Pensamentos, notícias, comentários e nonsense do nosso mundo e do meu mundo.
Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.
Pessoalmente, achei ótimas as duas matérias. A tradução da matéria do José Murilo marca a estréia de nossa nova tradutora, Raquel Coelho. Seja bem vinda, Raquel. E parabéns pela excelente estréia.
Além disso, temos um artigo sobre a nova medida do governo Kuwaitiano que pretende deportar estrangeiros que reincidam em infrações de trânsito. Perder a carteira de motorista e o passaporte por conta do mesmo sinal vermelho é dose, não? Mas talvez eles tenham seus motivos.
As curtas do dia também estão muito interessante. Vá lá e confira.
Em tempo, a super Paulinha Góes, ainda em recuperação de alguns problemas de saúde causados por seu indiscutível amor ao trabalho (muito bem executado), está dando um show em sua volta ao Global Voices, e em seu novo blogue Lusosfera, onde ela coleta vozes da lusosfera e comenta o conteúdo do Global Voices Online e o conteúdo traduzido para o GVP.
... quem quer, ela leva, quem não quer, ela arrasta." (se não me engano, uma fala de Ana Terra em O Tempo e o Vento)
Meus planos de me mudar para um apartamento na Asa Norte com minha irmã, minha sobrinha, e com o DPadua acabaram desmoronando por uma série de imprevistos e impensados. Coisas da vida, como a impossibilidade das imobiliárias de reconhecer e respeitar os trabalhadores do novo mercado, a maluquice dos preços de aluguéis, e afins. Ficam agora os incêndios a apagar, coisas urgentes a resolver, e alguns aprendizados.
Nem sempre as coisas dão certo, mas sempre há algo de bom a se tirar de situações como estas. Em breve, talvez em alguns meses, vou acabar conseguindo alugar um apartamento e descer para a cidade. Espero que dê certo, então. Por hora, continuo sendo hóspede da casa da colina.
Ao menos a Fionna parece estar feliz com isso. Ela gosta daqui. Já eu, acho que gosto, mas gostaria muito mais de ter minha casa na cidade.
Mas é a vida. A gente faz o que pode, aprende, e segue em frente.
O garoto americano está muito puto, e diz que vai enfiar uma bala na cabeça do motherfucker do presidente se este não renunciar. Como disse o Cris, do e-esquina, "muito fofo".
Não é assim que se faz, garoto (ou quem sabe, seja), mas eu achei interessante de se ver. Interessante que um garoto de -- quantos? -- 9 ou 10 anos possa gravar em sua casa um vídeo ameaçando o presidente de seu país (ou será que não pode, e vai ter seu "sumiço" providenciado pela inteligência do governo?). Motivos, e gente querendo ver o grande terrorista morto, não faltam. Estes são tempos diferentes e estranhos, embora infelizmente muita coisa por aí ainda continue a mesma merda.
(O e-squina também informa que, se o FBI tirar o vídeo do ar, há um link alternativo para ele)
Preciso urgentemente arranjar um apartamento de 4 quartos, de preferência com dependências de empregada, na Asa Norte. Os 4 quartos não são por eu ser espaçoso, ou particularmente bagunceiro (o que, de fato, sou), mas porque pretendo dividir o apartamento com o DPadua e com minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha. Todos nós temos urgência para mudar logo, cada um por seus motivos, mas o caso de minha sobrinha parece ainda mais urgente do que o de todos nós...
Logo, se você está alugando, ou sabe de algum apartamento de 4 quartos na Asa Norte com aluguel até R$2.000,00 (cujo condomínio não seja uma agressão), não deixe de me dar um toque. Vou ficar enormemente grato!
"[...] No passado, os maiores grupos midiáticos do Brasil não foram sempre cuidadosos ao marcar este ou aquele suspeito como culpado de um crime. A polícia e as autoridades brasileiras foram frequentemente pressionadas a dar à mídia as informações e afirmações desejadas por esta para fazer com que indivíduos sob investigação parecessem culpados aos olhos do público mesmo antes da conclusão das investigações. Se, ao final das investigações oficiais, fosse revelado que o real culpado era outra pessoa, os mesmos jornais raramente se preocuparam em corrigir estes erros, rapidamente se voltando para o próximo gol da final do campeonato, para o próximo escândalo político ou morte terrível.
E o circo midiático e troca de acusações já começou no caso de Isabella Nardoni. Sejam culpados ou não do terrível crime, o pai e a madrasta de Isabella já foram condenados sob os holofotes televisivos e nas capas de jornais brasileiros, e um dos maiores colaboradores destas afirmações de culpa é o promotor público responsável pelo caso, Francisco Cembranelli, que já deu várias entrevistas sugerindo acreditar que as investigações irão estabelecer o casal como culpado do assassinato. [...]"
Já cansou a discussão sobre o Orkut ser ou não a voz das classes mais populares, de fora de nosso clubinho fechado de elite blogueira, na internet. Cansou? Cansou a quem? A nós do clubinho (eu, que tenho certo nojo desse clubinho, também não posso ter o desbunde de dizer que não faço parte dele).
Deixando de lado as estatísticas do instituto "vozes do além" e correlatos, é fácil notar que boa parte da blogosfera brasileira é branca, de classe média, interessada em certos temas bem específicos da classe da qual fazem parte e, desconfio, também bem inclinada a repetir chavões ideológicos de gênero, classe e posição política que -- estes sim -- já deveriam ter nos cansado.
Enquanto isso o Orkut tem de tudo. É um lugar repleto de gente idiota mas com várias excessões preciosas, falando besteira cheia de propriedade ou simplesmente manifestando sua opinião, discutindo em pé de igualdade nos longos threads de discussão dos mais variados grupos -- ou ao menos daqueles que não foram criados só para se ter um grupo de imagem e nome engraçadinhos em seu perfil, e que não fomentam discussão nenhuma.
O Orkut é mais a nossa cara, queiram ou não, e falar mal dele é falar mal do espelho. Se se fala muita besteira por lá, é por que falamos mesmo muita besteira. Se boa parte das pessoas que se manifestam por lá dizem também apenas o lugar-comum, é por que é isso mesmo que boa parte de nós faz em qualquer discussão, quando sequer se digna a discutir. Se o Orkut é espaço de machismos, racismos, bairrismos, bobagens e futilidade, é porque este é o nosso retrato geral enquanto internautas, e não porque o Orkut é ruim. De um jeito ou de outro, bom ou ruim, é lá que boa parte de nossos internautas se encotram. Aderir ao supremo bairrismo de que algo dito no Orkut valha menos do que algo dito em um blogue me parece mais uma manifestação de nossa usual estupidez blogueira.
O que me admira é que mesmo sabendo de tudo isso há muito tempo, só hoje me toquei (e mesmo assim, apenas por inspiração de um email de um dos líderes do Global Voices -- portanto o chefe do meu chefe do meu chefe) que para buscar as vozes brasileiras que tem pouco alcance eu deveria olhar para o Orkut, e não para a nossa blogosfera. Não que ela não tenha muito a dizer, mas em termos de representatividade nas conversas o Orkut continua dando de dez a zero.
Estou escrevendo tudo isso em fluxo de consciência, só como uma forma de dizer que agora em diante vou me concentrar mais no Orkut quando escrever minhas matérias para o Global Voices. E vamos ver no que dá...
Seguindo a dica do Inagaki no Twitter achei este blogue de gosto duvidoso sobre o antigo cinema nacional. É por filmes como este e este que fica difícil dizer que nosso cinema das décadas de 70 e 80 merecia algum respeito (meus amigos cineastas e estudiosos de cinema que me desculpem, ou me mostrem algo que preste). Ainda temos muito o que melhorar, mas só de ter saído daqueles tempos de pornochanchadas deprimentes, já foi um grande passo.
Em tempo, até a Claudette Joubert, viúva do falecido cineasta trash brasiliense Afonso Brazza, tá no meio da jogada? Onde foi parar o velho-tarado mundo do nosso cinema nacional?
P.S. apesar dos pesares, as ruínas do velho Cassino da Urca ainda me fascinaram por algum motivo. Será que até o porno-trash tem seu glamour?
Não sei qual é a do cara, e tenho uma tendência a desconfiar de qualquer pessoa que tenha sido presidente dos Estados Unidos. De fato, tenho que admitir, gosto tanto de Norte Americanos quanto gosto de Israelenses. Mas que está sendo divertido ver o quanto o povo de Israel anda incomodado com Carter, ahhh, isso não tem preço. :)
Em tempo, não resistí à tentação de deixar um comentário na matéria do Global Voices sobre o assunto, espinafrando o americano que ainda acredita que é o governo palestino, e não o seu, o responsável pela queda de suas preciosas duas torres...
Este artigo deu trabalho, e foi cercado de contratempos mesmo depois de pubblicado. É um alívio ter ele entregue à rede, e poder me desincumbir dele. Prometo que no próximo pego mais leve, e escolho um tema mais fácil...
"É bom lembrar que, só nos EUA, a igreja comandada pelo papa já teve que desembolsar mais de US$ 2 bilhões para cinco mil casos de abusos sexuais. Não há engano nos números, são cinco mil casos e dois bilhões de dólares mesmo, para livrar da cadeia padres pedófilos. Dinheiro de quem? Dos fiéis. Será que eles apóiam essa utilização de suas contribuições para a “Santa Madre Igreja”?
Mas o curioso é ver que o papa mudou a estratégia da igreja Católica, batendo de frente com a anterior, que sempre fora defendida por um certo cardeal Ratzinger – ninguém mais ninguém menos que o papa antes de ser consagrado.
Ratzinger (o papa Bento XVI, para quem ainda não caiu a ficha) acobertou durante vários anos os crimes dos padres pedófilos, ameaçando com excomunhão quem denunciasse os padres criminosos, brandindo um documento – chamado Crimen Sollicitationis - assinado por ele. O documento dizia que se você fosse molestado por um padre, poderia se queixar ao bispo, ao cardeal, ao papa, mas, se denunciasse o caso à Justiça, babau, seria excomungado."
E não somos só nós que temos "problemas em ver a verdadeira fé e acreditamos em mentiras dos inimigos do Papa" não. A BBC publicou matéria sobre o documento escrito por Bento XVI, quando ainda era um mero mortal chamado Ratzinger, condenando à excomunhão quem denunciasse os abusos sexuais eclesiásticos. Que beleza de sumo pontífice vocês arranjaram, hein?
Ainda na mesma matéria da BBC, podemos ler:
"A igreja católica tem cerca de 50 milhões de crianças em suas congregações.
No ano passado, vários casos de abusos vieram à tona nos Estados Unidos.
Segundo um relatório da igreja americana, ficou comprovado que em todo o país cerca de 4 mil padres foram acusados de abusos sexuais contra 10 mil jovens, na maioria meninos."
Alguém poderia me explicar como 10 mil jovens violentados em um mesmo país podem ser considerados "uns casos isolados"? 10 mil em um universo de 50 milhões é igual a 0,02% (ou uma em cada 5 mil) das crianças das congregações, todas elas violentadas só nos EUA. Imagine no resto do mundo.
O Antônio Mello também cola o vídeo de "Sexo, Crimes e Vaticano", um documentário muito interessante da BBC que fala sobre o tema da pedofilia e seu acobertamento na Igreja. Não surpreendentemente, tentaram também proibir o documentário no Brasil, mas mesmo assim ele foi exibido pela TV Record (pelo visto a briga evangélicos x católicos está começando a dar frutos positivos):
(clique aqui, ou dê play no vídeo acima, para assistir à primeira parte documentário "Sexo, Crimes e Vaticano")
Quanto tempo vai levar para que as pessoas entendam quão daninhas são estas instituições religiosas para o nosso mundo? Quanto tempo vão levar para abrir os olhos para a corja de criminosos que sempre dirigiu igrejas como a Católica desde o início dos tempos? (E quanto tempo vai levar para o primeiro carola iludido passar aqui me escomungando, ou dizendo que "eu não conheço a verdadeira fé", sem responder nem se importar com nenhuma das questões que estou levantando?)
O contato de um homem com seu Deus deveria ser livre e pessoal. Como sempre, os atravessadores são apenas um tipo socialmente aceitável de estelionatário. Gente da melhor qualidade, geralmente. Se você não quer ter nada a ver com seu Deus, ou Deuses, é uma escolha sua. Mas procurar mercadores de fé que roubam seu dinheiro, seu tempo, sua opinião e ainda violentam suas crianças (além de causar tantas mortes e destruição no passado) me parece no mínimo sem sentido.
Apesar de adoentado (sinto-me um zumbi arrastando os pés pela casa e me forçando a trabalhar só mais um pouco... só mais um pouco...) comecei bem o dia. Depois de fazer astraduções que ficaram faltando em minha agenda de ontem, quando não aguentei continuar trabalhando por conta da dor no corpo, me deparei com duas citações honrosas e bacanas ao Global Voices em Português.
A primeira é do Palanque do Blackão, em meio a um excelente post onde o blogueiro fala sobre a mídia política tradicional e alternativa brasileira, e faz uma análise do que não lê e do que lê, e por quê. Seus motivos para ler o GVP me deixaram para lá de orgulhoso:
"GLOBAL VOICES ONLINE: visual clean, manchetes curtas, resumo da matéria, cores específicas por continente, links para ler a matéria em outros idiomas e o expediente mais importante que um site de notícias deve ter nos dias atuais - parecer-se cada vez mais com um blog, dispondo as notícias mais recentes no topo da página (ordem cronológica reversa) e, acima de tudo, repletos de links para referências e espaço para COMENTÁRIOS. A audiência não é passiva: eles são críticos, são inquisidores, se não entenderam ou se estão sendo injustos, podem e devem ser corrigidos e o autor deve saber ser humilde, pedir desculpas quando estiver errado e citar sempre os blogueiros, leitores e comentadores que trouxerem novas informações confiáveis e checáveis."
Valeu mesmo pelas citações, gente. Estarei observando atentamente o blogue de vocês de agora em diante!
P.S. quem escreve o Palanque do Blackão é o Hélio Sassen Paz. Desculpe não ter citado seu nome antes, companheiro. Com o sono que eu estava, ficou dificil encontrá-lo em meio a posts tão polpudos.
"Uma mulher das Bahamas “que foi arrastada da casa em que vivia por policiais uniformizados que não a permitiram vestir qualquer roupa e que ficou detida em uma área pública de uma delegacia de Nassau por muitas horas neste estado antes de receber a permissão de se cobrir” foi considerada culpada das acusações de linguagem obscena, comportamento desordeiro e resistir à prisão: Womanish Words [Palavras Femininas, em inglês] chama isso de “um ultraje aos direitos humanos”."
Eu chamo isso de uma amostra clara, contundente e profundamente revoltante da estupidez masculina e do abuso de poder policial. Mas desconfio que vocês devem ter palavras ainda mais contundentes para falar a respeito.
Mas acima de todas as palavras, o que é que se pode fazer a respeito disso? Tem gente lutando contra estes absurdos, e contra outros mais encobertos mas não menos inaceitáveis. Queria poder ajudá-las, se de nenhuma outra forma, amplificando suas vozes.
Alguém me dá a dica de alguns blogues bacanas e respeitados sobre feminismo, direitos da mulher, lutas de gênero e assuntos correlatos?
O Overmundo, provavelmente o maior site colaborativo de Arte e Cultura Brasileira ou feita por brasileiros, está lançando agora uma newsletter mensal com o fim de promover mais ainda os conteúdos publicados por seus milhares de colaboradores espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Esta é a newsletter mensal do Overmundo, que reúne uma pequena amostra da produção cultural produzida e destacada no site colaborativo por gente de diversos estados. Ela é enviada a pessoas dedicadas à difusão de cultura de todo o Brasil.
O filme de Geert Wilders está causando um bocado de burburinho dentro e fora das blogosferas tanto dos EUA e Europa quanto do mundo Islãmico. Ao que parece, o filme trata de como o Quran, e portanto o Islamismo, exorta seus seguidores à violência contra os infiéis.
E agora, quem é que segue (ou se orgulha em dizer que segue) um livro sagrado que incita à violência? São só os muçulmanos? Conta outra, Geert.
Sobre o filme, que ainda não vi inteiro, tenho já alguma opinião formada mas prefiro não dizer nada antes de assistí-lo. Mas associar os versos quranicos à derrubada do World Trade Center, que bem sabemos ter sido obra de (a príncípio) cristãos americanos e não muçulmanos de algum outro lugar do mundo, logo no início do filme me parece uma amostra boa de que este pode ser realmente idiota.
Mas hey! Proibí-lo ou bloquear acesso a ele não é a forma certa de lidar com sua idiotice. Como dizem por aí, uma afirmação idiota merece uma resposta inteligente para desprová-la, e não um tiro de .45.
O líder pseudo-teocrata e santinho-do-pau-oco-profissional dos EUA, George W. Bush, parece estar bastante preocupado com o atraso na votação do Acordo de Livre Comércio norte-americano com a Colômbia. Tem motivos para estar. Afinal, sem este acordo ele tem menos a oferecer a Uribe e ao governo colombiano em troca do apoio incondicional e subserviente destes à agenda do Plano Colombia. Pois é, Sr. Bush. Querer dominar o mundo todo o tempo todo dá um puta trabalho, não é mesmo?
P.S. O México A Igreja Católica no México, que por vezes tem a má idéia segue a tendência ruim de alguns mexicanos de imitar os EUA em tudo, está mostrando como NÃO se deve lidar com o problema do abuso sexual de crianças por parte de sacerdotes. Um bispo mexicano "admitiu que nos últimos 20 anos alguns padres foram presos por molestar crianças. Contudo, sustentou que as recentes ocorrências no México foram “casos isolados”, resolvidos graças à “compreensão” das famílias, que se mostraram “tolerantes” devido ao “carinho que têm pela Igreja”. O bispo afirmou que os sacerdotes são “devotos da Virgem de Guadalupe, que vela para que não façamos coisas graves”. Mas acrescentou: “peço a Deus que não haja muitos casos desconhecidos, porque esses desastres - como os ocorridos em Los Angeles, que foram resolvidos pela via econômica - nos mortificam”". Tenha SANTA paciência, senhor Bispo. Se o senhor não tem respeito próprio, nem respeito pelas crianças violentadas e suas famílias, poderia ao menos ter respeito pela inteligência de quem ouve e lê suas declarações? Se um padre pode violentar uma criança e sair impune, e ainda ser tido como coitadinho, você realmente acha que isso vai parar? Que tipo de gente você acha que assume o sacerdócio em sua Igreja, meu amigo?
Quando me vi sentado com amigos assistindo em uma TV de trocentas polegadas à milésima reportagem da Globo sobre o assunto, e soube que existe até um bolão de apostas sobre quem é o assassino (alô! Isabela morreu mesmo, não é a Odete Reuttman!), eu percebi que a junção de um jornalismo absurdamente sensacionalista com um público cada vez mais alienado, e não só das classes mais baixas e menos 'educadas', só poderia mesmo dar nisso. Um circo à volta de um corpo, com direito a replay e reviravoltas dignas de novela, prendendo a atenção de todos e nos provando ainda mais idiotas a cada dia.
Desculpe, Isabela. Faz tempo que preferimos ganhar dinheiro com os mortos a respeitá-los. Você nem teve tempo de entender isso. Foi mal por continuamos jogando você pela janela todo dia, enquanto ninguém olha para tantas outras crianças menos brancas e menos abastadas que morrem todo dia em condições igualmente terríveis.
P.S. em tempo, de onde é que estão tentando desviar nossa atenção com todo este circo? Qual escândalo está sendo abafado com o sangue requentado da menina? Sempre há um, e quando há um assunto a se esconder, até traição conjugal entre macacos no zoológico é assunto para desviar nossa lábil atenção daquilo que deveríamos estar atentos.
UPDATE: Uma reflexão sobre o caso, e sobre meu post.
Tenho refletido um bocado sobre este post, e creio que cometí com ele o erro de ser sensacionalista na minha tentativa de criticar o sensacionalismo.
O que quis com ele dizer é que me revolta não apenas o crime, cujos culpados espero que sejam descobertos e legalmente punidos o quanto antes, mas também o uso do trágico acontecido pelas grandes redes nacionais de notícias para vender mais jornais e aumentar a visibilidade de seus telejornais. Em nenhum momento me oponho à investigação, ou ao jornalismo investigativo. Mas acredito que existe uma fina linha entre investigar para informar, e a exploração de uma tragédia da classe média com fins comerciais ou, pior ainda, políticos.
Crimes como este devem ser combatidos exemplarmente, mas mas não só ele. Todos os crimes contra a vida e a integridade física e mental, indiferente da idade, raça, cor, credo ou classe social da vítima deveriam ser igualmente investigados e punidos, se não se pode esperar que sejam erradicados.
E nossa imprensa escrita e falada também deveria se comportar exemplarmente, cobrindo dedicadamente o caso, mas sem sensacionalizar tanto ou dirigir a opinião pública a condenar pessoas antes do término das investigações. Deveria também dar igual atenção a crimes semelhantes, e igualmente terríveis, cometidos contra crianças e adultos de classes sociais, cores e regiões hoje aparentemente invisíveis à mídia e ao público.
E eu deveria aprender a refletir mais antes de escrever um post, para buscar as melhores palavras e filtrar uma ou outra eventual estupidez de meu humanamente falho julgamento.
Patinha observou bem, que agora muitos alunos vão ficar mais estimulados a se formar, já que na colação irão apertar a mão do guitarrista do Queen. :) Eu até fiquei com invejinha.
(As dicas foram do Paulo Rocha e da Pata Nardelli, que tb me presenteou com o comentário).
... ainda não sei o que pensar sobre a nova campanha contra a AIDS da francesa Sidaction. É bonita, é verdade, e muito bem feita. Mas me passou uma impressão esquisita, e muito noventista, de associar novamente a AIDS ao sexo em geral, e não apenas ao sexo sem proteção. Are we back to the past?
Não tenho encontrado o tempo e a disciplina para blogar ultimamente. Talvez porque esteja um bocado saturado de pensar e falar sobre este mundo. Mas como sei que também sou uma negação em separar pastas azuis de pastas amarelas em um emprego público idiota, este deve ser mesmo o meu lugar. Vamos então ao que não se pode deixar de comentar...
O João do Vejo Tudo e Não Morro publicou uma entrevista feita por ele comigo há umas semanas atrás em sua blogada sobre o Global Voices Online. Para variar, eu não estava nem um pouco inspirado para falar do assunto quando dei a entrevista, mas acho até que ficou bacana. Por outro lado a blogada do João está excelente.
Ainda falando sobre o Global Voices Online, fui convidado como Coordenador do Global Voices em Português para participar do encontro mundial do observatório, que será realizado em junho em Budapeste (aquela cidade que é duas, Buda e Peste, separada pelo Danúbio, rio no qual Strauss se matou... ou foi Tchaikoviski?). É claro que estou radiante com a perspectiva de fazer minha primeira viagem à Europa assim, com tudo pago e como reconhecimento de um trabalho, mas ao mesmo tempo isso me dá um bocado de frio na barriga. Não sou muito bom com viagens. Acho que gosto demais de minha casa...
E aproveitando a deixa, vale comentar que o Global Voices em Português ainda está passando por um momento difícil de reestruturação e reerguimento depois da crise do mês passado. Quando tenho cabeça, tento pensar em formas de reestruturar o site de forma a ser mais atraente não apenas para os leitores, como também para os colaboradores. A boa notícia é que, ao que tudo indica, em breve os colaboradores poderão também produzir material original para o site, contanto que também o traduzam para o inglês. Somando isso à grande possibilidade da volta das premiações para os colaboradores mais produtivos, acredito que os problemas todos sejam solucionados em breve.
Mas a soma de mudança de casa, entrega de projeto no IAH, preparações de viagem, demandas do GVO e do GVP, questões pessoais em geral e minha eterna sede por histórias encantadas (e seu offshot, os RPGs) fazem com que o meu tempo pareça escorrer antes mesmo de passar...
É por essas e por outras que tem sido difícil ser, e mais ainda blogar.