Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

sábado, 16 de agosto de 2003

A águia piedosa e o leão medroso

"Eu acho interessante, leão" suspira a águia mais uma vez, "mas não entendo o que você quis dizer". Com a inesgotável paciência de quem precisa dizer algo o leão explica novamente: "Às vezes a linha entre os defeitos e as qualidades é muito tênue, águia" - era um leão muito argumentativo, ou talvez verborrágico - "e talvez estas características permitam que convivamos tão bem". A águia, muito inclinada para voltar a seu livro mas tentando não parecer exasperada, lança um olhar forçado de compreensão para o leão enquanto este tenta se enfiar em uma camiseta ridícula e continua a falar. "Não que eu seja exatamente medroso, mas por não ter a coragem absurda, e talvez o bravado, de meus pares eu acabo me tornando uma companhia possível para você" continua pacientemente o leão, parecendo esquecer-se de terminar de vestir sua camiseta no meio da tentativa "e por outro lado a sua piedade, que para os humanos parece uma qualidade mas para as águias como você pode anuviar a fria objetividade aquilina, permite que me aceite por perto com tanta... alegria".
A águia dá um sorriso satisfeito com a conclusão doce tirada pelo amigo, e volta para seu livro. Não se passam muitos minutos antes que o leão, indo e vindo entre os quartos, volte a se postar (com a camiseta já devidamente vestida e ainda ridícula) na porta dos aposentos da águia. "Eu acho que os defeitos e as qualidades das pessoas, e lembre-se que a linha é tênue, são a chave do entendimento específico entre elas" recomeça o leão. A águia, munida da piedosa paciência que lhe é particular, complementa "eu também acho que são as particularidades das pessoas que as permitem conviver e gostar umas das outras..." e por fim se furta de dizer que o leão está sendo, para variar, óbvio. "Eu acho que vou escrever a respeito disso..." continua o leão, satisfeito. "Você tem certeza que vai trabalhar com este conga?" interrompe a águia, sabendo que se não interromper o leão não haverá livro ou trabalho hoje. "Isto não é um conga, é um converse... é um clássico" diz o leão saindo com um ar triunfante. A águia sorri e volta para sua leitura, preferindo não dizer que não vê nenhuma diferença entre Congas e Converses.
Diz a coruja que isto não aconteceu exatamente assim, mas corujas tem grandes olhos e por muitas vezes preferem não dizer toda a verdade...


A coruja sabe...


Love, Inners Animals and Understanding...

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