Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 25 de junho de 2004

O Cavaleiro e o Dragão (Primeira Parte)
Uma das fábulas internas do Duende.


the DragonRider, Keith Parkinson

"Ele não podia conter sua felicidade (e seu medo) enquanto esperava no topo da colina. Hoje, depois dos aprendizados, depois do sofrimento e das noites em claro e dos estudos. Hoje, depois de tudo, sua vida iria começar de novo de outra forma. Esperando, enjoado pelas bebidas do último ritual, ele esperava pela chegada de seu companheiro para toda a vida. Hoje Amarath iria conhecer o seu dragão. E em meio aos fiapos de nuvens no céu frio da noite, o seu dragão chegou.

Amarath olhava apreensivo para a sua mítica montaria enquanto esta se aproximava. Era um pouco menor do que pensava, e também era mais fino, quase uma serpente com asas e patas. Tinha o corpo tão verde que mesmo na escuridão da noite, iluminada apenas pelas estrelas e pelas fogueiras do dia dos fogos, sua cor era distinguível. Não fazia outro som senão o de seu corpo cortando o ar e tinha os dentes desiguais e pontiagudos à mostra, como estivesse sorrindo para a noite. Amarath apertou com as mãos o galho da árvore onde se segurava enquanto esperava pela vinda dos vômitos e a chegada de sua montaria. Em seu último momento esta espera parecia ainda mais próxima da eternidade.

Amarath empertigou-se, como um guerreiro deve fazer frente aos outros, quando ficou face a face com sua montaria. Gostaria de saber o que dizer, mas apenas conseguiu olhar para aqueles olhos que brilhavam como carvões alaranjados na noite. Sabia que dragões conseguiam falar a língua dos homens quando queriam, mas este parecia estar se divertindo com o silêncio confuso. À volta os outros membros da tribo pareciam muito desinteressados naquele momento que era tão crucial para Amarath. E então Amarath sentiu que ia chorar, não sabia se de emoção ou confusão. O dragão apenas deitou-se no chão, com um ar ligeiramente divertido em seus olhos.

Por fim, tomando coragem, Amarath falou:
- "Eu sou o seu cavaleiro, me chamo Amarath"
O dragão apenas continuou mostrando os dentes, o que deveria ser um sorriso. Sua respiração era ruidosa e quente, cheirava a fogo e cinzas.
- "Devo montar em você agora..." disse Amarath, ainda sem conseguir sair do lugar.
- "E o que está esperando? Que eu monte em você?" disse por fim o dragão.

Amarath ficou envergonhado, mas naquele momento descobriu que quando se trata de dragões, você manda ou é mandado. Ele ainda teria que aprender a mandar. Por hora ele apenas era um menino..."

Esta fábula continua...


UPDATE: Leia a segunda parte da fábula O Cavaleiro e o Dragão

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