Tenho refletido um bocado sobre a função dos blogueiros em nossa sociedade, e principalmente feito uma auto-crítica a respeito da minha atuação enquanto blogueiro (com uma grande ajuda do impiedoso e viril olhar antropológico de minha ranzinza porém adorável companheira). Vou poupar-lhes dos meandros e das tortuosas linhas seguidas pelos meus pensamentos nos últimos dias. Quero apenas fazer algumas colocações que me soaram importantes depois de pensar um bocado...
Primeiro, gostaria de pedir desculpas aos meus 8 leitores pela saraivada de besteiras e afirmações impensadas às quais vez por outra são sujeitados neste blogue. Por vezes não levei a sério o bastante a minha responsabilidade de comunicador, e sobretudo a enorme diferença entre vossos olhos e penicos. Sim, eu admito que falei muita besteira em muitos de meus posts e, mesmo quando não o fiz, poderia ainda assim ter feito uma reflexão melhor a respeito dos temas que abordei. Se for para falar o óbvio, ou falar uma besteira qualquer de mesa de bar, é melhor fazer isso em boa companhia em um boteco.
Não há nada de errado em se falar besteira. Muitos blogues se propõe a fazer isso. Este já foi um deles. Um dia, não sei se pelo passar dos anos ou por uma tentativa de mudar meu tom, inventei de ser um "blogueiro sério". É claro que isso acabou soando como mais uma piada. Há quem diga que não tenho vocação para isso. O tempo dirá se tenho. Tudo que sei é que tenho uma vocação razoável para o nonsense, e gosto disso. Mas na hora de falar besteira, fala-se besteira. É melhor não falar besteira em momentos e temas que alguém pode me levar a sério. Admito que tenho que ter mais responsabilidade com o que falo por aqui.
Postas estas coisas, fico me perguntando quais serão os caminhos deste blogue. Em certos momentos, penso em dar meia volta e retornar à proposta 'nonsênsica' que norteou seu nascimento e primeiros passos. Em outros momentos, acredito que deveria me disciplinar e tornar este blogue em um lugar de um pouco mais de seriedade (sic!) e respeito (sic duplo!). Seja como for, acho que devo ter a responsabilidade de deixar um pouco mais claro quando estou falando apenas besteira, e quando estou fazendo uma reflexão séria a respeito de algo. E quando estiver falando sério, ser mais cuidadoso com as minhas palavras.
A vida é assim mesmo, dizem. Vou me furtar de citar Santo Agostinho, pois eu detesto o fã clube religioso que detém o copyright espiritual de suas palavras, mas havia um tempo para se fazer coisas de moleque, e há um tempo para se crescer -- ao menos em alguns aspectos. Vamos ver que rumos o Alriada Express (e eu) iremos tomar neste momento de nova maturidade (sem perder o senso de humor). Eu com vinte-e-nove, ele com cinco -- está na hora de nos darmos ao respeito (combo sic! 3 hits, hó yuken!!!).
Queiramos ou não, neste momento em que a força da blogosfera brasileira cresce (ao menos em alguns círculos), a responsabilidade de se ter um blogue -- este palanque digital que nos dá voz ao menos dentro de nossa elite de "com-computador e com-internet" -- aumenta a cada dia. Mesmo que para alguns seja claro que blogues são apenas representações digitais dos indivíduos que estão por trás dos mesmos, ainda há aqueles que entendem a palavra escrita publicada em um blogue de uma forma análoga àquela publicada em um jornal. Isso não apenas é inevitável, pois fomos muitas vezes educados a utilizar a palavra jornalística (à qual a palavra blogueira tantas vezes se assemelha e se mistura) como elemento base de nossa construção de visão de mundo, mas é também algo complexo demais para ser simplesmente tido como bom e ruim. Ao mesmo tempo que a seriedade, por vezes pouco crítica, com que alguns lêem jornais e blogues pode ser muito ruim, é ela também que dá um pouco da força da qual desfruta hoje a blogosfera. Se as pessoas entendessem sempre, como por vezes professamos que gostaríamos que elas entendessem, que um blogue é apenas uma pessoa falando através de uma ferramenta, talvez não levassem os blogues tão a sério. Da mesma forma, estas são as pessoas que levam os jornais a sério, e que acreditam em governos -- a maioria (mesmo dentro da minoria informatizada que representamos). Posto isso, é necessária uma reflexão a respeito da influência que se pode ter sobre o seu leitor e, sobretudo, sobre a qualidade das idéias e reflexões que se está publicando. Não me engano achando que as minhas palavras tem tanto alcance assim. Sou bom em algumas coisas, mas considero-me um blogueiro medíocre. Mas uma boa parte desta mediocridade veio da falta de atenção e seriedade com que levei este blogue tantas vezes. Hoje quero não apenas me tornar um blogueiro melhor, mas também mais ciente de que se em algum momento aquilo que escrevo fizer alguma diferença para alguém, devo estar muito consciente e atento para o modo como estou fazendo esta diferença. Posso ser um blogueiro ruim, mas sou um aspirante a blogueiro do bem. :)
Não sei se falei coisa com coisa, mas esta era uma reflexão desabafo que queria partilhar com vocês. Se ninguém tiver lido, não tem problema. Agora vamos dar um rumo a este blogue.
Abraços do Verde.
August 17th, 2007 at 3:10 pm e
O Felipe Tofani, do pristina.org, publicou uma defesa da campanha publicitária do Estadão, escrita por João Livi da agência Talent (responsável pela campanha em questão).
August 18th, 2007 at 4:29 am e
Eu acho a campanha do Estadão pertinente, engraçada, bem feita e não vi crítica aos blogues e sim a alguns blogues e outrois veículos de informação dentro da web. Todo mundo sabe quem na internet se deve filtrar a fonte de seus dados e foi só isso que a agência quis mostrar, ainda mais porque o Estadão tem muitos blogues, não está atrás nessa questão de mídia de internet e não teria como fomentar uma discussão entre jornalismo informal e formal. Acho que fizeram tempestade em copo d’água e viram o que não havia nessas campanhas.
Eu, por sinal, adoro a do cara que escreve sobre comportamento e psicologia, achei hilária …
August 22nd, 2007 at 1:43 pm e
Fomos citados:
“Em outros blogs, como o Global Voices Online, a campanha do estadao.com.br é identificada como tática com a finalidade de aumentar o tráfego no portal do jornal: “É óbvio que a estratégia de marketing do Estadão estava contando com o barulho que os blogueiros iriam fazer a respeito dos anúncios para alcançar os seus objetivos, e os blogueiros certamente estavam entre aqueles que induziram as pessoas a visitar o novo site do jornal. Por outro lado, alguns blogueiros acham que inflamar a discussão entre blogs e a mídia tradicional neste momento pode ser uma má idéia, enquanto outros acham melhor entrar na brincadeira.”
http://www.estadao.com.br/economia/not_eco38340,0.htm
August 26th, 2007 at 6:59 pm e
E o José Murilo, autor da matéria acima e Editor de Lingua Portuguesa do Global Voices Online, escreveu em seu blogue uma resposta para a matéria do Estadão.
Além da resposta lúcida e interessante, Murilo também dá alguns bons conselhos sobre a blogosfera para o pessoal do Estadão:
“1 - A rede são os links e os links são a rede, como bem lembrado pelo colega wainermartins, e portanto falar da blogosfera sem linkar é falta de respeito. E lembre-se que blogueiros redigem em hipertexto, portanto, seção de comentários sem links trata-se de interface defeituosa.
2 - Esqueça a web 2.0 e se ligue na web ao vivo. Esta é a rede que pode ser descrita através de verbos como escrever, ler, atualizar, postar, editar, assinar, taguear, sindicar, xemelizar e linkar. A web ao vivo está sendo construída por sobre a web estática, a qual se traduz em substantivos como website, endereço, localização, tráfego, arquitetura e construção. A web ao vivo é esta acontecendo agora, de forma dinâmica, e compreende o conteúdo que pode ser encontrado via Technorati e Google BlogSearch (esqueça o google padrão), máquinas que irão indexar em minutos o que estou postando aqui, e o que outros postarão sobre estes meus ‘dois palitos’ nesta conversa.
3 - Esta vem do Código Aberto: “A notícia está deixando de ser um produto para se transformar no ponto de partida de um processo, que começa com os jornalistas, que depois cedem o papel principal para os leitores. Os profissionais deixam de ser os donos da notícia.” Eu diria: não pense em blogueiros como produtores de ‘conteúdo’. Não encaro o meu ato de blogar como produção de informação para ser consumida por outros, e sim como escritos que podem vir a informar outros interessados. Digo ‘informar’ neste sentido mais básico de ‘formar’, alargar o espaço interno que define a minha humanidade: aquilo que eu sei. Autoridade na blogosfera é o direito que eu concedo a outros de me informar, de alargar os horizontes do que conheço. Nesta ecologia, reputação é tudo. E o ‘Bruno’ é bemvindo.”
Vale a pena visitar a matéria do Murilão para ver a conversa inteira.