Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 28 de julho de 2005

O verdadeiro você
Porque o Luis Fernando Veríssimo também concorda que a condição natural do ser humano é o ridículo. Quisera eu risse disso hoje...

"Um homem só se conhece em duas situações:quando está sob a ameaça de uma arma
ou quando quer conquistar uma mulher.Há quem diga que existe um terceiro teste:
como um homem reage diante de um vitral da catedral de Chartres.Pode ter sido
um materialista incréu a vida toda,mas diante de um vitral da catedral de Chartres
se descobre um místico-ou não.Sei de céticos que,com certa luz do entardecer batendo
nos vitrais da catedral de Chartres,chegaram a levitar alguns centímetros,até
racionalizarem a situação e voltarem para o chão.Mas só nos conhecemos,mesmo,na
frente de uma arma ou atrás de uma mulher.
Você pode argumentar que ambas são situações de descontrole emocional.Errado:
o descontrole é o homem.O controle é o disfarce.
Você deve se julgar pelo seu comportamento quando enfrentou a possibilidade da
morte ou quando estava a fim da (o nome é hipotético) Gesileide.Aquela vez que
você se escondeu atrás de um poste para ver se ela chegava em casa com alguém.
Meia-noite e você atrás do poste,sob o olhar curioso de cachorros e porteiros,
fingindo que lia a lista do bicho no escuro.Aquele imbecil- e não esse cidadão
adulto,respeitável,razoável,comedido,talvez até com títulos- é você.Tudo o mais
é a capa do imbecil essencial.Tudo o mais é fingimento.Você nunca foi tão você
Quanto atrás daquele poste.
Pense em tudo o que você já fez pra conquistar uma mulher.
Os falsos encontros casuais,cuidadosamente arquitetados.Os falsos telefonemas
errados,só para ouvir a voz dela.("telefonei pra você?Onde eu estou com a
cabeça!")As bobagens que você disse,tentando impressioná-la.Pior,as bobagens
que você ensaiou em casa e disse como se tivesse pensado na hora.O que você lhe
escreveu,sem revisão ou autocrítica.Aquele ridículo era você.Os dias e dias que
você passou só pensando nela.O país desse jeito,e você só pensando nela.Sem dormir,
pensando nela.Tanta coisa pra fazer,e você escrevendo o nome dela sem parar.
Gesileide (digamos),Gesileide,Gesileide...E as mentiras?E a vez que você inventou
que era meio-primo do Julio Iglesias?
E o que você sofreu quando parecia que não ía dar certo?Como um adolescente.
Aquele adolescente era você.Isso que você é agora é o disfarce,é o imbecil essencial
em recesso provisório.Só o vexame é autêntico num homem."



Ridículos sim, mas mais humanos por isso...

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