Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Diploma de jornalista para quê, se ninguém aprende a ser jornalista na escola?

A Patrícia Köhler do blogue Cintaliga escreveu um post matador (e muito verdadeiro) sobre a realidade dos cursos de jornalismo e a inexplicável (e bem suspeita) necessidade de diploma para se exercer a profissão. Diploma para quê, se boa parte dos estudantes de jornalismo ou já nasceram para coisa (e seriam bons nela mesmo sem curso algum, como o são muitos blogueiros, entre os quais meu irmão) ou não vão levar jeito nenhum para o trampo de jornalista/comunicador nem depois de uma lavagem cerebral?

Segue um trecho do post da Patrícia (que eu encontrei por conta do Overfeeds):

"(...)Na verdade para ser jornalista é preciso ter senso crítico, ser analítico, ter MUITA disposição para enfrentar adversidades e problemas de toda ordem (imagina, alguém que tem preguiça/medo de pegar um ônibus num bairro mais distante do seu, de pedir informação, de apenas falar com um morador de rua tem mesmo capacidade – nem digo intelectualmente, mas principalmente estrutura emocional - para chegar a cargos altos, sejam eles em redações ou como correspondentes em lugares ou situações nem sempre aprazíveis?) e mais uma série de atributos que ou você nasce com eles ou espera a próxima encarnação e conta com a sorte.
Antes dos chatos de plantão me falarem "se reclama da universidade particular, por que não vai para uma pública?", como já fizeram anteriormente em conversas por aí, eu digo que já prestei na USP e não passei, e não tenho a menor vergonha disso, haja vista a relação canditado/vaga daquele curso. Não prestei Unesp ou mesmo univesidades fora do estado, e isso eu realmente lamento por não ter ao menos tentado.
Mas o problema, no meu entender, não reside apenas nisso. Há elite - e como há! – nas faculdades públicas, resta saber se eles agem como os alunos das particulares, com eventuais ataques de criança que se perdeu da mãe num supermercado, ou se lá eles resolvem agir de forma mais adulta e fazer valer os vários meses – às vezes mais de ano - de empenho nos cursinhos.
Mas eu JURO que queria saber o porquê do diploma para se exercer o jornalismo. JURO. Ninguém até hoje me deu respostas plausíveis. Quem sabe você, querido leitor, me convença?
Ninguém me ensinou a escrever na faculdade, muito menos a ler e ser criteriosa. Ninguém me imbuiu de coragem para ir a lugares sozinha com gravador e bloco de papel em punho. Ninguém fez recrudescer em mim a curiosidade, o interesse pela leitura, por ler artigos na Internet, em revistas, ler livros, por gostar de conhecer pessoas e suas vivências.
No dia em que um curso promover isso em um único aluno, talvez eu me renda.(...)"

Vai lá ler o post inteiro no blogue da Patrícia, pois ela parece saber muito bem do que está falando. Concordo com cada palavra do que ela disse. Não preciso, portanto, nem comentar mais nada sobre a questão da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão.

Por outro lado este texto me fez pensar nas consequências (talvez até mesmo benéficas, por um certo ponto) desta proibição. Se por um lado você tem que ter um diploma para ser considerado um "jornalista", não é necessário ter diploma algum para ser blogueiro. Pelo contrário da tendência controladora e centralizadora (e mandona) da industria midiática tradicional, as midias alternativas que são a base da blogosfera e do jornalismo cidadão não discriminam cor, classe, credo, formação ou opinião. A única prova de fogo do blogueiro é saber se comunicar, ter algo a dizer e saber dizê-lo, zelar pela qualidade de sua informação e apresentação e, sobretudo, saber conversar. Não é justamente uma boa parte do que um jornalista deveria ser? Pois então, meus amigos jornalistas com ou sem diploma: vamos blogar!

E que se dane esta lei sem sentido, ou os jornais e meios de comunicação que se prendem a ela e não reclamam. Tudo isso está ficando um bocado demodê. Proibições como estas são um sinal de um velho "modo de fazer" que está em decadência. O jornalismo cidadão está crescendo, e amadurecendo, para tomar seu lugar.
(e foi mais ou menos isso que eu disse lá no comentário que deixei no post da Patrícia)

Quem viver e blogar, verá.



Ah, você ainda não sabe o que é Overfeeds?
Então leia isso aqui, oras!

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