Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 29 de abril de 2004

A liberação (das drogas) pode amenizar o que a guerra (a elas) piora
Cora Rónai escreve sobre a dificuldade de se largar um vício, qualquer vício,
e sobre a droga que é a guerra às drogas (e pensa em liberar o que não se pode proibir)

(os parênteses são, DEFINITIVAMENTE, deste blogueiro)

Aqui vai um trecho do texto:
"...Para mim, o único meio de se resolver o problema das drogas é fazendo com que elas deixem de ser um problema — pelo menos, um problema de polícia. Em outras palavras, liberando o seu consumo, e tirando a distribuição das mãos do crime organizado.

É lógico que quando falo em consumo livre não estou falando num sentido consumista. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de sugerir a distribuição descontrolada, com marcas chiques, gente sarada fazendo propaganda em outdoors e merchandising na novela das oito. A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, hype , néon ou embalagens vistosas.

Sei que esta é uma idéia radical, malvista por boa parte da sociedade; também sei que contraria interesses e levanta questões — inclusive diplomáticas — de uma complexidade indescritível. Mas acho que deve, pelo menos, ser discutida. Será que a distribuição legal de drogas, controlada pelo Estado, seria tão pior do que a atual distribuição ilegal, controlada pelo tráfico?"

(leia aqui o texto na íntegra no blog da Cora)

Este texto foi publicado hoje, no O Globo, Segundo Caderno.

Quando o li não pude deixar de lembrar de um livro que está aqui na minha estante (mas que confesso nunca ter lido) e que foi escrito pelo Juiz James P. Gray (na época, recêm aposentado juiz da suprema corte norte-americana, um país onde os juízes adicionam o título "Juiz", e usando a primeira letra maiúscula, antes de seus nomes...) e chamado "Why our drug laws have failed and What we can do about it" (Porque nossas leis sobre drogas falharam e o que podemos fazer a respeito disso).

Meu irmão, que diz (e eu acredito) ter lido o livro, disse que o juiz chega à mesma conclusão: de que a guerra contra as drogas está já agora (e já em 2001, quando o livro foi editado) perdida, e que nos resta aprender a conviver com a existência delas. Não como vitimas de uma guerra perdida, mas como sociedade que busca a se adaptar a uma questão real e multifacetada da atualidade, como há tantas outras por aí em nosso dia a dia.

Estamos precisando de mais gente sensata e corajosa, como a Cora e como o Juiz Gray, que não fique repetindo discursos medrosos anti-drogas e que olhe para a questão de frente: Estas substâncias existem e são usadas, e usadas por todos desde o mais pobre até o mais rico, por algum motivo. Nada (nem mesmo toda a polícia do país) pode impedir alguém de comprá-las e usá-las. Resta então entendê-las, conviver com elas e buscar um meio de lidar com aqueles que as tem como um problema em suas vidas.

Estou admirado com a coragem da amiga (e mentora) blogueira...
Vai fundo, Cora! :)


UPDATE 1 - 29/04 09:23am

Já pararam para pensar que talvez os maiores interessados na proibição das drogas sejam os próprios mega traficantes (não os gerentes que conhecemos, mas os grandes negociantes por trás deles)? Certamente eles tem poder para mexer um pauzinho aqui e outro alí e manter a guerra indo. É bom para a indústria bélica, é bom para os negócios do tráfico (e do tráfico de armas) e é bom para o governo Norte Americano (que deita e rola no papel de xerife do mundo).

Pensem nisso...

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