Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 5 de julho de 2005

eu era uma metralhadora giratória juvenil
fumando cigarros na frente do MinC e lembrando do tempo em que eu achava ser um crítico musical...

"...o trânsito estava engarrafado de carros de papais e mamães que deixavam suas filhas para curtir um 'rock and roll muito pesado' (...) e então o Capotones capotou lindamente sobre o palco, como de costume. Tem quem goste e gosto não se discute. (...) o show do Bois de Gerião é sempre igual. Ou você gosta daquele show ou não, e se gosta pode confiar que vai ser sempre igualzinho, como em um DVD. Quando eles inventaram de tocar uma música que estava fora do tradicional setlist o público ficou parado, com olhares assustados. Não se brinca com as expectativas de um público desta forma. (...) as fotologgers substituiriam a imprensa se fotografassem algo além delas mesmas fingindo se divertir..."

Em 2003 não existia crítica musical séria em Brasília. Não que eu me lembre, pelo menos. A totalidade (ou a quase totalidade, para ser bonzinho) de quem escrevia sobre rock na cidade seca era amiga desta ou daquela banda, falava bem desta ou daquela banda, e parecia ignorar o resto da cena. Como dizia um excelente texto que li na época, cujo nome do autor eu não me lembro mais, "todo jornalista de música de brasília é, antes disso, um amigo profissional das bandas e, antes ainda disso, um músico frustrado e, antes de tudo mais, um sanguessuga que goza com o poder conseguido sobre as bandas cujos ovos são tão diretamente babados, mesmo por eles mesmos". Mais do que uma frase mais longa e cheia de vírgulas do que as que eu consigo parir, esta é uma frase cheia de verdade.

E foi então que, naqueles dias de aridez jornalística e profunda falta do que fazer por parte deste que vos escreve, eu comecei a escrever crítica musical. Mas eu tinha que ser diferente. Onde todo mundo adulava as bandas a troco de quase nada, eu fazia questão de metralhar todo mundo. Isso não me fez muito popular, e nem me conseguiu amigos, mas foi um bocado divertido. Ao menos eu tentei ser diferente. No fim das contas desisti. Percebi que jornalismo musical em Brasília não preza o fato (e algum jornalismo por aqui, ou em qualquer outro lugar, o preza?) e sim a criação de hypes absurdos a volta de bandas que por vezes são boas, mas não tanto, e por vezes tão ruins que não concebo que alguém possa realmente gostar delas.

Em tempo: até hoje o pessoal do Pulso não seguiu meu conselho de acabar com a banda e abrir uma malharia. Com camisas emo tão legais e uma vocalista tão ruim, talvez eles estejam mesmo no negócio errado.

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