Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 7 de junho de 2005

o lugar do tesão
o adorável comentário da adorável Kélu me fez perceber o quanto eu estava cego ao poder da magia do glamour...

Conta a lenda que as fadas (chamada nas terras de Alriada de povo sutil, ou "weefolk") possuem o poder de enganar e ludibriar as pessoas. Sua natureza mágica e não completamente corpórea (daí o termo "sutil" - essencial, não totalmente manifesto) as permitia tecer ilusões sobre si mesmas e à sua volta, fazendo com que as coisas parecessem (e fossem sentidas) de uma forma diferente conforme sua vontade. A este poder era dado o nome de glamour.

As lendas em si não são escritas. Elas nascem da experiência e do sentimento de um grupo e se disseminam e perpetuam dentro deste porque fazem sentido. O tempo e as mudanças de pensamento mudam a forma de ver as lendas. Aquilo que para o homem vitoriano (época em que as lendas das fadas foram finalmente deitadas em papel) soava como uma enganação, uma ilusão, pode ter sido visto de outra forma em outros tempos.

Despindo a lógica de que existe uma verdade absoluta e de que tudo que difere desta é um equívoco ou simplesmente uma mentira e buscando uma experiência de existir mais próxima daquela de outros tempos, podemos entender como estas lendas eram "sentidas" e absorvidas no momento em que eram parte integrante da experiência de mundo das pessoas. Pensemos num mundo onde as coisas não são, simplesmente, isso ou aquilo. Um mundo onde a incerteza é regra e a experiência direta e pessoal do indivíduo, e a interpretação deste para ela, pauta a sua relação com o universo (um mundo que por sinal parece um bocado com o que nosso mundo atual pode ser, quando enxergamos através do glamour cinzento da ciência tradicional). Em um mundo como este o poder de fazer as coisas mudarem de aparência, e serem experienciadas, sentidas, de forma diferente não configura uma ilusão e sim um poder sutil de mudar a própria realizade. Em um mundo como este aqueles que moldam o sentir e o experienciar, moldam o mundo.

Eis outro enfoque no glamour. Não é uma mentira, um embuste declarado ou velado. O glamour é um poder sobre o momento. É uma ascendência sobre o sentir que pode moldar sua experiência, aliviar as dores causadas pelas rodas do mundo máquina e te levar à salutar e necessária experiência do mundo sensível e mágico. O glamour é uma das faces, e um dos atributos, da experiência transcendente de Maslow e da imprescindível (à sanidade) alteração da consciência do indivíduo comentada por Pierre Weil. Fugindo de autores e suas idéias, o glamour é em essência a matéria dos sonhos que cerca, e emana, dos artistas, das crianças de corpo e espírito, dos bons loucos e daqueles que caminham na borda.

O glamour é a magia sensível. Todo artista é um tecelão do glamour, e dá a ele forma e utilização como o aprouver. Sem o glamour, viramos autômatos.




Muito obrigado pela sacada, Kélu.
Vc é puro glamour, baby! :****

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