Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

sentidos ocultos por trás de "Marcha soldado"...

Estava pensando enquanto preparava meu café da manhã...

Será que há algum significado político oculto por trás daquela velha cantiga "marcha soldado / cabeça de papel. / se não marchar direito / vai preso pro quartel. / o quartel pegou fogo, / a polícia deu sinal: / acode acode acode / a bandeira nacional!"?

Não é um pensamento absurdo. Vejam bem: por quê o soldado tem a cabeça de papel? Será uma mera referência aos chapeuzinhos de soldado que usávamos quando crianças(!?) nos desfiles de sete de setembro? Ou será que há algum significado por trás disso, sobre a fragilidade ou falta de profundidade da cabeça dos milicianos? E essa história de "se não marchar direito, vai preso pro quartel"? Isso sempre me assustou na infância. Não será uma ameaça velada aludindo ao rigor dos militares? Por fim: o quartel pega fogo com o soldado (preso no verso anterior) dentro, e a polícia quer salvar só a bandeira nacional? E o pobre do "cabeça de papel" que "não marcha direito"? vira carvão?

Ou essa cantiga é assustadora, ou eu deveria dormir entre o jantar e o café da manhã em vez de ficar trabalhando a madrugada inteira... hahahahah

9 comentários:

Anônimo disse...

É tudo isso.
Quem foi que te disse que isso é música pra criança? E mais, quem disse pra cantar essas copisas antes de mergulhar madrugada a dentro trabalhando, até ver Elefantes Azuis andando pelas paredes?
Descance um pouco a cabeça entre um segundo e outro no tronco de alguma árvore mãe, e tente reiventar seus personagens e seus verbos, talvez ajude a realinhar a tua concentração que anda brincando de esconde-esconde com a tua razão.

Anônimo disse...

Essa musica foi escrita na época do regime militar no Brasil..

Anônimo disse...

Faz parte da programação para a obediência civil. Quem não seguir o sistema será punido. O papel é onde se escreve, e a cabeça do "soldado" é onde são escritas as instruções que o sistema quer.

Anônimo disse...

E o soldado? Morreu?
Que lástima

Vini disse...

Você tem toda a razão Fernando, estava cantando o cantico para meu filho e eis que me veio este pensamento.

Anônimo disse...

O soldado morre e nos "importamos" somente com a bandeira
Ignorando oque acontece em baixo de nossos olhos

Anônimo disse...

Neste momento a família Assis está fazendo uma enquete menos profunda... cantávamos errado... Maria deu sinal... kkkk... e agora?? Desestrutura-se toda a infância familiar... que já ñ é, aliás. Pura alegria, devo dizer, afinal estamos pesquisando numa manhã de segunda sobre quem deu sinal... com leveza... kkkkkkk

Jade e George disse...

Marcha Soldado Cabeça de Papel

Um canção infantil divulgada em diversas escolas pelo Brasil, que ainda me recordo a letra, diz o seguinte: "Marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito, vai preso no quartel. O quartel pegou fogo, a polícia deu sinal. Acode! Acode! Acode! A bandeira nacional".
Vamos analisar essa breve letra, com implicações político sociais, procurando nos ater ao cartáter "nacionalista" que é abordado.
No início da canção temos a figura do soldado, símbolo da "pátria" tupiniquim, que ostenta essa impáfia militarista que faz parte da história ditatorial de nossa famigerada República. O soldado é a figura do servil, pela própria posição hierárquica dentro da estruturação das Forças Armadas, sendo passivo de mando diante dos superiores.
O segundo ponto, após a analogia do soldado com o cidadão, que inclusive alimentou facismos no século XX e outros desdobramentos dos mesmos no século XXI, quiçá ditaduras "latino americanas". Agora, temos o "soldado cabeça de papel". Vejam, não se trata dos meninos imitando soldados com chapéu feito de jornal, não diz a letra "soldado com chapé de papel", mas com "cabeça de papel", é a cabeça desse sujeito subserviente que é vista como lauda, em branco, lockeanamente falando. Uma folha em branco, pronta para ser preenchida pelos "valores pattriotas".
Em seguida temos uma severa admoestação, "se não marchar direito vai preso no quartel", a questão de ordenamento e disciplina, demonstrando objetivamente o intuito, com as implicações em não seguir aquilo que foi determinado. Procurando excluir com essa repreensão, a crítica ou posturas que sejam contrárias ao "regime".
Segue a letra, "o quartel pegou fogo", nessa parte temos algo mais recôndito, podendo tanto se referir a fogo no sentido simbólico, como de uma rebelião, como no literário, em chamas consumindo o local. De qualquer forma, em ambos os sentidos temos a ideia de perigo ao quartel, que prefiro chamar de "nação".
A polícia vem dar o alarde de algo está errado, vejam que são as sentinelas soldadescas, prontos a "vigiar e punir", que irão manifestar o sinal. Serve a duplicidade de sentidos do fogo, na forma efêmera, a tentativa de conter a revolta, na forma literária, conter as chamas.
Por fim, a concretização máxima do "nacionalismo", "Acode! Acode! Acode! A bandeira nacional." Numa situação de incêncio ou revolta, vale resguardar o quartel ou nação, a integridade soldadesca é posta de lado em nome de interesses "maiores". Deve-se dar a vida em nome da bandeira, o símbolo prevalecer sobre o sujeito, tornando-o assujeitado. Pois a ideia de nação é posta como "globalizante", ela engole a massa e faz dessa, objeto de manobra em nome de "grandes objetivos".
Assim, desde pequenos ensinamos nossos filhos, a servir sem questionar, sempre com o medo da punição pairando, tendo como resultado causas distintas das suas, que são apontadas como medíocres, diante do Estado e sua doutrina servil, disciplinadora, cruel, que ao mesmo tempo vende sonhos, que nós compramos. O sonho, o ideal do herói, o soldado, aquele que se sacrifica pelo "bem maior", o "cordeiro", o falso "übermensch", que provocaria o asco profundo de Nietzsche.
Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 12/09/2011

Jade e George disse...

Marcha soldado, cabeça de papel! Quem não marchar direito, vai preso pro quartel.

Primeiro, a voz do comando humilha o soldado ao chamá-lo de “cabeça de papel”. (Bullying?) Em seguida, viola os princípios da legalidade e do devido processo legal ao determinar a prisão do soldado pelo simples fato de “não marchar direito”, ou seja, se não é crime “marchar errado” não pode também ser preso autoritariamente quem assim age. Além disso, mesmo que fosse crime, a Constituição garante a todos os acusados o direito à ampla defesa, contraditório e devido processo legal. (Art. 5º, LV, CF).


"Tão atual" rsrs