Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Orkut é a voz do povo?

Já cansou a discussão sobre o Orkut ser ou não a voz das classes mais populares, de fora de nosso clubinho fechado de elite blogueira, na internet. Cansou? Cansou a quem? A nós do clubinho (eu, que tenho certo nojo desse clubinho, também não posso ter o desbunde de dizer que não faço parte dele).

Deixando de lado as estatísticas do instituto "vozes do além" e correlatos, é fácil notar que boa parte da blogosfera brasileira é branca, de classe média, interessada em certos temas bem específicos da classe da qual fazem parte e, desconfio, também bem inclinada a repetir chavões ideológicos de gênero, classe e posição política que -- estes sim -- já deveriam ter nos cansado.

Enquanto isso o Orkut tem de tudo. É um lugar repleto de gente idiota mas com várias excessões preciosas, falando besteira cheia de propriedade ou simplesmente manifestando sua opinião, discutindo em pé de igualdade nos longos threads de discussão dos mais variados grupos -- ou ao menos daqueles que não foram criados só para se ter um grupo de imagem e nome engraçadinhos em seu perfil, e que não fomentam discussão nenhuma.

O Orkut é mais a nossa cara, queiram ou não, e falar mal dele é falar mal do espelho. Se se fala muita besteira por lá, é por que falamos mesmo muita besteira. Se boa parte das pessoas que se manifestam por lá dizem também apenas o lugar-comum, é por que é isso mesmo que boa parte de nós faz em qualquer discussão, quando sequer se digna a discutir. Se o Orkut é espaço de machismos, racismos, bairrismos, bobagens e futilidade, é porque este é o nosso retrato geral enquanto internautas, e não porque o Orkut é ruim. De um jeito ou de outro, bom ou ruim, é lá que boa parte de nossos internautas se encotram. Aderir ao supremo bairrismo de que algo dito no Orkut valha menos do que algo dito em um blogue me parece mais uma manifestação de nossa usual estupidez blogueira.

O que me admira é que mesmo sabendo de tudo isso há muito tempo, só hoje me toquei (e mesmo assim, apenas por inspiração de um email de um dos líderes do Global Voices -- portanto o chefe do meu chefe do meu chefe) que para buscar as vozes brasileiras que tem pouco alcance eu deveria olhar para o Orkut, e não para a nossa blogosfera. Não que ela não tenha muito a dizer, mas em termos de representatividade nas conversas o Orkut continua dando de dez a zero.

Estou escrevendo tudo isso em fluxo de consciência, só como uma forma de dizer que agora em diante vou me concentrar mais no Orkut quando escrever minhas matérias para o Global Voices. E vamos ver no que dá...

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