Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Complexo de revolucionário velho não é desculpa para hipocrisia patológica, tio.
Post para quem está cansado de ver raposas velhas de nossa política atual dizendo por aí o quanto foram revolucionários quando tinham cabelos (e comiam suas colegas que hoje os detestam, como o tio Dirceu).

Eles tinham cabelos e ousadia. Ao menos era assim que eram descritos na história que me contaram. Mas como a história é contada pelo vencedor (e hoje os velhos algozes militares aguentam caladinhos a eventualmente merecida posição de bodes expiatórios históricos), tenho lá minhas dúvidas até a respeito da veracidade dos mitos revolucionários que glorificam alguns de nossos atuais políticos de centro-esquerda mezzo-muzzarella.

Lembro-me de um amigo bem posicionado (leia-se, de alto escalão) que fez um belo discurso sobre José Dirceu e sua coragem no passado. De fato a vida do cara daria um filme, com esse papo todo de operação plástica e vida dupla escondido no sertão, mas isso apenas adiciona charme ao personagem. Tráfico de influência e politicagem não são novidade, e de revolucionário o tio Dirceu não tem nem mais o topete. Agora, sem topete e sem pose, amargando a potencial cassação e martírio público, Dirceu deve estar se entregando às gloriosas memórias mais do que nunca. Você também teve a impressão de que aquela moça que o chamou de "prepotente" (ou coisa que o valha) parecia ter um certo histórico de estudo bíblico com o (anti)herói deste parágrafo?

E o Serra? (Ato falho engraçado, ao digitar este parágrafo digitei Maluf em vez de Serra. Será que a ironia de meu subconsciente é tão fina assim?)
Este então nem se fala (mais de seu passado revolucionário). Na companhia de seu amigo-sociólogo-presidente-boca-mole Fernandão teve uma boa chance de mostrar que sua eventual postura revolucionária tinha um tanto a ver com seu eventual topete. Confesso que eu não sei se os tinha, topete ou postura revolucionária, mas hoje fica bem claro que ele faz parte do time dos "tortos para a direita assumidos". Para não deixar que a gente se esqueça de sua índole nada revolucionária, Serra mandou (ou anuiu) que seus milicianos fossem arrancar os livreiros da frente do Espaço Unibanco (e arrancar destes seus livros, numa infeliz demonstração de truculência que me faz QUASE citar Farenheit 451). Estaria ele tentando imitar o revolucionário mais franquiado do mundo, o J. Christus, naquela coisa de expulsar os mercadores do templo? Muito bonito, senhor José "Burns" Serra...

E quanto aos outros tantos velhos revolucionários? Será que fotos antigas, histórico de prisões políticas, exílios e furunfadas secretas em aparelhos ao som de Geraldo Vandré fazem um bom político? Posso estar sendo inocente, mas minha mente de bicho mítico não consegue enxergar em quê a nossa direita (e mezzo-direita-mezzo-esquerda-mezzo-aliche) são melhores do que a velha esquerda. Do mesmo jeito que os Democratas nos EUA por vezes parecem Republicanos com ternos mais legais (já dizia Michael Moore), nossos novos velhos políticos não deixam nada a dever aos velhos. Temos até censura, controle de jornais e truculência miliciana...

Papai do céu, não deixe que eu fique com este papo de revolucionário velho quando eu crescer...

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