Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 28 de julho de 2004

"...Mariana estava linda aos olhos de Rodrigo. Sim, ela estava. Seus cabelos pretos estavam amarrados atrás da cabeça desleixadamente e seus olhos estavam um pouco vermelhos de susto e de choro, mas ela estava linda. Não foi possível falar nada por alguns segundos. Havia tantas palavras engarrafadas em sua garganta que o trânsito simplesmente parou. Ela olhava para ele quase sem expressão e Rodrigo quase podia ouvir seu coração voltando a bater forte depois de quase ter parado. Ele quase falou alguma coisa antes que ela se levantasse, mas sua voz simplesmente não saiu. E então ela caminhou até ele e ficaram se olhando. Ela estava linda, eu já disse isso?

- "Oi", disse Mariana, com o que deveria ser um sorriso triste. "é... coincidência né?"
- "P-poisé, coincidência", disse Rodrigo, reaprendendo a usar a língua.
Por que é que falamos coisas tão estúpidas em reencontros assim? Que enorme desperdício de momentos românticos... ou não. O silêncio durou mais alguns segundos, preenchido imperceptivelmente pelo barulho de um bar cheio.
- "Eu acho que deveríamos conversar"
- "Conversar? Você acha mesmo Rodrigo? Meter o dedo em tudo aquilo de novo...", Mariana dizia, como se recitasse uma lei de algum código penal interno.
- "Não sei. Mas estamos aqui, não estamos? Quer que eu vá embora?
- "Não. Pode ficar aí, mas..."
- "Mas...?"
- "Mas... Ah Rodrigo!"
- "Você não quer conversar?"
Silêncio... demais.
- "Rodrigo... Não podemos conversar outro dia?"
- "Mari... eu... eu acho que precisamos conversar agora."
- "O que é...? O que é que você quer?"
- "Vamos andar um pouco, Mari?"
Algum lugar dentro deles estava em carne viva agora. O último cravo em seus peitos sendo balançado, puxado... enfiado mais fundo. E então eles andaram, mesmo sem saber para onde ir ou o que queriam ao certo..."

(Trecho do conto "O Último Cravo", último conto de meu livro "As Botas Sob Minha Cama")

Sim, eu estou voltando a escrever.
A vida voltando a seus eixos...

...como uma dança.

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