Pessoas reais
Pessoas reais sao sempre mais dificeis de lidar, mas valem a pena
Quantas vezes eu jah nao quis ser uma pessoa como todas as outras. Ser um cara como qualquer outro, com as preocupacoes, ideias e visoes de mundo que qualquer outro teria. A vida parecia ser mais simples assim, entao.
Mas eu sou diferente, nao eh? As vezes diferente demais, um pouco bizarro, um meio termo entre sabio incompreendido, atracao de circo e artista torturado com um senso de humor muito bizarro a respeito de si mesmo. Eu as vezes pareco diferente demais. Ou nao.
No fundo nao existem pessoas como quaisquer outras. Somos todos profundamente individuais. Alguns tentam ser mais parecidos com os outros, ou se adequam mais ah cultura em que vivemos, e tentam se encaixar. Tentar se encaixar, e ter a impressao de fazer isso tao bem, nao o torna igual aos outros. Por baixo de todo o verniz ainda ha um ser humano. O problema eh que poucos de nos sao capazes de lidar com o ser humano em si e nos outros. Seres humanos sao algo estranho demais para que nos, seres humanos, possamos lidar confortavelmente.
Gente de verdade nao eh simples e nao vem com manual de instrucoes. Gente de verdade tem sentimentos, que nem sempre sao facilmente compreensiveis ou faceis de lidar. Gente de verdade tem manias, tem cheiros, tem caracteristicas que as afastam da meta pifia da perfeicao. Gente de verdade eh inadequada, fala quando deveria ficar calada pois nao consegue esconder o que sente. Gente de verdade nao eh cool. Gente de verdade eh a maior parte da verdade com a qual quase ninguem sabe lidar.
Quando alguem em meio a um grupo tao conformado e adaptado comeca a acordar, vem a estranheza. Como devem achar estranhos os ovos, quando um dos seus se racha para dar a luz o ser que se desenvolvia dentro. E nestes primeiros dias, como um ovo quebrado de onde saem cabeca e penras e bracos tao diferentes da perfeicao oval de seus semelhantes, tudo eh muito esquisito. Como o patinho feio, tao bizarro e desprezado entre os seus, ateh perceber que nao era um pato e sim um cisne. Tomar consciencia de si mesmo eh uma experiencia que no primeiro momento nos torna muito alijados, destacados, do mundinho facil da conformidade dormente no qual nos encontravamos. Descobrir a si mesmo, sentir o que sente, pensar o que pensa sem tentar se esconder, sao coisas que a principio nos destacam e nos tornam estranhos. Eu sou estranho pq eu sou eu...
Mas entao, um dia, voce descobre que nao existem pessoas "como quaiquer outras" ou "pessoas diferentes". Existem pessoas. Pessoas que estao em contato com o que sao e com o que sentem, e portanto nao conseguem mais fazer cara de paisagem para a vida, e pessoas que ainda vivem no automatico. E entao voce, que de repente era o patinho feio entre os belos e charmosos e cool, percebe que somos todos iguais. No dia em que voce percebe que todos somos humanos, e que alguns apenas nao tomaram consciencia disso, voce encontra seu lugar.
O que nao quer dizer que eu vah ter paciencia de ficar andando entre os ovos rolantes de cascas tao belas. Eu estou acordado, com todo o mau humor e o prazer que isso pode nos trazer, e quero estar entre pessoas que sintam e vejam e sejam, assim como eu.
Pessoas de verdade nao sao simples de lidar. Elas tem seu modo particular de ser e tem sentimentos. Mas pessoas de verdade sao o unico tipo de pessoa que existe. Pena que algumas pessoas passem a vida inteira sem se olhar realmente no espelho.
Desejo um belo despertar a todos.
P.S. este texto foi dedicado a quem acorda de mau humor...
Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.
Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.
Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.
sábado, 29 de maio de 2004
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