Daniel Duende é escritor, brasiliense, e tradutor (talvez nesta ordem). Sofre de um grave vício em video-games do qual nunca quis se tratar, mas nas horas vagas de sobriedade tenta descobrir o que é ser um blogueiro. Outras de suas paixões são os jogos de interpretação e sua desorganizada coleção de quadrinhos. Vez por outra tira também umas fotografias, mas nunca gosta muito do resultado.

Duende é atualmente o Coordenador do Global Voices em Português, site responsável pela tradução do conteúdo do observatório blogosférico Global Voices Online, e vez por outra colabora com o Overmundo. Mantém atualmente dois blogues, o Novo Alriada Express e O Caderno do Cluracão, e alterna-se em gostar ora mais de um, ora mais de outro, mas ambos são filhos queridos. Tem também uma conta no flickr, um fotolog e uma gata branca que acredita que ele também seja um gato.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

a narração em segunda pessoa de Jay McInerney, uma das várias coisas que me impressionou profundamente em "Brilho da Noite, Cidade Grande", não sai da minha cabeça. Enquanto trabalhava em um de meus novos contos, "A Confraria do Bom Fim" (narrado em uma quase missionária terceira pessoa), eu me sentia um tanto anti-natural por não estar escrevendo ele em segunda pessoa. Este sentimento de anti-naturalidade me intrigou. Nunca escrevi um conto em segunda pessoa. De fato, acho que poucas pessoas o fizeram. Mas de repente me pareceu que a escrita em terceira pessoa não tem a mesma força. A segunda pessoa, o poderoso "você" que te carrega para dentro do personagem o tempo todo, ficou olhando para mim no fundo de minha mente enquanto eu escrevia.

Ensaiei ter uma pequena crise, pq um sentimento (também quase missionário) de que escrever em segunda pessoa agora seria apenas um plágio descarado da idéia de McInerney me invadiu de repente. Depois, respirando com calma, comecei a notar que há uma diferença entre o plágio e o remix. Eu não quero imitar o texto de McInerney, nem acho que vá escrever sobre a mesma coisa que ele escreveu (e, depois dele, nunca terei a cara de pau de escrever sobre Nova York...), embora tenha a sensação de que ele escreveu muito melhor do que eu uma história que eu eventualmente poderia ter contado...

Então fica assim. Eu vou me sentir no direito de escrever em segunda pessoa, do meu modo, e vou ver no que dá. Não dá para lutar contra os desejos artísticos. É nadar contra a corrente. Nunca vou esquecer, contudo, que quem me ensinou esta pequena magia foi o tal do McInerney. Um brinde ao cara, mas sem a poeira da Bolívia por favor. Um brinde ao Remix! :)

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