Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

a ilha do corvo

Navegando pela internet em busca de mais informações sobre corvos (os pássaros, e não sobre O Corvo de O'Barr nem sobre o corvo vicentino do Vasco da Gama) me deparei com informações sobre uma ilha chamada Ilha do Corvo.

Trata-se de uma ilha do Arquipélago de Açores, a menor delas, localizada bem próxima à Ilha das Flores e possuidora de algumas características que me chamaram muito a atenção. Antes de mais nada a ilha só tem um povoado, chamado Vila Nova do Corvo, onde o clima tem um jeitão bem tradicional, daqueles de lugar onde o tempo parou, mas tem um espaço ao ar livre para raves...

Outra coisa interessante são os lagos vulcânicos localizados no cânion produzido pelo vulcão (hoje extindo) que fez a ilha. O lugar é lindo.

A terceira referência, mais pessoal, é que a ilha se parece um bocado em sua geografia a uma das ilhas do arquipélago mítico de Á Tir Feu. Cheguei à conclusão que a pequena Ilha do Corvo é a ilha de Arcadas, que se desprendeu de Á Tir Feu e foi parar na costa africana. É sim, eu juro! :)


Não sou muito chegado em planejar "viagens de sonho", mas que me deu uma vontade doida de me mandar pra essa ilha e ficar por lá... ah se deu. Eu escreveria contos e fábulas sobre o mar e o folclore imaginário dos reinos de minha cabeça e nunca publicaria nada. Me casaria com uma mulher esquizofrênica chamada Giza e envelheceria feliz e curvado na varanda de minha casinha bagunçada e...

Bem... pensando bem, eu vou ficar por aqui mesmo.

Cada um tem o Tir Nan Og que merece :)

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro(a)s amigo(a)s,
Para despertar o apetite, como proposta de leitura para férias, permitam-me esta sugestão:
Folheim “O Cavaleiro da Ilha do Corvo” ( ed. Temas&Debates/Círculo de Leitores ) e “escandalizem-se” q.b. com dados pouco ou nada conhecidos –e outros escamoteados –
sobre as antigas navegações no Atlântico. Ou seja, os descobrimentos pré-Portugueses. Conceito estranho em 500 anos de História pátria.
Camões mandou calar a “musa antiga”. Agora é o momento para navegar “por ( alguns ) mares já antes navegados” .
D. Manuel I despachou os destroços da Estátua para os fundos do armazém que existia no Paço da Ribeira...
E assim se foi tecendo o Império com as malhas da meia-verdade. A nossa parte cumprimo-la bem; mas não apaguemos os méritos dos outros, os nossos “egrégios bisavós”.
Apreciem e divulguem esta “provocação”. Chocante ? A História é para se ir reescrevendo. Nunca foi um livro fechado
Cumprimentos,
Joaquim Fernandes
Universidade Fernando Pessoa


Quem descobriu os Açores, afinal?
O historiador Joaquim Fernandes, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, lançou o romance «O Cavaleiro da Ilha do Corvo», no qual defende, baseado em factos documentados, que a descoberta do arquipélago dos Açores ocorreu muito antes da chegada dos portugueses.

O professor universitário recorda como os navegadores portugueses que chegaram à pequena ilha do Corvo, nos Açores, em meados do século XV, encontraram ali uma intrigante estátua de pedra, representando um cavaleiro com traços característicos do norte de África.

A notícia, normalmente ignorada nos relatos oficiais, tem no entanto uma fonte histórica autorizada: Damião de Góis (1502-1574), o grande humanista português do Renascimento, que descreve, com algum detalhe, no capítulo IX da sua Crónica do Príncipe D. João, escrita em 1567, as circunstâncias em que o inesperado monumento - «antigualha mui notável», como lhe chama - foi achado no noroeste da pequena ilha, a que os mareantes chamavam «Ilha do Marco».

O cronista refere que a descoberta ocorreu no período a que classificou de «nossos dias», ou seja, no seu tempo de vida, provavelmente entre os finais do século XV e os inícios de XVI, no decurso do reinado de D. Manuel I e durante as primeiras tentativas de colonização da ilha do Corvo.

O monumento era «uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente.»

Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D'armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o Inverno passado, refere o cronista.

Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber, acrescenta.

A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.

As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.

Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes a encetar uma longa e exaustiva investigação bibliográfica e documental e a escrever O Cavaleiro da Ilha do Corvo.

No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma, apresenta um desenho com uma figura explícita ostentando uma legenda em latim onde se diz: Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules... Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados. Mais ainda: a historiografia árabe, do século X, por exemplo, faz referência a essas mesmas estátuas e à sua eventual função de marco dos limites navegáveis, o que credibiliza, por outra via, o testemunho de Damião de Góis. Demasiadas coincidências, pois, para um simples rumor ou lenda...