Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

VOLTEI A ESCREVER!

Estou exultante. Sentei em frente ao computador depois do almoço, com uma vaga idéia na cabeça, e em pouco mais de duas horas tinha um conto completo, talvez o melhor que já escreví até agora, olhando para mim da tela do computador.

Uma rápida revisão mostrou que ele já estava bem prontinho. Poucos ajustes precisaram ser feitos. Já o enviei para meus fieis "leitores de primeiro momento" para ouvir algumas segundas opiniões, e logo logo este conto verá a luz do dia lá no Overmundo.

Seu nome é Transgressão.

Publico abaixo um pequeno trecho dele:

"...Como eu disse, ele havia se tornado um homem difícil. Antes ele era disciplinado e correto, sempre vestido impecávelmente com seu terno preto e bengala com pomo de bronze. Mas com a doença, havia mudado muito. Não vestia mais seus ternos, e andava em casa com seus pijamas, ou usando alguma roupa velha qualquer. Era um homem culto, e nunca perdeu este hábito, mas sua biblioteca não tinha mais a velha organização de antes. Seus livros se espalhavam abertos sobre a mesa de leitura, suas páginas manchadas aqui e ali por respingos de diversas bebidas ou cinzas de cigarros. Já andava com alguma dificuldade, mas mesmo assim insistia em fazer seus passeios sozinho pelo parque próximo à sua casa. Certa vez caiu enquanto andava no parque e, para agravar sua situação, quebrou a perna. Aqueles foram dias difíceis, mas confesso que viajar para Santa Bárbara para cuidar de meu pai me distraía um pouco das coisas de São Paulo e de minha própria casa. Não acho que sua avó sentia minha falta nas minhas longas ausências motivadas pelos cuidados com meu pai. Seu bisavô, por outro lado, parecia feliz em me ver. Conversávamos um bocado, mas raramente sobre coisas pessoais. Não me sentia muito à vontade com ele, mesmo agora que ele deixara de ser o homem ríspido que havia me educado. Sentia-me responsável por ele e tentava zelar por sua saúde e bem estar, e os seus crescentes excessos me preocupavam. Mesmo doente, ele bebia um bocado -- sempre bebidas caras, importadas, sofisticadas -- e fumava sem parar. Quando os médicos o admoestaram que isso apenas piorava seu estado de saúde e abreviava ainda mais sua vida, era frequentemente grosseiro com eles."
(foto por artOtek, publicada originalmente aqui)





O conto já está disponível na íntegra no Banco de Cultura do Overmundo.


Abraços do Verde.

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