugada.

Isto se torna um problema quando vc tem que acordar no dia seguinte e fazer algo. Não apenas para os que trabalham cedo (algo que já aboli da minha vida, e pago preço com um sorriso no rosto), mas para os que tem QUALQUER tipo de compromisso no dia seguinte, este hábito, gosto ou vício cobra uma taxa muito cara. Passo dias andando por aí como zumbi. A luz do sol me incomoda. Sinto-me lento e incomodado com quase tudo, mal humorado, cansado e até um pouco deprimido durante o dia. Ando por aí com a sensação de que sou apenas meio eu.

Quando finalmente caio de exaustão e durmo cedo (e longamente) por uma ou duas noites sinto-me tão bem, tão feliz, tão criativo e inspirado que não posso perder a chance... Varo uma ou duas noites quase inteiras escrevendo, fazendo qualquer uma das milhares de coisas criativas e divertidas que gosto de fazer, ou simplesmente fico andando pela casa andando e estando comigo. E aí recomeça o processo...

Sim, eu sei que é patético, mas é real. Sou patológicamente uma criatura da noite, um adulto que não aprendeu a dormir. Meu problema não é insônia ou ansiedade. O meu problema, ou não, é apenas qeu gosto demais de estar comigo mesmo, à noite, fazendo minhas coisas.

É ridiculo, compreensível e talvez até fascinante.
Como o ser humano costuma ser.


Estava só afim de confessar isso. :)

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