Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

relendo velhas poesias, fico tentando a mudar coisas aqui e ali
e entao percebo que isso seria um sacrilégio. Eu não tenho esse direito.


Cada poesia que escrevi nestes 12 anos, alí reunidas, conta uma história
e eu estou cansado de mudar minhas histórias.

As velhas poesias vão ficar como estão
quer gostem delas ou não.
Eu as amo, pq são a história de minha vida
e de minha forma de ver esta vida.

Podem ser estranhas e tortas, mas eu as amo
pq tem a força da verdade.


Bem, depois desta defesa passional só posso terminar transcrevendo uma poesia, não é?
Trago para luz...

O caminho para a destruição leva ao renascimento

O caminho para a destruição é uma linha reta
que tudo arrasta para seu infinito acabar.
Para uns é como voltar pra casa,
mas, para outros, é como morrer.
É o ditador das coisas finitas,
das delicias que se consomem
das pessoas que se bebem
até a última gota de seu sangue pagão
como uma forma de batismo final.


Me dê algo rápido, para eu fugir.
Qualquer fuga, qualquer rua,
qualquer soma1 de teu perecer.
Me dá teu corpo para eu me crucificar
e para mostrar minha vontade,
minha sede cabal2 pelo que só você pode me dar.
Muito além do sabor doce do vinho
que envenenaste com o teu tesão,
meu tesão, e a fúria de minha mão delicada.
O som derradeiro de um trovão.3


Quero um fim sinistral4
para este magnífico urro de delícia,
esta overdose de som e cor
sem sentido, senão o que dou
e o que me dás é tudo que bebo,
como um vampiro subsistindo
do suco que arranquei de teu sexo urgente.


Me dê um beijo para dar sentido à noite que foge
e para destruir nossa imagem no espelho,
para que eu nunca mais saiba voltar atrás
e seja forçado a caminhar pra frente, apenas para frente.
Me escravize para então me alforriar
e me faça servir à uma nova senhora
apenas por uma noite que seja
para que eu redescubra o sabor doce da liberdade.


Não me deixe voltar
pois em nossa pequena ópera de destruição
o que sobrar há de renascer
o que restar acordará descansado
e o que for feito, há de durar.
E no silêncio do depois
deixe-me esquecer as palavras ruidosas
e me lembrar apenas do que é doce.
Faça-me esquecer a vontade de destruição desesperada
e me encaminhe para a luz da manhã
e vamos brincar juntos nos campos,
esquecendo que não somos mais tão limpos assim


Seja minha puta predileta e me deixe depois
ou seja minha predileta senhora
e caminhe a meu lado para a proliferação do milagre
e esqueçamos pois, depois,
este caminho para destruição
e torne-mo-lo o caminho de volta a nós mesmos
Na calma do depois.

Todo sentido nasce do que se sente.

daniel, lord
algum dia de 1995


1 aqui eu me referia não só à soma aritmética, mas também à idéa de alguma quantidade qualquer e também ao SOMA, droga paradisíaca do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, que por sua vez foi inspirado na substância mítica soma indiana.

2 cabal, "ao cabo de...", "na base de...", e também um obscuro eufemismo fálico. Quem disse que minhas poesias eram fáceis de entender? ;)

3 depois de muito refletir cheguei à conclusão de que nem todos entendem que estou me referindo a algumas sensações auditivas experienciadas em momentos de muita excitação, ou durante o orgasmo. Um som que pode parecer um trovão se você for criativo. :)

4 sinistral, referente a sinistro, acidente.

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