Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

que papo é esse de "blogueiro profissional"?

(publicado originalmente no Caderno do Cluracão em 23.02.2007)

O André Oliveira, do blogue Marmota (agora parte integrante do "Shopping Center de Blogs" Interney Blogs), teceu umas considerações bem interessantes sobre essa coisa de blogueiro profissional:
"O que me assusta é saber que esse rótulo transforma as pessoas. Preocupadas com resultados, acabam se levando a sério demais.

Ser "blogueiro profissional" (ou "problogger", que é bem mais legal) é escrever pensando nos números. Nada contra essa prática: quero mais é que todos que procuram esse caminho transbordem a conta bancária. Agora, com tanta gente em busca das mesmas coisas, tenho uma visão muito pesada sobre o futuro da "blogosfera", caso ela "amadureça" por esse viés: isso aqui está se transformando em uma Serra Pelada, com gente demais se acotovelando atrás de alguns tostões."

O André também fala de algumas vicissitudes desse papo de ser blogueiro 'profissa':
"Então cá estou, blogueiro profissional, buscando formas de "monetizar" meu conteúdo; adotando todas as regrinhas de "Search Engine Otimization" para fisgar consumidores; patrulhando os aproveitadores - afinal de contas, além de ser assinado, conteúdo semelhante na rede atrapalha meu posicionamento no Google. Sem essa de compartilhar idéias só para conhecer gente nova ou simplesmente para marketing pessoal: agora, eu quero é ganhar dinheiro. Vou justificar minhas ações na cartilha da ética (e outras totalmente justificadas), mas vou seguir mesmo a lei da selva. E salve-se quem puder.

Tenho medo disso. É o mesmo discurso atribuído a outras áreas competitivas (no caso dos "jornalistas", é exatamente igual)."

E é aí que o cara pegou o espírito da coisa. Quem quer que a profissão -- ops... que o ofício -- de blogueiro se transforme em algo parecido com todos os outros ofícios que perderam a arte e viraram uma coreografia de cachorro comendo cachorro em luta por migalhas? Deste jeito, quem é que quer ser blogueiro profissional? Se eu me recusei a me tornar profissional em qualquer coisa que fosse, justamente para fugir desta mentalidade terrível que acompanha a alcunha, a profissionalização blogueira não faz então nenhum sentido.

Blogs são, como diz a própria apresentação do Interney Blogs "páginas dinâmicas e democráticas - qualquer internauta razoavelmente alfabetizado pode criar o seu). Além disso, possuem linguagem mais informal, interação maior com os leitores (clique aqui para deixar seu comentário!) e dão a seus autores liberdade para escrever o que quiserem, quando quiserem e como quiserem, desvencilhados de limites de caracteres, pautas pré-determinadas e deadlines.". Para se blogar, tem-se que ser igualmente dinâmico, desvencilhado de todas as amarras físicas ou mentais que apodrecem os mercados e as redações jornalísticas e, sobretudo, ter muito tesão por falar e conversar. Estas coisas não se profissionalizam. Então, vá lá, ganhar dinheiro com seu blog -- como ganhar dinheiro com qualquer coisa que se faz com paixão -- é uma delícia. Mas se tornar blogueiro profissional, com todas as vicissitudes e horrores do termo, é coisa de gente que não sabe o que está perdendo -- a própria alegria e liberdade que são a essência do blogar.

UPDATE PICANTE:
Decidi recolocar as frases finais do texto, que havia retirado anteriormente. No dia em que eu tiver que ter papas na língua sobre o que penso, é hora de parar de blogar. As frases eram:
"Se a atividade blogueira começa a obedecer a exigências de mercado, opiniões dominantes dos 'grandes', desígnios dos anunciantes, desejos da burguesia de atenção blogosférica e coisas afins, qual seria a sua diferença em relação às profissões de jornalista e publicitário? Nada contra os jornalistas e publicitários, conheço alguns deles que são fantásticos (curiosamente, a familia Bicarato é rica neles), mas eu sou blogueiro -- blo-guei-ro! -- e como tal gosto de acreditar que a atividade blogueira é como eu, livre pra pensar, falar e fazer o que achar que é certo, sem obedecer a mercados ou idéias nefastas do velho mundo que morre. Blogar é arte, ou então não me chamo mais de blogueiro."

Pronto. Falei. Agora posso seguir desopilado para posts mais leves...

Abraços do Verde


P.S. Em tempo, parabenizo o Edney véio de guerra e toda a galera do Interney Blogs pela proposta e pelo sucesso, e espero que todos eles ganhem tanta atenção, comentários e grana quanto merecem e quiserem ganhar. Só não gosto da idéia de que, para ganhar grana ou ter sucesso (seja lá o que isso significar), um blogueiro tenha que ser alguma coisa diferente do que naturalmente é -- um pensador que vive entre dois mundos e que auto-publica seu pensar e sentir nas teias da rede digital, para os olhos, mentes e corações da rede humana na qual vive.




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