Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

o menino, o gravador e o duende quântico...
uma reflexão/ensaio/egotrip duendesca numa tarde de quarta feira.

Fumando um cigarro com o DP e sentindo os últimos resquícios do cheirinho da chuva tímida que deu as caras por aqui hoje de tarde, vejo um menino de uns 10 anos andando por entre os carros e chorando. Pele escura, roupas e rosto meio sujos, uma eloquência no chorar que é própria dos grandes fingidos e das pessoas que estão realmente tristes.

Várias pessoas vão até ele perguntar o que está acontecendo. A maioria delas vai embora indignada depois de um ou dois minutos de conversa, algumas saem rindo. Como não gostamos de cara feia, esperamos uma das pessoas sorridentes passarem por nós e perguntamos por que chorava o menino.

"Ele queria um gravador de 120 reais que o camelô está vendendo alí ao lado da banca..."

Insólito e patentemente real, pois estava alí. Eu e DP nos pusemos a matutar sobre o que a sociedade de consumo faz com as pessoas. No fundo, contudo, havia outras perguntas dentro de mim: "para que será que ele quer um gravador? será pelo encanto de possuir um aparelho eletrônico, ou por ter tido algum volátil sonho do que fazer com ele? será que este poderia ser o momento em que o rumo da vida dele faria uma curva em direção a um futuro como um grande jornalista de causas sociais, ou será apenas um menino mimado que irá quebrar ou largar o gravador em breve?".

Curiosamente cheguei à conclusão de que todas as alternativas podem estar corretas, e possivelmente corretas ao mesmo tempo. O ser humano é uma criatura de infinitas possibilidades contraditórias. O mais interessante é que eu senti que não tinha nada a ver com isso, apaguei meu cigarro e fui embora.

Deveria ter dado a ele um bloquinho de papel e um lápis, só para o caso de que ele eventualmente quisesse mesmo algum dia ser jornalista. "Temos que começar por baixo", eu diria a ele. Provavelmente ele me mostraria o dedo médio.

A vida é engraçada e absurda...

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