Fernanda Lizardo, jornalista e testemunha no caso do assassinato em Ouro Preto, dá sua versão do caso.
Como havia prometido no final do último post sobre o assunto, tentei entrar em contato com a Fernanda Lizardo para saber mais sobre as afirmações feitas por ela naquela comunidade do Orkut, as quais também reproduzi no referido post. Consegui entrar em contato com ela primeiro pelo Orkut e depois por email. Reproduzo abaixo (na íntegra) a resposta dada pela Fernanda às minhas perguntas sobre o crime e o que rolou depois de fato (e na mídia) a respeito da história.
2008/1/22 Fernanda Lizardo de Sousa <********@hotmail.com>:
Oi, Daniel
Confirmo, sim, todas as informações passadas no meu texto de 2005.
Quanto ao caso, ele está parado na Justiça e é bem provável que seja arquivado por falta de provas. Os últimos depoimentos de testemunhas aconteceram no final de 2006 (acho que foi isso mesmo; vou procurar a intimação que tenho em casa para checar a data certa). Eu fui uma delas. Inclusive, durante meu depoimento, o próprio juiz que me ouviu (aqui no RJ) disse que o inquérito não fazia sentido algum, pois dizia que "alguém morreu", mas em momento algum apontava diretamente "quem matou".
Há uma série de erros que a imprensa não divulga. Os acusados do crime, por exemplo, forneceram material para laudos de DNA, mas o Ministério Público nunca solicitou a exumação do corpo para fazer comparações. Não foi registrada nem mesmo a coleta de material sob as unhas da vítima, para encontrar fragmentos de possíveis provas (como pele do assassino, por exemplo).
Quando estava em Ouro Preto (morei lá na época em que o crime ocorreu), estive na delegacia várias vezes e tive acesso ao inquérito. Ele foi aberto pelo delegado Adauto Corrêa (já foi um verdadeiro espetáculo circense desde o início, cheio de apurações mal feitas. Como disse antes, até apreender livros de Nietzsche alegando serem obras de "magia negra" eles apreenderam.)
Na época acompanhei também a cobertura da imprensa e pude ver repórteres deturpando declarações sem o menor pudor.
Conheci várias pessoas que tiveram contato com Aline antes de sua morte (incluindo aí quem fez o reconhecimento do corpo).
A questão é que a polícia se deixou levar pela posição em que o corpo estava para supor que havia um "ritual satânico" por trás do caso. Como coincidiu também que parte das pessoas ligadas à vítima jogaram RPG na tarde anterior à morte da Aline, montou-se toda a palhaçada.
Quem viveu na cidade sabe como funcionam as coisas lá. E sabe que, por um punhado de maconha, as meninas fazem muita coisa (diz-se, inclusive, que "não existe mais puteiro em Ouro Preto porque não vale a pena pagar por algo que as estudantes fazem de graça"). Aline consumiu drogas durante todo o período em que esteve na festa. E estava sem dinheiro, tanto que ela nem tinha onde dormir e planejava ficar na rua, virando noites até o dia de ir embora (pelo teor de responsabilidade da decisão, não é surpresa que tenha trocado sexo por um baseado). Ela conseguiu hospedagem gratuita em uma república e, no dia em que morreu, preferiu deixar que a amiga e a prima que a acompanhavam fossem embora mais cedo, preferindo ficar sozinha nas festas. "Coincidentemente", a igreja onde ela foi morta é exatamente no caminho que levava à república onde ela dormiria. Ela já estava indo para casa quando foi abordada para "acertar a dívida".
Se você quer minha opinião sincera, acho que o caso não vai para frente. Mesmo porque, depois de tanto tempo, é quase impossível coletar provas técnicas relevantes que levem ao verdadeiro assassino – o próprio circo da polícia favoreceu a fuga. A pessoa que matou Aline sorri aliviada e agradece.
É provável que o caso seja arquivado e creio que dificilmente vá prejudicar o meio do RPG.
Abraço,
Fernanda.
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www.cooper.blig.com.br
Acredito que as afirmações da Fernanda não só mostram o falacioso circo promovido à volta do crime por parte da mídia e das autoridades locais (e a incompetência das mesmas em fazer justiça), como também sugere que há uma "agenda" por parte de alguns grupos que pretendem denegrir a imagem dos RPGs e dos RPGistas. Não foi desta vez novamente, meus caros.
A conversa sobre o tema nesta comunidade do Orkut também nos leva a crer que não será desta vez que os inimigos do RPG (e amigos dos holofotes midiáticos) vão levar a melhor. Não só a proposta de proibição não se sustenta em seus próprios argumentos falhos, como também seria necessária uma construção de caso muito mais responsável e polpuda antes que alguém pudesse intervir em nosso direito de jogar nosso bom e velho RPG.
Em suma, tudo se tratou de mais uma lamentável (e perversa) tentativa de associar um lamentável crime ao RPG, para com isso perseguir o jogo e seus praticantes. Por sorte a coisa deu com os burros n'água e as pessoas por trás desta jogada estão pagando o maior micão. De qualquer forma, se tiver mais notícias sobre a história, conto para vocês.
UPDATE:
O crime e a tentativa de proibição também são assunto neste blogue aqui, e na comunidade do Orkut sobre Changeling.
3 comentários:
É verdadeiramente ótimo ouvir uma confirmação de que repórteres manipulam a verdade aos seus favores. Já não era nenhum segredo para mim, porém ouvir de alguém de dentro é um alívio pra minha própria sanidade, de tão bem encobertos que essas pessoas estão.
Quanto à reportagem acho bom que você tenha procurado a verdade por trás das câmeras, isso traz a nós jogadores de rpg (e brasilienses no nosso caso), a confirmação da falta de cabimento de tais acusações.
Atc. Marcelo
Impressionante como não se chega a lugar nenhum nesse país.
O circo, que antes era um lugar de diversão, agora faz parte de nossa justiça (?) tão bem colocado pela Fernanda.
Pois é né, pessoal? Infelizmente não há nenhuma novidade aqui, mas pelo menos há algumas confirmações de que tudo não passou de um circo da mídia e de algumas autoridades mal intencionadas e ignorantes.
Abraços do Verde.
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