Quase.
Sempre fica no quase.
Domingo, oito de Junho, 23h45.
Estava eu no banheiro, com 38.6ºC de febre, me preparando pra tomar banho.
Abri o armário do lado do espelho pra guardar uma pulseira...e o que vejo? Uma lâmina de barbear, novinha, afiadíssima, parecia me chamar.
Peguei a lâmina, fui pra baixo do chuveiro, coloquei a lâmina em cima do sabonete e fiquei ali, molhada, olhando pra ela.
Dai comecei a pensar (pensar..isso sempre fode com tudo). Pensei em toda aquela merda que passa pela cabeça num momento pré-possível-tentativa-de-suícidio: meu pai, minha mãe, o resto da família, as coisas na escola, a cara dos professores e da coordenadora ao saberem que eu tinha me matado, a reação dos meus colegas quando recebessem a noticia, o pessoal que me detesta fingindo que gostava de mim só pra parecerem bonzinhos.
Dai pensei que eu ia morrer sem poder dar um tapa na cara da Maíra e sem cuspir nela e na Giovana. Eu ia morrer sem ter dado um tapa na bunda do filho-da-puta do Thiago, sem dizer pro Rafael R que ele mudou minha vida desde que a gente ficou amigo, sem dizer pro Costela que ele é o cara mais estranhamente maravilhoso que eu já conheci, sem dizer pra Vanessa que eu amo ela, sem dizer pra Mariê que ela é uma porra-louca que eu não entendo mas adoro, sem dizer pra Marcela o quanto ela é maravilhosa e sem dizer pro Imamura que ele é o meu deus.
Então pensei que eu podia muito bem morrer assim. Ia ficar sem ter dito esse monte de coisa, mas eu ia morrer. E isso bastava.
Peguei a lâmina.
Fiz só um cortezinho na parte de cima da mão, pra ver se tava afiado mesmo.
E tava. Cortou. Ardeu. Doeu. Sangrou. Eu chorei.
Não sou nem um pouco resistente à dor.
Eu cheguei a encostar a lâmina na maior veia que encontrei no pulso direito (não foi dificil, sou do estilo branquela-fantasma).
Cheguei a quase me cortar fundo...
Quase.
Só ficou no quase.
Sempre fica só no quase.
Escrito por Shelby do blog "O Obvio Ululante que Pulula nas Mentes Humanas e Não Humanas Também"
Existe uma beleza nos suicidas que nada no mundo consegue superar...
Principalmente naqueles que não se matam.
Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.
Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.
Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.
sábado, 26 de julho de 2003
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