Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

domingo, 22 de julho de 2007

Uma história sobre o lixo da minha casa.

Moro em uma comunidade relativamente (bem pouco) afastada da cidade. Por aqui, a coleta de lixo é feita por uma família sisuda -- um homem, uma mulher, dois meninos pequenos -- que mora em um bairro próximo.

Logo que me mudei para cá, não sabia do dia em que a carrocinha de lixo passava. Fui surpreendido uma vez aquele povo castanho e silencioso, de olhares agressivos, pegando os meus sacos de lixo. Lembrei-me de ter sido avisado que cobravam dez reais pelo serviço, mas uma rápida olhada em minha carteira me fez descobrir que eu não tinha nem um centavo em "meio circulante" comigo naquele momento. Prometí pagá-los depois, logo que sacasse dinheiro. O homem me respondeu com um olhar frio e um grunhido que poderia ter sido um assentimento ou uma ameaça de agressão física. Saquei o dinheiro e fiz com que chegasse a ele, espero, por meio de nosso faz-tudo/zelador/pau-para-toda-obra/contador-de-causos Arlindo.

Depois disso, a família castanha pareceu ignorar a minha casa em suas coletas subsequentes. O lixo começou a se acumular, mas eu devia estar ocupado para notar isso antes do fim da semana passada. Depois disso, venho tentando chamá-los de volta sempre, mas não sei como entrar em contato com eles. Há uma barreira de lixo na frente da minha casa.

Hoje, quando abri a porta de casa para pegar uma vassoura para varrer meu quarto (sim! eu arrumei meu quarto!), me deparei com aquela montanha fedentina e fui atacado por tantos mosquitos que nem sei precisar quantas picadas levei. Voltei correndo para dentro de casa, intimidado por meu lixo e o ecossistema que se desenvolveu à volta dele.

Sentindo-me meio ridículo, me coloquei a refletir sobre como nos acostumamos a ter coisas simples -- como a coleta de lixo -- como coisas garantidas, e não temos a menor idéia do que é não ter alguém para levar seu lixo embora. Não foi por mal -- talvez apenas desorganização -- que eu não paguei o coletor de lixo no primeiro momento. Vou procurá-lo daqui a pouco, pedir ao Arlindo para que o encontre, gritar aos quatro cantos pedindo para que ele venha me salvar das montanhas fétidas que barram a entrada da minha casa.

Espero que ele volte.
Estou aprendendo uma lição séria sobre o preço de meus gostos "civilizados".

Vocês tem idéia do quanto fede o lixo que vocês produzem, e do quanto vocês precisam das pessoas que o coletam mansamente para vocês?

Agora eu tenho.

5 comentários:

Paula Góes disse...

Nem me fale, parece que hoje tiramos o dia para fazer a faxina. Aqui a gente recicla tudo, e a prefeitura passa toda segunda para recolher o lixo normal e o que se é reciclado (papel, lata, vidro, plastico). Só que eu fui além e tenho, por conta própria, uma caixa-recicladora no quintal para lixo orgânico, que funciona assim: tudo que for orgânico vai para um cestinho e do cestinho, quando cheio, vai para essa caixa especial no quintal. Com esse calor e a decomposição funcionando a todo vapor, quase desmaiei hoje ao abrir o "tanque", respirando aquele aroma agradável, vendo tudo quanto é tipo de bicho e um pé de beterraba nascendo!

Anônimo disse...

A gente se acostuma com a comodidade e muitas vezes não damos valor para vários trabalhos "invisíveis" presentes no nosso dia-a-dia.

Bom blog, encontrei-o via deviantArt. Achei interessante essa idéia do Global Voices também, que até então eu não conhecia. Parabéns pela iniciativa!

Abraço.

Daniel Duende disse...

Olá Paulinha... parece que você entende meu drama. Posso imaginar o seu também. Só posso nos desejar melhor sorte com nosso lixo doravante. Espero que rapaz que pega o lixo passe aqui amanhã. Espero também que você não tenha que cheirar sua caixa de reciclagem orgânica novamente. :D

Abraços do Verde.

Daniel Duende disse...

Olá Bruno,
você tem razão. Por vezes nos recostamos em nossa comodidade cotidiana e perdemos de vista o trabalho que dá construir este castelo de cartas no qual habitamos...

Fico feliz que tenha gostado do blogue, e mais feliz ainda que tenha curtido o Global Voices. Seja sempre bem vindo aqui e lá, e entre em contato se estiver disposto a colaborar conosco.

Abraços do Verde.

Cinemusique disse...

caramba Dani! eles já voltaram??
espero que sim!
Dicas culturais para o lixo acumulado:
aproveite e assista "Estamira" e ouça "Lixo Extraordinário"...
bjs!
gabi