Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Pessoas San Francisco
dica do Marcelo Steps, o "grunge perverso de mesa de jantar*".

Uma das coisas que fascinam na cidade de San Francisco é ela estar localizada sobre a falha de San Andreas, que provoca pequenos abalos sísmicos de vez em quando e grandes terremotos de tempos em tempos. Você está muito faceiro caminhando pela cidade, e de uma hora para outra pode perder o chão, ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho. É pouco provável que vá acontecer justo quando você estiver lá, mas existe a possibilidade, e isso amedronta, mas, ao mesmo tempo excita, vai dizer que não? Assim também são as pessoas interessantes: TÊM FALHAS. Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade linda, limpa, onde tudo funciona e você quase morre de tédio. Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas. É fundamental que tenham sinais de expressão no rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize. Pessoas, como cidades, precisam ser limpas, mas, não ao ponto de não possuirem máculas. É preciso suar na hora do cansaço, é preciso ter um cheiro próprio, uma camiseta velha para dormir, um jeans quase transparente de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo, um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou. Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis. DE VEZ EM QUANDO, sem abusar muito da licença, devem ser INSENSATAS, ligeiramente PASSIONAIS, demonstrar um CERTO DESATINO, ir contra alguns prognósticos, COMETER ERROS de julgamento e pedir desculpas depois, PEDIR DESCULPAS SEMPRE, para poder ter crédito e errar outra vez. Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar, porém não devem nos deixar 100% seguros, nunca. Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar. Nunca deve-se deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, têm RACHADURAS INTERNAS, portanto podem surpreender.
Falhas. Agradeça as suas, que é o que HUMANIZA você, e nos FASCINA.
(texto postado por Marcelo Steps (um de meus 7 ícones estéticos grunge-rockerboy), da autoria de, se não me engano, Martha Medeiros, na comunidade Eu amo pessoas San Francisco do Orkut)

* a alcunha é uma piada interna. não tentem entender...


Achei o texto muito interessante...

Viva a nossa imperfeição, apesar dos terremotos, por causa da humanidade...

2 comentários:

Anônimo disse...

Só tem um detalhe: eu estive em Viena e garanto: tá cheio de cocô de cavalo pelas ruas. Imagina só o cheiro daquela cidade! Eles passam umas máquinas que soltam aguá pra amolecer o cocô de cavalo e têm um disco giratório embaixo para desgrudá-lo. Imagino que o objetivo é limpar, então deve ter algum sistema de sucção no centro. Porém, fica pior porque, além de molhada, a rua fica coberta por restos. Eu já mencionei o aroma?

Daniel Duende disse...

Essa eu não sabia!
E, provavelmente, a pessoa que escreveu o texto acima também não. É fácil imaginar as cidades de um jeito que elas não são, mas gostam de passar a imagem de ser, quando nunca se pisou nelas.

Confesso que não acho Viena mais interessante agora que descobrí que ela fede, mas seguramente ela me parece agora mais normal e humana.

De qualquer forma, cidade por cidade, eu gosto mesmo é de Brasília. :D

Abraços do Verde.