Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

domingo, 21 de abril de 2002

Minhas cotidianas noites estranhas...

As mulheres reunidas na sala contam histórias. Algumas bem normais, outras muito estranhas. São impressionantes as histórias que Shamans podem contar em intervalos de ritual. Do pequeno stereo emana um Kirtang de Krishna Das, quase afogado pelas vozes ao mesmo tempo ruidosas e extremamente melodiosas das mulheres... Não, isto não é uma festa de hippies, e muito menos uma brincadeira qualquer. Esta é uma reunião, uma confraternização, um intervalo em um longo ritual. Me sinto quase um alien, um intruso.... uma mosca no jantar. Os pratos com os restos da feijoada que almocei e jantei estão sobre a pia. Uma das mulheres me olha com uma mistura de compaixão e reprovação doce.... uma postura muito didática. Me conta uma lenda (que ela jura ser verdadeira) sobre um tigre que assolava uma pequena cidade na Índia. Este tigre foi caçado por dias e dias, levando cada vez mais vítimas sem nunca ser capturado. Chamaram então o guru Ramanna Maharshi para resolver o problema com o tigre. Ramanna entrou na floresta, seguido de bravos caçadores. Encontrado o tigre, antes que os caçadores tivessem a oportunidade de se lançar sobre este, Ramanna pôs-se a conversar com o grande gato. Passou-lhe um grande esporro, e depois mandou que este o seguisse até sua casa. Lá o tigre teria virado vegetariano (!?) e desde então acompanhado Ramanna até o fim de seus dias (os do tigre, pq estes gurus vivem uns trocentos anos). Apos a passagem do tigre Ramanna começou, com a permissão do próprio tigre (ainda em vida, ao que parece) a meditar sobre a pele deste. E esta é a história da pele de tigre sobre a qual Ramanna Maharshi medita nas fotos. A mulher termina a história dizendo "veja como até mesmo os tigres conseguem se libertar da escravidão da carne". Ha ha ha ha ha.

Acho que ultimamente estou ficando sarcástico demais para me maravilhar com isso. E não estou muito feliz de estar assim. Sinto saudades dos tempos míticos de minha vida. Será que eles voltam?

De qualquer maneira, coisas assim acontecem frequentemente... estou cercado por figuras notáveis, eu sei... mas TÃO cercado que nem consigo mais me maravilhar. São coisas que acontecem quando se mora em uma comunidade shamânica.

Love, Transcendence, Freedom and Understanding for all the Shamans, Psychedelic Priests, Seekers and Weirdoes in my world.

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