Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Parceiras de Tricô
(um pequeno trecho do melhor capítulo de A Voz do Fogo de Alan Moore)

      "Agora ergo lentamente minhas pálpebras, até abrir os dois olhos. Mary, a meu lado, faz a mesma coisa, ao mesmo tempo. Ao ver isto, o rebanho reunido diante de nossa fogueira solta uma exclamação de espanto e dá um passo para trás, aterrorizado, afastando seus rostos saídos do chiqueiro. A viúva Peak, que disse ter nos ouvido tramando a morte da senhora Wise, puxa agora uma cruz sobre o seu peito murcho e cospe, enquanto Parson Danks começa a ler em voz alta, no seu livro comido pelas traças, suas palavras parecem manchas de fuligem sujando a manhã.
      Se vocês soubessem, seus macacos de celeiro, quem vocês vão queimar aqui. Não é por mim que digo, mas pela Mary, que é bonita onde sou feiosa. Se vocês pudessem ver os cantos dos olhos dela quando está contando algo engraçado, aí sim, vocês a conheceriam. Se experimentassem o gosto forte de sua xana, de manhã, quando ela ainda não despertou, vocês virariam, envergonhados, o rosto, apagariam suas tochas. Espalhada em seus pêlos de mulher, minha baba transformava-se em jóias. Dentro de cada uma delas havia uma mansão de homenzinhos pintada em aquarela, pequenina e brilhante. Quando ela sobe as escadas é como música e, na época do sangue de cada mês, pode falar a língua dos gatos, mas para onde foi tudo isso? É como se não fosse nada. Queimem tudo isso, entreguem tudo às brasas, seu cabelo ruivo, os desenhos que ela faz."


Talvez seja apenas um gosto pessoal
mas um bom livro é uma das 5 melhores
coisas que existem na vida para mim.

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