Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Éan a esséna i qenseth?
Como você sente que deve ser chamado?

Conversando com o DPadua sobre mudanças de paradigma e de forma de perceber o mundo, e sobre linguagem, me lembrei disso...

"Viviam na floresta velha desde que os primeiros homens lá chegaram e tinham modos estranhos aos olhos destes. Não faziam comércio, pois consideravam que tudo aquilo feito por um membro da comunidade pertencia a todos, uma vez que a comunidade era a possibilitadora e facilitadora de todas as ações. Acreditavam em deuses e ancestrais, para os quais não faziam ritual algum. Diziam reconhecer que viver da melhor forma era por si só um ritual para seus deuses e ancestrais. Sua língua tinha uma estrutura particular e três alfabetos diferentes, e particularidades tais como a ausência de palavras para designar alguns conceitos básicos da cultura humana, como superioridade e inferioridade, certo e errado. A palavra que usavam para designar posse era a mesma usada para designar semelhança, e não havia um verbo ou expressão para designar ser ou estado. Utilizavam para este fim um termo que significava aproximadamente "sinto isso daquilo". Ao perguntar o nome de um viajante, diziam "Éan a éssena i qenseth", que se traduziria como "como você sente que deve ser chamado?". Quando os fomori marcharam dos pântanos do sul, o povo da floresta, ou sidhé, como eram chamados pelos homens, lutou ao lado dos outros habitantes. Com o fim da guerra, simplesmente desapareceram..."
(trecho do texto que descrevia o povo sidhé em uma de minhas velhas campanhas de D&D3e. arte é arte, em toda forma e toda parte.)


Talvez isso faça tanto sentido para vocês quanto para mim.
Talvez não.

O que você sente a respeito?


P.S. Um amigo do velho povo puxou meus cabelos e riu de mim ao me contar que "Éan a esséna i qenseth?" quer dizer na verdade "como você sente você mesmo?". Um erro pequeno mas que faz muita diferença, não acha? Esta tradução literal deve fazer menos sentido para o povo humano, mas é mais correta à luz da cultura sidhé. Para os sidhé o nome de uma pessoa é (ou sente como, mas precisamente) uma forma de expressar algo sobre ela, sendo (ou sentindo) indiferente vc perguntar algo sobre o nome da pessoa, ou sobre a própria pessoa. Logo, perguntar "Éan a esséna i quenseth?" é a mesma coisa que perguntar como a pessoa se vê, em oposição a dar a ela um nome baseado naquilo que você sente dela. Será que é a cultura deles, ou é a nossa, que é (sente) esquisita?

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