Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

viciados na mamadeira...
A recente barulheira feita por alguns artistas brasileiros a respeito do desmame ao qual estão sendo - muito justamente, diga-se de passagem - submetidos inspirou uma série de discussões. Junte as peças do chororô de poeta infeliz de Ferreira Gullar com as críticas magoadas de velhos (e, como diria o chato do Caetano, caretas) medalhões do cinema brasileiro, e você poderá encontrar um padrão: são todos velhos beneficiados pelo formato de "balcão de empréstimos" assumido pelo Ministério da Cultura do Brasil em seus primeiros anos, gente que era sempre premiada e bancada pelo governo para fazer seus filmes e trabalhos, em detrimento do novo produtor e do pessoal que não enchia de saliva os moles colhões da classe política dominante. Quando esta "nata" da cultura sente que pode perder as regalias, em um muito justo movimento de redistribuição das verbas e democratização das regras do jogo, é claro que aprontam um escarcel... afinal de contas, a lógica brasileira é a lógica de Macunaíma: quem não chora, não mama...

como eu já escrevi em alguns outros lugares...

O Brasil era, e ainda é, uma pátria de mamadores e desmamados. Quando um dos filhotões acostumados com a mama governamental percebe que tem mais gente chegando para mamar, ou que a mama há de secar, sempre há um esperneio, uma birra, uma gritaria. Tem gente mal acostumada demais neste lugar... gente que não tem nada, e já cansou de acreditar, e gente que tem mais do que devia e não está disposto a partilhar.

Só quem não sabe o que está acontecendo pode levar a sério esta birra toda.

Eu, que já fui filho (quase) único, e que então tive irmãos mais novos dividindo o espaço, sei muito bem como é o sentimento de não ser mais o receptor de toda a atenção e recursos da casa...
Algum dia nossa elite cresce, ou então aprende na marra a partilhar o que é de todos...

Se faltar pulso firme no governo e consciência dos direitos por parte daqueles que merecem ter mais, os mimados vão continuar mimados e, pior ainda, grandes demais para serem desafiados.


E tenho dito...

(este é um comentário deixado por mim em uma grupo de discussão, que virou post com o estímulo malemolente do Ruiz-artista-é-o-K...)

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