Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 5 de outubro de 2004

Algumas obviedades sobre blogs e duas menções interessantes da palavra Xemelê.
porque "nem tudo que é óbvio é facilmente perceptível"

Weblogs, ou blogs (como prefiro chamá-los), são uma das mais democráticas, diretas, livres, poderosas e versáteis ferramentas de comunicação de idéias e fatos. Democráticas pois qualquer pessoa com um computador, conhecimento das letras e acesso à internet pode ter um blog. Diretas pois não há intermediários entre você e seu leitor. Exatamente por serem diretos, são livres de censura ou limite, direcionados apenas pelo senso estético e ético de seu blogueiro. Estes três elementos, unidos à enorme versatilidade da linguagem visual e textual permitidos pelo formato blog, tornam esta mídia tão poderosa. Até aí, obviedades...

Há blogs de todos os tipos. Há aqueles que são meros diários de seus donos, outros são complexos centros de análises de notícias e diálogos sobre questões do interesse de seu redator (e, muito provavelmente, de seus leitores). Há os blogs de poetas e os blogs de engenheiros (e os blogs de engenheiros-poetas) e também há os blogs que são um pouco de tudo, com a maior variedade possível de públicos. Um blog pode ser tão genérico ou tão específico quanto se desejar que ele seja, ou tão coloquial ou formal quanto for o seu blogueiro. Ele pode inclusive ser todas as coisas, cada uma em um momento, conforme o momento de seu blogueiro muda. Obviedades ainda? A meu ver, sim...

Mais versátil e mais pessoal do que qualquer outra mídia (ou quase qualquer outra, se você incluir a expressão corporal) e ainda assim com um enorme alcance, seria fácil considerar os blogs como a 4a maravilha da internet (junto ao email, o www, o html... e precedendo o xemelê que vem aí juntando tudo). E de fato podem ser considerados uma maravilha, se você considerar que mesmo as maravilhas tem seus limites.

Por mais que se tente, por meio do design da interface ou da própria forma de escrever, o diálogo provido por um blog entre seu blogueiro e seus leitores é truncado e limitado. É muito menos dinâmico e prático do que um grupo de discussão neste quesito. A própria estrutura dos blogs, com posts sucessivos que vão se colocando um após outro e sendo arquivados, privilegia a comunicação dinâmica mas com o tempo começa a criar uma enorme pilha de material rico porém não indexado e difícil de consultar. Isso pode ser resolvido quando o blog funciona com o apoio de uma página onde se indexam seus destaques, formando uma espécie de dualidade estática-dinâmica que compensa os limites de cada uma das formas de publicação (um bom exemplo desta solução é o Ecologia Digital, escrito por meu irmão. Veja aqui e aqui). Por fim existe o problema da cultura: ainda estamos aprendendo a perceber que a informação obtida por uma pessoa qualquer pode ser mais confiável do que a obtida pela equipe de um jornal, ou a opinião emitida por um pretenso especialista em sua área. Para isso temos a reputação.

Na blogosfera (que, você deve saber ou ao menos imaginar, é um universo de blogs) assim como em muitas outras áreas da rede, a reputação é a moeda e o norte que guia todas as relações. Suas blogadas definem quem vai te ler e o que vão pensar a respeito das coisas que você fala. Na blogosfera, onde quase a maioria absoluta dos leitores são também blogueiros, não são 100 ou 20 acessos diários que interessam e sim quem são os seus leitores e o que pensam de você. Um blogueiro respeitado, com um grupo de leitores-blogueiros sempre ligado em suas palavras, tem um enorme poder de comunicação e formação de opinião. Suas melhores blogadas (e por vezes as não tão boas assim) são replicadas e discutidas nos blogs de seus leitores, cujos leitores podem vir a ler e discutir também aquilo que surgiu inicialmente de seus alegres dedos blogueiros... (é fácil saber quando começo a ficar cansado do que estou escrevendo, não é?).

Imaginemos então o que seria a interligação da dinâmica dos grupos de discussão com a personalização e a força das redes sociais digitais (como o Orkut e a Multiply), somando-se a simplicidade dos mecanismos de mensagens diretas assíncronos (emails) e síncronos (instant messengers em geral). Some a isso tudo os blogs, faça as conexões e interligações corretas, faça tudo funcionar em conjunto, crie uma interface realmente simples e completa (é claro que eu não iria esquecer da interface, né?)... sim-salabim... você está chegando perto do XEMELÊ.

Mas isso já é outro capítulo...

Se você leu o texto inteiro, você merece um doce. Pare o que está fazendo e vá comprar um! :)

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