Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sábado, 25 de setembro de 2004

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

Eu também sei. Em dias como estes eu sei bem a delícia, e eu sei onde o sapato aperta. Neste convívio, nesta nossa sociedade onde tantas coisas que podem ser absurdas são tomadas como óbvias, nesta cultura onde somos inadvertidamente escravos dos costumes, paga-se um preço caro por ser diferente. Me esforço para não soar, dizendo isso, como mais um revoltado questionando o modo de ser das pessoas. Me esforço, mas como muitos outros, este é um esforço vão. Desisto então de não ser, ou mesmo de ser, algo. Sou o que sou.

Há muitas coisas que, por hábito, desaprendemos a pensar. Nossos hábitos, estes sim, podem ser a morte de toda a naturalidade. Os hábitos do vestir, do relacionar-se, os hábitos de convivência... o hábito de viver segundo uma regra, um senso comum, sobre a qual você nunca foi consultado. Eu desisti de tentar entender como cheguei aqui, mas eu estou fora disso. Não vejo o mundo como muitas das pessoas que me cercam o faz. Não vejo várias obrigatoriedades, não entendo o trabalho massante e massacrante, não entendo as mentiras que dizemos por conveniência ou medo da verdade. Não entendo como podem algumas pessoas viverem da forma que se propôe, ou são propostas, a viver. Eu não tenho estes hábitos...

Tenho sim muitos hábitos, bons e maus, se existir tal coisa como coisas boas e más. Eu fumo mais de 20 cigarros por dia, dos fortes, e gosto deles... preciso deles, até, para me sentir bem às vezes. Não vou dizer que não minto ou que não me conformo, que não tomo os caminhos mais fáceis tantas vezes. Não vou dizer que sou o mais verdadeiro ou mais bondoso e mais correto dos seres. Eu não sou nada disso. Eu sou apenas... eu. O difícil, contudo, é lidar com os atritos que ser eu, como eu sou, causam entre eu e as pessoas.

Há tantas coisas que as pessoas não entendem. Tantas coisas que por serem apenas difernentes do que estão acostumadas a ver, a fazer, parecem incompreensíveis demais, erradas demais. Tantos de nós passaram tanto tempo enformados em um convívio que os agride as sensibilidades e os destrói a conexão com eles mesmos que se tornaram incapazes de perceber a naturalidade que há em uma pessoa ser ela mesma, com seus defeitos e qualidades e modos de ser. Por que falo o que falo? Por que me visto como me visto? Por que me interesso, ou não, pelo que me interesso? Não há respostas simples para perguntas sobre por que somos o que somos...

Quando não quero ir a uma festa simplesmente por seu código de vestimenta, não por não querer estar lá, mas por me recusar a tornar a ida a um lugar em uma coisa angustiante, será que isso é compreensível? Quando me recuso a mentir, ou então simplesmente me recuso a explicar as minhas ações, será isso tão estranho assim? Quando não quero fazer planos, apenas viver conforme me interessa a vida, apenas seguir o rumo que minha sensibilidade me indica, isso é assim tão estranho? Por que é que tornamos estranhos os impulsos naturais de um ser humano?
Eu apenas sou humano, e faço o que faço porque sou quem eu sou. Sinto como sinto, penso como penso. Eu apenas sou eu, e eu sei o que é isso.

Vivo de meu jeito, sendo quem eu sou, com ou sem a licença dos outros. Não dá para esperar pelo mundo, então eu vou indo...

Eu sou alguém, assim como você, que só quer viver, amar e ser amado. Realizar alguns sonhos, aprender...
Eu sou eu, diferente de você, que é, ou deveria ser, você.
E a gente se encontra por aí nos caminhos do que é ser humano...

Nenhum comentário: