Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

terça-feira, 22 de junho de 2004

Os Portôes de Zipper
(modelo e fotografia: Rafaelle Viana / texto: Daniel Duende)



Entrou em seu quarto e se olhou no espelho. Isolou-se do mundo além das portas e janelas para pensar, e talvez descansar, mas mesmo assim precisava encontrar um olhar. O seu olhar. Aquele que ninguém mais conseguia realmente fitar. Não sabia se estava quente ou se estava frio, pois estava consciente apenas da própria temperatura. Da própria solidão fria e do caldeirão de amor que se derramava sem propósito. Sem outro motivo, seu corpo fervia, e por trás daqueles portões de zipper gritava o coração da princesa em seu castelo.

No silêncio de seu quarto ela pensava:
será que alguém está chegando, e quando?

O caminho para seu coração estava por trás daqueles portões de zipper, além das palavras, através de seu corpo e dos campos inexplorados de sua alma. Será que alguém atravessaria aquela estrada? Ela não sabia o que esperar, e por pouco não se desesperava. Nos mais profundos sentidos da palavra ela precisava dar, para não transbordar. Os respingos de amor do caldeirão em seu coração queimavam sua carne e ela não sabia o que pensar, então apenas sentia.

Será que alguém está chegando?
E como, e quando?


No espelho ela só encontrou o seu olhar e a única lágrima que ela também chorava.
Lá fora, apenas um bater de asas no silêncio da noite...

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