Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

quarta-feira, 22 de maio de 2002

Saudades do tempo em que eu queria morrer...

Ahh, meu saudoso Silk Cut

No início eu penso que me importava. Sim, provavelmente eu me importava, eu tinha medo. Quando era jovem eu tinha medo de morrer, e acreditava que a vida poderia ser muito boa. Sim, é isso, eu acreditava que a vida poderia ser muito boa. E de fato ela pode... mas nem sempre do jeito que gostaríamos que ela fosse. Bem, talvez tenha sido por solidão, talvez por estupidez, talvez por embriaguez... Nem me lembro há quanto tempo atrás... Eu coloquei o meu primeiro cigarro na boca. Isto é uma coisa estúpida a ser feita. É estúpido aos 15 anos, e continua estúpida aos 20... e mais ainda aos 25. Por que alguém iria desejar ficar com um rolinho de papel fedorento na mão, inalando fumaça que faz você tossir, ficar com mau hálito, é cancerígena e não dá barato.... por que diabos alguém faria isso? Por que eu fiz isso? Eu não sei, realmente. Talvez nunca vá saber... talvez nunca consiga me lembrar ao certo... o que importa é que eu fiz.
Ahhh, meu saudoso Carlito....
Eu não vou me alongar muito nestas lembranças... tenho cada vez menos leitores e eles são cada vez menos pacientes com minhas longas e detalhadas rememberanças.... e eu não quero entediar mais ninguém ao ponto que já estou entendiado. O ponto importante não é por que eu comecei a fumar, o ponto é por que eu continuei fumando. E a resposta é simples: Mais do que não me importar... eu queria morrer. Sim, chocante mas esta é a verdade... eu queria morrer, sentia prazer na sensação de estar me auto destruindo. Não desejava ter uma vida longa e não perdia uma chance de atacar minha saúde, de testar até onde minha juventude seria capaz de segurar minha onda. Bem, até que minha saúde foi bem resistente até hoje... tive poucas gripes, apenas uma pneumonia, pouquíssimas ressacas... mas então parece que ela está começando a falhar.
Hummm.... um cigarro com meu nome.... e eu nunca vou fumá-lo....
O mais patético é que tenho que admitir que, depois desta trajetória impecavelmente romântica de suicida de repente comecei a me importar. Quando ouvi a palavra "efisema" e me lembrei de meu tio arfando, implorando por um balão de ar.... isso foi demais pra mim. Eu desejava uma morte rápida, não tão próxima, e abstrata. Descobrir que uma das doenças que poderia vir a me matar já começava a se manifestar foi demais para mim. Envergonhado eu me recolhi de medo, fiz uma ceninha, joguei fora um maço de cigarro... falei que nunca mais iria fumar. A quem eu tento enganar? Desde quando eu sou forte o bastante para resistir a tentações? Eu não sei... resistí até agora... foram apenas trinta e tantas horas.... apenas as primeiras trinta e tantas horas da minha nova e provavelmente mais longa vida sem cigarro. Será que vale a pena? O que será que me espera? O que estarei fazendo de minha vida? Acho que é prudente manter sempre um maço por perto para casos de emergência.... ou seria melhor um revólver com uma bala só?


A falta de nicotina está confundindo minhas idéias, está me virando pelo avesso.... mas eu NÃO VOU ME DOBRAR!!!

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