Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 21 de junho de 2004

De manhã, botas e facas.
(post originalmente escrito na sexta feira, às 15:30)

Acordei com o sol batendo em minha cara, como um irmão mais velho ou um pai que acorda um filho de um jeito irritante mas eficiente. Já deviam ser quase oito horas da manhã e as pessoas já deviam estar olhando torto para um homem esquisito dormindo feliz em seu carro dentro de um condomínio fechado. Povinho limitado...

Comprei coturnos novos. Estou impressionado como são confortáveis os novos modelos para oficiais dos coturnos Arroyo. Espero que tenham solados mais duráveis e costuras mais resistentes também. A vendedora, simpática e feia como se tivesse bócio (mas não tinha) me permitiu pagar em três vezes pelos coturnos e pelo punhal.

Sim, eu comprei um punhal. Eu gosto de lâminas. Quando era mais jovem andava com uma faca grande (com bainha e couro fedorento de bode) dentro do carro e um eficiente tramontina de arremesso escondido sob a blusa. Meu novo punhal é pouco gracioso. É bruto e eficiente, feito de uma peça única de ferro pintado a fogo com cabo de corda. São os melhores para magia.

Sentado em meu trono fico namorando o punhal sobre a bancada , em espiadelas, enquanto me delicio com o segundo livro de Tom Robbins (que está me ensinando a escrever em longas aulas particulares através do tempo). Tenho um pensamento estúpido e gosto dele. Todo homem deveria andar com um punhal na cintura. Se por nenhum outro motivo porque um punhal é um objeto viril e inútil nesta sociedade tão não violenta. Será? Acho que não.

Uma vozinha sobre meu ombro, talvez uma farpa de meu superego contruída por todas as pessoas medíocres que conheci, me diz que sou muito estranho e assustador. Estranho e assustador para as pessoas que se escondem sob o manto da pretensa normalidade, sim. Mas não mais estranho e assustador quanto qualquer outra pessoa. As pessoas são maravilhosas e temíveis. Mais temíveis ainda quando fingem ser normais. Sempre achei que o comedimento e o silêncio eram confissões mudas de culpas inimagináveis. Ao menos eu estou à mostra, e todos podem ver o que sou. Ponto para mim.

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