Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 23 de julho de 2003

As Mãos Amarelas
Por trás da febre amarela

   Nos primeiros meses do ano 2000 a Rede Globo e outras fontes "desinteressadas" noticiaram gravemente ao país um surto de febre amarela que atingia a Chapada dos Veadeiros. Com gráficos, depoimentos (inocentes) de viajantes e médicos e notícias bombásticas (como de costume) deixaram todos com muito medo mesmo. Aqueles que tinham que ir para a região logaram postos de saúde para se vacinar. Planos de férias foram alterados para lugares menos atacados pela imprensa e os negócios da região (muito dependentes do turismo) minguaram. Foi uma época de falências e mesas pouco fartas para os Alto Paraisenses.
   O público não se preocupou em verificar os fatos, como quase nunca faz mesmo, e não percebeu que se armava aí uma grande jogada. É verdade que a Febre Amarela atingiu dezenas de pessoas, e mais de vinte faleceram na região em decorrência da doença, mas nenhum destes casos ocorreu em Alto Paraíso. Pelo que bem me lembro (e me lembro bem, pois minha irmã que mora em Alto Paraíso não me deixa esquecer) todas as pessoas infectadas que passaram por Alto Paraíso já estavam doentes e vinham de dentro do parque ou de cidades pequenas das redondezas para se tratar no posto de saúde da cidade. Não haviam casos de febre amarela silvestre em Alto Paraíso pois os macacos, hospedeiros do vírus, não chegariam tão perto do movimento da cidade. Não poderiam haver casos de febre amarela urbana por um motivo ainda mais sério: desde 1942 esta se encontra sob controle no Brasil. Agora, se estes macacos viviam por alí, por que não houve epidemia antes? A resposta é puerilmente simples: eles não viviam alí. Com a construção de nada menos de 17 (sim DEZESSETE) hidrelétricas na Chapada dos Veadeiros (um tapa buraco para a dormida no ponto história que o governo brasileiro deu no setor elétrico nos últimos 20 anos) várias populações de animais migraram para longe das máquinas barulhentas e dos homens maus e foram parar, advinhe, no parque da chapada (ultimo lugar ainda a salvo da estupidez goiana e nacional na região). Entre os macacos a febre amarela é uma endemia comum, com a função ecológica de controlar a população destes primatas. Com a chegada dos macacos nas proximidades de habitações humanas, e com a existência do mosquito vetor na região, o resto da história está nos jornais (noticiada em detalhes). É interessante tão poucas pessoas da região tenham sido atingidas. A maioria das vitimas, e das casualidades, foi entre turistas. Há, na região, esotéricos que dizem que a febre amarela foi uma resposta da natureza contra o homem estúpido que destrói as matas com sede de mais eletricidade. É mais simples acreditar que esta curiosidade epidemiológica se deve ao fato de que a maioria dos moradores da região já estava imunizada por vacidas antiamarílicas há muito tempo, não é? :)
   Agora, é curioso notar que logo após as notícias massivas sobre a febre amarela na região, e a subsequente quebra dos negócios da região (E que da do valor das terras) as empresas do grupo Roberto Marinho de Entretenimento compraram muitos hectares de terras em Alto Paraíso a preço de banana....
Tirem suas próprias conclusões....

Nascem dois otários a cada minuto, e naquele verão, alguns morreram de febre amarela enquanto alguém ficava rico e alguém ficava pobre. Nenhuma novidade desta vez.

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