Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Depois da perseguição ao CS e ao EverQuest, agora tem juiz mineiro querendo proibir o Vampire: the Masquerade e o Illuminati

Continuo blogando via "email-blogging", mas parece que a coisa está funcionando (segundo o meu feed do FeedBurner)

O Hamithat deu a dica em um comentário, e eu fui, mesmo com o sono, dar uma olhada no que se tratava. E não é que tem mesmo alguém na Procuradoria da República de Minas Gerais tentando proibir os RPG's "Demonio: A Divina Comédia", "Vampire: the Masquerade" e "Illuminati" no Brasil? Pelo visto a ignorância, tacanhice e falta de assunto de alguns de nossos juristas começa a ultrapassar os limites do absurdo. E para variar as vítimas da bobagem jurídica são inocentes, enquanto os verdadeiros criminosos (com ou sem colarinho branco ou de qualquer cor) continuam a rir do rosto cego da Justiça por aí. Até parece coisa de cenário de RPG, só que não tem graça.

Abaixo, algumas partes da "pérola jurídica" exposta no site com o nome de ACP - Retirada dos jogos RPG Demônio - A Divina Comédia, Illuminati e Vampiro - A Máscara.

"Esse é justamente o cerne da presente ação: convenceu-se o
Ministério Público Federal, a partir de procedimento administrativo cível
instaurado no âmbito desta Procuradoria da República em Minas Gerais1, que
estão sendo comercializados e distribuídos jogos de RPG (Roleplaying Game)
que atentam contra toda a orientação legal de proteção e defesa da criança e
adolescente na formação de sua personalidade. Vários destes jogos incitam
a violência, disseminam o prazer pelo satanismo, por perturbações
mentais, imperfeições físicas, pela morte etc.
Na totalidade dos casos, o
Poder Público permanece inerte a tais fatos. Estes jogos assassinos não
repercutem direta e imediatamente sobre a pessoa. Atingem sua estrutura
psicológica, sua formação mental, distorcendo os valores socialmente
exaltados, e vangloriando os socialmente repugnáveis, tidos pelo
ordenamento jurídico como ofensivos.
"

" Caso uma propaganda fosse reproduzida propugnando pela
disseminação racial, fatalmente seria ela imediatamente retirada de mercado
e seus autores punidos. Estas modalidades de RPG estão a passar
mensagens tão lesivas à sociedade quanto o exemplo acima, vindo a
repercutir diretamente no comportamento de certos indivíduos e grupos
sociais, incitando e reforçando atitudes agressivas, sem que disto o Estado se
aperceba.
De tal sorte que, tais jogos virtuais estão sendo utilizados como
instrumentos nocivos à educação de crianças e adolescentes.
6. Necessária é a retirada desses jogos violentos do mercado,
compelindo o Poder Público a efetuar uma fiscalização sobre os mesmos e
velar plenamente pela educação e proteção de crianças e adolescentes."

7. O jogo VAMPIRO – A MÁSCARA (sangue, poder,
perturbações mentais, louvor a defeitos físicos, armas, drogas,
vícios, rituais diabólicos, disputas físicas, morte etc. – expressões
retiradas do próprio manual –), cuja proibição se requer em sede
de liminar nesta ação, tem sido apontado como a causa de
homicídio hediondo recentemente ocorrido na histórica cidade
mineira de Ouro Preto
, amplamente noticiado pela imprensa e de
larga comoção social, pelos requintes de crueldade. Na madrugada
do dia 14 de outubro do corrente ano, teria o principal suspeito do
crime, interpretando um personagem do jogo, denominado "Anjo da
Morte", apunhalado a vítima com 15 (quinze) facadas, após o que a
colocou com os braços abertos e um pé sobre o outro, como se tivesse
sido crucificada. Ainda, pintou todo o seu corpo com o próprio sangue.
O cadáver foi encontrado no cemitério localizado nos fundos da Igreja
Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia. Teria sido a vítima
assassinada após a ficção, proposta pelo jogo, transformar-se em
repelente realidade.
Os fragmentos dos depoimentos extraídos do
inquérito policial instaurado pela autoridade policial de Ouro Preto, na
oportunidade juntados (doc. 5), a fim de apurar a autoria do delito,
claramente demonstram a estreita ligação do famigerado jogo com o
crime e sua funesta influência sobre a mente..."

E a besteirada não tem fim. Vale a pena ir lá ler a peça inteira (em PDF). Mais horrível do que qualquer RPG de terror e mais paranóica do que qualquer aventura de Illuminati é a sanha do autor desta peça em perseguir os RPGs como a causa de quase todos os males do mundo, aproveitando para novamente taxar os RPGistas de assassinos psicóticos e adolescentes doentes.

É hora de mostramos novamente a nossa voz, e repudiar este ridiculo e injusto ato perpetrado pelo autor desta peça contra o nosso grupo. RPGistas não são assassinos, e suas diversões não os tornam violentos ou perturbados. O que perturba, lesa e mata é a ignorância. que parece ter ultrapassado as portas da rua e adentrado o gabinete de alguns juristas.

Amanhã, com mais tempo, vou repercutir a conversa nas comunidades do Orkut que defendem os RPGs, e dar uma sacada nas conversas blogosféricas sobre o assunto. Logo que der, trago mais informações também sobre a estapafúrdia proibição ao CS.

Agora eu vou dormir, enquanto não decidem que sonhar pode nos tornar assassinos violentos.
Sabe-se lá o que pode sair da cabeça dos juízes e da bunda dos bebês?

Nenhum comentário: